domingo, 20 de março de 2011

Ocidente ataca defesas líbias e Gaddafi promete resistir


Norte-americanos e europeus lançaram ataque aéreo contra as forças do líder líbio Muammar Gaddafi, na maior operação militar ocidental no mundo árabe desde a invasão ao Iraque em 2003.

Os ataques interromperam os avanços das tropas de Gaddafi no reduto rebelde de Benghazi, e foi estabelecida uma zona de exclusão aérea na Líbia, com as defesas anti-aéreas do governo removidas e nenhum sinal de aviões líbios, disse o almirante Mike Mullen, presidente do Joint Chiefs of Staff (grupo de líderes militares que aconselha o presidente dos EUA), à rede NBC.

Gaddafi classificou os ataques como terrorismo. Funcionário do governo líbio informou que 4 pessoas morreram por causa da ação do Ocidente. A TV também disse que houve mais ataques no início deste domingo, em Trípoli. Não há como verificar as informações oficiais.

Aviões franceses iniciaram os disparos no sábado, destruindo tanques e veículos blindados perto de Benghazi. A intervenção militar foi aprovada pelas Nações Unidas para obrigar as forças de Gaddafi a um cessar-fogo e a interromper os ataques contra civis que se rebelaram no mês passado contra o governo, há 41 anos no poder.

Aviões voavam sobre a Líbia de novo neste domingo, segundo uma fonte militar. O Reino Unido declarou que os seus aviões atacaram defesas anti-aéreas na região da capital Trípoli.

Na principal rota de acesso a Benghazi, havia restos de veículos militares do governo neste domingo, enquanto os rebeldes retornavam à cidade de Ajdabiyah, que eles haviam perdido na semana passada.

Cerca de 14 tanques, dois caminhões com lançadores de foguetes e mais dezenas de veículos foram destruídos. Junto aos veículos estão catorze corpos. A escala do bombardeio torna difícil a identificação de corpos. Munições explodiram em meio ao fogo.

"Gaddafi é como uma galinha, e a coalizão está arrancando as suas penas, então ele não pode voar. Os revolucionários irão cortar o seu pescoço", afirmou junto aos destroços Fathi Bin Saud, um rebelde de 52 anos, que carregava um lançador de granadas.

Os aviões e submarinos norte-americanos e britânicos lançaram 110 mísseis Tomahawk durante a noite contra defesas da região de Trípoli e da cidade de Misrata, segundo militares dos Estados Unidos.

Segundo eles, forças do Reino Unido, França, Canadá e Itália trabalham junto com os EUA. A Dinamarca declarou ter quatro aviões prontos para se juntar ao grupo neste domingo. Eles estariam esperando as instruções norte-americanas.

Gaddafi declarou que todos os líbios estavam agora armados para defender o país e que a derrota do Ocidente era inevitável. "Não iremos deixar a nossa terra", afirmou ele na TV estatal.

APREENSÃO

A China e a Rússia, que se abstiveram na votação do Conselho de Segurança que aprovou a intervenção, lamentaram a ação militar. O ministro do Exterior chinês declarou esperar que o conflito não resulte num grande número de civis mortos.

Explosões e disparos anti-áereos soaram em Trípoli nas primeiras horas deste domingo. Gritos desafiadores de "Allahu Akbar" (Deus é grande) ecoavam no centro da cidade.

A TV estatal mostrou imagens de um hospital não identificado e do que chamou de vítimas do "inimigo colonial". Dez corpos estavam enrolados com lençois, e várias pessoas, feridas.

Moradores de Trípoli afirmaram ter ouvido uma explosão no leste da cidade. Em Misrata, os relatos é que os ataques tiveram como alvo uma base aérea usada pelas forças de Gaddafi. As tropas do governo ainda cercavam Misrata neste domingo, segundo um morador, e atiradores do governo posicionavam-se em tetos de construções no centro da cidade.

"Eles parecem prontos para atirar em qualquer coisa que se mover", disse à Reuters um morador.

Um observador da Reuters em Benghazi relatou explosões no reduto rebelde e o barulho de artilharia anti-aérea durante a noite. Não era claro que lado estava atirando.

A intervenção, depois de semanas de discussões diplomáticas, foi recebida em Benghazi com um misto de apreensão e alívio.

"Achamos que isso vai acabar com a era Gaddafi. Líbios nunca esquecerão o apoio da França", disse Iyad Ali, de 37 anos.

"Saudamos a França, o Reino Unido, os EUA, mas achamos que Gaddafi vai descontar nos civis. Então, o Ocidente tem que atacar com força," declarou o funcionário público Khalid al-Ghurfaly, 38.

O principal hospital de Benghazi está cheio de adultos e crianças depois do ataque das forças de Gaddafi no sábado. Havia 24 corpos, incluindo oito soldados do governo, visíveis no necrotério. Mais corpos estavam guardados nos refrigeradores.

"Gaddafi provocou isso", afirmou o premiê britânico, David Cameron, no sábado. "Não podemos deixar que continue o massacre de civis."

Alguns analistas questionaram a estratégia de intervenção militar. Eles temem que o Ocidente possa se ver envolvido numa longa guerra civil, apesar da insistência dos EUA de que não há planos para enviar forças terrestres para a Líbia.

No entanto, analistas questionam o que o Ocidente vai fazer se o líder líbio resistir, especialmente porque a divisão do país em dois não parece ser uma solução aceitável para os Estados Unidos e os seus aliados.

Fonte: Reuters
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