sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Brasil trabalha para tentar evitar "nova Honduras"


O ministro Celso Amorim explicou ontem à Folha todos os rápidos movimentos da Chancelaria brasileira e de outros países latino-americanos em relação à crise equatoriana como um meio para "não cair em uma situação como a de Honduras".

Traduzindo: a demora dos países americanos em reagir ao golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya "tornou difícil reverter a situação", como diz Amorim. Na verdade, tornou impossível. Zelaya não voltou mais ao poder.

O comentário põe em evidência o receio de que a revolta dos policiais seja aproveitada por "golpistas e aventureiros, que sempre estão prontos para agir em meio à confusão".

Receio reforçado por um fator: por mais que o comando das Forças Armadas tenha dado o habitual respaldo retórico ao presidente, não havia agido, até o fim da tarde, para fazer cessar a situação de virtual sequestrado em que se encontrava Rafael Correa. Tampouco havia liberado os aeroportos de Quito e Guayaquil.

Por esse motivo, aliás, uma reunião de chanceleres da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), que se cogitava fazer em Guayaquil, acabou se transferindo para Buenos Aires. E se transformou em reunião presidencial, prevista para a noite de ontem, mas da qual estariam ausentes tanto Lula, pelo envolvimento na eleição de domingo, como o próprio Amorim, que está no Haiti.

Também por inspiração do Itamaraty, os embaixadores da Unasul em Quito estavam se preparando no início da noite para se reunir ou com o próprio Correa ou pelo menos com o chanceler equatoriano, Ricardo Patiño.

Os embaixadores avaliavam se haveria espaço para conversar com os comandantes militares para lhes transmitir diretamente a mensagem da resolução aprovada ontem mesmo pela Organização dos Estados Americanos.

O documento respalda "unanimemente o governo constitucional de Rafael Correa" e repudia "qualquer tentativa de alterar a institucionalidade democrática".

A conversa com os comandantes militares teria precisamente o objetivo, na análise de Amorim, de evitar que um movimento policial "se transforme em golpe militar". Os militares ficariam avisados de que o Equador cairia no total isolamento.

O aviso também foi dado aos golpistas hondurenhos, mas não resolveu nada.

Desta vez, no entanto, há diferenças: as acusações de que Correa pretenda "bolivarianizar" o Equador são mais débeis do que acontecia em Honduras com Zelaya. E o mundo político, mesmo o de oposição, não se envolveu na sedição da polícia. Pelo menos por enquanto.

Fonte: Folha
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