domingo, 14 de julho de 2024

"Guerra-Fria 2.0" ? - Alemanha e EUA Firmam Acordo para Estacionar Armas de Longo Alcance na Europa

Em uma decisão que marca o retorno de armas de longo alcance ao solo alemão pela primeira vez desde a década de 1990, os Estados Unidos e a Alemanha firmaram um acordo para o envio de mísseis de cruzeiro Tomahawk, fabricados pela Raytheon, a partir de 2026. Este movimento, anunciado durante a última reunião de cúpula da OTAN em Washington, é uma resposta direta à crescente ameaça representada pela Rússia, segundo o chanceler federal Olaf Scholz. Ele destacou que a Rússia tem acumulado um arsenal significativo de armas que colocam em risco o território europeu.

O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, afirmou que essa medida é essencial para preencher uma lacuna nas capacidades militares da Alemanha. Durante o período pós-Guerra Fria, tanto os Estados Unidos quanto a Rússia reduziram substancialmente seus arsenais de armas de longo alcance na Europa. No entanto, a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 reacendeu antigas tensões e alterou o cenário de segurança no continente.

Os mísseis de cruzeiro Tomahawk são notáveis por sua capacidade de voar rente ao solo em baixas altitudes, o que dificulta sua detecção por radares inimigos e aumenta a dificuldade de interceptação. Esses mísseis têm um alcance de até 2.500 km, superando a distância entre Berlim e Moscou, e representam uma melhoria significativa em relação aos mísseis Taurus de fabricação alemã, que têm um alcance de apenas 500 km.

A decisão de estacionar essas armas na Alemanha gerou uma divisão na política interna da Alemanha. Enquanto os partidos de centro, incluindo o Partido Social Democrata (SPD) de Scholz, os Verdes, os liberais do FDP e a aliança conservadora CDU/CSU, apoiam a medida, os partidos de extrema-direita e esquerda, como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), manifestaram preocupações. Eles temem que esta ação possa desencadear uma nova corrida armamentista e aumentar as tensões com a Rússia.

Tino Chrupalla, co-líder da AfD, criticou a decisão, argumentando que ela torna a Alemanha um alvo e que o governo de Scholz não está agindo no melhor interesse do país. Tim Thies, do Instituto para Pesquisa sobre Paz e Política de Segurança (IFSH), compartilha dessas preocupações, sugerindo que a instalação dessas armas provavelmente provocará uma resposta da Rússia.

A situação atual remete à época da Guerra Fria, quando a OTAN decidiu, em 1979, enviar mísseis nucleares de médio alcance e mísseis de cruzeiro para a Europa Ocidental como resposta à ameaça soviética. Essa decisão foi extremamente controversa na Alemanha Ocidental e levou a grandes protestos. No entanto, resultou em importantes tratados de desarmamento, como o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF).

Boris Pistorius destacou que o envio dos mísseis Tomahawk é uma solução temporária e que a Alemanha deve investir no desenvolvimento e aquisição de suas próprias armas de longo alcance. Durante a cúpula da OTAN, Alemanha, França, Itália e Polônia assinaram uma declaração de intenções para desenvolver mísseis de cruzeiro lançados a partir do solo com um alcance superior a 500 km.

A possível reeleição de Donald Trump em 2025 não deve afetar significativamente este acordo, segundo Thies. Muitos dos sistemas de armas atualmente em consideração foram iniciados durante o mandato de Trump, e a Alemanha se comprometeu a financiar esses projetos.


A resposta da Rússia ao acordo foi contundente. Sergei Riabkov, vice-ministro do Exterior da Rússia, afirmou que a segurança do país está em risco e classificou a medida como parte de uma cadeia de escaladas da OTAN e dos EUA. Thies alerta que essa situação pode levar a Rússia a desenvolver mais sistemas de armas de longo alcance, possivelmente nucleares, capazes de atingir o território americano, intensificando ainda mais a espiral armamentista.

Este novo acordo entre Alemanha e EUA representa um retorno a um período de maior tensão e competição militar na Europa, evocando memórias da Guerra Fria e levantando questões sobre o futuro da segurança no continente.


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com DW

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