quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Futuro Ministério da Infraestrutura terá pela frente desafio


Com a tarefa de preparar o Brasil para ser palco de dois dos maiores eventos esportivos do planeta, a presidente Dilma Rousseff tem pela frente a árdua missão de tirar o setor aéreo da UTI e transformá-lo num segmento eficiente para atender milhares de passageiros que se deslocarão no país para acompanhar a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Para isso, já planeja, antes mesmo de assumir o cargo, a criação de uma nova pasta, a de Infraestrutura, responsável por centralizar responsabilidades hoje divididas entre o Ministério dos Transportes e a Infraero. Desse modo, criaria uma área responsável por planejar e executar as obras do setor de aviação civil e, de quebra, apontaria o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (do aliado PMDB), para estar à frente do órgão.

Se os planos de Dilma se concretizarem, o titular da nova pasta terá muito trabalho pela frente. Estudo encomendado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) à consultoria McKinsey mostra que, levando-se em conta a demanda projetada para as próximas duas décadas, o sistema aeroportuário terá que aumentar em 2,4 vezes a sua capacidade atual, passando de 130 milhões para 310 milhões de passageiros ao ano. Isso equivale à contingência de nove aeroportos de Guarulhos (SP), o maior do Brasil.

A razão disso é que o crescimento econômico experimentado pelo Brasil nos últimos anos tem se refletido diretamente na expansão da aviação comercial nacional. Desde 2003, o transporte aéreo de passageiros cresce, em média, 10% ao ano mais que o dobro da taxa observada entre 1997 e 2002. A expectativa é que até o fim deste ano 165 milhões de viagens tenham sido feitas por pessoas que embarcaram para dentro ou para fora do país, um aumento de quase 30% em relação a 2009. No entanto, os investimentos aplicados no setor não têm acompanhado o ritmo pujante provocado por esta forte demanda. Como consequência, os passageiros sofrem com filas e atrasos nos principais aeroportos brasileiros, que já operam pelo menos 100% acima de suas capacidades.

Pretensões

A futura presidente não esconde a vontade de deixar a sua marca de competente gerente de grandes projetos, tendo o controle da gestão dos aeroportos das principais capitais. Caso obtenha sucesso, pavimenta, então, o caminho para a sua reeleição ou mesmo para um possível retorno de Lula, em 2014. No entanto, o cenário que tem pela frente não é nada animador. A conjunção de baixos investimentos e a recente explosão da procura por serviços aéreos tem feito com que problemas estruturais se escancarassem em forma de apagões e atrasos, sobretudo em períodos de maior movimentação, como feriados e férias. De acordo com o levantamento, dos 20 principais aeroportos do país, 13 apresentam algum tipo de gargalo, seja nos saguões de passageiros, nas pistas de pouso/decolagem ou nas áreas externas onde circulam ônibus para embarque remoto e locomoção de bagagem.

A pior situação está nos principais hubs (pontos de conexões) do país como Guarulhos (SP), Congonhas (SP) e Brasília (DF), que juntos respondem por pouco mais de um terço da movimentação de passageiros no país. Segundo especialistas, a solução para resolver as situações desses locais específicos passa por uma série de melhorias que vão desde a ampliação do pátio de estacionamento de aeronaves como é o caso da capital até a ampliação de aeroportos localizados próximos ao principal, como o de Viracopos, em Campinas, que ajudaria a reduzir o fluxo nos dois pontos de chegada de São Paulo.

ADEQUAÇÃO DE TERMINAIS

Para sanar os problemas de capacidade dos aeroportos, o país precisaria investir entre R$ 25 bilhões e R$ 34 bilhões no setor ao longo dos próximos 20 anos. Caso contrário, a realização dos dois eventos esportivos, que prometem intensificar de 2% a 4% o volume de passageiros nos terminais das cidades-sedes da Copa do Mundo, poderá ser comprometida.

Em julho deste ano, o governo federal anunciou que pretende investir R$ 5,6 bilhões para reformar e ampliar 13 aeroportos localizados nas 12 cidades-sedes do Mundial. Esse valor é insuficiente para consertar os erros existentes na infraestrutura aeroportuária do país, garantiu o pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (IPEA) Carlos Campos. Estudos apontam que somente nos seis principais aeroportos os investimentos teriam que ser da ordem de R$ 4,25 bilhões entre 2011 e 2016, emendou.

Na avaliação do pesquisador, o planejamento do setor deve ser a longo prazo, algo que não aconteceu no passado. No exterior, notamos duas tendências. Primeiro, a de investir em trens de alta velocidade que possam ser uma alternativa para viagens de até 500km. Segundo, a construção de mega-aeroportos distantes dos grandes centros, mas com sistemas de transporte como os de veículo leve sobre trilhos ou de metrô que façam a ligação entre o terminal e o centro da cidade, apontou Campos.

Na visão do analista da McKinsey, Arlindo Eira, para dar conta da futura demanda e atenuar os problemas já existentes, o governo deverá mirar em medidas emergenciais. Pequenas revisões nos layouts de alguns aeroportos poderiam aumentar suas capacidades em até 15%. Outra solução seria a construção de módulos operacionais provisórios que consigam processar o volume maior de passageiros para esse momento de forte demanda, sugeriu. No entanto, se as adequações não forem feitas urgentemente, em um curto tempo o transporte aéreo brasileiro pode simplesmente entrar em colapso. A falta de investimentos vai fazer com que uma imensa demanda de usuários que irá surgir nos próximos anos deixe de ser atendida, comprometendo todos os avanços conquistados nos últimos anos pelo setor, emendou.

Fonte: Correio Braziliense
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