O juiz Sergio Moro criticou, em uma palestra nos EUA nesta quinta-feira (14), o que chamou de "omissão" do Executivo e do Congresso brasileiros no esforço para combater a corrupção e disse que o apoio até agora tem sido apenas verbal.
"Eles poderiam, por exemplo, propor e aprovar melhores leis para prevenir a corrupção. Também poderiam ajudar os esforços dos agentes da Justiça de outras maneiras. Sua omissão é muito desapontadora", afirmou.
"Para ser justo, o governo atual disse em várias ocasiões que apoia e endossa as investigações", continuou ele. "Mas os brasileiros devem esperar mais do que apoio verbal."
Moro falou no Wilson Center, instituição de Washington para a discussão de temas globais que tem um instituto voltado para temas brasileiros. Ele começou explicando o sistema judiciário brasileiro e apresentando um resumo da Operação Lava Jato, dizendo que o pagamento de propina na Petrobras parece ser a regra, não a exceção.
Em seguida, falou que a corrupção sistêmica no Brasil traz um custo "enorme" e tem impacto na confiança nas leis e na democracia.
Moro também lembrou da importância do setor privado no combate à corrupção. "Empresas devem fazer seu dever de casa, dizendo não ao pagamento de propinas, implementando mecanismos de controle interno e denunciando pedidos de pagamento de propina", disse.
Ele ainda listou e refutou algumas críticas sofridas pela Lava Jato. Segundo Moro, as reações vieram especialmente das empresas envolvidas no esquema e dos políticos.
"Alguns críticos reclamaram que a Lava Jato não é imparcial e tem fins políticos. Isso não está certo. Claro que, se o crime envolve propinas pagas a políticos, o caso inevitavelmente terá consequências políticas. Mas isso foge ao controle do tribunal", disse.
Em vários momentos, Moro disse que se um político comete um crime ele deve ser julgado, não importando se é de direita, de esquerda ou de centro.
Moro também afirmou que a Lava Jato não criminaliza a política. "A culpa não deve recair sobre o processo judicial, mas sobre os políticos que cometeram crimes. O processo judicial é apenas uma consequência."
Questionado pela plateia sobre quanto tempo deve durar a operação, ele disse que não tem como dizer ao certo, mas acredita que até o fim do ano sua parte esteja finalizada, mas que a parte que envolve o julgamento de políticos com foro privilegiado deve demorar mais, por causa da sobrecarga da Suprema Corte.
"Não consigo dizer com certeza porque é um caso em andamento e às vezes novas evidências aparecem. Um dia eu disse que poderia terminar no fim do ano, e a maioria das empresas que pagaram propinas já foram ouvidas, acusadas e julgadas", respondeu. "Minha parte deve ser no fim do ano, mas não posso dizer com certeza", afirmou.
Fonte: G1 Notícias
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