Em teoria, qualquer ataque liderado pelos Estados Unidos contra
o regime do presidente Bashar al-Assad é um presente para os jihadistas que
lutam para derrubá-lo.
O bombardeio de mísseis Tomahawk esperado para ocorrer sobre bases sírias e
centros de comando e controle – se o presidente Barack Obama obtiver aprovação
do Congresso – certamente ferirá os inimigos dos jihadistas, porém talvez não
fatalmente.
Mas, ao invés de ser comemorada pela cúpula jihadista, a possibilidade de
ataque soou o alarme e causou confusão na Síria e entre outros grupos
islâmicos.
Muitos se dizem convencidos de que os alvos reais dos ataques americanos
serão as numerosas milícias islâmicas anti-ocidentais que se proliferaram nos
dois anos e meio da guerra civil na qual mais de 100.000 pessoas foram
mortas.
Segundo ataque
"Um ataque iminente dos Estados Unidos terá como alvo posições da al-Nusra,
do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL)", anunciou uma mensagem no
Twitter no dia 25 de agosto publicada em uma conta que apoia um dos dois mais
efetivos grupos jihadistas que lutam na Síria.
A mensagem listou a visão do grupo sobre os objetivos primários dos mísseis:
sistemas sírios de radar e defesas aéreas, depósitos de mísseis Scud e veículos
envolvidos com armas químicas.
O grupo afirmou ainda que o segundo ataque de mísseis seria contra forças da
al-Nusra, campos de treinamento do ISIL, líderes de facções jihadistas e
tribunais da Sharia (a Justiça religiosa islâmica).
A administração americana tem se esforçado para salientar que qualquer ação
militar será uma resposta estrita para o que dizem ser um uso significativo de
armas químicas pelo regime de Assad nos subúrbios de Damasco no dia 21 de
agosto. O governo dos EUA também nega que entrará na guerra civil síria do lado
de alguma das forças.
De fato, o medo por parte dos americanos sobre o crescimento do efetivo e do
poder de fogo dos rebeldes jihadistas impediu que os opositores de Assad
recebessem o apoio dos Estados Unidos.
Mas na segunda-feira, o vice chanceler da Síria, Faisal Mekdad, disse à BBC
que qualquer ação americana contra seu governo na verdade ajudaria os jihadistas
antiocidente.
"Qualquer ataque contra a Síria é apoio à al-Qaeda e seus afiliados, como a
Frante al-Nusra ou o Estado do Islã na Síria ou o Iraque", afirmou.
Alvo real
Estejam os jihadistas sírios ou não na mira dos americanos, eles não devem se
arriscar.
"Você pensa que acreditamos nos americanos?", um integrante do grupo rebelde
Liwa al-Islam teria dito. Ela ainda afirmou: "Eles deram um aviso de duas
semanas para que Assad limpe suas bases. Nós sabemos que somos o alvo real".
Na preparação para o ataque de mísseis – se e quando acontecer – instruções
foram passadas online para os comandantes rebeldes para que mudem de posição e
não se reúnam em grandes grupos ou comboios.
Há um medo específico de que chips de localização sejam escondidos nos carros
dos líderes para guiar mísseis – procedimento que pode ter sido usado em áreas
tribais do Paquistão e na Faixa de Gaza.
"Todos os líderes devem mudar de posição para confundir os espiões", diz uma
das instruções enviadas pela internet para os grupos jihadistas. "Mudem a
sequência dos afazeres de rotina e os locais habituais das orações. Evitem
aparecer em público".
Tal é a profundidade da hostilidade e das suspeitas dos grupos jihadistas em
relação aos governos ocidentais que alguns deles acusaram o Ocidente de estar
por trás indiretamente dos ataques químicos de 21 de Agosto, afirmando que "o
Ocidente deu luz verde para Assad".
Fonte: BBC Brasil
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