Depois de quatro anos de luta interna, o acordo entre as facções palestinas do Hamas e do Fatah é uma façanha, mas restam muitos obstáculos a superar antes que uma unidade política palestina se torne realidade.
Líderes do Hamas e do Fatah assinaram, nesta quarta-feira, um pacto de reconciliação, que estabelece a formação de um governo de transição, cujas principais tarefas serão preparar as próximas eleições palestinas e reconstruir Gaza.
Para a maioria dos palestinos que têm pedido a unidade política entre os seus líderes, isso é motivo para comemoração - mas também para um pouco de cautela.
DIVISÃO PROFUNDA
A pergunta mais importante é: esse acordo vai funcionar na prática?
O pacto visa a realização de eleições presidenciais e parlamentares no próximo ano. Muitas coisas podem dar errado antes disso.
A divisão entre Hamas e Fatah é profunda. Ela tem sido amarga e, em algumas vezes, violenta.
Vidas foram perdidas, e, nos últimos quatro anos, as forças de segurança dos dois lados prenderam e perseguiram umas às outras.
Serão eles capazes de colocar suas diferenças de lado para defender um governo interino de unidade formado por políticos independentes encarregados de se preparar para novas
eleições?
Existirá uma divisão de poder, em particular, em termos de segurança?
É entendido que, inicialmente, as forças do Hamas continuarão a administrar Gaza, com autoridades do Fatah controlando a Cisjordânia.
Israel - que se sente ameaçada pelo Hamas -, por sua vez, não quer que este acordo ocorra.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, disse que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, deve escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas.
No momento, parece que Abbas, frustrado com o processo de paz emperrado no Oriente Médio, escolheu a segunda opção.
Um importante político palestino, familiarizado com a negociação do acordo, disse que este refletiu um sentimento de que os diálogos de paz com Israel, conduzidos pelos Estados Unidos, não estavam levando a lugar nenhum.
Ele afirmou que autoridades americanas estavam a par, mas se opunham à reconciliação Hamas-Fatah. Abbas decidiu continuar com ela de qualquer maneira.
O político disse que a União Europeia (UE) tem sido muito mais positiva em relação aos esforços de unidade palestina.
IMPACTO REGIONAL
Muitos estarão atentos para ver como os Estados Unidos e a UE responderão a isso, já que ambos consideram o Hamas uma organizçaão terrorista.
Ambos dão milhões de dólares à Autoridade Nacional Palestina de Abbas. Continuarão eles a fazer isso se o Hamas agora tiver uma voz ativa sobre o que acontecerá com o dinheiro?
Então, por que este progresso ocorreu agora? Parece que os últimos levantes no Oriente Médio tiveram uma participação nisso.
Nos últimos meses, dezenas de milhares de palestinos foram às ruas de Gaza e da Cisjordânia pedindo unidade política.
Os protestos, embora não tenham a dimensão das manifestações em outros lugares, claramente ganharam a atenção dos líderes políticos palestinos.
De acordo com pessoas próximas à negociação do acordo, a troca de poder no Egito também teve um impacto.
Uma fonte afirma que, no passado, o ex-presidente egípcio Hosni Mubarak - sob pressão americana - foi bem menos entusiástico com a reconciliação Hamas-Fatah do que a nova liderança egípcia.
O Egito ficará orgulhoso de seu papel em aparentemente conseguir um acordo. Abbas achará que a conciliação fortalecerá a sua posição.
Abbas planeja ir à ONU em setembro para tentar obter reconhecimento oficial de um Estado palestino com base nas fronteiras de 1967.
OPERAÇÃO MILITANTE
No entanto, Israel e os Estados Unidos, que já se opuseram a essa manobra na ONU, devem provavelmente argumentar que o Hamas falhou em renunciar à violência, fortalecendo a sua oposição.
Também haverá palestinos opostos à reconciliação Hamas-Fatah.
Em Gaza, o Hamas enfrenta um ameaça pequena, mas significativa, por parte de outras facções militantes que acreditam que o movimento islâmico fez muitas concessões e se tornou muito moderado.
Esses grupos são responsáveis por muitos dos disparos de foguetes em direção ao território israelense.
Neste mês, o ativista italiano pró-palestino Vittorio Arrigoni foi sequestrado e morto em Gaza por radicais islâmicos inspirados na Al Qaeda, chamados por vezes de salafistas.
O sequestro de um estrangeiro, o primeiro desde que o Hamas chegou ao poder em Gaza, foi visto como um desafio à autoridade do grupo.
Os salafistas, alguns dos quais ex-integrantes do Hamas, dificilmente darão boas-vindas a uma reconciliação política com o partido Fatah, que é secular
Fonte: BBC Brasil
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