sábado, 14 de agosto de 2010
Manteiga guarda o segredo do mais novo biodiesel
A manteiga não é o combustível do futuro, mas é possível extrair dela um bom combustível à base de diesel.
"Queríamos mostrar que isso era possível", disse Michael J.
Haas, pesquisador bioquímico do departamento de agricultura dos Estados Unidos.
"É algo peculiar", reconheceu ele a respeito da pesquisa laticínio-para-diesel, que foi publicada em junho em "Journal of Agricultural and Food Chemistry".
O incentivo foi uma escultura de 370 quilos de Benjamin Franklin e o Sino da Liberdade.
Todos os anos, a feira Pennsylvania Farm Show, realizada em Harrisburg, manda produzir uma obra de arte feita de manteiga.
Em 2007, os organizadores solicitaram sugestões sobre o que fazer com as obras depois que a feira terminasse.
Haas sugeriu produzir biodiesel a partir das obras, e isso foi feito.
"Isso nunca havia sido relatado na literatura científica", disse ele.
Haas colaborou com a BlackGold Biofuels, uma pequena empresa da Filadélfia que desenvolveu um processo para fazer biodiesel a partir de resíduos de gorduras, óleos e sebos não-comestíveis.
"Manteiga estragada é uma gordura", disse Emily Landsburg, executiva-chefe da BlackGold.
Depois de desmontar a escultura - "Não foi um dia comum no escritório", lembrou-se Landsburg -, os pesquisadores da BlackGold derreteram a manteiga, removeram a água e inseriram o restante em seu processo de conversão química.
A estrutura de uma molécula de gordura, óleo ou sebo se parece com uma água-viva.
A cabeça da molécula é um composto conhecido como glicerina, e cadeias de ácidos graxos em ramos se penduram da glicerina.
Na conversão, uma molécula de metanol substitui a glicerina como a cabeça da molécula, produzindo diesel.
O biodiesel já é produzido a partir de óleo de cozinha, mas a BlackGold diz que seu processo é muito mais flexível na amplitude de materiais que pode converter em combustível - além de não ser prejudicado quando a gordura se estraga.
Na escala molecular, as cadeias de ácidos graxos começam a se soltar das glicerinas.
Os 370 quilos de manteiga acabaram se transformando em cerca de 285 litros, uma mistura de biodiesel e um óleo combustível menos qualificado.
As glicerinas decapitadas também são coletadas para uso em indústrias de tratamento de esgoto.
Os pesquisadores não estão defendendo desviar os mais de 450 milhões de quilos de manteiga produzidos anualmente nos Estados Unidos para a produção de combustíveis.
"O custo da manteiga comestível é alto demais", afirmou Haas.
E Landsburg reconheceu: "O número de esculturas de manteiga rançosa nos EUA provavelmente não é muito significativo".
Mas sua empresa vê os resíduos da agricultura, incluindo aquele de fazendas de laticínios, como uma fonte potencial de materiais que poderiam ser transformados em combustível.
"Nós assumimos o projeto como uma demonstração da força de nossa tecnologia; ela pode lidar com todo tipo de resíduos de baixa qualificação", explicou Landsburg.
São Francisco acabou de construir uma fábrica de biodiesel que usa a tecnologia da BlackGold, a primeira de seu tipo, com a esperança de converter raspas de panelas e as chamadas gorduras marrons - mais sujas que o óleo de cozinha usado - de restaurantes em combustível.
"Estamos conduzindo testes com gorduras marrons agora mesmo", afirmou Tyrone Jue, porta-voz da comissão municipal de utilidades públicas.
"Estamos confiantes de que estaremos funcionando nos próximos dois meses, ou até mesmo no próximo mês".
A fábrica poderá, eventualmente, extrair 1.250 litros de biodiesel por dia, partindo de 45 mil litros de água residual gordurosa.
"Estamos tentando fechar o ciclo na cidade", disse Jue.
"O que você jogaria fora se torna uma fonte de recursos".
Fonte: The New York Times
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