Nos últimos anos, o Exército Brasileiro tem trabalhado para modernizar sua estrutura e suas capacidades operacionais, com foco na aquisição de equipamentos que aumentem sua mobilidade, precisão e capacidade de dissuasão. Contudo, a modernização da Força Terrestre não se resume à simples aquisição de tecnologia. Ela envolve um processo contínuo que demanda investimentos estáveis, um planejamento orçamentário rigoroso e a ausência de interferências políticas e ideológicas, que possam comprometer a eficácia das decisões estratégicas.
O Programa Guarani, o Sistema ASTROS 2020, a obtenção de viaturas blindadas e aeronaves de asas rotativas são exemplos emblemáticos da modernização do Exército e sua importância para garantir a segurança e a soberania do Brasil. Entretanto, sem a previsibilidade orçamentária necessária e um compromisso firme com o setor de defesa, essas iniciativas podem ser prejudicadas por limitações financeiras e decisões políticas que não consideram as reais necessidades da defesa.
Desafios e a Necessidade de Previsibilidade Orçamentária
O Exército Brasileiro tem se concentrado em programas estratégicos como o Guarani, que substitui os antigos blindados Urutu, oferecendo maior mobilidade e proteção para as tropas, e o Sistema ASTROS 2020, que fortalece a capacidade de ataque a longas distâncias com a artilharia de mísseis e foguetes. Além disso, a obtenção de Viaturas Blindadas de Cavalaria (VBC CAv), como o Centauro II, representa um avanço significativo para a força blindada, garantindo uma capacidade de apoio de fogo superior e maior mobilidade no campo de batalha. O lote de teste do Centauro II foi recentemente aprovado, sendo um passo importante para sua introdução em serviço.
A modernização das unidades blindadas também passa pela Obtenção por nacionalização e integração de C2I e sistema de Armas da Viatura Blindada Multitarefa Leve sobre Rodas 4x4 Guaicurus da IDV, bem como pela adoção de torres REMAX 4 e a modernização das UT-30BR, da brasileira ARES, garantindo um aumento na capacidade de fogo e na proteção dos combatentes.
Além das viaturas, o Exército Brasileiro também avança na modernização de sua aviação. A obtenção de aeronaves UH-60M Black Hawk representa um grande salto na capacidade de transporte, evacuação aeromédica e operações especiais, garantindo maior flexibilidade operacional.
Outro ponto crucial dentro desse processo de modernização é a preocupação com o aprimoramento do combatente individual. Nesse contexto, o Sistema Combatente Brasileiro (COBRA) se apresenta como uma iniciativa estratégica, voltada para equipar os militares com tecnologia de ponta e garantir maior letalidade, proteção e consciência situacional no campo de batalha. Inspirado em programas similares de nações como França e Estados Unidos, o COBRA busca integrar coletes modulares, sistemas de comunicação avançados, sensores de imagem térmica e dispositivos de comando e controle, permitindo maior eficácia em combate.
A recente incorporação do Monóculo de Imagem Térmica OLHAR, desenvolvido no Brasil, demonstra a capacidade da Base Industrial de Defesa em fornecer soluções inovadoras e de alta tecnologia para as Forças Armadas. O fortalecimento desse tipo de iniciativa reduz a dependência externa e assegura que o Brasil mantenha autonomia no desenvolvimento e fornecimento de equipamentos essenciais. No entanto, assim como ocorre com outros programas estratégicos, a continuidade e ampliação do COBRA dependem de previsibilidade orçamentária e de um compromisso governamental sólido.
Esses programas são fundamentais não apenas para a capacidade operacional do Exército, mas também para o fortalecimento da indústria de defesa nacional e a geração de empregos. A manutenção de equipamentos como esses demanda um fluxo contínuo de investimentos, que devem ser previstos e sustentados ao longo do tempo.
No entanto, a instabilidade orçamentária tem sido uma constante preocupação. Cortes e atrasos nas aquisições de equipamentos têm impactado a implementação de programas estratégicos, colocando em risco a capacidade de defesa do Brasil. A suspensão de processos de obtenção, como o ocorrido com o ATMOS, um sistema de artilharia autopropulsada vital para o Exército, é um exemplo de como decisões políticas podem prejudicar o planejamento estratégico de longo prazo.
Economia Brasileira, Benefícios do Investimento em Defesa
A indústria de defesa é um dos principais motores de desenvolvimento econômico e tecnológico no mundo, com impactos diretos na geração de empregos e no fortalecimento da indústria. Investir na modernização das Forças Armadas brasileiras não é apenas uma questão de segurança, mas também uma estratégia de desenvolvimento econômico.
Cada real investido em defesa gera empregos qualificados, fomenta a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico e impulsiona a indústria nacional. Por exemplo, o programa Guarani resultou no desenvolvimento de uma nova geração de veículos blindados, com componentes fabricados no Brasil, contribuindo para o crescimento do setor industrial e a qualificação da mão de obra. A produção de armamentos e tecnologias de ponta não se limita ao campo militar, mas também estimula a inovação em áreas como aeronáutica, automação, siderurgia e eletrônica, com potencial para ser exportado, fortalecendo a balança comercial do Brasil.
Além disso, a indústria de defesa atrai investimentos privados e impulsiona a competitividade das empresas brasileiras no mercado internacional. Em tempos de crise econômica, o setor de defesa tem mostrado resiliência, gerando empregos e contribuindo para a economia, vide o caso da Embraer com sucesso de suas aeronaves A-29 "Super Tucano" e KC-390. Sem uma política clara e estável de investimentos em defesa, o Brasil perde a oportunidade de tirar proveito dos ganhos econômicos e tecnológicos que esse setor pode oferecer.
Interferência Política e a Fragilidade das Decisões Estratégicas
Embora a modernização do Exército seja um processo essencial para a soberania do país, interferências políticas e ideológicas têm o poder de minar esses avanços. A suspensão do processo de obtenção do ATMOS por questões puramente ideológicas é um exemplo claro de como a defesa do Brasil tem sido afetada por interesses políticos de curto prazo.
O ATMOS, um sistema de artilharia autopropulsada de 155mm desenvolvido pela israelense Elbit Systems, foi escolhido pelo Exército Brasileiro após um processo técnico rigoroso, e teria um relevante índice de nacionalização e transferência de tecnologia. A decisão de barrar a compra desse sistema, sem justificativa técnica, foi movida por razões políticas que não têm relação com as necessidades de defesa ou interesses do Brasil. A decisão do governo de suspender a compra, orientada pelo assessor Celso Amorim, colocou interesses ideológicos acima da segurança nacional.
A defesa do Brasil não pode ser subordinada a interesses partidários. As necessidades das Forças Armadas são complexas e devem ser tratadas com a seriedade que a soberania nacional exige. O Exército Brasileiro precisa de decisões baseadas em critérios técnicos e não em conveniências ideológicas e partidárias. A interferência política na aquisição de equipamentos de defesa representa um risco direto à capacidade operacional das Forças Armadas e à segurança do Brasil.
A Defesa como Pilar da Soberania e do Desenvolvimento
A modernização do Exército Brasileiro não é apenas uma questão de estratégia militar, mas também de fortalecimento da indústria nacional e garantia da segurança econômica e social. Programas como o Guarani, o Sistema ASTROS 2020, a VBC CAv Centauro II, IDV Guaicurus, a modernização das torres UT-30BR, a aquisição de REMAX 4 e a futura incorporação dos helicópteros UH-60M Black Hawk são vitais para o futuro da defesa do Brasil. Sua implementação bem-sucedida depende de previsibilidade orçamentária e compromisso com a indústria de defesa.
Entretanto, decisões políticas que interferem diretamente na estratégia de defesa nacional podem comprometer o desenvolvimento do Exército e prejudicar o crescimento econômico do país. A suspensão de aquisições como o ATMOS não pode ser repetida, pois coloca em risco não apenas a capacidade operacional do Exército, mas também a segurança nacional e os avanços tecnológicos do Brasil.
A defesa do Brasil deve ser tratada como uma prioridade nacional, acima de qualquer interesse político ou ideológico. É fundamental que as decisões sobre modernização do Exército e investimentos em defesa sejam tomadas com base em interesses estratégicos e no desenvolvimento nacional, garantindo a soberania e a segurança do país.
Por Angelo Nicolaci
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