O termo "Fragata" surgiu há alguns séculos, com os primeiros relatos dando conta da classificação de navios neste termo no fim do século XV. Segundo nossas pesquisas, o termo servia para designar embarcações ligeiras, similares as Galeaças, contando com velas e remos, geralmente armadas com armamento ligeiro. Uma das suas principais características eram a velocidade e capacidade de manobra, sendo uma embarcação muito ágil se comparada aos tipos semelhantes.Uma curiosidade que não podemos deixar de relatar, é o fato das primeiras Fragatas terem sido desenvolvidas pelos "Corsários" por meados de 1583, onde á serviço da Espanha, vários "corsários" construíram e operaram navios pequenos e muito ágeis, sendo um dos meios mais importantes na guerra entre espanhóis e holandeses.
Um fato interessante, é que o sucesso apresentado pelo novo tipo de navio, levou os holandeses a adotarem as Fragatas em sua Marinha, levando-os a se tornar a primeira marinha regular a construir e operar fragatas oceânicas maiores. Os papéis desempenhados por esses inovadores navios holandeses era bastante complexo e desafiador, pois tinham como missão dar combate a esquadra espanhola, escoltar suas naus mercantes, proteger seus portos e realizar o bloqueio marítimo, impedindo que os espanhóis conseguissem desembarcar nos Países Baixos. Para cumprir tão variado leque de missões, estas Fragatas tinham características bastante específicas, sendo concebidas para atingir grandes velocidades, contando com um pequeno "calado", o que dava a estas fragatas a capacidade de operar em águas mais rasas. Outro ponto que foi tido como fundamental pelos holandeses ao desenvolver suas fragatas, foi a importância dada a capacidade de aprovisionamento, o que dava uma grande autonomia ao navio em suas comissões, além de um formidável poder de fogo, composto por uma bateria de canhões ligeiros, contando em média com 40 peças de artilharia do tipo.
O emprego das "Fragatas" mostrou ótimos resultados, levando os holandeses á substituir quase todos seus navios mais pesados pelas "novas" fragatas no inicio do século XVI. Mas a consagração do conceito de fragatas ocorreu no dia 31 de outubro de 1639, na "Batalha das Dunas", o confronto naval que se tornou uma vitória decisiva da República Holandesa, A eficiência das fragatas holandesas destacou-se, levando à sua adoção deste tipo de navios em outras marinhas.
Ao longo dos séculos, as Fragatas foram se mostrando um tipo de navio vital as esquadras, apresentando características ímpares, sendo um dos tipos mais numerosos nas esquadras europeias do final do século XVII ao fim do século XIX, onde apesar de não ser navios considerados "poderosos" por conta de suas dimensões e armamento ligeiro, o mesmo se mostrava fundamental para cumprir um amplo leque de missões, sendo capazes de combater até mesmo navios maiores e com maior poder de fogo, se valendo de sua grande velocidade e agilidade, nas mãos da tripulação certa eram mortais.
Sua grande autonomia oriunda da capacidade de aprovisionar mantimentos para seis meses, tornava a fragata capaz de operar por um longo período, de forma isolada e independente, diferente dos navios maiores que apresentavam menor velocidade e capacidade de manobra, o que exigia a proteção destes, proteção essa que muitas vezes era feita pelas fragatas em escolta da esquadra.
Devidos ao seu conjunto de qualidades, as fragatas era o navio ideal para cumprir missões de reconhecimento, ataque, patrulhas e escolta. Geralmente as fragatas operavam sozinhas ou em pequenos grupos, sendo fundamentais principalmente para dar combate as fragatas inimigas, em algumas ocasiões atacavam navios mais poderosos, porém, isso era normalmente evitado.
As fragatas construíram um legado na história naval, porém, no final do século XIX e principio do século XX, as marinhas voltaram-se para os cruzadores e couraçados, e finalmente os contratorpedeiros ganharam a cena e as fragatas foram sendo substituídas pelos novos e mais modernos navios, que contavam com novas plantas propulsoras e tecnologias de construção, só voltando á cena durante a Segunda Guerra Mundial, onde assumiram o perfil que atualmente conhecemos como fragatas, e foram os ingleses que retomaram a adoção do termo Fragata, afim de designar os novos e velozes navios ligeiros que realizavam o combate á submarinos, escolta de comboios mercantes, além de limitada proteção antiaérea. A fragata ressurgiu como uma alternativa aos contratorpedeiros, sendo mais leve que os mesmos, porém, maiores e mais capazes que as corvetas.
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"HMS Avon" Classe River |
Curiosamente, para atender os esforços de guerra, os aliados tomaram como base o padrão de construção mercante para as primeiras fragatas,seguindo a mesma solução à época adotada para as corvetas. Com isso era possível realizar a construção em massa deste tipo de navio em diversos estaleiros que não possuíam expertise na construção de navio de guerra, mas em navios mercantes. A "Classe River", foi a primeira classe de fragatas da "era moderna", tendo surgido em 1941. Esta classe contava com a mesma motorização adotada pelas corvetas, mas ao contrário destas, as fragatas contavam com dois motores, o que garantia maior velocidade, além de possuir um casco mais esguio e alongado. Seu papel principal era dar combate à ameaça de submarinos, sendo seu armamento constituído basicamente por armas anti-submarino.
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HMS Burghead Bay classe Bay |
As primeiras fragatas modernas, eram menos poderosas e mais lentas que os contratorpedeiros, porém, seu papel era atuar na escolta de comboios mercantes e caçar submarinos, função a qual ela estava bem dimensionada, apesar das primeiras fragatas não terem sido capazes de realizar a escolta de esquadras e grupos de combate, onde era exigida velocidade a qual as fragatas até então não eram capazes de acompanhar, problema que só foi superado em 1944 com a entrada em operação das fragatas da "Classe Bay", as quais apresentavam ainda algumas limitações nesse papel.
Há algumas controvérsias com relação a classificação de algumas classes de contratorpedeiros de escolta , ou Destroyers de escolta, com algumas destas classes sendo designadas como fragatas.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, uma nova revolução tecnológica tomou as fragatas, onde sua limitada capacidade antiaérea foi superada com o advento dos misseis superfície-ar, tornando as fragatas novamente expoentes do poder naval e com maior flexibilidade de emprego tático. Nas décadas de 60 ao final dos anos 90, eram comuns fragatas especializadas, onde uma mesma classe possuía meios otimizados para desempenhar determinada missão, como exemplo, haviam fragatas de defesa aérea, fragatas anti-submarino e fragatas de emprego geral, algo que de certa forma limitava o emprego destas em determinados cenários táticos. Mas a flexibilidade foi se ampliando no final da década de 90 e meados de 2000, com a incorporação de capacidades múltiplas, o que levou a redução do uso de fragatas dedicadas, passando a uma mesma fragata ser capaz de atuar com a mesma eficiência dar combate anti-submarino, desempenhar defesa aérea e combate de superfície, além de contar em sua grande maioria com a capacidade de operar com aeronaves orgânicas. Qualidade que levou as atuais fragatas a constituir a espinha dorsal da maioria das marinhas.
Outra característica marcante nas modernas fragatas, está relacionada com seus sistemas embarcados, contando com modernos sistemas de radares e sonar, que dão ao navio uma grande capacidade em cenários complexos, somados ao emprego de tecnologias stealth em seu design e materiais de construção, o que reduz sua assinatura radar e conferem maior capacidade de sobrevivência no cenário moderno de operações navais.
Existem um vasto leque de opções quando nos referimos ás fragatas modernas, porém, algumas se destacam no mercado internacional, como é o caso do projeto franco-italiano FREMM, a espanhola F-100 da Navantia, a britânica Type-26, a russa Classe Steregushchiy, dentre outras.
O Brasil há pouco mais de uma década apresentou interesse na aquisição de novas fragatas, onde sua esquadra vem apresentando um avançado processo de obsolescência, operando meios com idade avançada e que estão chegando ao seu limite operacional.
Dentre as fragatas da Marinha do Brasil, estão a "Classe Niterói", originalmente composta por seis fragatas do projeto Vosper Mk10 com deslocamento de 3.500ton, sendo fragatas multifuncionais com ênfase em guerra anti-submarina, tendo sido as quatro primeiras construídas nos estaleiros da Vosper e as duas últimas no Arsenal de Marinha (AMRJ), a primeira foi incorporada em 20 de novembro de 1976, sendo designada F-40 "Niterói", dando o nome a classe. Além da "Niterói", foram construídas e entregues no período que compreendeu 1976 e 1980 as fragatas: F-41 "Defensora", F-42 "Constituição", F-43 "Liberal", F-44 "Independência" e F-45 "União".
Além da "Classe Niterói", a Marinha do Brasil conta com as fragatas da "Classe Greenhalgh" de origem britânica, sendo originalmente fragatas Type-22, classe composta por um total de 14 navios construídos, sendo as adquiridas pelo Brasil parte do primeiro lote, composto por quatro fragatas construídas entre 1976 e 1982.tendo algumas participado da "Guerra das Malvinas" e da "Guerra do Golfo", sendo incorporadas pela Marinha do Brasil na segunda metade dos anos 90, denominadas F-46 "Greenhalgh", F-47 "Dodsworth", F-48 "Bosísio" e F-49 "Rademaker", das quais apenas a F-46 "Greenhalgh" e F-49 "Rademaker" seguem operacionais, com a "Dodsworth" tendo sido sucateada em 2012 e a "Bosísio" servindo de alvo em julho de 2017 no exercício naval "Missilex 2017", onde foi afundada.
Atualmente esta em andamento o processo de aquisição por construção de quatro corvetas, no "Programa Corvetas Classe Tamandaré", mas no horizonte não há perspectivas a curto prazo para aquisição de novas corvetas, mesmo no mercado internacional não existem opções atrativas para compra de oportunidade, o que levanta preocupação quanto as capacidades da Marinha do Brasil em prover escolta aos novos e modernos meios recentemente adquiridos, como os navios multipropósito "NDM Bahia" e "PHM Atlântico", sendo preciso que o governo federal brasileiro atente para essa necessidade estratégica e libere os recursos orçamentários vitais á solução dessa lacuna existente no poder naval brasileiro.
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Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança.
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