A Rússia conquistou, em outubro de 2024, mais território na Ucrânia do que em qualquer outro mês dos últimos dois anos, segundo análise do The New York Times e de outras publicações ocidentais, como Die Welt e Bloomberg. Esse avanço expressivo no leste ucraniano reflete uma escalada na guerra que expõe fragilidades nas forças ucranianas, comprometidas pela falta de munições e pelo cansaço dos soldados.
O major-general Dmitro Marcenko, das Forças Armadas Ucranianas, explicou que a linha de frente está cada vez mais difícil de manter devido à escassez de pessoal e de armamentos. Ele relatou que "faltam munições e armas e, em segundo lugar, faltam pessoas, os soldados estão cansados e não conseguem cobrir todas as frentes". De acordo com a avaliação da imprensa americana, em outubro, as tropas russas capturaram mais de 400 quilômetros quadrados no Donbass. Esse avanço inclui o controle de cidades estratégicas, como Vuhledar, e ameaças em Selidove, onde uma intensa batalha terminou em aparente vitória russa.
As ofensivas russas recentes recuperam o ritmo dos primeiros meses de conflito, quando o avanço era mais rápido. Desde agosto, as forças russas ganharam mais território do que em todo o primeiro semestre de 2024, apontou o Die Welt. O avanço russo prossegue, com focos nas cidades de Pokrovsk e Kurakhiv, ambos centros estratégicos para as operações ucranianas no Donbass. A Rússia usa táticas de avanço ágil, testando vários pontos das defesas ucranianas e buscando explorar pontos fracos para intensificar o progresso no terreno.
Mudança na Dinâmica do Conflito
Os analistas observam que as recentes conquistas russas no leste representam uma virada no conflito, marcada pela erosão das capacidades ucranianas. O desgaste contínuo das forças ucranianas, que enfrentam carência de pessoal e suprimentos, coloca Kiev em uma posição desafiadora. Segundo fontes ucranianas, a falta de fortificações também contribuiu para a perda de áreas como Vuhledar, onde as linhas defensivas estavam insuficientemente preparadas, permitindo um avanço russo de cerca de nove quilômetros ao norte da cidade apenas na última semana de outubro.
Outro fator determinante é a crescente dificuldade ucraniana em mobilizar novos soldados para a linha de frente. No início da guerra, a Ucrânia contou com voluntários motivados para preencher suas fileiras. Hoje, esse recrutamento tornou-se mais complexo, e Kiev está sendo pressionada por parceiros ocidentais a reduzir a idade mínima de alistamento para aumentar sua base de recrutamento.
Supremacia Russa em Armas e Recursos Táticos
As forças russas também têm contado com uma vantagem considerável em termos de munições e bombardeios. De acordo com Ivan Havriluk, vice-ministro da Defesa da Ucrânia, a Rússia tem uma vantagem de dois para um em capacidade de fogo de artilharia, o que dificulta a resistência ucraniana. Zelensky afirmou que, até agora, a Ucrânia recebeu apenas 10% dos US$ 61 bilhões em ajuda prometida em abril, o que limita ainda mais suas opções.
A capacidade russa de lançar bombardeios de precisão, com o uso de bombas aéreas guiadas KAB, permitiu a destruição de fortificações ucranianas e facilitou o avanço de tropas no terreno. Segundo o Royal United Services Institute (RUSI), as forças russas têm se beneficiado de uma vigilância contínua e focada com o uso de drones de reconhecimento, garantindo a precisão dos ataques contra posições ucranianas e as linhas de suprimento na retaguarda.
Consequências e Perspectivas
O The Economist ressalta que a real ameaça para a Ucrânia não está nas perdas territoriais isoladas, mas sim na degradação contínua da capacidade operacional das suas forças armadas. Com soldados desgastados e suprimentos escassos, Kiev vê suas defesas cada vez mais vulneráveis a avanços inimigos. Além disso, a vantagem russa em armamento antitanque e a crescente fragilidade das linhas de defesa ucranianas, especialmente em terrenos onde a ofensiva russa se torna mais favorável, sustentam o avanço territorial russo.
A análise dos recentes avanços russos indica uma reconfiguração no conflito, com as forças ucranianas enfrentando obstáculos crescentes em manter suas posições e defender pontos estratégicos no leste do país. Especialistas alertam que, sem uma mobilização reforçada e mais apoio material de seus aliados, a Ucrânia poderá enfrentar novas perdas territoriais e desafios para sustentar a linha de frente nos próximos meses.
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