terça-feira, 7 de setembro de 2010

Recusa da Síria a inspetores ameaça investigação nuclear


A recusa da Síria em permitir que inspetores da ONU tenham acesso a um local onde poderia ter desenvolvido atividade nuclear põe em perigo as provas na investigação, disse a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) em um novo relatório que teve trechos divulgados nesta segunda-feira.

Já são mais de dois anos desde que a agência recebeu acesso pela última vez ao local, bombardeado por Israel em 2007. A Síria, aliada do Irã, nega ter tido alguma vez um programa para o desenvolvimento de bombas nucleares.

"Com o tempo, alguma informação necessária pode se deteriorar ou se perder por completo", escreveu o chefe da AIEA, Yukiya Amano, em relatório confidencial obtido pela Reuters.

Relatórios da inteligência norte-americana sinalizam que o local, conhecido como Al Kibar ou Dair Alzour, era um incipiente reator nuclear desenhado pela Coreia do Norte para produzir combustível atômico.

Neste ano, a AIEA validou suspeitas de que ocorreram atividades atômicas ilícitas na instalação, afirmando que seus inspetores encontraram rastros de urânio em uma visita realizada em 2008.

"Os elementos do edifício e sua conectividade para esfriamento adequado são similares ao que poderíamos achar em uma instalação nuclear", afirmou o último relatório.

A agência deseja inspecionar novamente o local para obter amostras dos escombros removidos imediatamente após o ataque aéreo.

Amano instou a Síria a cooperar e criticou seu governo por não prover documentos relacionados o local de Dair Alzour, sobre o qual fez somente declarações "limitadas em detalhes".

O chefe da agência também reiterou seu chamado para que a AIEA tenha acesso a três outras instalações sírias sob controle militar, cujas aparências foram alteradas por jardins quando os funcionários da ONU solicitaram uma visita.

EUA

A Casa Branca qualificou de "preocupante" o novo relatório da AIEA (Agência Nuclear de Energia Atômica) sobre o programa nuclear iraniano. No documento, a agência da ONU diz que Teerã ainda tenta obter armas nucleares e atrapalha as inspeções realizadas por funcionários da agência em suas instalações.

"O mais novo relatório da AIEA mostra, mais uma vez, que o Irã se recusa a cumprir suas obrigações internacionais e mantém os esforços para expandir seu programa nuclear e obter armas atômicas", disse o porta-voz da Casa Branca, Tommy Vietor, aos jornalistas.

A produção total iraniana de urânio de baixo enriquecimento subiu cerca de 15% desde maio, chegando a 2,8 toneladas, segundo o relatório publicado nesta segunda-feira. O crescimento acontece apesar da nova rodada de sanções aprovada em junho pelo Conselho de Segurança da ONU e das sanções unilaterais de vários países.

A agência da ONU afirma ainda que o Irã impede a investigação da agência sobre o uso de seu urânio e nega o acesso a suas instalações nucleares.

O relatório confidencial também aponta que a AIEA continua preocupada com a possível intenção do Irã de desenvolver uma bomba atômica. Até meados de agosto, o país já tinha 22 quilos de urânio altamente enriquecido, provavelmente para um reator de investigação.

"Estima-se que entre 09 de janeiro de 2010 e 20 de agosto de 2010 (...) 22 quilos de UF6, urânio enriquecido a 20%, foram produzidos em sua planta piloto em Natanz", afirma a AIEA.

Até agora, o Irã só enriquecera urânio em Natanz até 5%. O enriquecimento a cerca de 20% só começou no início de fevereiro, com o objetivo alegado de usá-lo como combustível para produção de energia elétrica e uso em isótopos médicos. Para produção de bombas, é necessário urânio enriquecido a 90% --algo que o Irã não teria condições da fazer, segundo analistas.

SANÇÕES

No último dia 9 de junho, o Conselho de Segurança aprovou uma quarta rodada de sanções ao Irã por manter enriquecimento de urânio em seu território, o que viola resolução anterior do Conselho. A resolução estabelece novas restrições às operações dos bancos iranianos, enquanto aumenta a apuração das transações das entidades financeiras do país no exterior. Além disso, endurece o embargo de armas ao Irã e sanciona 40 entidades do país e reforça o regime de inspeções a navios e aviões iranianos.

Grande parte da comunidade internacional, com EUA e Israel à frente, acusa o Irã de ocultar, sob seu programa nuclear civil, outro programa, de natureza clandestina e aplicações bélicas, cujo objetivo seria a aquisição de armamento atômico.

Além de não terem conseguido convencer o Irã a desistir de seu programa nuclear, as três rodadas de sanções da ONU impostas ao país já tiveram efeitos adversos para o Ocidente, como estimular o mercado negro e beneficiar os líderes iranianos devido à irritação da opinião pública. Segundo o "think tank" americano Council on Foreign Relations, o espectro limitado das atuais sanções e a recusa de aliados de restringir negócios com Teerã impedem que sejam sentidos efeitos graves na economia do país.

Mesmo Moscou e Pequim (principal parceiro econômico do Irã) mantêm negócios importantes com o país, inclusive em áreas sensíveis como energia e defesa. Quanto a restrições de viagens impostas a militares e funcionários do programa nuclear, o impacto é pequeno porque, segundo analistas, essas pessoas já saíam pouco do país.

Fonte: Reuters
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