Ofensivas militares da Rússia espalham medo no Leste Europeu. Aliança Atlântica reafirma compromisso com segurança dos países-membros e tenta diálogo com Moscou.
Nesta sexta-feira e sábado (8-9), os líderes dos 28 Estados-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e numerosos países parceiros se reúnem em Varsóvia numa conferência de cúpula. O encontro é anunciado como um marco em que irão se tomar decisões para reforçar a segurança da Aliança Atlântica, aumentando seu poder de dissuasão e defesa e projetando estabilidade para além de suas fronteiras.
O país anfitrião, a Polônia, tem pressionado para obter a maior presença possível de tropas da Otan em seu território, a fim de fazer frente à ameaça percebida partindo de Moscou. Também os países bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia –, que têm fronteiras com a Rússia ou seu aliado Belarus, sustentam o slogan: "Quanto mais, melhor".
Em Varsóvia, a Otan deverá atender, pelo menos em parte, a essa demanda. Segundo declarou o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, os aliados no Leste Europeu deverão receber uma reafirmação de que, em caso real de perigo, os demais Estados vão socorrê-los. Essa será a mensagem da cúpula, afirmou um alto diplomata da Otan que não quis ser identificado, acrescentando: "Em Varsóvia vai se decidir a direção a ser tomada. Isso não é rotina."
"Dissuadir e negociar"
Falando ao Parlamento nacional na véspera do encontro, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, atribuiu à Rússia a culpa pelo agravamento da situação de segurança na Europa. Os países-membros da Otan no Leste estão "profundamente abalados" devido à investida russa contra a Ucrânia, afirmou.
Algum tempo atrás, o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, criticara a Otan por ficar brandindo demais a espada em direção à Rússia e entoando cantos de guerra, enquanto negligencia o diálogo. A organização procura abrandar tais temores com a oferta à Rússia de "transparência e minimização de riscos".
Merkel também lembrara ao Parlamento em Berlim que "só pode haver segurança duradoura na Europa com, não contra a Rússia", e que o procedimento da Aliança Atlântica não é "antirrusso", mas de natureza puramente defensiva. Por pressão alemã, a estratégia "dissuadir e negociar" será agora sustentada por todos os 28 Estados-membros da Otan, inclusive pela anfitriã Polônia.
Medidas de caráter psicológico
Os chefes de Estado e governo reunidos na capital polonesa darão sinal verde definitivo para o estacionamento de contingentes adicionais de mil soldados da Otan na Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia, respectivamente. Além disso será fortalecida a brigada multinacional na Romênia.
Na opinião de Judy Dempsey, especialista em Otan do think tank de política externa Carnegie Europe, a Polônia e o trio báltico aceitarão a oferta da Aliança Atlântica de reforço de tropas, já que não obterão mais do que isso. "Trata-se de uma medida psicológica para tranquilizar os poloneses e os bálticos. Do ponto de vista militar, seguramente não é o suficiente, quando se vê o que a Rússia está montando no exclave de Kaliningrado e em Belarus", disse à DW.
Desde a última cúpula da Otan, em 2014, em Newport, no País de Gales, a organização já instalou seis depósitos de armamentos em países-membros do Leste, destinados ao abastecimento da tropa de ataque rápido da Otan. Esta dispõe de 40 mil soldados estacionados em países ocidentais, aptos a serem mobilizados para o Leste no prazo de poucas semanas caso a Rússia prepare uma ofensiva.
O monitoramento do espaço aéreo na fronteira oriental também está sendo ampliado, assim como a presença de forças-tarefa da Marinha no Mar Báltico e no Mar Negro. O número e proporções das manobras no território dos aliados orientais será igualmente aumentado.
Otan "aberta ao diálogo" com Moscou
Os estrategistas da Aliança Atlântica cuidam para que esses batalhões suplementares não fiquem estacionados permanentemente, mas em regime rotativo, sendo substituídos por novas tropas após alguns meses.
"Continuaremos nos orientando pelo Ato Fundador sobre Relações Mútuas entre a Otan e a Rússia", prometeu Stoltenberg. Nesse acordo firmado em 1997 em Paris, a organização se compromete a não estacionar permanentemente "tropas de combate significativas" no território dos antigos Estados que estavam na órbita soviética.
No entanto o Kremlin não está satisfeito. O embaixador russo na Otan critica o processo de armamento, e o Ministério russo da Defesa reagiu anunciando a mobilização, para as regiões oeste e sul, de mais três brigadas com um total de até 30 mil homens.
A Otan, por sua vez, quer prosseguir negociando com Moscou, apesar do reforço das tropas. "Nós permanecemos abertos ao diálogo", anunciou o secretário-geral Stoltenberg. Logo após a cúpula em Varsóvia está planejado um novo encontro do Conselho Otan-Rússia, em nível diplomático, no quartel-general da organização, em Bruxelas. As atividades desse conselho estão congeladas desde a anexação da península da Crimeia, em 2014, e da intervenção russa no conflito no leste da Ucrânia.
Como sinal de boa vontade, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, falou ao telefone com seu homólogo russo, Vladimir Putin, pouco antes da cúpula de Varsóvia. Ambos concordaram quanto a uma cooperação estreita no combate à organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) na Síria, numa demonstração que Washington e Moscou têm interesses comuns.
Ucrânia e Geórgia também presentes em Varsóvia
Para a especialista em Otan Judy Dempsey, contudo, está claro que quatro batalhões não têm a menor chance de impressionar militarmente o Kremlin. "O estacionamento dá aos russos um bom pretexto para criticar. Eles querem dividir a Otan e veem, é claro, que os social-democratas da coalizão de governo alemã têm problemas com os passos da organização", comenta, referindo-se também às declarações de Steinmeier.
No fim do encontro de dois dias, os líderes da Otan também encontrarão em Varsóvia o presidente ucraniano, Petro Poroshenko. A mensagem será que as Forças Armadas de seu país seguirão sendo equipadas e treinadas para dar conta da guerra civil no leste da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, porém, a aliança também espera que Kiev cumpra sua parte na implementação do Plano de Paz de Minsk, delineado na capital bielorrussa por Ucrânia, Rússia, Alemanha e França. Até o momento, é sobretudo Moscou a bloquear partes essenciais desse plano.
A Geórgia, candidata a filiação à Organização do Tratado do Atlântico Norte, só participará da cúpula em Varsóvia no nível dos ministros do Exterior. A Rússia, que apoia os separatistas georgianos na ocupação de territórios, é radicalmente contra a ampliação da Aliança Atlântica
Fonte: Deutsche Welle
0 comentários:
Postar um comentário