terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Editorial: A Urgência de Renovar a Esquadra Brasileira

O Atlântico Sul não é apenas uma extensão de águas que separa continentes, ele é a chave para o futuro geopolítico e econômico do Brasil. Esse oceano, que conecta a África e a América do Sul, carrega consigo recursos naturais de valor inestimável, onde esta nossa "Amazônia Azul", com o pré-sal, a biodiversidade marinha e as riquezas pesqueiras. Sua importância, no entanto, vai além da riqueza física que guarda em suas profundezas em nossas águas jurisdicionais. O Atlântico Sul é também uma rota vital para o comércio global, sendo responsável por mais de 90% das trocas comerciais do Brasil com o resto do mundo. Nesse contexto, o domínio e a proteção dessa vasta região marítima são essenciais para garantir a soberania e a prosperidade do Brasil.

No entanto, a capacidade do Brasil de projetar poder e garantir a segurança de nossas águas jurisdicionais tem sido progressivamente comprometida. Uma marinha moderna e bem equipada é vital não só para proteger os vastos recursos da "Amazônia Azul", mas também para garantir a soberania nacional em um cenário global cada vez mais competitivo e complexo. O Brasil enfrenta desafios significativos nesse sentido. A esquadra brasileira está longe de ser a força naval robusta necessária para se manter à altura de suas responsabilidades. Apesar de iniciativas e programas de modernização, a marinha brasileira ainda enfrenta deficiências estruturais profundas.

A principal delas é a obsolescência de grande parte dos seus meios. Fragatas e demais meios envelhecidos, além da escassez de novos equipamentos e recursos orçamentários, que comprometem a capacidade do Brasil de realizar operações de patrulhamento, vigilância e defesa em um dos oceanos mais estratégicos do mundo de forma adequada. O atraso nos programas de desenvolvimento de submarinos nucleares e a limitação de fragatas da classe Tamandaré, as quais inicialmente, serão apenas quatro, diante de um cenário que demanda no mínimo de 12 a 16 navios do tipo, são exemplos claros de como a marinha do Brasil está aquém do que seria necessário para manter a segurança de nossa “Amazônia Azul”, como é carinhosamente conhecida nossa zona econômica exclusiva. Não se trata de uma simples questão de números; trata-se de uma questão de dissuasão. Com meios limitados e recursos escassos, a marinha brasileira perde sua capacidade de dissuadir potenciais ameaças, o que, inevitavelmente, enfraquece a segurança das nossas fronteiras marítimas.

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Essa realidade não é apenas um desafio para a defesa, mas também um obstáculo ao posicionamento do Brasil como potência regional. O Brasil, com sua vasta costa e sua rica zona econômica exclusiva, tem o potencial de ser um líder nas questões de segurança e cooperação no Atlântico Sul. No entanto, essa liderança não pode ser exercida sem uma capacidade militar condizente com sua posição geopolítica. O Brasil precisa de uma Marinha capaz de projetar poder nas águas do Atlântico Sul, de proteger suas rotas comerciais e de garantir o acesso seguro aos seus recursos energéticos e minerais. Sem isso, a imagem do Brasil como um ator global de relevância ficará apenas nos sonhos e no papel.

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A necessidade de investimentos contínuos e sérios na renovação da esquadra não pode ser ignorada. A modernização da marinha deve ser vista não apenas como um gasto, mas como um investimento estratégico na segurança do país e no fortalecimento da sua presença internacional. A proteção do Atlântico Sul é, por sua vez, a garantia de que o Brasil poderá continuar a se beneficiar de suas riquezas naturais, não apenas para a sobrevivência da sua economia, mas também para o fortalecimento de sua posição no cenário global. Além disso, é crucial que o Brasil estreite suas parcerias no campo geopolítico e de defesa com atores emergentes no tabuleiro geopolítico. Essas nações, com interesses em comum e capacidades complementares, podem ser parceiras estratégicas para o Brasil na modernização de nossa força naval e na defesa de nossos interesses nas organizações internacionais e disputas.

O controle efetivo do Atlântico Sul não é apenas uma questão de segurança. É um fator determinante para o equilíbrio global. O Brasil tem o poder de se tornar um líder na região, não só pela sua extensão territorial ou pela riqueza de suas águas, mas pela sua capacidade de projetar força e defender seus interesses. Sem a modernização de sua esquadra, porém, o Brasil corre o risco de perder essa capacidade e, com isso, a sua posição estratégica no continente e no mundo. As decisões de hoje, sobre os investimentos em nossa marinha, definirão a segurança, a soberania e a projeção internacional do Brasil nas próximas décadas.

É um erro estratégico e um verdadeiro crime contra o Brasil que o governo e o Congresso, cegos pela ideologia e embriagados por uma visão partidária estreita, continuem a negligenciar a Defesa Nacional. Os cortes no orçamento de defesa, a falta de investimentos contínuos nas Forças Armadas e a omissão quanto às suas necessidades são inaceitáveis. Em nome de uma agenda ideológica, estamos sacrificando nossa soberania e colocando em risco a proteção de nossas riquezas naturais, nossas fronteiras e nossa projeção no cenário global. A Marinha do Brasil, assim como o Exército e a Aeronáutica, são as espinhas dorsais de nossa segurança e, sem os meios adequados para cumprir suas missões, nos tornamos vulneráveis, incapazes de proteger aquilo que é nosso. Mais do que um descaso com as Forças Armadas, é uma afronta ao próprio povo brasileiro, que, dia após dia, trabalha arduamente para pagar impostos, mas vê pouco retorno em termos de segurança e desenvolvimento. Investir em Defesa não é apenas garantir nossa proteção. É investir na criação de empregos, no desenvolvimento da nossa indústria e no fortalecimento da nossa economia. Cada real aplicado na modernização das Forças Armadas é um real que circula no país, fomenta a indústria nacional, gera empregos e contribui para o crescimento econômico. Continuar com essa visão obtusa e revanchista, ignorando os benefícios estratégicos de uma Defesa forte, é uma escolha irresponsável que vai contra o interesse do Brasil e de seu povo.

Portanto, é hora de refletirmos sobre o futuro que queremos para o Brasil no cenário global. Não podemos mais adiar os investimentos necessários para modernizar nossa marinha. O Brasil precisa de uma esquadra robusta, moderna e capaz de atuar nas águas do Atlântico Sul com eficiência e dissuasão. A segurança de nossas riquezas, a proteção de nossas rotas comerciais e a preservação da nossa soberania dependem disso. Chegou o momento de agir, antes que seja tarde demais.


Por Angelo Nicolaci


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Foto de Capa: Guilherme Wiltgen - DAN

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