Um dos principais contratos do programa de reaparelhamento das Forças Armadas sofreu um corte profundo: o ministro da Defesa, Nelson Jobim, decidiu suspender o processo de incorporação de novos helicópteros russos Mi-35 à Força Aérea Brasileira (FAB) - onde foram rebatizados com o nome AH-2 Sabre.
A reboque dos problemas orçamentários e de assistência técnica para as seis primeiras unidades já entregues, Jobim mandou contingenciar R$ 112 milhões do programa que deveriam ser gastos ao longo deste ano.
Os 12 modelos Mi-35 que o Brasil comprou da Rússia por cerca de US$ 250 milhões foram incorporados à frota da FAB em abril de 2010. O lote final, de seis unidades, deveria ser entregue até o fim deste ano. O Comando do Exército considerava a possibilidade de adquirir ao menos mais quatro desses "tanques voadores" para equipar a aviação de força terrestre.
O Estado apurou no Ministério da Defesa que Jobim tomou a decisão de paralisar a incorporação dos novos aparelhos aproveitando "o surgimento de argumentos técnicos". Evitando entrar em detalhes, um oficial do Comando da Aeronáutica disse que "não há nenhum problema grave na assistência técnica, mas existem falhas em determinados componentes dos aparelhos que estão no País". Embora o desempenho operacional seja considerado bom, as primeiras aeronaves apresentaram problemas técnicos.
Um deles foi o do estabelecimento de compatibilidade entre a eletrônica de bordo, russa, e o sistema de comunicações da FAB, que segue padrões americanos. Houve dificuldades na adaptação da conexão às fontes externas de energia. Mais recentemente, pedidos de fornecimento de peças e componentes não foram atendidos de forma conveniente.
Os argumentos técnicos são vistos como "razões providenciais" para segurar o orçamento da Defesa. O ministério foi um dos mais atingidos pelo corte total de R$ 50 bilhões que a presidente Dilma Rousseff decretou no início do governo. Dos R$ 15 bilhões aprovados pelo Congresso, a Defesa teve contingenciados, em fevereiro, R$ 4 bilhões.
Só suspensão. Formalmente, o governo brasileiro não rasgou o contrato com a Rússia, apenas suspendeu por todo o ano a incorporação dos Mi-35 e o respectivo desembolso. Além dos 12 helicópteros, cuja compra foi formalizada em outubro de 2008, o Brasil adquiriu um pacote de armamentos e suprimentos para manutenção por cinco anos. O acordo foi assinado no Rio, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por seu colega russo Dmitri Medvedev.
À época, a imprensa russa, a começar pelo jornal Pravda, avaliou que a importação das aeronaves quebrava uma série de "tabus". Trata-se dos primeiros equipamentos militares pesados comprados da Rússia pelo Brasil, e também os primeiros helicópteros da FAB desenhados especificamente para situações de combate - os que estavam em ação na época eram modelos civis adaptados. O ministro Jobim participou da cerimônia de "batismo" das aeronaves, na Base Aérea de Porto Velho, em Rondônia. Jobim disse ainda que haveria transferência de tecnologia em simuladores de voo.
FICHA TÉCNICA
Modelo: AH-2 Sabre
Fabricante: Mil Moscou Bureau
Tipo: helicóptero de assalto e ataque
Tripulação: 1 piloto; 1 artilheiro; 8 soldados
Comprimento: 17,5 metros
Rotor: 17,3 metros
Peso: 12,2 toneladas
Velocidade: 335 km/hora
Alcance: 450 km
Armamento: canhão rotativo; lançador de foguetes e mísseis; metralhadora lateral; cargas de ataque até 1.500 quilos
Marcha à ré
US$ 250 mi foi o valor pago por 12 helicópteros Mi-35 incorporados à FAB em 2010
R$ 112 mi foi o total de recursos que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou como contingenciamento da pasta
A pedido de Lula, um prêmio de consolação para os russos
Os russos, pela vontade do então presidente Lula, precisavam levar um prêmio de compensação. Haviam ficado de fora, na etapa final da escolha do novo caça de tecnologia avançada da FAB e ruminavam sua decepção. Era outubro de 2008 e a Aeronáutica cuidava, em outra frente, da compra de helicópteros especiais, de assalto e ataque - concorriam fornecedores italianos e russos. O produto de Moscou era o Mi-35, o "tanque voador", provado em 24 conflitos, escolhido por 60 países. Mais que isso: o governo russo atrelava ao negócio a instalação no País de uma ampla estrutura de manutenção com clientela garantida - a Venezuela e o Peru, usuários do mesmo tipo de equipamento. Também estava envolvido um processo de transferência de tecnologia. Para os especialistas do Comando da Aeronáutica o modelo preferido era, de longe, o americano Apache, inacessível pelo preço de aquisição, que começava em US$ 20 milhões e pelo veto à entrega de conhecimento sensível.
O impressionante Mi-35 parecia uma boa alternativa, rústico, facil de operar e com capacidade de múltiplo emprego, podendo transportar até oito soldados prontos para o combate - sem prejudicar o sistema de armas. As primeiras três unidades, já rebatizadas de Sabre pela Força Aérea, foram recebidas em abril do ano passado na Base Aérea de Porto Velho, Rondônia. Entraram em ação, em missão de vigilância armada sobre a Amazônia. Foi um avanço significativo, mas o comando da aviação militar deu ao fato um discreto tratamento.
O Comando do Exército, que acaba de contratar a revitalização de sua frota de helicópteros e recebeu em dezembro o Super Cougar EC-725 inaugural de uma frota de 16 aeronaves, estuda a aquisição de ao menos quatro versões do Mi-35. Quer usá-los, para dar apoio à guarda das fronteiras da Região Norte.
Fonte: Estadão
A reboque dos problemas orçamentários e de assistência técnica para as seis primeiras unidades já entregues, Jobim mandou contingenciar R$ 112 milhões do programa que deveriam ser gastos ao longo deste ano.
Os 12 modelos Mi-35 que o Brasil comprou da Rússia por cerca de US$ 250 milhões foram incorporados à frota da FAB em abril de 2010. O lote final, de seis unidades, deveria ser entregue até o fim deste ano. O Comando do Exército considerava a possibilidade de adquirir ao menos mais quatro desses "tanques voadores" para equipar a aviação de força terrestre.
O Estado apurou no Ministério da Defesa que Jobim tomou a decisão de paralisar a incorporação dos novos aparelhos aproveitando "o surgimento de argumentos técnicos". Evitando entrar em detalhes, um oficial do Comando da Aeronáutica disse que "não há nenhum problema grave na assistência técnica, mas existem falhas em determinados componentes dos aparelhos que estão no País". Embora o desempenho operacional seja considerado bom, as primeiras aeronaves apresentaram problemas técnicos.
Um deles foi o do estabelecimento de compatibilidade entre a eletrônica de bordo, russa, e o sistema de comunicações da FAB, que segue padrões americanos. Houve dificuldades na adaptação da conexão às fontes externas de energia. Mais recentemente, pedidos de fornecimento de peças e componentes não foram atendidos de forma conveniente.
Os argumentos técnicos são vistos como "razões providenciais" para segurar o orçamento da Defesa. O ministério foi um dos mais atingidos pelo corte total de R$ 50 bilhões que a presidente Dilma Rousseff decretou no início do governo. Dos R$ 15 bilhões aprovados pelo Congresso, a Defesa teve contingenciados, em fevereiro, R$ 4 bilhões.
Só suspensão. Formalmente, o governo brasileiro não rasgou o contrato com a Rússia, apenas suspendeu por todo o ano a incorporação dos Mi-35 e o respectivo desembolso. Além dos 12 helicópteros, cuja compra foi formalizada em outubro de 2008, o Brasil adquiriu um pacote de armamentos e suprimentos para manutenção por cinco anos. O acordo foi assinado no Rio, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por seu colega russo Dmitri Medvedev.
À época, a imprensa russa, a começar pelo jornal Pravda, avaliou que a importação das aeronaves quebrava uma série de "tabus". Trata-se dos primeiros equipamentos militares pesados comprados da Rússia pelo Brasil, e também os primeiros helicópteros da FAB desenhados especificamente para situações de combate - os que estavam em ação na época eram modelos civis adaptados. O ministro Jobim participou da cerimônia de "batismo" das aeronaves, na Base Aérea de Porto Velho, em Rondônia. Jobim disse ainda que haveria transferência de tecnologia em simuladores de voo.
FICHA TÉCNICA
Modelo: AH-2 Sabre
Fabricante: Mil Moscou Bureau
Tipo: helicóptero de assalto e ataque
Tripulação: 1 piloto; 1 artilheiro; 8 soldados
Comprimento: 17,5 metros
Rotor: 17,3 metros
Peso: 12,2 toneladas
Velocidade: 335 km/hora
Alcance: 450 km
Armamento: canhão rotativo; lançador de foguetes e mísseis; metralhadora lateral; cargas de ataque até 1.500 quilos
Marcha à ré
US$ 250 mi foi o valor pago por 12 helicópteros Mi-35 incorporados à FAB em 2010
R$ 112 mi foi o total de recursos que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou como contingenciamento da pasta
A pedido de Lula, um prêmio de consolação para os russos
Os russos, pela vontade do então presidente Lula, precisavam levar um prêmio de compensação. Haviam ficado de fora, na etapa final da escolha do novo caça de tecnologia avançada da FAB e ruminavam sua decepção. Era outubro de 2008 e a Aeronáutica cuidava, em outra frente, da compra de helicópteros especiais, de assalto e ataque - concorriam fornecedores italianos e russos. O produto de Moscou era o Mi-35, o "tanque voador", provado em 24 conflitos, escolhido por 60 países. Mais que isso: o governo russo atrelava ao negócio a instalação no País de uma ampla estrutura de manutenção com clientela garantida - a Venezuela e o Peru, usuários do mesmo tipo de equipamento. Também estava envolvido um processo de transferência de tecnologia. Para os especialistas do Comando da Aeronáutica o modelo preferido era, de longe, o americano Apache, inacessível pelo preço de aquisição, que começava em US$ 20 milhões e pelo veto à entrega de conhecimento sensível.
O impressionante Mi-35 parecia uma boa alternativa, rústico, facil de operar e com capacidade de múltiplo emprego, podendo transportar até oito soldados prontos para o combate - sem prejudicar o sistema de armas. As primeiras três unidades, já rebatizadas de Sabre pela Força Aérea, foram recebidas em abril do ano passado na Base Aérea de Porto Velho, Rondônia. Entraram em ação, em missão de vigilância armada sobre a Amazônia. Foi um avanço significativo, mas o comando da aviação militar deu ao fato um discreto tratamento.
O Comando do Exército, que acaba de contratar a revitalização de sua frota de helicópteros e recebeu em dezembro o Super Cougar EC-725 inaugural de uma frota de 16 aeronaves, estuda a aquisição de ao menos quatro versões do Mi-35. Quer usá-los, para dar apoio à guarda das fronteiras da Região Norte.
Fonte: Estadão
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