sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Governo russo doa ao Brasil documentos sobre Prestes


O governo russo entregou nesta sexta-feira ao Brasil um conjunto de documentos inéditos sobre o líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes (1898-1990).

Todo o material será enviado ao Arquivo Nacional que começará a digitalizá-los na próxima segunda-feira. Os documentos ficarão disponíveis na internet ou para pesquisa na sede do órgão, no Rio de Janeiro.

Entre os documentos há fotos, cartas para familiares, poemas, telegramas e anotações sobre a conjuntura política do Brasil a maioria entre os anos de 1931 e 1934, um dos períodos em que Prestes viveu exilado na então União Soviética. Há atas de reuniões do Comitê Executivo da Internacional Comunista, recortes, fotos e fotocópias de jornais sobre a situação no Brasil; relatório sobre o apoio popular da França entre 1936 e 1938; documentos relacionados à campanha pela libertação de Prestes; declarações e manifestos assinados pelo líder comunista; subsídios técnicos para o projeto "Biografia de Prestes", seu prontuário, entre outros.

A liberação do material foi decidida durante uma reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dmitri Medvedev, em maio passado, quando Luiz Carlos Prestes Filho, um dos filhos do líder comunista, acompanhou o presidente brasileiro em Moscou.

Os documentos estavam no Arquivo do Estado Russo de História Política e Social.

O destino do material doado pela Rússia, no entanto, foi alvo de disputa familiar. A viúva Maria do Carmo Ribeiro Prestes, 80, com quem o líder comunista teve nove filhos, apelou para os arquivos serem encaminhados a uma instituição pública. Mas a historiadora Anita Leocádia Prestes, 73, filha do comunista com a alemã Olga Benário (1908-1942), reivindicou a entrega dos documentos ao Instituto Luiz Carlos Prestes, no Rio de Janeiro, que ela preside.

A viúva ganhou a queda de braço. Todos os originais ficarão no Arquivo Nacional, mas serão encaminhadas cópias da documentação ao Instituto Luiz Carlos Prestes e ao Arquivo Edgard Leuenroth, da Unicamp.

"Não é justo mandar para lá [Instituto Luiz Carlos Prestes]. Não vou causar polêmica com essa história, mas o legado de Prestes pertence ao povo brasileiro e acho que deve ficar no Arquivo Nacional, que é uma instituição pública, para ser olhado e pesquisado", disse dona Maria do Carmo, presente à cerimônia.

A viúva agradeceu ao primeiro vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Andrey Denisov, a doação dos documentos e ao governo russo pela educação de seus filhos e alguns netos.
Dona Maria do Carmo foi com Prestes e os nove filhos para a Rússia em 1970 e só retornou em 1980, com a anistia.

A família não pediu que nenhum documento seja mantido em sigilo pelo Arquivo Nacional e que toda documentação seja liberada para pesquisa pública.

Luiz Carlos Prestes Filho disse que o material que estava na Rússia é farto e que possibilitará ao menos novas 30 ou 40 teses de mestrado sobre a vida e atuação política de seu pai. O diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, agradeceu o "espírito de cidadania" da família.

Os documentos deverão começar a ser disponibilizados pelo arquivo digital do órgão nos próximos 30 dias.

Fonte: Folha
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