quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Vitória de Trump Deve Aumentar Gastos com Defesa na Europa e Impactar Relações com o Brasil

Na recente corrida presidencial nos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, aos 78 anos, voltou ao cargo de presidente após vencer a candidata democrata Kamala Harris. Sua vitória sinaliza um potencial retorno a uma política externa mais exigente em relação aos aliados da OTAN e pode trazer grandes implicações para o mercado global de defesa, especialmente na Europa.

Durante seu primeiro mandato, Trump pressionou consistentemente os países-membros da OTAN a cumprir o objetivo de gastar ao menos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa, acusando muitas nações de dependerem excessivamente do poder militar dos Estados Unidos sem investir proporcionalmente em suas próprias forças. Agora, com seu retorno, é provável que essa demanda volte a ocupar o centro das discussões na OTAN.

Aumento dos Gastos com Defesa: Impactos e Perspectivas

Atualmente, dois terços dos países da OTAN já atendem ao objetivo de 2% do PIB, com a Polônia liderando a aliança com 4,12% e seguida pela Estônia e pelos próprios EUA. A Itália, no entanto, projeta alcançar apenas 1,61% até 2027, uma meta abaixo do esperado que coloca a administração de Giorgia Meloni em uma posição desafiadora. O ministro da Economia da Itália, Giancarlo Giorgetti, afirmou que as novas regras fiscais da União Europeia podem dificultar o cumprimento da meta, especialmente devido à elevada dívida pública do país, que deverá atingir 137,8% do PIB até 2026.

Para lidar com essa situação, a Itália solicitou à União Europeia que crie um mecanismo para financiar os gastos com defesa sem comprometer a dívida nacional e os investimentos sociais. Guido Crosetto, ministro da Defesa da Itália, sugeriu uma "cobertura europeia" para os gastos militares, o que permitiria que os países da UE tratassem a defesa como uma despesa neutra em seus balanços, minimizando o impacto nos juros da dívida.

Taiwan e a Nova Política de "Proteção" de Trump

Outro ponto de destaque com a vitória de Trump é o possível aumento das tensões no Estreito de Taiwan. Trump declarou anteriormente que espera que Taiwan "pague" aos EUA pela proteção contra ameaças da China, o que pressionará Taiwan a aumentar suas compras de armas norte-americanas. Estima-se que o país, que já possui um backlog de aproximadamente US$ 20 bilhões em pedidos de equipamentos militares, anuncie um novo pacote de quase US$ 2 bilhões em sistemas de mísseis no próximo ano.

Além disso, possíveis nomeações de figuras pró-Taiwan, como o ex-secretário de Estado Mike Pompeo e o ex-conselheiro de Segurança Nacional Robert O’Brien, aumentam a probabilidade de apoio firme dos EUA a Taiwan. Esse respaldo pode incentivar Taiwan a investir ainda mais em defesa, o que beneficiaria a indústria de defesa americana e poderia gerar novas demandas de produção, consolidando os EUA como principal fornecedor de armamento para o país.

Implicações para o Mercado Global de Defesa

A vitória de Donald Trump deve marcar uma intensificação dos gastos com defesa, tanto nos Estados Unidos quanto entre os aliados da OTAN e em regiões estratégicas, como Taiwan. Este aumento de investimento em defesa pode resultar em um efeito dominó no mercado global, impulsionando a indústria em direção a inovações tecnológicas, expansão da capacidade produtiva e elevação das cadeias de suprimento para atender às crescentes demandas de segurança. Sob a liderança de Trump, que pressiona por uma carga mais equitativa de defesa entre os membros da OTAN, a expectativa é de que nações que anteriormente mantinham investimentos mínimos em defesa aumentem seus orçamentos militares, acelerando o desenvolvimento de tecnologias autônomas, inteligência artificial, capacidades de guerra cibernética e armas de precisão.

Para a Europa, este cenário representa uma oportunidade e um desafio. A pressão por mais investimentos em defesa pode levar os países europeus a reavaliar seus níveis de autossuficiência em tecnologias militares e a reduzir sua dependência dos Estados Unidos. Muitos países europeus estão cada vez mais conscientes da necessidade de uma indústria de defesa soberana, não apenas para reduzir a vulnerabilidade a embargos e restrições comerciais, mas também para fortalecer sua posição geopolítica. A ascensão de Trump pode impulsionar parcerias intra-europeias, levando a investimentos colaborativos em plataformas de defesa e tecnologias críticas, como sistemas de defesa aérea, mísseis hipersônicos, aeronaves de combate avançadas e veículos blindados. Além disso, há o potencial de novos consórcios internacionais que possam compartilhar custos e avanços tecnológicos, como o programa franco-alemão FCAS (Future Combat Air System).

Em outras regiões estratégicas, como Taiwan e Japão, o regresso de Trump pode intensificar os esforços para fortalecer capacidades militares locais. Taiwan, em especial, deve buscar novas aquisições e tecnologias para dissuadir ameaças de agressões regionais, enquanto o Japão pode expandir suas forças de autodefesa, resultando em novas oportunidades para fornecedores globais de defesa. Esse movimento pode estimular as principais industrias de defesa a investirem em soluções adaptadas a esses mercados, visando reforçar suas capacidades de defesa e segurança no Indo-Pacífico.

No entanto, o aumento global nos gastos de defesa não ocorre sem desafios. O aumento na demanda por equipamentos militares pode pressionar cadeias de suprimento globais, afetando a produção de semicondutores, materiais raros e componentes de precisão, essenciais para a construção de tecnologias de ponta. Esse cenário pode levar a novos tipos de cooperação e disputa entre países, que buscarão garantir um fornecimento contínuo de recursos e evitar interrupções.

A vitória de Trump também fortalece o que alguns analistas denominam de "era da incerteza", marcada por tensões regionais, a escalada da militarização e um ambiente geopolítico em constante mudança. À medida que os países investem cada vez mais em suas defesas, o mercado global de defesa poderá crescer em um ritmo acelerado, mas dependerá da capacidade das indústrias de inovar e adaptar-se às demandas globais. Mais do que nunca, o desenvolvimento de tecnologias de defesa se tornará um aspecto crítico da política externa, onde empresas e governos precisarão colaborar estreitamente para atender às necessidades emergentes e garantir uma capacidade de defesa abrangente e eficaz frente aos desafios do século XXI.

Perspectivas entre Brasil e EUA no Governo Trump

Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, a relação entre os EUA e o Brasil, atualmente governado por Lula, enfrentará novos desafios e exigirá uma gestão pragmática dos interesses bilaterais. Enquanto Trump adota uma postura de enfrentamento a potências como China, Rússia e Irã, Lula tem se aproximado desses países e mantém uma política externa ideológica e míope. Essa diferença de orientação política impactará áreas-chave nas relações entre os dois países, especialmente em economia, defesa, política externa e geopolítica regional.

Sob Trump, os EUA podem intensificar pressões para limitar a influência econômica da China no Brasil, dado o papel crucial do país asiático como principal parceiro comercial brasileiro. Isso representa um desafio estratégico para o governo brasileiro, que busca manter relações equilibradas com ambos os países. Em contrapartida, o Brasil pode explorar oportunidades comerciais com os EUA em áreas de interesse mútuo, como exportações agrícolas, mas sem comprometer sua parceria com a China.

A aproximação do Brasil com países como Rússia e Irã pode gerar tensões com o governo Trump, que provavelmente incentivará maior cooperação de defesa com os EUA e seus aliados. Lula, no entanto, valoriza uma política de defesa orientada pela sua visão ideológica e partidária, o que pode limitar o alcance dessa cooperação. O governo brasileiro tende a comprometer sua autonomia estratégica devido a miopia ideológica que tem sido crescente nos posicionamentos do Brasil, o que pode afetar a flexibilidade para cooperar com outros parceiros sem comprometer suas alianças atuais.

Trump tende a ser crítico em relação a pautas climáticas, enquanto Lula busca projetar o Brasil como líder em sustentabilidade e preservação ambiental, especialmente na Amazônia. Essas visões poderão levar o Brasil a se alinhar com outros países em fóruns globais sobre o clima, reforçando a autonomia brasileira nas discussões multilaterais e promovendo uma imagem internacional focada no desenvolvimento sustentável.

Com Trump provavelmente adotando uma política de contenção a governos de esquerda na América Latina, o apoio do Brasil a países como Venezuela e Cuba pode ser uma fonte de atrito. Lula, que busca estabilidade regional e cooperação com esses países, pode adotar uma posição de neutralidade e mediação para evitar que o Brasil se envolva em disputas na região. Essa abordagem pragmática se adotada poderá fortalecer o papel do Brasil como um ator estabilizador na América Latina.

A relação entre Brasil e EUA sob Trump será marcada por divergências ideológicas, mas com espaço para cooperação pragmática em áreas econômicas e comerciais. Ao manter uma política externa guiada por sua visão ideológica e partidária, o Brasil sob o governo de Lula terá de mudar sua postura em determinados assuntos, e equilibrar as expectativas dos EUA com seus interesses globais, priorizando diplomacia e multilateralismo em um cenário de tensões internacionais renovadas.


por Angelo Nicolaci


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com Reuters, AFP, BBC, CNN e DW

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