domingo, 1 de agosto de 2010
Guerra afegã castiga forças estrangeiras
A guerra contra os talibãs afegãos, que já supera em duração à do Vietnã, atingiu o pico de baixas de soldados estrangeiros, com um negro cenário bélico marcado pela incerteza das operações no sul do país.
Desde a queda do regime talibã em 2001, julho já é o mês com mais baixas americanas (66) e junho foi o mais sangrento para o conjunto das forças internacionais (102), que no total perderam 1.979 homens em sua luta antitalibã.
A Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf) emite cada vez mais comunicados sobre mortes de soldados e menos a respeito de avanços no terreno, embora o objetivo dos Estados Unidos seja iniciar a retirada em julho de 2011 e que o Exército afegão assuma o controle em 2014.
As mortes se justificam em parte pelo aumento das tropas, cujo desdobramento total (150 mil) será completado em agosto, mas os sucessos militares parecem magros para um ano no qual o objetivo declarado era bater a insurgência para que o Governo afegão concretizasse e fortalecesse o "processo de paz".
A Isaf informou hoje sobre várias detenções de insurgentes em Kandahar e garantiu que a presença militar "seguirá aumentando" nesta província meridional.
Nela, estava prevista uma grande operação para junho, mas desde então não houve pistas oficiais sobre a estratégia para despejar o movimento talibã da terra onde nasceu em 1994.
"Adiaram a ofensiva porque não conseguiram os resultados esperados em Marjah", disse à Agência Efe o analista Haroon Mir.
A operação no núcleo urbano de Marjah e do distrito de Nad Ali ocorreu em fevereiro como primeiro passo para desativar os talibãs na província de Helmand, viveiro do ópio afegão e vizinho de Kandahar.
Só três meses depois, esta região foi descrita pelo destituído chefe das tropas estrangeiras no Afeganistão, Stanley McChyrstal, como uma "úlcera", e o comando militar admitiu dificuldades para o Governo implantar suas instituições civis em uma área de tradicional domínio talibã.
"Não puderam entregar o controle às autoridades afegãs. A situação será pior em Kandahar, uma operação dez vezes maior", refletiu Mir.
O analista alertou que "as tropas estrangeiras não foram capazes de derrotar os talibãs no sul e no leste, permitindo a expansão deles para o norte. Os EUA já perderam a guerra no Afeganistão".
A queda na confiança diante das autoridades e a morte de civis ameaçam minar ainda mais a missão militar. Hoje a Isaf informou a morte de outro civil por disparos de seus soldados durante um combate registrado há três dias no sul.
A imprensa local estima em 20 mil os civis mortos no conflito, mas qualquer cálculo topa com a ocultação de dados como foi revelado nos documentos secretos americanos divulgados há poucos dias.
A ONU divulgou relatórios anuais entre 2007 e 2009, que apontavam um número de 6.053 civis mortos nesses três anos, 2.053 deles em ações das tropas internacionais e afegãs.
Nenhum cálculo recolhe o número de soldados afegãos mortos nesta fase da guerra.
Para o primeiro semestre de 2010, a organização Afghanistan Rights Monitor calculou 1.074 civis mortos, 1,3% mais que durante o mesmo período de 2009, que foi até agora o pior ano para a população.
Não fossem os problemas no campo de combate, recentemente o general McChrystal foi destituído do comando das tropas. Para seu lugar foi nomeado o general David Petraeus.
Ambos dominam o manual da "contra-insurgência", que defende grande presença militar e a conquista da confiança da população, mas qualquer estratégia se vê abalada pelo auge talibã alimentado desde 2003 pela absorção de recursos militares e de inteligência dos EUA no Iraque.
Uma das táticas importadas do cenário iraquiano é armar milícias locais para resistir ao avanço talibã.
"Já falamos com o presidente Hamid Karzai e dissemos que estamos preparados para defender-nos. Temos armas, só necessitamos da permissão do Governo e salários para os milicianos", explicou à Efe Afizulá, líder tribal da província oriental de Khost.
"Mudarão de bando facilmente. No Iraque, as milícias sunitas foram parte do processo político, mas aqui as tribos nunca participaram, só foram usadas para jogadas políticas", replicou o analista Wahid Muzhda, do Centro para Estudos Estratégicos de Cabul.
Fonte: EFE
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