A terceirização das capacidades militares testemunhou um crescimento notável desde o fim da "Guerra Fria", um período marcado pelo desmantelamento dos grandes estoques de material militar de ambos os lados e pela redução dos arsenais, desencadeando o surgimento de um novo mercado: a terceirização militar.
Esse mercado inicialmente focou na manutenção de meios e instalações militares como resposta aos cortes orçamentários após o fim da Guerra Fria. Empresas privadas passaram a oferecer serviços de limpeza, manutenção e administração a custos mais baixos, permitindo a realocação de militares para funções mais estratégicas. Isso foi viabilizado pela contratação de funcionários civis por empresas terceirizadas, reduzindo significativamente os gastos com pessoal militar em tarefas não combativas. Essa solução ganhou terreno rapidamente no ocidente, particularmente nos EUA e Europa, representando mais de 80% do pessoal em funções não relacionadas ao combate.
A terceirização expandiu-se ainda mais ao longo dos anos 90, com centenas de empresas fundadas por ex-militares especializadas em consultoria e treinamento de tropas. Elas também passaram a oferecer serviços de "segurança privada" para instalações civis em regiões complexas, concentrando-se especialmente na África e no Oriente Médio.
A ascensão das empresas militares privadas (PMCs) para os holofotes foi notável no início dos anos 2000, sobretudo após os eventos do 11 de Setembro. Esse acontecimento representou um marco para as PMCs, que já estavam consolidadas, mas lucraram bilhões de dólares com a subsequente "Guerra ao Terror". Elas não apenas operavam veículos e armamentos simples, mas também obtiveram acesso a meios avançados, desempenhando um papel direto no combate ao terrorismo, especialmente no Iraque, Afeganistão e outros pontos críticos como a Líbia.
O filme "13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi", retrata um episódio real enfrentado por PMCs na Líbia |
Esse cenário revelou a crescente influência e presença das PMCs em conflitos globais, levantando questões éticas, legais e políticas sobre o uso de entidades privadas em operações militares. A dependência e o alcance dessas empresas em áreas de conflito e segurança internacional continuam a ser temas de debates e análises críticas.
No cenário da terceirização militar, várias empresas privadas ganharam destaque e notoriedade. Entre as mais proeminentes, destacam-se:
Blackwater (hoje conhecida como Academi): A Blackwater ganhou notoriedade durante a Guerra ao Terror, fornecendo serviços de segurança privada e contratando ex-militares para realizar operações no Iraque e no Afeganistão. Seu envolvimento em incidentes polêmicos, como o massacre de civis em Nisour Square, Bagdá, em 2007, gerou controvérsias e debates sobre a atuação de empresas privadas em zonas de conflito.
Aegis Defence Services: Fundada por Tim Spicer, ex-oficial britânico, a Aegis tornou-se uma das principais empresas de consultoria e segurança privada. Ela prestou serviços em regiões como o Iraque e o Afeganistão, oferecendo consultoria militar e apoio logístico.
Executive Outcomes: Atuando nos anos 1990, principalmente na África, a Executive Outcomes era composta por ex-militares sul-africanos e prestava serviços de consultoria e treinamento militar. Sua atuação em conflitos, como na guerra civil em Serra Leoa, gerou debates sobre o papel das PMCs em situações de guerra civil.
Triple Canopy: Outra empresa relevante, a Triple Canopy, esteve envolvida em operações de segurança privada e prestou serviços em áreas de conflito, incluindo o Iraque. Sua experiência abrangeu desde a proteção de instalações civis até o treinamento de forças de segurança locais.
Wagner Group: Uma PMC russa com presença na Ucrânia, Síria, Líbia e Sudão, após a morte de seu criador, Evgeny Prigozhin, haviam dúvidas sobre a continuidade das atividades desta PMC, porém, segundo relatos recentes, a Wagner Group estaria operando na Ucrânia novamente, e estaria oferecendo serviços de defesa aérea ao Líbano.
Saracen International: Atua na África, oferecendo segurança privada, treinamento militar e consultoria.
Dyncorp International: Operou no Oriente Médio e África, envolvida em operações em áreas de conflito como Afeganistão e Sudão.
Além das operações de segurança de instalações e mesmo fornecendo capacidades de combate com tropas, ainda há outros campos da terceirização militar que vem se destacando, como é o caso das empresas que oferecem treinamento de pilotos e exercícios de combate aéreo com aeronaves simulando figurativos inimigos.
O aluguel de aeronaves de caça e serviços de treinamento de pilotos para aeronaves de combate é uma prática complexa e muitas vezes envolve acordos estratégicos entre governos e empresas especializadas. A terceirização de caças e treinamento de pilotos é uma atividade altamente sensível e regulamentada devido à natureza crítica das operações militares. Apesar disso, algumas empresas, geralmente em parceria com forças armadas ou governos, oferecem soluções de treinamento com aeronaves de combate. Aqui estão algumas empresas que podem estar envolvidas nesse setor:
Top Aces: A Top Aces é uma empresa que oferece serviços de adversários aéreos (Aggressor) e treinamento tático avançado. Eles fornecem aeronaves de combate de última geração e atuam em colaboração com forças armadas para melhorar as habilidades de pilotos militares.
Draken International: Especializada em treinamento de combate e serviços adversários aéreos, a Draken International oferece uma frota diversificada de aeronaves, incluindo caças a jato, para simulação de ameaças realistas durante exercícios de treinamento.
Airborne Tactical Advantage Company (ATAC): A ATAC fornece serviços de adversários aéreos e treinamento tático avançado. Eles possuem uma frota variada de aeronaves de combate para replicar ameaças em ambientes de treinamento realistas.
Blue Air Training: A Blue Air Training oferece soluções de treinamento e serviços adversários aéreos. Sua abordagem inclui o uso de aeronaves de combate para simular cenários de combate realistas durante exercícios de treinamento militar.
É importante observar que, em muitos casos, essas empresas não alugam caças da mesma forma que se aluga um carro, mas sim fornecem serviços de treinamento e simulação usando suas próprias frotas de aeronaves. Além disso, essas operações geralmente são realizadas em colaboração com forças armadas e sob rigorosos regulamentos de segurança e controle governamental.
Esses exemplos ilustram a diversidade de empresas militares privadas, suas áreas de atuação e o impacto que tiveram em contextos geopolíticos específicos. O envolvimento dessas empresas em situações de conflito levanta questões críticas sobre a supervisão, regulamentação e ética envolvidas na terceirização de funções militares, além de abrir espaço para novas análises sobre o futuro das Forças Armadas Regulares e até que ponto se pode terceirizar capacidades militares.
Por Angelo Nicolaci
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