O
GBN Defense realizou um intenso trabalho de pesquisa sobre a história da
canhoneira voadora AC-130 “Spectre”, o que resultou em duas matérias que
oferecem ao nosso público uma visão técnica e histórica sobre essa emblemática
aeronave, e nos ajuda a derrubar algumas supostas pretensões para o
desenvolvimento de uma variante “canhoneira voadora” do moderno KC-390 da
Embraer.
Nesta
primeira parte, vamos contar um pouco sobre a história desta aeronave e seus
feitos ao longo de mais de 50 anos de história e participação nos mais variados
cenários e conflitos. Vamos voltar aos idos dos anos 60, o cenário era o
conflito do Vietnã, um dos mais sangrentos e complexos cenários pós-guerra.
O
primeiro exemplar convertido para AC-130A em 1967, foi uma aeronave JC-130A (54-1626) selecionada
para ser convertida como protótipo para o desenvolvimento do AC-130A, fruto do
“Programa Gunship II” dos idos anos 60, sendo o C-130 Hércules selecionado
como plataforma para substituir o Douglas AC-47 “Spooky”. Também
apelidado de “Puff”, primeira canhoneira voadora adotada pelas forças norte
americanas, fruto do “Programa Gunship I”, a qual teve sua primeira missão
em dezembro de 1964, onde o AC-47 mostrou seu grande poder de fogo e o valor
estratégico deste tipo de aeronave. Capaz de voar mais rápido e altitudes maiores
que os helicópteros, podendo permanecer em espera, além de ser capaz de sustentar
um ângulo de curva “pilão”. Tais características permitiam ao AC-47 fornece
fogo contínuo e preciso em um único ponto no solo, mas o mesmo apresentava determinadas
limitações quanto a capacidade de transporte de munição e autonomia de voo.
Apesar de inicialmente ser pensado como
substituto dos AC-47 n Vietnã, o AC-130 não substituiu o AC-47, mas atuou
um longo tempo ao lado dos AC-47 naquele conflito, tendo também duas variantes
do Fairchild C-119 desenvolvidas para atuar como “canhoneira voadora”, o AC-119
“Shadow” e “Stinger”, frutos do “Programa Gunship III” que operou ao lado dos
AC-47, embora não tenham logrado a longevidade operacional atingida pelos AC-47
e AC-130, principalmente devido á algumas deficiências técnicas. A história do
“Puff” será abordada em breve aqui no GBN Defense News.
O
“Spectre” em ação no Sudeste Asiático
O
primeiro exemplar do AC-130A foi enviado ao Vietnã ainda em 1967, chegando ao
Vietnã do Sul em 21 de setembro daquele ano, onde todo conceito e tecnologia
seriam postos à prova. O programa Gunship II teve início com operações de
combate no Laos e no Vietnã do Sul naquele ano. Em junho do ano seguinte, os
AC-130A foram enviados para Base Aérea de Tan Son Nhut, próximo de Saigon, onde deveria
dar apoio à Ofensiva Tet. Em 30 de outubro de 1968, já havia número suficiente de
aeronaves AC-130A para dotar um esquadrão, equipando assim o 16th Special Operations Squadron da 8th Tactical Fighter Wing, estacionados na
Base Aérea de Ubon na Tailândia.
No 18 de agosto de 1968, um dos AC-130A estava em
missão de reconhecimento armado, quando foi acionado para fornecer apoio aéreo
aproximado as forças norte americanas no solo, o cenário era crítico, as
forças vietcongues estavam prestes a romper as linhas norte americanas, levando
o comandante das forças em terra a avaliar a situação e optar pelo apoio aéreo,
algo que exigia fogo preciso, capacidades oferecidas pelo AC-130A. Diante da
situação caótica em que se viam diante do ataque vietcongue, pediu fogo sobre o
próprio perímetro em que estavam suas tropas, sendo a única opção contra os
vietcongues que tentavam flanquear suas forças à oeste de sua posição. A
intervenção do AC-130A foi primordial para sustentar a posição norte americana
em campo e rechaçar o ataque vietcongue, o qual se viu obrigado a recuar frente
ao intenso fogo despejado pela aeronave sobre suas posições. Assim começou o estreito relacionamento de
trabalho com as Forças Especiais que o “Spectre” desfruta até hoje.
Diante
da constante ameaça das defesas antiaéreas, a maioria dos AC-130 passou a voar
escoltados por uma formação composta geralmente por três aeronaves F-4 Phantom II pertencentes ao 497th
Tactical Fighter Squadron, Mesmo
protegidos por escoltas, o AC-130 registraria a primeira perda em combate no
dia 24 de maio de 1969, quando o primeiro “Spectre” foi perdido após ser
atingido pela artilharia
antiaérea de 37 mm a 6.500 pés durante missão de reconhecimento de
caminhões inimigos.
No
final de 1969, chegava ao teatro de operações o primeiro AC-130A (56-0490)
adotando a configuração conhecida como "Surprise
Package", com novos sistemas de visão e mira, passando a contar com
sistema designador laser YAG, um sensor
infravermelho (FLIR), sistemas de gravação de imagens por TV e FLIR, um novo
sistema de navegação inercial e incorporando
um novo sistema digital de controle de fogo. Após inúmeras avaliações bem-sucedidas em
operações reais, os primeiros AC-130 dotados com a configuração inicial “Plain Jane”, receberam um extenso
upgrade no início de 1970, passando a receber os novos equipamentos adotados
pelo “Surprise Package”, sendo
posteriormente realocados na Base Aérea de Ubon na Tailândia. Ainda neste
período seria registrada a segunda perda de um “Spectre” em operação, quando
uma aeronave AC-130A foi atingida pela AA de 37mm ao atacar um comboio inimigo
em 22 de abril de 1970.
Os
resultados obtidos com os “Spectre” levaram a aquisição de novas aeronaves do
tipo, com a conversão de um lote de aeronaves C-130E para a variante AC-130E,
conforme já descrevemos no início desta matéria. Os primeiros AC-130E chegaram
ao teatro de operações em 25 de outubro de 1971, estes ainda não contavam com o
Obus M102 de 105mm, estes tendo sido introduzidos a partir de 17 de fevereiro
de 1972, quando o “Gunship 570”
entrou em operação dotado com o primeiro canhão de 105. Esta aeronave voou um
curto período, tendo sido severamente avariada pelo fogo antiaéreo, a aeronave
então foi canibalizada e seus sistemas sendo integrados em outras aeronaves,
dentre estes estava o Obus M102 que foi instalado no “Gunship 571”, o qual ainda era dotado da configuração “Surprise Package”, mas a aeronave
também não teve uma longa carreira, sendo abatida pela AA de 57mm enquanto
atacava caminhões a 7.500 pés em 30 de março daquele ano. Um pouco antes, no
dia 28 de março do mesmo ano, seria registrada a primeira perda de um AC-130A
frente ao sistema antiaéreo SA-2, abatido enquanto atacava um comboio na trilha
de Ho Chi Minh.
Ao
todo foram perdidas seis aeronaves AC-130 “Spectre” durante o conflito, o que
deixa claro a vulnerabilidade deste tipo de aeronave em um cenário onde há
emprego de sistemas de defesa aérea.
Além
dos já relatados, foram registradas as seguintes perdas: No dia 18 de Junho de
1972 uma das aeronaves AC-130A foi abatida por um míssil disparado pelo sistema
SAM-7, um míssil portátil disparado pelo ombro, muito utilizado, o qual teria
atingido o motor Nº3 que resultou na explosão da asa. A última perda de uma
aeronave AC-130 no Vietnã, também foi de um exemplar da variante “A”, a qual
foi atingida pela AA de 37mm ao atacar um comboio na trilha de Ho Chi Minh na
madrugada do dia 22 de dezembro de 1972, enquanto sobrevoava a 7.800 pés. Ao
todo foram perdidos 52 tripulantes de AC-130 durante o conflito do Vietnã,
porém, os resultados obtidos pelo AC-130 mostraram a grande eficácia de seu
emprego naquele cenário, onde destruíram mais de 10.000 caminhões, sendo
fundamentais no apoio aéreo aproximado as tropas em terra, sem os quais os resultados
poderiam ter sido catastróficos em muitas missões ondo foram cruciais no apoio
aéreo aproximado.
Embora
tenha entrado em vigor um acordo de paz com Vietnã no dia 28 de janeiro de
1973, o “Spectre” continuou em atividade na região, embora encerrada sua
participação no conflito do Vietnã, o mesmo se manteve ativo em operações no
Laos e Camboja. Tendo
importante participação nas operações ofensivas americanas no Laos em
23 de fevereiro daquele ano.
O
“Spectre” teve um papel chave também na defesa de posições norte americanas
frente a ameaça representada pelo avanço do Khmer Vermelho rumo a capital
de Phnom Penh em 12 de abril de 1975, quando foram
acionados para dar cobertura a “Operation Eagle Pull”, a qual visava
evacuar norte americanos e aliados antes que a capital Phnom Penh caísse diante
do avanço comunista. Ainda naquele mesmo ano, os AC-130 voltariam a apoiar a retirada
de norte-americanos, desta vez seria em Saigon, onde em 30 de abril foi
iniciada a “Operation Frequent Wind”, onde seriam
evacuados os cidadãos norte-americanos e aliados.
Em
15 de maio de 1975, equipes do 16th Special
Operations Squadrons
estacionados na Base Aérea de Korat, realizaram missões de apoio aéreo
aproximado ao resgate do navio mercante “SS
Mayaguez”. A operação começou em 12 de maio, quando o navio foi
apreendido pelo Khmer Vermelho a cerca de 160 quilômetros da costa do Camboja
em águas internacionais. O navio foi levado para a Ilha Koh Tang e a
tripulação teria sido levada para o continente cambojano. Haviam dois “Spectre”
orbitando a ilha, a partir do momento em que foi iniciada a operação. A
tentativa de resgate da tripulação (que não estava na Ilha Koh Tang) começou
nas primeiras horas da manhã do dia 15 de maio. A feroz batalha continuou
até o início da noite com vários operadores das Forças Especiais abatidos e
muitos Marines feridos ou mortos em combate. Segundo vários relatos de
fuzileiros navais que estiveram na operação em Koh Tang, dizem que devem sua
sobrevivência à aplicação cirúrgica do poder de fogo pela "fabulosa
canhoneira de quatro motores". Apenas mais uma página da história do
“Spectre”.
Em
julho de 1975, começou a formação do único esquadrão de “Spectre” da Reserva da
USAF, o 711th Special
Operations Squadrons. A
unidade foi formada em Duke Field com todos os AC-130A remanescentes. A
unidade participou com valor em atividades como Operações “Just Cause”, “Desert Shield” e
“Desert Storm”, e continuou mantendo presença dos EUA no Panamá.
Após
sua estreia no sudeste da Ásia, o “Spectre” veria ainda muita ação ao longo de
sua história, tendo atuado em diferentes conflitos durante o período da “Guerra
Fria”, se tornando um importante ativo em vários cenários onde foi empregado no
apoio aéreo aproximado. Sua variante AC-130E no final dos anos 70, recebeu
atualizações em seus aviônicos, além de incorporar uma lança de reabastecimento
que permitia ao mesmo ser reabastecido em voo (REVO), levando a aeronave a adotar
a nova designação AC-130H, está apresentando um logo raio de ação executando
REVO, o que garantiu a mesma uma capacidade quase ilimitada de deslocamento.
“Spectre”
– Conflitos e Missões na Guerra Fria
Quando a frota de aeronaves AC-130H passou a ser dotada com
capacidade de reabastecimento em voo, uma missão de demonstração foi planejada
e executada a partir de Hurlburt Field, na Flórida, constituindo-se de um voo sem
escalas, para realizar uma missão de apoio aéreo aproximado de duas horas sobre
o Panamá e depois retornar à sua base de saída. Essa missão de 13 horas contou
com dois reabastecimentos em voo, sendo apoiados pelos KC-135 provando
a capacidade de realizar missões de longo alcance fora dos Estados Unidos para
atacar alvos definidos e retornar à base sem precisar realizar escalas
intermediárias.
Os AC-130 pertencentes ao 4th e 16th Special Operations Squadrons participaram em quase todos
conflitos que os Estados Unidos estiveram envolvidos após a Guerra do Vietnã,
sejam conflitos com sua participação oficialmente declarada e em missões não
declaradas.
No final da conturbada década de 70, os AC-130 escreveram
importantes marcos na sua história, Em especial no ano de 1979, quando foram
registrados feitos que comprovaram a grande capacidade de deslocamento e
emprego da variante “H” com emprego da capacidade de REVO. Onde em julho de
1979, aeronaves AC-130H foram deslocadas para o Panamá, sendo mobilizadas para
lançar uma resposta contra possíveis ações hostis contra os norte-americanos
durante a “Revolução da Nicarágua”. Ainda no dia 13
de novembro daquele mesmo ano, o AC-130H quebraria novos recordes de distância em voos
sem escalas, quando duas aeronaves AC-130H do 16th Special Operations Squadrons estabeleceram um novo recorde,
partindo de Hurlburt Field em 13 de novembro de 1979 e pousando no dia 15 de
novembro na Base Aérea de Andersen em Guam, cobrindo uma distância de 13.300 km
(7.200mn) em 29 horas e 43 minutos sem realizar escalas. Para conquistar esse
feito, foram necessários quatro reabastecimentos em voo, sendo apoiados mais
uma vez pelos KC-135, desta vez os pertencentes ao 305th Air
Refueling Wing da Base Aérea de Grissom em Indiana.
Outras quatro aeronaves AC-130H repetiram o voo sem escalas de
Hurlburt Field para a Base Aérea de Anderson em Guam no mês de novembro, o
cenário com a tomada de reféns na Embaixada dos EUA no Irã levou
a tal mobilização dos meios, os quais seriam empregados numa hipotética missão
de resgate. Em Guam, as equipes da AC-130H
desenvolveram procedimentos para reabastecimento sem utilizar os sistemas de
comunicação e luzes, tendo por objetivo reduzir os riscos de ter sua posição
denunciada durante o REVO, com a discrição sendo fundamental para atuar diante
do cenário que se desenvolvia na crise com reféns no Irã, que resultaria em uma
missão de resgate.
Mas o mais longo cruzeiro realizado pelos AC-130H, se deu em março
de 1980 quando os “Spectre” decolaram de Hurlburt voando sem escalas até o
Egito, onde quatro aeronaves ficaram mobilizadas para apoiar a fracassada
tentativa de resgate dos reféns no Irã, onde devido uma série de problemas, foi
abortada sem que fossem acionados os “Spectre”.
Na década de 80, o “Spectre”
viu muita ação no “quintal de casa”, atuando em diversas ocasiões na América
Central, sendo um importante ativo na “diplomacia” dos EUA na região durante
uma série de conflitos e “revoluções”.
Durante a “Operation Urgent Fury”, os “Spectre” foram responsáveis por suprimir
as defesas aéreas em Granada em 1983, fornecendo reconhecimento armado e
apoio aéreo próximo ao ataque das forças multinacionais que libertaram a
ilha. O “Spectre” foi elogiado por "salvar o dia", fornecendo
informações de última hora às forças de assalto. As tripulações
silenciaram numerosas posições AAA e destruíram vários veículos blindados inimigos, permitindo a tomada do Aeródromo
de Point Salines. Naquela ocasião a tripulação do AC-130 foi
condecorada pelo sucesso na missão.
Os AC-130H operados pela 16th Special Operations Squadrons foi um dos esquadrões mais
ativos operando com os “Spectre”, os quais atuaram no esquema de rotação na
Base Aérea de Howard no Panamá, sendo mantidos em alerta, monitorando
atividades em El Salvador e outros pontos de interesse da América Central.
Neste cenário, os “Spectre” possuíam regras de engajamento que lhes permitiam lançar
ataques contra alvos do grupo revolucionário FMLN. Esse destacamento na América
Central atuou no período de 1983 até 1990. Algumas fontes creditam aos AC-130 o
fim da “Guerra Civil
Salvadorenha” na década de 1980.
Os “Spectre” voaram inúmeras missões secretas nos anos 80, em especial na
América Latina, onde realizaram missões de apoio a forças nacionais e
paramilitares apoiadas indiretamente pelos EUA. Em Honduras os AC-130 atacaram
campos e concentrações de guerrilheiros em apoio ao governo legítimo.
Durante a invasão do Panamá com a “Operation Just Cause” em 1989,
os AC-130 tiveram importante
papel primordial, sete aeronaves atacaram
simultaneamente objetivos das Forças de Defesa do Panamá, destruindo o quartel-general
e numerosas instalações de comando e controle, fornecendo valioso apoio aéreo aproximado
às forças terrestres, Não
foi tarefa fácil por, pois exigia o voo de duas formações; uma formação
com duas aeronaves atacando em “pilão” e 5 aeronaves fora do “cone”. No avanço das forças por uma
rua na região central da capital um grupo de combate norte americano ficou
impedido de avançar, pois num determinado prédio a frente haviam atiradores posicionados
em um dos andares do prédio.
O cenário levou a solicitação
de apoio aéreo, o qual foi realizado por um AC-130 que estava voando perto
dali, ao chegar no local o comandante em terra deu as coordenadas do prédio onde
estavam os atiradores, e de pronto veio a resposta.
"...já localizamos o
objetivo, mas em qual janela e andar devemos neutralizar os atiradores...".
O comandante ficou surpreso com a resposta e a previsão na localização, pouco
tempo depois os atiradores foram eliminados, tudo transcorreu num espaço de
poucos minutos. A participação do AC-130 na Operação JUST
CAUSE é melhor resumida pelo Comandante do 7th Ranger Regiment na seguinte citação: " O
fogo devastador causado pelos AC-130 antes dos ataques aéreos ao Rio Hato e
Torrijos, ajudou as forças terrestres a superar rapidamente a resistência em
ambos os objetivos. Sem o seu apoio, as baixas teriam
sido muito maiores ". As tripulações do “Spectre” ganharam o troféu Mackay pelo
voo mais meritório do ano e o prêmio Tunner.
A Guerra do Golfo e a
conturbada década de 90
Durante as Operações “Desert Shield” e “Desert Storm” na Guerra do Golfo que teve início em 1990, tanto a
aviação de primeira linha como a reserva da USAF enviaram seus AC-130 para
fornecer apoio aéreo aproximado e proteção da base aérea, além de apoiar as
forças terrestres e cumprir com missões de interdição no campo de batalha. Os principais alvos de
interdição eram os sítios de sistemas de alerta aéreo antecipado e comando
e controle das forças iraquianas ao longo da fronteira sul do Iraque. Mantendo voo padrão
em 12.000 pés de altitude, a aeronave tinha uma capacidade comprovada de
atingir alvos terrestres em movimento.
O primeiro “Spectre” a entrar
em ação na “Batalha de Khafji” ajudou
a deter uma coluna blindada iraquiana no sul em 29 de janeiro de 1991. Um dia
depois, mais três “Spectre” forneceram apoio aos fuzileiros
navais que participavam da operação. As aeronaves atacaram posições
e colunas iraquianas que se deslocavam para o sul buscando reforçar posições ao
norte da cidade.
Imagem do "Spirit 03" |
Apesar da ameaça representada
pelos SAM durante a Batalha de Khafji, onde buscavam
deter o Iraque e o avanço de suas divisões mecanizadas e blindadas que rumavam
para o sul do Kuwait tentando cruzar a fronteira com a Arábia Saudita, perto da
cidade saudita de Khafji.
Como parte de uma demonstração decisiva do
poder aéreo sobre as forças terrestres, três aeronaves AC-130 “Spectre” se
juntaram à batalha para realizar uma missão de apoio aéreo aproximado (CAS). A
última das três aeronaves, um AC-130H, número de série AF 69-6567, continuou em operação no início da manhã de 31 de janeiro,
quando prestes a encerrar sua missão, o “Spirit 03” recebeu um chamado dos
fuzileiros navais, eles precisavam de suporte para neutralizar uma posição de
mísseis inimigos.
Apesar do risco representado pela artilharia antiaérea e a maior vulnerabilidade ao operar durante a luz do dia, a tripulação do “Spirit 03” optou por permanecer e destruir a posição inimiga. O ”Spirit 03” atingiu o objetivo indicado pelas forças em terra neutralizou a ameaça, destruindo o alvo designado pelos fuzileiros navais que estavam sob fogo, mas essa ação teve um alto custo. Um soldado iraquiano portando um MANPAD Strela-2 (SA-7) travou o “Spirit 03” em sua mira, disparando contra o AC-130 facilmente visível à luz do dia sobre Khafji.
"O míssil encontrou o “Spirit 03”, às 06:35 hrs a aeronave enviou um pedido de socorro pouco antes de cair nas águas do Golfo Pérsico, causando a morte dos 14 membros da tripulação, sendo a primeira perda de um AC-130 desde o Vietnã. A perda da tripulação do "Spirit 03" foi a maior perda individual de qualquer unidade da USAF durante a Operação “Desert Storm”.
Apesar do risco representado pela artilharia antiaérea e a maior vulnerabilidade ao operar durante a luz do dia, a tripulação do “Spirit 03” optou por permanecer e destruir a posição inimiga. O ”Spirit 03” atingiu o objetivo indicado pelas forças em terra neutralizou a ameaça, destruindo o alvo designado pelos fuzileiros navais que estavam sob fogo, mas essa ação teve um alto custo. Um soldado iraquiano portando um MANPAD Strela-2 (SA-7) travou o “Spirit 03” em sua mira, disparando contra o AC-130 facilmente visível à luz do dia sobre Khafji.
"O míssil encontrou o “Spirit 03”, às 06:35 hrs a aeronave enviou um pedido de socorro pouco antes de cair nas águas do Golfo Pérsico, causando a morte dos 14 membros da tripulação, sendo a primeira perda de um AC-130 desde o Vietnã. A perda da tripulação do "Spirit 03" foi a maior perda individual de qualquer unidade da USAF durante a Operação “Desert Storm”.
A bravura e dedicação das tripulações do “Spectre” resultaram na destruição de 21 caminhões de combustível inimigos, 10 veículos blindados de transporte de pessoal e 2 sítios de artilharia antiaérea durante a Batalha de Khafji. A tripulação do “Spirit 03” recebeu as medalhas Silver Star e Purple Heart. As ações desempenhadas pelas tripulações tiveram um papel decisivo na retomada de Khafji e seu subsequente controle, pondo fim as hostilidades.
Ao 16th Special Operations Squadrons foi creditada a destruição de 21 caminhões de combustível,
10 veículos blindados, 9 sítios de Artilharia Antiaérea, 6 veículos de guerra
eletrônica (EW), 3 instalações de radar Squat Eye / Flat Face, 2 centros de
comunicação e um complexo de comando e controle. Vários outros alvos,
incluindo um grande número de tropas inimigas foram engajadas e neutralizadas,
mas não há dados confirmando o resultado destes engajamentos. Durante a retirada
do exército iraquiano do Kuwait, um AC-I30H forneceu cobertura aérea sobre o
Aeroporto Internacional do Kuwait. O 16th SOS Junto com o 711th
registraram inúmeras saídas durante a Operação “Desert Storm”, até 27 de maio
de 1991, quando os “Spectre” remanescentes na Arábia Saudita encerraram as
operações naquele teatro e retornaram à Hurlburt Field.
Nos anos 90, os “Spectre” foram
mobilizados em várias ocasiões, como na Somália após a infeliz ação das forças
especiais naquele país, tendo sido deslocadas quatro aeronaves para aquele
cenário, sendo uma forma de pressionar o governo de Aideed e apoiar as forças
da ONU no local. Em 14 de março de 1993, enquanto preparam suas armas perto de Milindi no
Quênia, seguindo para Somália para se juntar aos demais “Spectre” mobilizados,
a aeronave sofreu a explosão de projétil de 105 mm que estava sendo manuseado
pela tripulação. Incapaz de permanecer no ar devido aos fortes danos e
incêndio causados pelo sinistro, a aeronave caiu no Oceano Índico perto de um
aeroporto, seis tripulantes sobreviveram.
Assim como na Somália, os “Spectre”
foram mobilizados para apoiar a Operação “Uphold Democracy” no Haiti em 1994, quando os
EUA pressionaram o reconhecimento da vitória de Jean Bertrand Aristide nas
eleições democráticas do Haiti. Os AC-130 participaram de operações na Libéria em 1996 e
na Albânia em 1997, colaborando com a evacuação de civis
americanos. Os AC-130 participaram das missões da OTAN na Bósnia e Herzegovina e Kosovo também.
O AC-130U estabeleceu um novo
recorde para o voo mais longo realizado por qualquer C-130, realizado entre os
dias 22 e 23 de outubro de 1997, quando dois AC-130U voaram 36 horas sem escalas
de Hurlburt Field para a Base Aérea de Taegu,
na Coréia do Sul, sendo reabastecido sete vezes no ar pelos KC-135. As aeronaves foram deslocadas
como parte das forças americanas mobilizadas em 1998 para obrigar o Iraque a
permitir inspeções de armas da UNSCOM.
O Século XXI e a Guerra ao Terror
Após mais de três décadas de
serviço ativo, sem qualquer aeronave similar em operação no inventário dos EUA,
os AC-130 veriam mais uma vez suas capacidades postas à prova diante de um novo
cenário, desta vez o inimigo seriam as redes terroristas que ganharam uma
grande proporção no início deste novo século, criando um novo cenário de
conflito assimétrico.
Em resposta aos ataques
lançados em solo americano no 11 de setembro, os EUA responderam com um pesado
ataque contra a Al-Qaeda e o Talibã no Afeganistão, principal base da
organização naquela época. Neste cenário complexo, mais uma vez foram acionados
os “Spectre”, destacados para atuar na "Guerra
do Afeganistão", onde estiveram ativamente entre 2001 e 2014, atuando
no âmbito da Operação “Enduring Freedom”. Os ataques lançados pelos “Spectre”
tinham por finalidade apoiar as forças especiais em solo, onde havia grande
dificuldade de progressão, e as posições do Taliban eram muito bem defendidas durante
aquele primeiro momento. O “Spectre” teve um grande papel na estabilização do
Afeganistão, estando entre os meios que tiveram maior atuação em missões de
Apoio Aéreo Aproximado e reconhecimento armado. Em
determinadas ocasiões, o emprego do AC-130H foi primordial para o sucesso das
ações em terra, como por exemplo, a rendição das forças Talibãs na cidade de Konduz após o ataque
dos “Spectre”. Em 26 de novembro de 2001, os “Spectre” foram mais uma vez
acionados para dar resposta à uma rebelião na
prisão de Qala-I-Janghi, a
rápida intervenção levou a rendição imediata dos rebelados.
No teatro de operações afegão, o 16th SOS realizou inúmeras
missões sobre vários pontos daquele país, empregando uma de suas
especialidades, o apoio aéreo aproximado e reconhecimento armado. Em março de 2002, três aeronaves
AC-130 cumpriram nada menos que 39 missões cruciais de apoio à “Operação Anaconda” no
Afeganistão. Durante os combates intensos, despejaram mais de 1.300 projéteis
de 40 mm e 1.200 de 105 mm.
Outra frente que foram
desdobradas as aeronaves AC-130 do 16th SOS, foi o teatro de operações do
Iraque, onde apoiaram a “Operation Iraq
Freedom” que teve início em 2003 e se estendeu até 2011, onde as missões de
apoio aéreo aproximado foram seu principal emprego no Iraque. Noite após noite, pelo menos uma
aeronave AC-130 estava no ar para atender as solicitações de suporte aéreo (ASR). Uma missão típica contava com
um AC-130 apoiando as forças especiais no solo, seguido de reabastecimento
aéreo e outras duas horas com outra equipe de Forças Especiais (SOF).
Os AC-130 mais modernos, como a
variante “U” também foram usados para reunir informações com seus sofisticados
sensores de imagem, infravermelho e radar de longo alcance. Em 2007, as forças de operações
especiais (SOF) dos EUA também usaram o AC-130 em ataques a supostos
militantes da Al-Qaeda na
Somália.
Oito aeronaves AC-130H e 17
AC-130U estavam em serviço ativo em julho de 2010. Em março de 2011, durante
a “Primavera Árabe”, a USAF implantou dois AC-130U para participar da “Operação Odyssey Dawn”,
a intervenção
militar dos EUA na Líbia.
Em setembro de 2013, 14 aeronaves MC-130W “Dragon Spear” foram convertidas em para variante AC-130W “Stinger II”. Os novos “Stinger II” foram estacionados no Afeganistão para substituir os vetustos AC-130H, os quais seriam substituídos pelos novos AC-130J “Ghostrider”. Os AC-130W receberam várias inovações em relação aos “H”, dentre as modificações foram adicionados kits e trilhos para o lançamento de bombas guiadas a laser dentre várias inovações descritas na outra parte desta matéria.
AC-130W "Stinger II" |
Em 15 de novembro de 2015, os “Spectre”
foram empregados mais uma vez em ação no Oriente Médio, desta vez no ataque contra
o Estado Islâmico (EI) que havia estabelecido uma rota de contrabando de
petróleo e combustível no norte da Síria, nesta ocasião, os AC-130 juntamente
com os A-10 Thunderbolt II destruíram
um comboio com mais de 100 caminhões-tanque. Os ataques foram parte de uma
intensificação da intervenção
militar liderada pelos EUA contra o EI, denominada “Operação Tidal Wave II”,
tentativa de eliminar o contrabando de petróleo que constituía uma das fonte de
financiamento para o grupo.
Mas o “Spectre” também teve
dias ruins em sua história, como o ataque lançado em 3 de outubro de 2015, quando
erroneamente um AC-130 atacou um hospital no Afeganistão, resultando em inúmeras
baixas civis, identificando por engano o hospital como fonte de ataques lançados
por extremistas forças da coalizão.
O “Spectre” retornou de sua
última missão de combate em 8 de julho de 2019. Porém, ainda se mantém ativo no
inventário dos EUA, sendo ainda um meio capaz e operativo nas próximas décadas,
onde devem ser entregues um total de 32 aeronaves na variante AC-130J “Ghostrider”,
os quais tiveram declarada sua capacidade operacional inicial (IOC) em 30 de
setembro de 2017, devendo atingir em 2023 sua capacidade operacional plena.
AC-130J "Ghostrider" |
Hoje a USAF dispões de 17 aeronaves AC-130U “Spooky” e 14
aeronaves AC-130W “Stinger II” em seu inventário, isso sem considerar os
AC-130J “Ghostrider”
que estão sendo entregues, porém, ainda sem obter a certificação operacional
plena.
Em 2018, os “Spectre”
completaram 50 anos em atividade, desempenhando a importante missão de apoio
aéreo aproximado e reconhecimento armado. Embora a aeronave tenha se
mantido relevante através de décadas de operação, tendo sido constantemente
atualizada com novos armamentos, pacotes de sensores e contramedidas, não há uma
boa perspectiva de sobrevivência destas aeronaves em futuros cenários de
emprego e que haja uma mínima capacidade de defesa aérea moderna, isso
principalmente por sua grande assinatura térmica e RCS, somadas a baixa
velocidade atingida pela mesma. Analistas militares do Centro de Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, sugeriram que o AFSOC invista em
tecnologias mais avançadas para desempenhar o papel de operar em futuras zonas
de combate contestadas, incluindo um mix de aeronaves de ataque não tripuladas
e furtivas de baixo custo, o que põe em cheque o futuro de um hipotético
substituto aos AC-130 “Spectre”.
Em breve lançaremos a segunda parte desta série, onde você conhecerá cada versão do "Spectre" e curiosidades sobre cada uma das versões desta fantástica aeronave.
Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN News, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio e leste europeu, especialista em assuntos de defesa e segurança
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