A comunidade internacional investe com forças militares contra Kadafi, cumprindo a decisão da cúpula extraordinária em Paris. Uma equação com numerosas incógnitas, comenta Bernd Riegert.
Ao iniciar ataques contra alvos na Líbia, sob liderança francesa, a coalizão internacional se lança a uma aventura perigosa. Não será possível vencer as tropas do líder líbio com algumas investidas aéreas isoladas. As forças líbias podem simplesmente recuar e, se necessário, esperar semanas, sitiar Bengasi ou cortar o abastecimento de água.
Muamar Kadafi controla 80% da Líbia, dispõe de todos os recursos necessários. Se a coalizão não estiver disposta a aniquilar toda a defesa aérea e a Aeronáutica da Líbia com ofensivas maciças, há pouco o que possa fazer para fazer valer na prática a zona de exclusão aérea.
Entretanto, nos Estados Unidos não é muito acentuada a inclinação a se engajar de forma maciça. O presidente Barack Obama rejeitou expressamente o emprego de tropas de infantaria e uma mobilização por prazo mais longo. É totalmente nebuloso o que se pretende alcançar com essa operação militar. Caso se trate de proteger os civis contra Kadafi, então a coalizão deve se preparar para meses de ação militar. Pois o líder tem tempo, ele pode esperar.
Uma intervenção de fora só faz sentido se tiver como fim eliminar o regime de Kadafi. Para tal, seriam necessárias investidas direcionadas e intensas contra as dependências do governo em Trípoli e os presumíveis locais de permanência do líder líbio. Sem mudança de regime, não há perspectivas de uma solução estável para a Líbia. Acontece que, pelo menos publicamente, os participantes da cúpula extraordinária de Paris ainda excluem a meta "troca de regime" – que não está prevista na resolução da ONU.
Também no caso desta guerra, vale o princípio: se você entrar, tem que saber como e quando pode terminar a luta. Eu temo que, apesar da lição das guerras dos Bálcãs, do Iraque e do fiasco da Somália, a coalizão se deixou envolver nessa guerra civil, talvez por motivos nobres. Como terminará, é ainda impossível prever.
Por isso, é acertada a decisão do governo alemão de não participar do conflito militar. Mesmo que o preço seja a unidade europeia. Tampouco é a solução mais feliz entregar o papel de comandante ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, no momento sofrendo pressão política interna. Sarkozy tende a decisões impulsivas.
Se a coalizão tiver muita sorte, o imprevisível ditador Kadafi aceitará um cessar-fogo e se submeterá às Nações Unidas. Se tiver azar, o imprevisível, psicopático Kadafi irá ameaçar com armas de destruição em massa. Estarão a França e a Itália preparadas para que um Kadafi acuado envie seus bombardeiros sobre Nápoles ou sobre Marselha? Isto, ele pelo menos já ameaçou.
Se a iniciativa internacional custar um grande número de vítimas civis na Líbia, então a apoiadora opinião pública no Ocidente e no mundo árabe se reverterá – contra a coalizão. Começou uma aventura perigosa, com desenlace incerto.
Autor: Bernd Riegert
Fonte: Deutsche Welle
Ao iniciar ataques contra alvos na Líbia, sob liderança francesa, a coalizão internacional se lança a uma aventura perigosa. Não será possível vencer as tropas do líder líbio com algumas investidas aéreas isoladas. As forças líbias podem simplesmente recuar e, se necessário, esperar semanas, sitiar Bengasi ou cortar o abastecimento de água.
Muamar Kadafi controla 80% da Líbia, dispõe de todos os recursos necessários. Se a coalizão não estiver disposta a aniquilar toda a defesa aérea e a Aeronáutica da Líbia com ofensivas maciças, há pouco o que possa fazer para fazer valer na prática a zona de exclusão aérea.
Entretanto, nos Estados Unidos não é muito acentuada a inclinação a se engajar de forma maciça. O presidente Barack Obama rejeitou expressamente o emprego de tropas de infantaria e uma mobilização por prazo mais longo. É totalmente nebuloso o que se pretende alcançar com essa operação militar. Caso se trate de proteger os civis contra Kadafi, então a coalizão deve se preparar para meses de ação militar. Pois o líder tem tempo, ele pode esperar.
Uma intervenção de fora só faz sentido se tiver como fim eliminar o regime de Kadafi. Para tal, seriam necessárias investidas direcionadas e intensas contra as dependências do governo em Trípoli e os presumíveis locais de permanência do líder líbio. Sem mudança de regime, não há perspectivas de uma solução estável para a Líbia. Acontece que, pelo menos publicamente, os participantes da cúpula extraordinária de Paris ainda excluem a meta "troca de regime" – que não está prevista na resolução da ONU.
Também no caso desta guerra, vale o princípio: se você entrar, tem que saber como e quando pode terminar a luta. Eu temo que, apesar da lição das guerras dos Bálcãs, do Iraque e do fiasco da Somália, a coalizão se deixou envolver nessa guerra civil, talvez por motivos nobres. Como terminará, é ainda impossível prever.
Por isso, é acertada a decisão do governo alemão de não participar do conflito militar. Mesmo que o preço seja a unidade europeia. Tampouco é a solução mais feliz entregar o papel de comandante ao presidente francês, Nicolas Sarkozy, no momento sofrendo pressão política interna. Sarkozy tende a decisões impulsivas.
Se a coalizão tiver muita sorte, o imprevisível ditador Kadafi aceitará um cessar-fogo e se submeterá às Nações Unidas. Se tiver azar, o imprevisível, psicopático Kadafi irá ameaçar com armas de destruição em massa. Estarão a França e a Itália preparadas para que um Kadafi acuado envie seus bombardeiros sobre Nápoles ou sobre Marselha? Isto, ele pelo menos já ameaçou.
Se a iniciativa internacional custar um grande número de vítimas civis na Líbia, então a apoiadora opinião pública no Ocidente e no mundo árabe se reverterá – contra a coalizão. Começou uma aventura perigosa, com desenlace incerto.
Autor: Bernd Riegert
Fonte: Deutsche Welle
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