A proposta de desativação do HMS Albion (L 14) e do HMS Bulwark (L 15) pela Royal Navy mergulha nas profundezas de um desafio complexo que abala a capacidade operacional da Royal Navy (Marinha Real). Essa decisão, impulsionada pela crise crônica de escassez de pessoal, joga luz sobre as implicações dramáticas que isso terá nas operações anfíbias e na projeção de poder do Reino Unido.
A crise de recrutamento na Royal Navy emerge como o ponto de partida para a retirada desses navios essenciais para a projeção anfíbia. Uma queda alarmante de 22,1% na entrada de novos recrutas até março de 2023 evidencia a luta da Marinha para manter suas tripulações. Essa escassez de pessoal, que afeta não apenas a Royal Navy, mas também a RAF e o exército, desencadeou a proposta de aposentar os LPDs Albion e Bulwark para liberar mais de 200 marinheiros em um esforço para compensar o déficit de pessoal.
A relevância desses navios como Landing Platform Docks (LPD) é fundamental para as operações anfíbias dos Royal Marines. O impacto direto da retirada dos LPDs se estende ao comprometimento das implantações do Littoral Response Group (LRG). O HMS Albion, por exemplo, liderou o LRG (North) nos últimos anos, demonstrando sua eficácia em missões diversas, desde crises regionais até operações humanitárias. O descomissionamento desses navios significa uma perda crucial na capacidade de resposta rápida e eficiente diante de cenários complexos e imprevisíveis.
A busca por alternativas, como os planos de desenvolvimento do Multi Role Support Ship (MRSS) em colaboração com a Holanda, destaca a compreensão do governo britânico sobre a importância estratégica dos LPDs. No entanto, a entrada dessas novas embarcações está projetada apenas para a década de 2030, o que revela uma lacuna temporal preocupante na capacidade de projeção anfíbia do Reino Unido, e ainda assim, haverá o desafio de conseguir tripulantes suficientes para manter sua esquadra operativa e plenamente capaz de desempenhar suas missões, o que emerge como um desafio homérico para Royal Navy.
Em suma, a desativação do HMS Albion e do HMS Bulwark não é apenas uma resposta à crise de pessoal na Royal Navy, mas também um golpe significativo nas capacidades anfíbias dos Royal Marines. A falta de tripulações adequadas não apenas força a retirada de navios essenciais, mas também destaca a urgência de soluções estratégicas para lidar com a crise de recrutamento e preservar a habilidade do Reino Unido de operar eficientemente em ambientes anfíbios, desafiando cenários globais complexos.
E no Brasil?
Enquanto isso, aqui no Brasil, nos deparamos com o problema inverso, possuímos pessoal, porém, não possuímos meios suficientes para cumprir com papel constitucional de nossa briosa Marinha do Brasil, que ao longo das últimas décadas, vem preocupantemente assistindo ao descaso com orçamento necessário para o reaparelhamento de nossa Armada, a qual a cada ano que passa se vê encolhendo em número de meios disponíveis, sofrendo de uma grave obsolescência em bloco.
No final de 2023 assistimos a baixa do NDCC Mattoso Maia, mais um meio de superfície que deixa a esquadra sem que seja adequadamente substituído, isso sem considerar que toda nossa capacidade de projeção anfíbia esta amparada apenas por um único navio, o NDM Bahia, o qual pode lançar EDVPs e CLAnfs, além de realizar movimento helitransportado, o que nos coloca dependentes da disponibilidade de um único navio, uma vez que o NAM Atlântico apesar de projetar poder sobre terra através do desembarque de pessoal por meios aéreos e EDVPs, possui limitação em relação a capacidade de projetar meios mais robustos e capazes, como os CLAnfs e Piranhas. E isso é só abordando um dos pontos, pois carecemos de escoltas, navios de apoio logístico, patrulhas oceânicos e diversos outros meios que se fazem imprescindíveis a segurança nacional e nossa soberania.
Esse cenário é preocupante quando observamos as convulsões no cenário internacional e as crises que vem abalando a geopolítica mundial. Cabe o Governo Federal retirar os antolhos e enxergar a complexidade e urgência de uma resposta com políticas de ESTADO e não de governo, onde as mesmas garantam recursos para obtenção de meios e a garantia de se manter um nível aceitável de operacionalidade.
por Angelo Nicolaci
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