A guerra de informação é um fenômeno velho como o mundo. Já os autores da antiguidade contavam com pormenores sobre requintadas campanhas de agitação, com ajuda das quais os políticos da antiguidade tentavam desmoralizar os adversários.
A Rússia contemporânea, que ocupa um oitavo do globo terrestre e possui o segundo exército mais forte do mundo, tem de combater também no campo da informação. Os principais adversários são os chamados países do Ocidente, especialmente os EUA e a Grã-Bretanha.
A agitação anti-russa consiste na tentativa de convencer os russos da verdade de ideias convenientes ao Ocidente. Algumas delas são francamente mentirosas e absurdas, outras são deturpação de fatos reais. E introduzem ideias inimigas através da repetição múltipla por meio de diferentes canais de transmissão de informação.
A principal premissa é simples. Na Rússia tudo é absolutamente ruim: o presidente – um ditador revanchista, o governo –é incapaz, a economia está arrasada e assim por diante, segundo a lista. O Ocidente é infinitamente mais desenvolvido e civilizado. Lá tem mais liberdade, mais ordem, mais dinheiro e até mesmo mais bondade. Os artigos ocidentais pelo padrão são melhores do que os russos e os políticos ocidentais mais honestos e inteligentes.
A vantagem de tal premissa informativa é extraída imediatamente em várias direções: é o apoio de outras ideias, que partem do “sábio Ocidente”, é a aspiração a “votar com as pernas”, emigrando para algum país ocidental.
Se os verdadeiros canhões nos combates das potências mundiais têm estado em silêncio, a canhonada dos combates informativos não cessa nunca. Fato é fato. A Rússia e a União Europeia estão em estado de “guerra fria”.
A arena de combate é ampla: é a Síria e os países que estão na encruzilhada entre a União Europeia e a União Aduaneira e divergências na compreensão das liberdades democráticas, diz o enxadrista internacional e cientista político Alexei Kuzmin:
“Fazendo uma analogia com o xadrez, passos políticos reais podem ser semelhantes a manobras estratégicas e aos ataques da mídia – operações táticas no tabuleiro de xadrez. Um dos principais postulados do xadrez diz aforisticamente: “A tática ao serviço da estratégia”. Isto é, ataques bruscos de caráter tático devem ser realizados na trama de uma linha estratégica geral profundamente pensada. Os chefes militares ocidentais das “guerras frias” sabem muito bem disto. E uma certa dissonância entre as ações, no geral contidas, dos líderes dos países e a campanha hostil desenfreada na mídia não deve enganar ninguém. São elos de um plano estratégico único lançado em Bruxelas por estrategistas de Washington e neste ou naquele grau apoiado por jogadores europeus”.
Graças a operações táticas bem-sucedidas na partida de xadrez, às vezes consegue-se corrigir mesmo erros de cálculo estratégicos sérios. Por isso, não é de surpreender que depois do fracasso na tentativa de organizar uma invasão militar na Síria, prevenida por Moscou, a mídia ocidental tenha lançado sobre a Rússia uma rajada inteira de ataques massivos.
O aspeto psicológico no xadrez é um dos mais importantes. No final de contas, se você próprio não acredita totalmente na justificativa dos ataques, ninguém poderá convencê-lo disto. Começa esta contraposição de caracteres ainda no aperto de mão, antes da partida. Mas também prossegue não apenas durante o jogo, mas também na conferência de imprensa que se segue. O principal objetivo de falar aos jornalistas é convencer o adversário de que são inúteis as pretensões à vitória na partida, torneio ou campeonato mundial.
Assim, não há nada de surpreendente no fato de que, depois do triunfo diplomático russo na Síria, na mídia ocidental se tenham lembrado dos esquemas batidos de pressão midiática, considera o grão-mestre do xadrez e analista Vladislav Tkatchev.
“Os esforços da Rússia na criação da União Aduaneira Euroasiática não passaram de um “gambito”, isto é, sacrifício notoriamente sem perspetiva a favor de ambições imperiais ainda não sepultadas. O escândalo diplomático nas relações com a Holanda é o retorno à antiga prática de intimidação do KGB, as divergências com a União Europeia –uma tentativa de chantagem etc. Bashar Assad é o mal em aspeto puro, a contraposição a ele são os combatentes pela liberdade, Bruxelas e Washington semeiam exclusivamente o bem e os valores humanos. É evidente o desejo de convencer os políticos russos de que não são naturais e são absurdas as defesas dos próprios interesses em face do consenso mundial já alcançado.”
No coro das vozes anti-russas se quisermos podemos destacar também as opiniões equilibradas. Por exemplo, no La Stampa italiano, o famoso observador Roberto Toscano escreveu que a vitória política de Putin, na história do desarmamento químico da Síria, não é um caso único. Estes acontecimentos devem ser encarados como resultado da estratégica política coerente da Rússia.
Toscano pergunta: “A Rússia está recuperando a sua influência. Serão compatíveis estes anseios com os interesses dos europeus e italianos?” E responde: “o líder russo é ambicioso, mas não sofre de mania das grandeza. Putin decidiu que a diplomacia para seu país é o único meio de defender seus interesses e melhorar a imagem.”
Ou seja, cada um decide por si próprio se deve acreditar ou não nas obras dos “especialistas ocidentais de fama mundial”. E os analistas lembram: a dureza dos ataques do adversário depois da partida é a melhor prova de que tudo se desenvolve bem no tabuleiro de xadrez para a parte russa
Fonte: Voz da Rússia