domingo, 20 de março de 2011

Dilma quer reformas no Conselho de Segurança da ONU, "Estamos dispostos a agir e de forma urgente", diz Obama


O discurso da presidente Dilma Rousseff se concentrou em abordar temas ligados aos acordos bilaterais entre os dois países, nas políticas ambientais e tecnológicas desenvolvidas pelo Brasil, na continuidade das reformas multilaterais e na ampliação do Conselho de Segurança da ONU.

Dilma Rousseff disse que a visita do presidente americano Barack Obama desperta os melhores sentimentos do povo brasileiro e tem um enorme valor simbólico. "Os povos das duas maiores democracias da América ousaram colocar nos postos mais altos um afro-americano e uma mulher", disse Dilma.

Dilma também ressaltou a importância deixada pelo legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu sucedo um homem do povo com quem tive a honra de trabalhar. Meu compromisso essencial é com a construção de sociedade de renda média garantindo um ambiente institucional que favoreça o investimento produtivo. O meu governo vai consolidar a energia limpa. Daremos os passos necessários para alcançar nosso lugar nas nações de desenvolvimento fortes. Aqui é que enxergo o que será nossa relação."

A presidente também citou a lentidão nas reformas das instituições multilaterais que ainda refletem o mundo antigo. Segundo ela, é preciso realizar um trabalho na reforma da governança do Banco Mundial e do FMI. "É preciso uma reforma fundamental na governança global, uma ampliação do Conselho de Segurança da ONU. O que nos mobiliza é a construção de um mundo mais multilateral que trará paz e harmonia para todos os povos".

Dilma pediu a Obama a eliminação das barreiras que dificultam o acesso dos produtos brasileiros ao mercado americano."Buscamos relações econômicas mais justas e equilibradas", disse. "É fundamental que se derrubem barreiras a produtos como o etanol, a carne bovina, o suco de laranja, o aço." Para ela, o protecionismo desgasta as relações econômicas e acentua os desequilíbrios econômicos como o gerado pela crise mais recente.

Ela também ressaltou que o Brasil vive um momento mais vibrante no qual o governo fortaleceu o conteúdo renovável da matriz energética brasileira com o avanço de politicas ambientais o que gerou a criação de milhões de novos postos de trabalho dinamizando regiões inteiras do país que estavam marginalizadas.

No final do discurso, Dilma disse que o Brasil tem compromisso com a paz e que esse compromisso é integrante aos valores do povo brasileiro como a tolerância e o diálogo. "Temos orgulho de viver em paz com nossos 10 vizinhos há anos. Vejo com muito otimismo nosso futuro comum. A aliança entre os dois países é uma construção comum. Somos países de dimensão continental. Sua presença será de enorme valia. Bem-vindo".

"Estamos dispostos a agir e de forma urgente", diz Obama

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou neste sábado que seu país está decidido a agir e "de forma urgente" na aplicação da resolução do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) que prevê a intervenção militar para a proteção dos civis na Líbia.

Em Brasília, ao lado da presidente Dilma Roussef, Obama preferiu não se aprofundar no tema. Apesar das expectativas, o presidente americano não citou o anúncio do colega francês, Nicolas Sarkozy, de que já está intervindo para evitar ataques aos rebeldes na cidade líbia em Benghazi.

"Conversei com a presidente Dilma sobre o assunto. Hoje a secretária [de Estado, Hillary] Clinton se juntou a uma reunião internacional para decidir como vamos aplicar a resolução. Estamos decididos a seguir adiante. O povo líbio precisa ser protegido. Estamos dispostos a agir e de forma urgente", disse, sem mais detalhes.

Obama citou ainda o apoio do Brasil, no Conselho de Direitos Humanos da ONU, à sanção contra o regime do ditador Muammar Gaddafi pela violenta repressão aos rebeldes.

Ele não citou, contudo, a abstenção brasileira na resolução do Conselho de Segurança. A medida foi aprovada com dez votos a favor, nenhum contra e cinco abstenções.

Na quinta-feira, o Brasil foi um dos cinco países (além de China, Rússia, Alemanha e Índia) a se abster da resolução que permite "todas as medidas necessárias" para conter a violência contra os civis no país africano. O Brasil alegou preferir uma solução diplomática e pacífica parta o confronto e disse temer que a resolução tenha uma consequência inesperada de ampliar os combates em terra.

CONSELHO DE SEGURANÇA

Obama falou ainda, embora de maneira superficial, da campanha brasileira por uma reforma no Conselho de Segurança para que possa ter uma vaga permanente.

"Os EUA trabalharão em reformas para transformar o Conselho de Segurança em um órgão mais eficaz, eficiente e representativo, para levar adiante a imagem de mundo mais cooperativo", disse Obama, que citou mais uma vez "os desafios do século 21".

A conquista de uma vaga permanente no Conselho de Segurança é uma ambição antiga da diplomacia brasileira, sob argumento de que a atual composição não reflete a realidade geopolítica. O Brasil ocupa atualmente uma vaga rotativa no órgão, que tem apenas cinco membros permanentes e com direito a veto --EUA, Reino Unido, França, Rússia e China.

O governo brasileiro tem buscado consolidar uma diplomacia independente e participar mais ativamente em questões globais, e um apoio público de Obama a uma vaga permanente no Conselho seria visto como a consolidação desse novo papel.

Segundo a Folha apurou, o comunicado conjunto assinado pelos presidentes traz uma menção específica à necessidade de reforma do Conselho. O texto contém a frase: os EUA demonstram "apreço pela aspiração do Brasil a se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU".

A referência é uma declaração mais forte que o esperado, mas menos do que um apoio aberto ao pleito brasileiro. No ano passado, em visita à índia, Obama deu apoio formal a entrada do país asiático no órgão.

PARCERIAS

Obama falou ainda sobre as parcerias econômicas e na área de educação e inovação entre Brasil e EUA. Ele afirmou que não foi à toa que o Brasil foi sua primeira parada na primeira viagem à América do Sul.

"Não foi a toa, a amizade entre os países já tem dois séculos. Nosso cientistas e pesquisadores estão criando vacinas juntos. Nossos professores e alunos estão criando novos horizontes e trabalhamos para crescermos juntos", disse o presidente americano.

O democrata não poupou ainda elogios à economia e ao crescimento brasileiros, em uma viagem que, segundo ele próprio, tem como objetivo aumentar o mercado americano no Brasil e criar empregos para os americanos.

"O crescimento extraordinário do Brasil é reconhecido no mundo. O Brasil é um líder regional, promovendo uma cooperação maior entre as Américas e é cada vez mais um líder mundial", disse Obama, que ressaltou a parceria entre os dois países na defesa por um mundo sem armas nucleares e na luta contra a mudança climática.

"Dito de forma simples, os EUA não apenas reconhecem o crescimento [brasileiro], como o apoiamos de forma interessada. Por isso que criamos o G20, para garantir que países como Brasil tenham uma voz cada vez maior e maior papel na economia internacional".

FUTURO

Obama ressaltou, contudo, que ainda há muito a fazer nas relações comerciais bilaterais e disse que ouvirá dos próprios empresários quais devem ser as prioridades. Ele vai participar da Cúpula de Negócios EUA-Brasil na tarde deste sábado.

"Vamos ouvir os empresários e entender quais serão as etapas futuras para expandir relações comerciais e assinaremos documentos para expandir a cooperação cientifica", disse o americano.

Ele citou, assim como a Dilma, o petróleo brasileiro. "O Brasil quer ser uma fonte estável de petróleo e os EUA querem ser um grande cliente", garantiu Obama, acrescentando que há também muito espaço para o mercado brasileiro de biocombustíveis.

Obama brincou ainda com o fato do Rio de Janeiro ter vencido Chicago na disputa pelas Olimpíadas de 2016. "Ainda fico triste em dizer isso", disse em tom jocoso, e em seguida se virou a Dilma.

"Mas queremos garantir que as empresas americanas tenham papel nesta preparação".


Fonte: Folha
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