domingo, 8 de dezembro de 2024

Os Perigos da Automação Extrema no Comando de Navios

O HMNZS Manawanui afundando

O HMNZS (Belonave da Marinha Real da Nova Zelândia) Manawanui entrou em operação na Marinha Real da Nova Zelândia em 2019.

Ele foi adquirido para substituir um navio mais antigo com o mesmo nome, aposentado em 2018. O Manawanui atual era originalmente um navio de apoio offshore construído na Noruega em 2003 e usado no setor comercial antes de ser adaptado para operações militares. Após sua compra, ele foi modificado para realizar tarefas de levantamento hidrográfico, operações de mergulho e suporte a missões subaquáticas.

Ele afundou em 6 de outubro de 2024, após encalhar em um recife ao sul da ilha de Upolu, Samoa, durante uma operação de levantamento hidrográfico. O acidente ocorreu na noite anterior, 5 de outubro de 2024, em condições de vento forte e mar agitado. Apesar dos tripulantes terem evacuado com segurança, o navio sofreu danos severos, incêndios subsequentes e acabou afundando na manhã do dia seguinte por volta das 9h.

Foi o primeiro navio da HMNZS perdido desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Sua perda trouxe à tona um debate essencial sobre os perigos da automação excessiva no comando de embarcações. O navio, que colidiu com um recife de coral, pegou fogo e acabou afundando nas águas de Samoa, estava no piloto automático, um detalhe que os membros da tripulação não haviam percebido até que já fosse tarde demais.

Esse acidente não apenas resultou na perda de um ativo valioso da marinha neozelandesa, mas também levantou preocupações ambientais devido ao vazamento de óleo no oceano, ameaçando comunidades costeiras próximas. Além disso, foi a primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial que a Nova Zelândia perdeu um navio de sua força naval.

A Dependência Perigosa da Automação

Com a crescente sofisticação de sistemas automáticos, como o piloto automático, tornou-se comum confiar na tecnologia para tarefas repetitivas ou complexas, tanto no mar, quanto no ar e em terra. No entanto, o caso do HMNZS Manawanui expõe um risco significativo: a falsa sensação de segurança gerada pela automação.

No incidente, a tripulação acreditava que o navio estava sob controle manual, mas ele continuava no modo automático. Erros simples, como não verificar o painel de controle para confirmar o status do sistema, acabaram levando ao desastre. Como apontado pelo chefe da Marinha, Garin Golding, "a causa direta do acidente foi uma série de erros humanos", agravados pela confiança cega nos sistemas automatizados.

Lições a Serem Aprendidas

1. Treinamento e Consciência Situacional

O caso do Manawanui destaca a importância do treinamento prático e da conscientização sobre o uso da tecnologia. Os operadores precisam desenvolver "memória muscular" para verificar sistemas críticos regularmente, mesmo em condições adversas.

2. Revisão de Procedimentos Operacionais

A automação deve complementar, e não substituir, o julgamento humano. Procedimentos claros precisam ser implementados para que a tripulação confirme manualmente o status de controle antes de realizar manobras críticas.

3. Monitoramento Constante

Sistemas automáticos não são infalíveis. Manter uma vigilância ativa, mesmo quando a automação está em uso, é essencial para prevenir erros catastróficos.


Impactos Ambientais e Responsabilidade

Além do impacto operacional e financeiro, o vazamento de óleo do navio afundado levanta questões ambientais graves. A resposta da Nova Zelândia para conter a poluição e remover os resíduos será fundamental para minimizar os danos ecológicos e proteger as comunidades locais.

Conclusão

A tragédia do HMNZS Manawanui serve como um lembrete poderoso de que, embora a automação traga benefícios inegáveis, a dependência excessiva dela pode levar a consequências desastrosas. A integração equilibrada entre tecnologia e supervisão humana, juntamente com treinamento adequado, é o caminho para evitar que eventos como esse se repitam.

Enquanto aguardamos o término da investigação oficial, o incidente deve servir como um ponto de reflexão para marinhas, empresas de transporte marítimo e todos os setores que dependem de sistemas automatizados. Afinal, a tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas a responsabilidade final sempre recairá sobre os humanos que a operam.

Enquanto a briosa Marinha do Brasil coloca em operação uma nova geração de belonaves, tais lições devem ser incorporadas em todos os procedimentos, para evitar que algo semelhante aconteça por aqui.

Por Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel)


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