quinta-feira, 28 de julho de 2016

Falta de coordenação prejudica operações na Síria, diz Kremlin

Base militar da coalizão ocidental na Síria teria sofrido ataque pela força aérea russa, segundo veículos de comunicação nos EUA e na Europa. Embora o Ministério da Defesa russo não confirme o incidente, órgão ressaltou risco de operações devido à falta de coordenação entre a Rússia e o grupo liderado por Washington.

Um porta-voz do Ministério da Defesa russo negou as acusações de que o país teria planejado com antecedência um ataque a uma base dos EUA-Reino Unido na Síria, ainda em 16 de junho, e ressaltou que estruturas da coalizão internacional poderiam estar na zona de ação das forças aeroespaciais russas “por culpa de sua liderança, que se recusa a coordenar as operações na Síria com Moscou”.
A declaração veio na esteira de uma reportagem divulgada pelo norte-americano “The Wall Street Journal”, no último dia 21 de julho, na qual o veículo denuncia um suposto ataque aéreo pelas forças aeroespaciais russas sobre uma base da coalizão ocidental contra Estado Islâmico (EI).
Segundo o jornal, o ataque em al-Tanf, no sudeste da Síria, teve como alvo uma base secreta usada tanto por rebeldes sírios, como pelas forças especiais norte-americanas e britânicas. Fontes entrevistadas pelo veículo alegam que o incidente teria sido premeditado pela Rússia.
Acidente ou ação planejada
O ataque aéreo perpetrado em al-Tanf mirava terroristas, segundo o especialista militar da Tass, Víktor Litôvkin. “A pasta da Defesa não sabia que a base era também usada por norte-americanos e britânicos”, disse Litôvkin à Gazeta Russa, antes de acrescentar que “representantes de grupos como a al-Nusra estavam na base”.
Já o especialista em estudos árabes e professor sênior do departamento de Ciências Políticas na Escola Superior de Economia, em Moscou, Leonid Issaiev, qualifica a versão do jornal norte-americano como “credível”.
“Ao atacar a base, a Rússia enviou aos EUA e seus aliados um sinal de que a falta de coordenação pode ser muito perigosa, e isso teve efeito”, diz Issaiev. “As negociações que ocorreram entre [o chanceler russo Serguêi] Lavrov e [o secretário de Estado dos EUA John] Kerry recentemente [após o ataque na base] focaram justamente a necessidade de coordenação russo-americana na Síria.”
Confronto direto improvável
Um ataque russo a uma base dos EUA-Reino Unido parece preocupante, mas a reação ao incidente foi contida. As autoridades de ambos os países não teceram comentários sobre o episódio, com exceção de um relatório divulgado pelo Pentágono em 18 de junho, segundo o qual as partes discutiram a situação em detalhes e garantiram que assumirão esforços para evitar a repetição do de incidentes como esse no futuro.
“As tropas norte-americanas e britânicas não sofreram perdas no ataque”, disse Litôvkin. “Por isso, a resposta contida dos oficiais”, completou.
Apesar de conduzido contra uma base da coalizão ocidental, o ataque teve como alvo os combatentes da oposição síria, e não os representantes estrangeiros, garante Issaiev. “A Rússia não iria atacar os Estados Unidos e suas forças aliadas na Síria.
Tanto a Rússia como os Estados Unidos entendem que um confronto direto pode levar a um grave conflito que nenhum dos lados tem interesse”, afirma.
Dificuldades de coordenação
A Rússia já sugeriu aos Estados Unidos uma cooperação mais estreita na Síria. A iniciativa pressupõe a coordenação de uma lista única de grupos terroristas e o compartilhamento das coordenadas de combatentes da oposição leais à coalizão ocidental a fim de poupá-las de possíveis ataques pela força aérea russa. No entanto, esta opção não serão realizada em futuro breve, concordam Issaiev e Litôvkin.
“Os Estados Unidos têm dificuldade em criar uma lista única com forças da oposição moderada que não devem ser atingidas e com quais deve-se negociar”, explica Issaiev. “O problema é que a oposição é muito turva”, acrescenta.
Muitos grupos de oposição, segundo o observador, se dividiram em facções menores e vêm atuando sob diferentes bandeiras, declarando-se alternadamente seculares e islâmicos, e, por vezes, cooperando com grupos terroristas como Frente al-Nusra.
Além disso, Litôvkin sugere que a coordenação é dificultada por disputas entre o departamentos de Estado e de Defesa dos EUA, que mantêm diferentes pontos de vista sobre a cooperação com a Rússia na Síria. “Quando Lavrov negocia algo com Kerry, em seguida, verifica-se que não é um acordo aos olhos do Pentágono e da liderança das forças dos EUA na Síria”, disse.

Fonte: Gazeta Russa
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