A Rússia fez uma proposta para evitar uma ação militar na Síria
- pediu ao governo sírio que coloque seu arsenal de armas químicas sob controle
internacional e o destrua. Mas quão viável é esse plano?
O caminho diplomático para controlar e destruir o arsenal químico da Síria
não seria fácil.
Primeiro, o governo sírio teria que confirmar que de fato tem armas químicas,
algo que se recusou a fazer por décadas - exceto por um comentário não
intencional feito por um porta-voz do governo.
Em seguida, Damasco teria que identificar exatamente quais e em que
quantidades os químicos estariam armazenados e qual a sua localização. Tal
declaração teria que ser verificada, provavelmente por inspetores da ONU, que
iriam até lá para confirmar se as afirmações do governo corresponderiam ao que
se encontrou no país.
Mesmo assim, o debate continuaria sobre se a lista de químicos fornecida pelo
governo estaria completa e se o governo ainda estaria escondendo parte do seu
arsenal.
Lembre-se das muitas visitas feitas ao Iraque por inspetores de armamentos da
ONU durante um período de mais de dez anos, e dos argumentos usados antes da
invasão americana em 2003.
Em segundo lugar, é difícil saber como essa iniciativa decolaria sem a
aprovação do Conselho de Segurança da ONU - o mesmo que durante três anos falhou
repetidas vezes em chegar a um consenso sobre resoluções a respeito da
Síria.
Seria preciso redigir um pedido formal para que a Síria levasse seu arsenal a
um local onde pudesse ser armazenado com segurança e destruído. O
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, já indicou que está pensando em falar com
o Conselho de Segurança sobre o assunto.
Mas o rascunho de qualquer resolução poderia facilmente afundar em discussões
sobre os termos e a linguagem usada. O ministro das Relações Exteriores da
França, Laurent Fabius, alertou para o fato de que qualquer resolução do
Conselho de Segurança precisaria impôr condições duras, com um prazo curto para
que fossem cumpridas e um alerta de consequências severas caso não fosse
implementada.
Mas a Rússia concordaria com isso? Não da maneira como está sendo feito
atualmente.
Tática paralisadora?
Em terceiro lugar, mesmo que esses obstáculos fossem vencidos, os problemas
práticos de enviar inspetores da ONU em um país em meio a uma guerra civil
também teriam que ser superados.
Será que todos os lados do conflito seriam convencidos a concordar com um
cessar-fogo para permitir que os funcionários da ONU tivessem acesso ao arsenal
para fazer o seu trabalho? Será que as promessas para garantir a segurança de
inspetores internacionais em partes do país onde nenhum grupo tem controle
realmente significariam alguma coisa?
Tentativas anteriores de tréguas para permitir que agências humanitárias
entrassem no país para ajudar os feridos e refugiados não se concretizaram.
Conseguir um acordo sobre esse assunto seria ainda mais difícil.
Então, considerando todos esses obstáculos, há alguma chance de que essa
iniciativa consiga sair do papel?
A proposta pareceu ter aparecido do nada. O próprio ministro das Relações
Exteriores russo, Sergei Lavrov, admitiu que a ideia surgiu de um comentário
improvisado do secretário de Estado americano, John Kerry, que foi levada ao
ministro das Relações Exteriores sírio no mesmo dia.
É possível que tanto os russos quando os sírios encarem a proposta como uma
tática paralisadora para tentar adiar uma ação militar americana ou sabotar o já
frágil apoio público a um ataque.
No entanto, o plano não foi rejeitado por Washington e o presidente Barack
Obama chegou a dizer que era um "potencial avanço". Ele também revelou em uma
entrevista que discutiu na semana passada a ideia de pôr o arsenal químico na
Síria sob controle internacional com o presidente russo Vladimir Putin.
Autoridades americanas dizem estar preparadas para considerar a oferta - caso
ela seja verdadeira -, mas ao mesmo tempo pedem que o Congresso aprove a ação
militar, argumentando que é a única maneira de pressionar o regime de Assad.
Internacionalmente, todos os lados do conflito parecem concordar que se o
governo sírio fosse convencido a abrir mão de suas armas químicas, seria um
passo importante.
E todos os lados querem passar a impressão de estarem encorajando uma solução
pacífica para o conflito, mesmo que haja somente uma pequena chance de que essa
seja a melhor maneira de fazê-lo.
Fonte: BBC Brasil
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