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terça-feira, 1 de novembro de 2011

OTAN sai da Líbia deixando para trás um cenário político instável

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Na véspera da captura e da morte de Muamar Kadafi em Sirte, o primeiro-ministro rebelde, Mohamed Jibril, convocou a imprensa líbia e estrangeira para uma reunião no Qaat Alshaab, o Congresso do Povo, em Trípoli. Em um discurso franco, criticou as lutas internas pelo poder no Conselho Nacional de Transição, advertiu para a ameaça de caos pós-revolucionário no país e anunciou – mais uma vez – seu afastamento da vida política tão logo a Líbia fosse liberada.

Quatro dias depois, Jibril nem mesmo participaria da festa da vitória, em Benghazi, revelando as divisões no Conselho Nacional de Transição (CNT) às vésperas do fim do mandato da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) no país, amanhã.

Com sua ausência, o chefe de governo e da diplomacia do CNT durante os oito meses da revolução desejava enviar um sinal: preferia deixar de lado qualquer ambição por poder e mudar-se para o Catar a ter de enfrentar as duras negociações internas por cargos no conselho. Esse é o cenário político na Líbia do pós-revolução: um emaranhado de grupos locais, representantes de cidades e tribos que enaltecem suas vitórias na guerra, assim como suas perdas, para obter mais espaço no governo interino que será formado até as eleições gerais, em oito meses.

Ao longo de duas semanas o Estado conversou com líderes locais e nacionais, intelectuais e com a população. Duas conclusões sobressaem: a primeira indica que a sociedade civil está desconectada das negociações, e mal conhece os nomes dos novos líderes políticos do país; a segunda é que, a despeito da indiferença pública, briga-se muito pelo poder em um momento delicado, em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas
revoga o mandato da Otan no país.

Na prática, o CNT perde seu “anjo da guarda”, a máquina de guerra que permitiu que vencesse a revolução contra as tropas de Kadafi. Além disso, os rebeldes perdem – ao menos oficialmente – grande parte da capacidade de inteligência para perseguir os líderes do regime deposto em fuga pelo país, como Saif al-Islam Kadafi, filho e herdeiro político do ditador, e Abdullah al-Senoussi, ex-chefe do poderoso serviço de espionagem da Líbia.

Disputas

Em meio a esse cenário político ainda instável, as disputas internas mostram-se cada vez mais presentes, com sobe e desce de nomes. Mohamed Jibril, o premiê do CNT, deixa o cargo sem dar maiores explicações, desgastado com o jogo político que diz não gostar. Mustafa Abdel Jalil, presidente do conselho, não apenas se mantém no cargo, como gesticula em favor de uma aproximação com as correntes mais conservadoras do Islã na Líbia. Daí seu discurso, há uma semana, defendendo que a nova Constituição do país tenha inspiração na lei islâmica, a sharia.

Mesmo dentro da corrente mais radical, as divergências mostram-se cada vez mais visíveis. Antes poderoso no comando militar dos rebeldes, Abdelhakim Belhadj – muito questionado por seus antigos vínculos com a Al-Qaeda no Afeganistão – saiu de cena e, segundo o Estado apurou, deve deixar nos próximos dias o CNT. Belhadj, ex-líder de um grupo de combatentes islâmicos proscrito após os atentados do 11 de Setembro – tinha emergido como líder durante a operação para tomar Trípoli.

Em seu lugar uma autoridade ascendente é Ramadan Zarmouh, chefe militar do CNT em Misrata. Fortalecido por três vitórias na guerra contra Kadafi – o cerco de Misrata, a participação na tomada de Trípoli e a tomada de Sirte, seguida da captura do ditador – Zarmouh estaria pressionando por mais espaço no comando do governo interino.

Fonte: Estadão
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Liberais na Tunísia temem vitória islâmica em eleição constituinte

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Um alto comparecimento às urnas marcou as primeiras eleições livres na Tunísia. O resultado, no entanto, pode vir a desanimar os apoiadores da Primavera Árabe, já que se anuncia uma vitória dos islâmicos moderados.

Nas primeiras eleições livres da história da Tunísia, espera-se uma vitória do movimento islâmico moderado Ennahda. Os resultados deverão ser anunciados nesta terça-feira (25/10), mas as urnas já apuradas apontam para uma clara vantagem eleitoral do Ennahda, disse um membro do movimento islâmico moderado à agência de notícias DPA.

Apesar das congratulações de todo o mundo pelas primeiras eleições num país árabe após a assim chamada Primavera Árabe, tunisianos liberais temem uma mudança dramática no país, no caso de uma vitória do movimento islâmico – do véu islâmico obrigatório à proibição de bebidas alcoólicas.

O direcionamento dos islâmicos, no entanto, ainda não ficou claro. Na campanha eleitoral, o Ennahda se apresentou como um partido moderno, que vê como exemplo o partido governista turco AKP.

Assembleia Constituinte

Nove meses após a saída do ex-ditador Ben Ali, cerca de 7 milhões de tunisianos foram convocados a eleger os 217 membros da Assembleia Constituinte, que deverá nomear um governo de transição e elaborar uma nova Constituição. Na disputa pelos 217 assentos da Assembleia, houve 11.618 candidatos.

Segundo pesquisas de opinião, o Ennahda, comandado pelo líder islâmico Rachid Ghannouchi, estaria claramente à frente, com 30% da preferência eleitoral. O partido era proibido durante o governo de Ben Ali e continua sendo bastante controverso entre os tunisianos.

Principalmente as mulheres emancipadas temem que o Ennahda assuma o poder. Apesar de diversas limitações dos direitos civis, mesmo sob o governo de Ben Ali, a Tunísia era considerada um dos países mais avançados do Norte da África. Em nenhum outro Estado muçulmano da região a parcela feminina da população tem tantos direitos.

Quanto à participação eleitoral, não houve a princípio informações claras. Um funcionário da comissão eleitoral divulgou que dos 4,1 milhões de eleitores registrados, mais de 90% compareceram às urnas no domingo. Além disso, havia também 3 milhões de eleitores não registrados, que puderam entregar seu voto em locais especiais de votação.

Medo de novos conflitos

Como modelo para seu partido, Rachid Ghannouchi, líder do Ennahda que viveu 22 anos em exílio no Reino Unido, inspirou-se no primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan. Diplomatas ocidentais estimam, todavia, que os votos obtidos pelo Ennahda não deverão ser suficientes para um governo de maioria. É provável que seja necessário formar uma coalizão de governo.

Segundo as palavras de Ghannouchi, seu partido respeita os direitos das mulheres e não pretende impor nenhum preceito moral aos tunisianos. Apesar da atitude moderada do Ennahda, alguns tunisianos temem que o novo governo venha a intervir em seu estilo de vida.

Uma vitória do partido significaria o primeiro êxito eleitoral dos islâmicos no mundo árabe, desde que o grupo radical Hamas saiu vencedor das eleições nos territórios palestinos. Também na vizinha Argélia, os islâmicos saíram vencedores em 1991. O resultado não foi reconhecido pelas Forças Armadas do país. Seguiram-se então anos de guerra civil com milhares de vítimas.

Fonte: Deutsche Welle
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que substituirá a social-democracia?

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A social-democracia prometeu um futuro melhor para as gerações seguintes, algo como a elevação permanente da renda nacional e das famílias. Chamou-se isso de “estado do bem-estar social”. Era uma ideologia que refletia o ponto de vista segundo o qual o capitalismo poderia ser “reformado” e assumir uma face mais humana. A solução social-democrata tornou-se uma ilusão. A questão é: o que irá tomar o seu lugar?

A social-democracia teve seu apogeu no período entre 1945 e o final dos anos 1960. Naquele momento, representou uma ideologia e um movimento que lutaram pelo uso dos recursos do Estado para assegurar alguma distribuição em favor das maiorias, de distintas formas concretas. Expansão dos sistemas de Saúde e Educação. Garantia de níveis de renda ao longo da vida, por meio de programas que atenderam às necessidades dos sem-emprego, particularmente as crianças e idosos. Programas para reduzir o desemprego. A social-democracia prometeu um futuro sempre melhor para as gerações seguintes, algo como a elevação permanente da renda nacional e das famílias. Chamou-se isso de “estado do bem-estar social”. Era uma ideologia que refletia o ponto de vista segundo o qual o capitalismo poderia ser “reformado” e assumir uma face mais humana.

Os social-democratas foram particularmente poderosos na Europa Ocidental, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos (onde eram chamados Democratas do New Deal). Em outras palavras, nos países ricos do sistema-mundo, aqueles que poderiam ser chamados de integrantes do mundo pan-europeu. Seu sucesso foi tão vasto que seus oponentes à direita também adotaram o conceito de estado do bem-estar social, limitando-se a reduzir sua abrangência e seus custos. No resto do mundo, os estados tentaram pular no bonde por meio de projetos de “desenvolvimento nacional”.

A social-democracia foi um projeto muito bem-sucedido durante este período. Tornou-se viável graças a duas realidades daquele tempo: a incrível expansão da economia-mundo criou os recursos que fizeram a redistribuição possível; e a hegemonia dos Estados Unidos no sistema-mundo assegurou relativa estabilidade e, em especial, a ausência de violência grave no interior desta zona rica.

O quadro cor-de-rosa não durou. Ambas as realidades se esgotaram. A economia-mundo deixou de se expandir e entrou em longa estagnação, na qual ainda vivemos; e os Estados Unidos iniciaram seu longo, ainda que lento, declínio enquanto potência hegemônica. Ambas realidades aceleraram-se consideravelmente no século 21.

A nova era iniciada nos anos 1970 viu o fim do consenso centrista em torno das virtudes do estado de bem-estar social e do “desenvolvimento” estimulado pelo Estado. Tal consenso foi substituído por um nova ideologia mais à direita — chamada de neoliberalismo, ou Consenso de Washington — que sustentava os méritos da gestão da sociedade pelos mercados, mais que pelos governos. Afirmou-se que este programa baseava-se na realidade, supostamente nova, da “globalização”, diante da qual “não havia alternativa”.

A implementação dos programas neoliberais parecia favorecer altos níveis de “crescimento” nos mercados de ações, mas ao mesmo tempo levou, em todo o mundo, a níveis crescentes de endividamento e desemprego – e a níveis mais baixos de renda para a vasta maioria das populações do planeta. Ainda assim, os partidos que haviam sido os pilares os programas social-democratas, à esquerda, moveram-se para a direita, retirando ou reduzindo o apoio ao estado do bem-estar social e aceitando que o papel dos governos reformistas deveria ser reduzido consideravelmente.

Embora os efeitos negativos sobre a maioria das populações fossem sentidos mesmo no interior do mundo pan-europeu rico, eles afetaram de modo mais agudo o resto do mundo. Que seus governos fizeram? Começaram a tirar partido do declínio relativo econômico e geopolítico dos Estados Unidos (e, mais amplamente, do mundo pan-europeu). Focaram em seu próprio “desenvolvimento nacional”. Usaram o poder de seus aparatos de estado e seus custos de produção mais baixos para se converter em nações “emergentes”. Quanto mais à esquerda estivessem sua retórica, e mesmo seu compromisso político, mais eles mostraram-se determinados a “desenvolver”.

Esta atitude poderá ajudá-los, como fez em realação aos países do mundo pan-europeu no período pós-1945? Não é nem um pouco certo que sim, apesar das impressionantes taxas de “crescimento” de algumas destas nações – particularmente os tão-falados BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China) – nos últimos cinco ou dez anos. Porque há sérias diferenças entre o atual estado do sistema-mundo e o vivido no imediato pós-1945.

Primeiro, os custos de produção são hoje, apesar dos esforços dos neoliberais, consideravelmente maiores que os do período pós-1945, o que ameça as possibilidades reais de acumulação de capital. Isso torna o capitalismo um sistema menos atraente para os capitalistas. Os mais sagazes, dentre estes, estão procurando meios alternativos de assegurar seus privilégios.

Segundo, a capacidade das nações emergentes para ampliar, a curto prazo, sua riqueza exerce grande pressão sobre os recursos necessários para atender suas necessidades. Surgiu, em consequência, uma corrida sempre crescente por terras, água, alimentos e recursos energéticos. Ela está levando a lutas ferozes e, ao mesmo tempo, reduzindo a capacidade global dos capitalistas em acumular capital.

Terceiro, a enorme expansão da produção capitalista criou sérias pressões sobre a natureza em todo o mundo, a ponto de provocar uma crise climática, cujas consequências ameaçam a qualidade de vida em todo o mundo. Este processo desencadeou um movimento que busca questionar as virtudes do “crescimento” e do “desenvolvimento”, enquanto objetivos econômicos. A exigência crescente de uma perspectiva “civilizacional” diferente é o que está sendo chamado, em países da América Latina, de movimento pelo “bien vivir”.

Quarto, as demandas de grupos subalternos por participação real nos processos de tomada de decisões dirigem-se não apenas aos “capitalistas”, mas também aos governos de “esquerda” que estão promovendo o “desenvolvimento” nacional.

Quinto, a combinação de todos estes fatores, mais o declínio visível do antigo poder hegemônico gerou um clima de flutuações constantes e radicais, tanto na economia-mundo quando na situação geopolítica. O resultado foi a paralisia tanto dos empreendedores quanto dos governos do mundo. O grau de incerteza – no longo e no curto prazo – elevou-se acentuadamente, e com ele o nivel real de violência.

A solução social-democrata tornou-se uma ilusão. A questão é: que irá tomar o seu lugar, para a vasta maioria das populações do planeta?
Fonte: Carta Maior
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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vinte anos depois do fim da URSS, muitos gostariam de voltar no tempo

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Sergei Veretelny foi baleado e ferido quando se colocou desarmado diante de uma fileira de veículos blindados há 20 anos para ajudar a impedir a passagem no centro de Moscou, uma das poucas vítimas da última e falha tentativa de preservar a União Soviética.

Era um momento em que os russos, na sua maioria intimidados e passivos súditos do governo soviético por 74 anos, concentraram-se nas ruas para apoiar o futuro presidente Boris Yeltsin, exigindo uma mudança democrática.

O escritor Vasily Aksyonov capturou o entusiasmo de muitos naquele momento ao chamar o impasse de 60 horas de, “provavelmente, as noites mais gloriosas da história da civilização russa.”

Mas o homem forte por trás do governo da Rússia, o primeiro-ministro Vladimir Putin, chamou a queda da União Soviética de “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Dias antes da chegada do aniversário da queda da União Soviética, neste sábado, pesquisas revelaram opiniões mais próximas das de Putin do que das de Aksyonov. Poucas pessoas disseram ver os acontecimentos de 1991 como uma vitória pró-democracia.

“Naquela época na Rússia, por trás da cortina de ferro, só tínhamos ouvido falar da democracia”, disse Veretelny, 54 anos, que na época ganhava a vida como motorista. “Nós realmente acreditávamos na mágica e bela palavra democracia. Mas muitas coisas não saíram exatamente da maneira como esperávamos. Começamos a nos perguntar pelo que o nosso sangue foi derramado”.

Na década que se seguiu, caóticas mudanças sociais e econômicas, além das tentativas frustradas de reforma, deram à democracia um mau nome. Muitas pessoas saudaram a estabilidade que Putin trouxe, mesmo às custas de algumas liberdades democráticas.

Desilusão

Veretelny é apenas uma voz entre 140 milhões de russos, e embora sua desilusão seja amplamente compartilhada, muitas pessoas parecem aceitar os limites de Putin a respeito da concorrência política, da sociedade civil e da mídia. Uma eleição que está marcada para o início do próximo ano não deve mudar o curso do país.

Veretelny falou uma semana antes do aniversário na casa de Lyubov Komar, a mãe de um jovem veterano da guerra russo no Afeganistão, que foi um dos três homens mortos na noite final. Veretelny foi ferido ao tentar recuperar o corpo de Komar, que ele disse ter ficado pendurado em um veículo blindado, que ia para frente e para trás para desalojar um ônibus que havia ficado preso em sua carroceria ao bloquear o caminho.

“Eu vi o cara pendurado para fora do carro blindado”, disse ele. “Coloquei minhas mãos para ajudar e fui atingido no ombro. Eu pensei que alguém viria retirar o corpo, mas o veículo dirigiu para frente e para trás até que o corpo caiu no asfalto.”

Os carros blindados e tanques bateram em retirada pouco depois, marcando o fim de um golpe que tentou segurar a onda de mudança. Em 25 de dezembro, o então presidente Mikhail S. Gorbachev renunciou, pondo fim à União Soviética.

Desde então, Veretelny trabalhou como eletricista, inspetor de polícia e agora como empreendedor à margem da economia russa. Até recentemente, sua mulher Svetlana tinha um ótimo emprego como gerente de um negócio e ela disse que o casal vive confortavelmente.

Processo

Komar, que trabalha como ajudante em um clube de saúde, ainda constrói sua vida em torno da memória de seu filho, e ela ecoa a opinião de Veretelny, dizendo: “Se meu filho pudesse ter visto para onde o país estava indo, ele não estaria nas barricadas”.

Sentada em seu apartamento, rodeada de fotografias que traçam seu crescimento de um menino a um soldado, ela disse que desistiu do processo político. “Eu não voto há 10 anos”, disse ela. “Eles estão muito bem sem mim. Escolhem quem eles querem, então por que votar?”

Como muitos russos, ela passou a desprezar Yeltsin pelo que viu como uma liderança fraca e agora faz parte da grande maioria do povo russo que apoia Putin. Mas o que ela realmente gostaria é de voltar no tempo.

“Eu me sentia mais confortável na URSS”, disse ela. “Você sempre tinha um pedaço de pão. Você sempre tinha trabalho. Sim, com certeza, você pode ir para o exterior agora, mas tem de ter dinheiro para isso e tem de entrar em dívida. Se você não tem dinheiro, não pode fazer nada.”

Um levantamento recente do Centro Levada, uma respeitada agência de pesquisa, descobriu que 20% dos russos compartilham o sonho de um retorno da União Soviética. Esse número oscilou entre 16% e 27% nos últimos oito anos.

Entre estes, não surpreendentemente, estava Gorbachev, que tentou reformar e preservar a URSS, mas foi frustrado pelo golpe, depois por Yeltsin e pela força situação do momento. “Alguns dizem repetidamente que o colapso da União Soviética era inevitável”, disse ele em uma coletiva de imprensa na quarta-feira. “Mas eu continuo dizendo que a União Soviética poderia ter sido preservada.” Dirigindo-jornalistas, ele disse: “Vocês criticam Gorbachev: fraco, molenga, mais ou menos nesses termos. Mas o que teria acontecido se aquele molenga não estivesse naquela posição, naquele momento, quem diabos sabe o que poderia ter acontecido conosco.”

Segundo o Centro Levada, aqueles que desejariam voltar ao passado soviético são em sua maioria membros do antigo Partido Comunista, idosos e pessoas que vivem em pequenas cidades e aldeias. A pesquisa foi realizada em julho com 1,6 mil pessoas e possui margem de erro de mais ou menos 3 pontos percentuais.

Outras respostas sugerem que os russos querem a democracia, mas uma democracia específica, com um governo central poderoso, algo mais próximo ao que o país tem hoje do que alguns, como Veretelny, havia imaginado. Mais da metade dos participantes da pesquisas, 53%, disse valorizar mais a “ordem” do que os direitos humanos.

“Nós tivemos tanta esperança, tanta fé, tanta inspiração para o futuro”, disse Svetlana, esposa de Veretelny. “Havia um sentimento de liberdade e esperança. Estávamos todos felizes em ver mudança adiante.”

Mas agora, segundo a agência de pesquisa, apenas 10% dos entrevistados veem aqueles dias como uma vitória para a democracia. O número de pessoas que chamou os eventos de tragédia aumentou de 25% no aniversário de 10 anos da queda da URSS para 39%. “É o que é”, disse Veretelny, que passou da esperança à passividade. “Temos apenas de perceber que é isso o que nós temos.”

Fonte: The New York Times via Último Segundo

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Golpe de Estado nos Estados Unidos

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“O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico".

Já se escreveu muito sobre a crise dos Estados Unidos. Aludiu-se à complacência e ao fracasso de nossas elites, à ignorante fúria de um segmento de cidadãos espiritualmente plebeus, à importância intelectual e política de boa parte do resto, à ausência de uma conexão entre uma intelligentsia crítica e os movimentos sociais que no passado deram suas ideias à esfera pública, à fragilização da própria esfera pública e à consequente atomização do país. Esses diagnósticos são corretos. O que às vezes se passa por alto em nossa situação é o fator propósito: a democracia norte-americana sofreu um golpe de Estado encoberto. Seus autores ocupam os postos mais altos dos negócios e das finanças, seus leais servidores dirigem as universidades, os meios de comunicação e grande parte da cultura, e igualmente monopolizam o conhecimento profissional científico e técnico.

Seus dispostos seguidores se encontram em toda parte, especialmente entre aqueles que sentem que são ignorados, inclusive desprezados, e experimentam uma desesperada necessidade de compensação íntima. Incapazes de atuar de forma autônoma, negam em voz alta que sejam dominados e explorados. Identificam como inimigos os grupos sociais a serviço do bem público, cuja existência rechaçam como princípio. Sua hostilidade ao Governo é tão grande quanto sua falta de conhecimento de como este realmente funciona, ou a história de seu próprio país.

Evidentemente, há uma substancial coincidência entre aqueles que deram sua aquiescência ao golpe de Estado e os muitos que pretendem a recristianização do país, que acreditam que o aborto e a homossexualidade são ao mesmo tempo crimes civis e pecados religiosos, que respondem à imigração com xenofobia. Esses são os brancos, principalmente no sul e no oeste, e nas cidades menores, que ficaram escandalizados pela eleição de um presidente afro-americano e que se criaram (e ainda se criam) muitas das falsidades sobre sua pessoa, desde o seu nascimento no Quênia até sua adesão ao islamismo.

Os iniciadores do golpe de Estado são, geralmente, muito sofisticados para essas vulgaridades, embora indubitavelmente não sejam muito escrupulosos na hora de utilizá-las para conseguir o apoio para os seus objetivos primários. Que não são outros senão reduzir as funções e poderes redistributivos e reguladores do Estado norte-americano, revogando, privatizando ou, ao menos, limitando importantes componentes do nosso Estado de bem-estar: Seguridade Social (pensões universais), Medicare (seguro público de saúde para os maiores de 65) e todo um espectro de benefícios e serviços nos campos da educação, emprego, saúde e na manutenção de ingressos. A possibilidade de uma regulação ambiental em grande escala, ou de um projeto para reconstruir toda a infra-estrutura de modo que seja mais compatível com um futuro benévolo com o meio ambiente, provoca igualmente sua sistemática oposição. Os obstáculos administrativos e legais à atividade sindical são outra parte do programa.

Os esforços do capital politicamente organizado para manter o controle do sistema político são tão velhos quanto a república norte-americana. De modo algum excluíram a utilização do Governo em muitas ocasiões em todas as épocas da nossa história. O que distingue a recente situação é a propagação explícita e resoluta de uma ideologia que declara o mercado como superior ao Estado, que busca transferir para o setor privado funções governamentais até agora reservadas ao Estado, e que não permite que a consideração de um maior interesse nacional (como no comércio com outros países) interfira nos interesses imediatos do capital.

A obra de inumeráveis economistas, as simplificações de um grande número de comentaristas e jornalistas, a intromissão nos sistemas escolares e sua manipulação, e, sobretudo, o fato de que os meios de comunicação e o que temos de discurso público fiquem excluídos da discussão séria de alternativas, culminaram na fervorosa obsessão com que os congressistas republicanos fizeram sua a crença de que os déficits orçamentários são uma ameaça para o país.

Em 1952, John Kenneth Galbraith publicou sua primeira obra-prima Capitalismo americano: o conceito do poder compensatório (Novo Século Editora). Nela sustentava que a busca do benefício sem limite, a cegueira de curto prazo do capitalismo, havia sido corrigida pelo Governo, apoiado por uma cidadania consciente de seus diferentes interesses, por grupos de interesse público, por sindicatos e por um Congresso (e Governos estatais) com um grau notável de independência política.

Em 1961, Galbraith pediu ao presidente Kennedy que não o nomeasse chefe do Conselho de Assessores Econômicos: era um alvo muito visível. Durante alguns anos o ponto de vista de Galbraith seguiu sendo convincente. No entanto, também foi se produzindo um gradual enfraquecimento das forças compensatórias com as quais Galbraith contava para tornar permanente o new deal; e um enfraquecimento, assim mesmo, das elites capitalistas com maior formação e visão de longo prazo, dispostas a aceitar um contrato social.

As razões deste duplo declive seguem sendo objeto de discussão para os historiadores. A absorção dos recursos materiais e morais do país pela guerra fria, que se converteu em um fim em si mesma, desempenhou certamente um papel. Tornou-se muito mais difícil desenvolver programas de reconstrução social em grande escala pela composição racial dos pobres nos Estados Unidos, embora os brancos – de modo geral, brancos do sul – fossem uma maioria entre eles. A própria prosperidade proporcionada pelo contrato social do pós-guerra socavou a combatividade e a militância da força de trabalho sindicalizada, que ficou relativamente indefesa diante da competição da indústria estrangeira e da fuga do capital norte-americano para outros países.

Os efeitos que essas mudanças estruturais tiveram foram magnificados à medida que o capital financeiro (o reino da pilhagem e a liquidação de empresas produtivas, dos derivados, dos hedge funds e da especulação arcana) se fez quantitativa e qualitativamente dominante.

Este tipo de capitalismo, especialmente, requeria a abstinência política do Estado, que somente se poderia obter se pouco a pouco se comprasse o Estado. O novo capitalismo fez sérios avanços no Partido Democrata, reduzindo a uma insistente atitude defensiva os herdeiros do new deal que havia em seu interior. Quando, em 2008, o presidente Obama mobilizou milhões de afro-americanos, latinos, jovens e velhos, mulheres e os restos do movimento sindical, não foi menos solícito com o novo capitalismo, que tinha muito menos votos, mas muito mais dinheiro. A singular insignificância das iniciativas da Casa Branca em 2009, 2010 e este ano em matéria de estímulo econômico, emprego e reconstrução nacional poderiam ser explicadas como um reflexo do real equilíbrio de forças políticas do país.

Deixando de lado o furor provocado pelo Tea Party e pelo limite da dívida, a explicação também poderia estar nessa quinta coluna constituída pelos agentes ideológicos e políticos do novo capitalismo, que está ocupando a própria Casa Branca. Deste ponto de vista, a extraordinária boa disposição do presidente ao acordo mútuo não é o resultado de um novo alinhamento da política norte-americana, mas uma parte previsível do mesmo

Por: Norman Birnbaum - professor emérito na Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown.

Fonte: El País via Carta Maior

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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Gorbachev critica 'retrocesso' da Rússia 20 anos após era soviética

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O último dirigente soviético Mikhail Gorbachev demonstrou "descontentamento" com a evolução da Rússia, 20 anos após o putsch frustrado contra sua perestroika, a política de reconstrução, em 19 de agosto de 1991, criticando, principalmente, o monopólio do partido no poder e a ausência de eleições livres.

Lançada em 1985 por Gorbachev, as políticas de perestroika e de glasnost (transparência) abriram as portas a um anseio de liberdade que tumultuou o papel dirigente do Partido Comunista, além de despertar desejos de independência nas repúblicas da então União Soviética

"Não estou contente (...) houve um retrocesso", declarou o pai da perestroika e prêmio Nobel da Paz, durante uma entrevista à imprensa sobre a situação política na Rússia, 20 anos após o golpe de misericórdia na União Soviética.

"Em relação à expectativa de vida e mortalidade, nós, russos, estamos bem abaixo da lista, ao lado dos países africanos; há 96% de pobres no país, se utilizarmos para essa contagem os critérios aplicados num país como a Áustria. Além disso, possuímos duas vezes menos jovens com diplomas de ensino superior do que o registrado após a Segunda Guerra", enumerou.

Gorbachev também disse que "apoiava" o ex-presidente, o poderoso primeiro-ministro Vladimir Putin, apesar de algumas "tendências autoritárias". E criticou seu partido, o Rússia Unida, considerando que se parece ao que foi o Partido Comunista, na época soviética.

"É preciso renunciar ao monopólio, não se deve repetir a URSS em sua pior variante", destacou.

"Não devem nos contar histórias, inventando estruturas inúteis, em todos os fronts", prosseguiu, em referência à Frente Popular, uma ampla coalizão em torno do Rússia Unida de Vladimir Putin. "Apoio Putin, mas a Frente, não", disse.

"Precisamos de eleições honestas. Hoje, é (Vladislav) Sourkov [subchefe do Kremlin, considerado o principal ideólogo do regime] que diz às regiões qual percentual devem fornecer" ao partido no poder, durante as eleições, disse ainda Gorbatchev, deixando a entender claramente que o pleito na Rússia é viciado.

Nem Vladimir Putin, nem o presidente Dmitri Medvedev anunciaram suas intenções para as presidenciais de 2012.

Vladimir Putin, presidente de 2000 a 2008, chegou a designar Dmitri Medvedev como seu sucessor, por não poder se apresentar para um terceiro mandato consecutivo. Mas ele pode, a partir de agora, retornar ao Kremlin.

GOLPE

Há 20 anos, meses após o putsch conservador, na então União Soviética, lituanos e georgianos declararam independência, conflitos étnicos explodiram no Cáucaso e na Ásia Central, as arcas do Estado ficaram vazias e a população fazia filas intermináveis para comprar produtos de primeira necessidade.

Os conservadores tentaram tomar o poder quando Gorbachev estava de férias na Crimeia.

O golpe fracassou e seus autores foram detidos três dias depois, mas os fatos precipitaram o fim de uma União Soviética já fragilizada por tendências autonomistas das repúblicas e que foi dissolvida em definitivo em dezembro de 1991 e Mikhail Gorbachev demitiu-se.

Então, as repúblicas soviéticas proclamaram, umas após as outras, sua independência.

Detidos (com exceção de Boris Pougo que se suicidou em 22 de agosto daquele ano), os golpistas acabaram agraciados por Boris Yeltsin.

Fonte: France Presse

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Os Estados Unidos em decadência

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A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade nos EUA chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate. Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal, enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

É um tema comum que os Estados Unidos, que há apenas alguns anos era visto como um colosso que percorreria o mundo com um poder sem paralelo e um atrativo sem igual (...) estão em decadência, enfrentando atualmente a perspectiva de uma deterioração definitiva, assinala Giacomo Chiozza, no número atual de Political Science Quaterly.

A crença neste tema, efetivamente, está muito difundida. Em com certa razão, se bem que seja o caso de fazer algumas precisões. Para começar, a decadência tem sido constante desde o ponto culminante do poderio dos EUA, logo após a Segunda Guerra Mundial, e o notável triunfalismo dos anos 90, depois da Guerra do Golfo, foi basicamente um autoengano.

Outro temam comum, ao menos entre aqueles que não ficaram cegos deliberadamente, é que a decadência dos EUA, em grande medida, é auto-inflingida. A ópera bufa que vimos este verão em Washington, que desgostou o país e deixou o mundo perplexo, pode não ter comparação nos anais da democracia parlamentar. O espetáculo inclusive está chegando a assustar aos patrocinadores desta paródia. Agora, preocupa ao poder corporativo que os extremistas que ajudou a por no Congresso de fato derrubem o edifício do qual depende sua própria riqueza e seus privilégios, o poderoso estado-babá que atende a seus interesses.

A supremacia do poder corporativo sobre a política e a sociedade – basicamente financeira – chegou ao grau de que as formações políticas, que nesta etapa apenas se parecem com os partidos tradicionais, estão muito mais à direita da população nos principais temas em debate.
Para o povo, a principal preocupação interna é o desemprego. Nas circunstâncias atuais, esta crise pode ser superada só mediante um significativo estímulo do governo, muito mais além do que foi o mais recente, que apenas fez coincidir a deterioração no gasto estatal e local, ainda que essa iniciativa tão limitada provavelmente tenha salvado milhões de empregos.

Mas, para as instituições financeiras, a principal preocupação é o déficit. Assim, só o déficit está em discussão. Uma grande maioria da população está a favor de abordar o problema do déficit taxando os muito ricos (72%, com 27% contra), segundo uma pesquisa do The Washington Post e da ABC News. Fazer cortes nos programas de atenção médica conta com a oposição de uma esmagadora maioria (69% no caso do Medicaid, 78% no caso do Medicare). O resultado provável, porém, é o oposto.

O Programa sobre Atitudes de Política Internacional (PIPA) investigou como a população eliminaria o déficit. Steven Kull, diretor do PIPA, afirma: É evidente que, tanto o governo como a Câmara (de Representantes) dirigida pelos republicanos, estão fora de sintonia com os valores e as prioridades da população no que diz respeito ao orçamento.

A pesquisa ilustra a profunda divisão: a maior diferença no gasto é que o povo apoia cortes profundos no gasto militar, enquanto que o governo e a Câmara de Representantes propõem aumentos modestos. O povo também defende aumentar o gasto na capacitação para o trabalho, na educação e no combate à poluição em maior medida que o governo ou a Câmara.

O acordo final – ou, mais precisamente, a capitulação ante à extrema direita – é o oposto em todos os sentidos, e quase com toda certeza provocará um crescimento mais lento e danos de longo prazo para todos, menos para os ricos e as corporações, que gozam de benefícios sem precedentes.

Nem sequer se discutiu que o déficit poderia ser eliminado se, como demonstrou o economista Dean Baker, se substituísse o sistema disfuncional de atenção médica privada dos EUA por um semelhante ao de outras sociedades industrializadas, que tem a metade do custo per capita e obtém resultados médicos equivalentes ou melhores.

As instituições financeiras e as grandes companhias farmacêuticas são demasiado poderosas para que sequer se analisem tais opções, ainda que a ideia dificilmente pareça utópica. Fora da agenda por razões similares também se encontram outras opções economicamente sensatas, como a do imposto às pequenas transações financeiras.

Entretanto, Wall Street recebe regularmente generosos presentes. O Comitê de Atribuições da Câmara de Representantes cortou o orçamento da Comissão de Títulos e Bolsa, a principal barreira contra a fraude financeira. E é pouco provável que sobreviva intacta a Agência de Proteção ao Consumidor.

O Congresso brande outras armas em sua batalha contra as gerações futuras. Apoiada pela oposição republicana à proteção ambiental, a importante companhia de eletricidade American Eletric Power arquivou o principal esforço do país para captar o dióxido de carbono de uma planta atualmente impulsionada por carvão, o que significou um forte golpe às campanhas para reduzir as emissões causadoras do aquecimento global, informou o The New York Times.

Esses golpes auto-aplicados, ainda que sejam cada vez mais potentes, não são uma inovação recente. Datam dos anos 70, quando a política econômica nacional sofreu importantes transformações, que puseram fim ao que se costuma chamar de “época de ouro” do capitalismo de Estado.

Dois importantes elementos desse processo foram a financeirização (o deslocamento das preferências de investimento, da produção industrial para as finanças, os seguros e os bens imobiliários) e a externalização da produção. O triunfo ideológico das doutrinas de livre mercado, muito seletivo como sempre, desferiu mais alguns golpes, que se traduziram em desregulação, regras de administração corporativa que condicionavam as enormes recompensas aos diretores gerais com os benefícios de curto prazo e outras decisões políticas similares.

A concentração resultante da riqueza produz maior poder político, acelerando um círculo vicioso que aportou uma riqueza extraordinária para 1% da população, basicamente diretores gerais de grandes corporações, gerentes de fundos de garantia e similares, enquanto que a maioria das receitas reais praticamente estancou.

Ao mesmo tempo, o custo das eleições disparou para as nuvens, fazendo com que os dois partidos tivessem que escavar mais fundo os bolsos das corporações. O que restava de democracia política foi solapado ainda mais quando ambos partidos recorreram ao leilão de postos diretivos no Congresso, como apontou o economista Thomas Ferguson, no The Financial Times.

Os principais partidos políticos adotaram uma prática das grandes empresas varejistas, como Walmart, Best Buy e Target, escreve Ferguson. Caso único nas legislaturas do mundo desenvolvido, os partidos estadunidenses no Congresso colocam preço em postos chave no processo legislativo. Os legisladores que conseguem mais fundos ao partido são os que indicam os nomes para esses postos.

O resultado, segundo Ferguson, é que os debates se baseiam fortemente na repetição interminável de um punhado de consignas, aprovadas pelos blocos de investidores e grupos de interesse nacionais, dos quais depende a obtenção de recursos. E o país que se dane.

Antes do crack de 2007, do qual foram responsáveis em grande medida, as instituições financeiras posteriores à época de ouro tinham obtido um surpreendente poder econômico, multiplicando por mais de três sua participação nos lucros corporativos. Depois do crack, numerosos economistas começaram a investigar sua função em termos puramente econômicos. Robert Solow, prêmio Nobel de Economia, concluiu que seu efeito poderia ser negativo. Seu êxito aporta muito pouco ou nada à eficiência da economia real, enquanto seus desastres transferem a riqueza dos contribuintes ricos para o setor financeiro.

Ao triturar os restos da democracia política, as instituições financeiras estão lançando as bases para fazer avançar ainda mais este processo letal...enquanto suas vítimas parecem dispostas a sofrer em silêncio.

Por Noam Chomsky - Professor emérito de lingüística e filosofía do Instituto Tecnológico de Massachusetts. Seu livro mais recente é 9-11: Tenth Anniversary.

Fonte: Carta Maior

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Sarkozy e Merkel pressionam Itália e Espanha

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O presidente francês, Nicolas Sarkozy, e a chanceler alemã, Angela Merkel, pediram neste domingo "uma aplicação rápida e completa das medidas anunciadas" pela Itália e Espanha para sair da crise da dívida.

Eles também afirmaram que "acolheram favoravelmente as decisões tomadas" e que sua aplicação é "essencial para restaurar a confiança nos mercados".

Essa advertência teve como principal alvo o governo do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. "A meta das autoridades italianas de alcançar o equilíbrio orçamentário com um ano de antecedência é fundamental", afirmam Merket e Sarkozy na declaração conjunta.

No último dia 15 de julho, o Parlamento italiano adotou um plano de austeridade reforçado por cerca de 48 bilhões de euros para salvar o país da crise da dívida.

Após uma semana de turbulências, Berlusconi anunciou na sexta-feira uma aceleração das medidas previstas do projeto orçamentário para os três próximos anos, "a fim de alcançar o equilíbrio orçamentário em 2013, em vez de 2014".

Já na Espanha, o governo de José Luis Rodriguez Zapatero lançou reformas do mercado de trabalho, da previdência social e do setor bancário.

Em meio à crise da Zona do Euro e, depois, do rebaixamento da nota da dívida dos Estados Unidos pela agência Standard and Poor's na sexta-feira, Merkel e Sarkozy mostraram-se "preocupados em relação à abertura das bolsas na segunda-feira", de acordo com uma fonte próxima às autoridades dos dois países.

Merkel e Sarkozy também renovaram seu "compromisso em aplicar plenamente" as medidas do acordo da Zona do Euro, assinado em Bruxelas no dia 21 de julho, numa declaração conjunta divulgada pela Presidência francesa.

Entre essas medidas, uma ampliação da possibilidade de ajuda aos países mais frágeis por parte do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, apresentado como um esboço de um futuro Fundo Monetário Europeu.

Eles também pediram para que os parlamentares dos seus dois países autorizem essas medidas "até o fim do mês de setembro". Nesse âmbito, a França já anunciou uma sessão extraordinária do seu Parlamento dos dias 6 a 8 de setembro.

Paris e Berlim também mostraram-se "confiantes" em relação à "análise do BCE", que será "a base adequada para as intervenções" de compra de dívidas que poderão socorrer os países mais vulneráveis.

Fonte: AFP
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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Taxa de câmbio desfavorável atrasa venda de Rafale ao EAU

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A resistência aos preços do caça Rafale pelos Emirados Árabes Unidos decorre de uma taxa de câmbio euro-dólar desfavorável, mas as negociações continuam, segundo afirmou o presidente executivo da Dassault Aviation, Charles Edelstenne.

Conversas dos Emirados Árabes Unidos com a Lockheed Martin sobre uma possível compra de novos caças F-16 "não são um sinal negativo", disse Edelstenne em conferência de imprensa sobre os resultados da companhia no primeiro semestre do ano.

Mas com o euro batendo a casa de $1,40 dólares, o preço do Rafale foi impulsionado pela taxa de câmbio, disse Edelstenne. A Dassault não conseguiu reduzir os preços em 40% para compensar o dólar mais fraco.

"Eu faço Mirages, não milagres", disse ele.

O euro era negociado a 1,43 dólares no início da tarde, com o dólar sob forte pressão pelo impasse sobre o aumento do limite do teto da dívida americana até 2 de agosto quando se espera um definição americana.

Edelstenne se recusou a revelar o preço unitário do Rafale, mas disse que a exportação geralmente envolve uma decisão política e um "preço premium" que concedeu a "independência de ação". Como o Rafale é construído na França, reflete uma decisão estratégica de soberania, seus custos são em euros, tornando-o mais caro do que um avião de caça americano vendido em dólares.

O governo francês anunciou em 20 de julho a decisão de iniciar negociações com a Dassault para desenvolver o VANT "Heron", segundo Edelstenne isso significava manter uma capacidade de design francês em aviões militares ao invés de pagar para o escritório de projetos Messerschmitt da EADS.

Perguntado sobre o significado da seleção da Dassault como fornecedor de um VANT, Edelstenne disse que a escolha mostrou a determinação de manter uma capacidade nacional francesa na construção de aviões de combate, enquanto o caça de próxima geração não entrar em serviço nos próximos 30 ou 40 anos.

As negociações determinaram que os sensores e comunicações serão de origem israelense. "O VANT se destina a fornecer uma solução provisória até que o projeto da nova geração de VANTs anglo-franceses entre em serviço, previsto para 2020.

A IAI concordou em divulgar informações técnicas sobre o "Heron", que serão adaptadas às exigências francesas, incluindo a capacidade de carregar armas, disse Edelstenne.

O VANT poderia ter uma vida útil de cerca de 10 anos e pode sobrepor-se ao novo sistema anglo-francês.

Em negociação uma troca de ativos entre a Safran e Thales, Edelstenne disse que o motor do avião e fabricante de equipamentos estava segurando um acordo, dizendo "não" a cada nova proposta da empresa de eletrônicos. Isso forçou a Thales a recuar, disse ele.

"Os níveis de avaliação são um pouco extraordinários", disse Edelstenne.

A Dassault assinou um acordo com o governo sobre uma permuta de ativos, ao assumir sua participação de 26% na Thales, cobrindo as areas de navegação inercial, geração de eletricidade a bordo e Optronicos, disse Edelstenne.

As vendas da Safran em Optronicos valem cerca de 600 milhões de euros, e se o negócio com a Thales for confirmado, isso faria a empresa de eletrônicos ocupar o segundo ou terceiro lugar no mercado mundial de eletro-óptica.

No Paris Air Show, o presidente francês Nicolas Sarkozy disse que o governo vai impor uma solução se a indústria não conseguir chegar a um acordo voluntário.

Edelstenne disse que estava "muito satisfeito" com o primeiro semestre de resultados da Thales, que foram divulgados em 27 de julho. Os resultados exibem os primeiros efeitos do plano de reestruturação e uma melhor gestão dos grandes programas e negociações de contratos, disse ele.

A Dassault informou uma queda de 35% no lucro líquido, caindo de 197 milhões do ano passado para 129 milhões de euros.

A queda no lucro resultou do menor volume de entregas do jato executivo Falcon, com um atraso no Falcon 7X para o segundo semestre.

Encomendas caíram de 99 milhões para 95 milhões de euros.

Com uma taxa de produção de uma unidade por mês, a Dassault entregou seis caças Rafale até agora de um total de 180 encomendados até à data.

Privada, os executivos da empresa esperam que o governo francês amplie as compras futuras do Rafale por causa dos cortes no orçamento previsto para defesa, especialmente se conquistar contratos de exportação.

Além dos Emirados Árabes Unidos, a Dassault espera vender o Rafale para a Índia, Brasil e Suíça. A Índia está segurando o seu calendário para comprar 126 aviões de combate de alcance médio, e o governo suíço mostrou interesse renovado em substituição de seus caças F-5.

Fonte: Defense News
Tradução e Adaptação: GeoPolítica Brasil
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terça-feira, 26 de julho de 2011

Transporte aéreo impulsiona o desenvolvimento econômico da América Latina

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Líderes da indústria aérea latino-americana estão em um encontro no Brasil hoje para o ATAG Latin America Sustainable Aviation Workshop 2011, um workshop sobre aviação sustentável. No evento, que reunirá especialistas de aeroportos, companhias aéreas, controladores de tráfego aéreo, fabricantes de aeronaves e motores e autoridades governamentais, serão examinados os desafios decorrentes do crescimento da aviação por toda a América Latina e a forma como a indústria da aviação e os governos poderão trabalhar juntos para vencê-los.

Paul Steele, diretor executivo do ATAG (Air Transport Action Group), grupo que reúne uma coalizão de organizações e empresas da indústria aérea, disse: “Todas as previsões indicam que o número de passageiros na América Latina está aumentando com maior rapidez do que a média mundial. É possível que até 2030 tenhamos 600 milhões de passageiros na região. A questão é: como nos beneficiarmos desse crescimento e, ao mesmo tempo, assegurarmos que venceremos os desafios da sustentabilidade no que diz respeito à infraestrutura, meio ambiente, impactos sociais e benefícios econômicos?”

As companhias aéreas sediadas na América Latina transportam mais de 154 milhões de passageiros a cada ano. A aviação é responsável por 2,4 milhões de empregos que geram quase três vezes mais valor do que outros empregos na economia. Só no Brasil há bem mais do que um milhão de indivíduos empregados no setor aéreo, além de 254.00 pessoas empregadas nas áreas de turismo possibilitadas pela aviação.

“Não há dúvida de que o transporte aéreo tem um papel fundamental no desenvolvimento econômico de todos os países, mas especialmente em economias emergentes de rápido crescimento como o Brasil. A aviação provê conexões dentro do país e entre o Brasil e seus parceiros comerciais na região e internacionalmente. É muito importante que o setor de transporte aéreo seja incentivado pelos governos a crescer de modo responsável, para que seus benefícios se estendam a um número maior de pessoas”, continua Steele.

Estima-se que as atividades da aviação e aeroportos contribuam com quase R$30 bilhões ao ano para a economia brasileira. Esse número não inclui operações industriais, como as da Embraer que contribuem significantemente com a economia brasileira, ou turismo. Essas pessoas têm empregos que requerem um elevado nível de especialização e que pagam bons salários, o que representa uma contribuição ainda maior para as comunidades em que elas vivem e trabalham.”

“O setor aéreo na América Latina está crescendo com maior rapidez do que a média mundial, e esse potencial de crescimento ainda não se esgotou. O Brasil, por exemplo, possui um significativo potencial ainda não explorado. O cidadão americano médio viaja de avião 1,8 vezes ao ano, enquanto o brasileiro médio pega 0,3 voos. À medida que a economia brasileira for se fortalecendo, e a população atingindo a marca de 190 milhões de pessoas, haverá amplas possibilidades para a indústria da aviação crescer e para que áreas como o comércio e o turismo se beneficiem dos efeitos econômicos positivos disso” acrescentou Steele.

O workshop, organizado pelo ATAG, ocorrerá um ano antes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (também conhecida como Rio+20) no Rio de Janeiro, cujo anfitrião será o governo brasileiro e que terá como foco o desenvolvimento de uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável.

Aviação latino-americana e o crescimento sustentável

Segundo o ATAG – Air Transport Action Group (Grupo de Ação para o Transporte Aéreo), a aviação está adotando uma abordagem responsável das questões ambientais. O diretor executivo do ATAG, Paul Steele, afirma que nenhuma outra indústria mostra maior empenho em reduzir suas emissões de dióxido de carbono: “É muito gratificante ver companhias aéreas, aeroportos, controladores de tráfego aéreo e fabricantes de aviões no mundo inteiro se esforçando tanto para reduzir o impacto da aviação no meio ambiente.”

No ano passado, o setor de transporte aéreo mundial emitiu 649 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso representa 2% do total global de dióxido de carbono produzido pelo homem, que soma cerca de 34 bilhões de toneladas. “Dois por cento pode parecer pouco, mas ainda consideramos essa porcentagem demasiadamente alta”, diz Steele. “Em 2008, nossa indústria se tornou o único setor em nível mundial a elaborar um conjunto de metas para reduzir as emissões. A partir de 2020, limitaremos o crescimento de emissões líquidas de CO2, embora nosso número de passageiros continuará aumentando. Até 2050 teremos reduzido em 50% a quantidade de CO2 emitida pela aviação, em comparação a 2005. Trata-se de metas ambiciosas, mas somos uma indústria ambiciosa, e as discussões no workshop de hoje mostrarão nosso empenho em alcançá-las.”

Os delegados presentes no workshop do ATAG tomaram conhecimento, através de fabricantes de aviões, de algumas das novas tecnologias sendo desenvolvidas com vistas a tornar os aviões mais ecológicos. Novos designs, materiais de construção mais leves, melhorias na aerodinâmica e o uso de aletas contribuem para a redução de emissões. “Na realidade, através apenas da tecnologia, a indústria da aviação já melhorou em 70% a eficiência das aeronaves, em comparação às primeiras gerações de jatos, em 1960. O consumo de combustível de cada nova geração de aeronaves é 15% - 20% menor do que o modelo que ela substitui.”

Steele diz que a indústria tem um verdadeiro incentivo para reduzir o consumo de combustível: “O combustível é o nosso custo principal – representa cerca de 30% do custo operacional das empresas aéreas no mundo inteiro. No ano passado, custou-nos um total de 140 bilhões de dólares e, este ano, poderá chegar a 180 bilhões de dólares. Portanto, nosso incentivo para reduzir o consumo de combustível não é apenas ambiental, mas também financeiro.”

As empresas aéreas no mundo inteiro estão introduzindo novas medidas operacionais com vistas a reduzir as emissões de dióxido de carbono e o consumo de combustível. Há vários projetos em curso, desenvolvidos por todas as empresas aéreas, inclusive as da América Latina, e que incluem desde a introdução de assentos e de carrinhos de buffet mais leves à adoção de novos modos de aterrissar e decolar. A empresa aérea GOL, no Brasil, adotou uma nova técnica para lavar as aeronaves, que utiliza 90% menos água do que os métodos anteriores. A Avianca está adotando novas técnicas para voar aviões com maior eficiência, o que os levou a economizar 13 milhões de dólares em combustível em 2009. A Copa Airlines introduziu asaletas em toda a sua frota, reduzindo, assim, o consumo de combustível em 3,5%. A mexicana Volaris instituiu um programa para analisar as questões ambientais em toda a empresa. O novo aeroporto de Quito sendo construído tem o meio ambiente e a comunidade local como elementos-chave do projeto. A Embraer, no Brasil, está fabricando aeronaves que requerem baixo consumo de combustível.

“Um dos grandes desafios continua a ser a questão da infraestrutura, e, em especial, do controle do tráfego aéreo. Na Europa e nos Estados Unidos, os aviões têm de sobrevoar aeroportos congestionados e voar por espaços aéreos lotados. O controle do tráfego aéreo tem sido feito de modo muito seguro, mas devemos usar novas tecnologias para garantir ainda maior segurança nas viagens aéreas e, ao mesmo tempo, maior eficiência. A América Latina deve também cuidar para que, à medida que sua indústria aérea cresce, seja feito um planejamento adequado no presente, para os passageiros do futuro.” Afirma Steele.

O uso de biocombustíveis na aviação é objeto de muitos debates. “Trata-se de uma novidade muito empolgante”, disse Steele. “Depois de três anos de testes bastante rigorosos, recebemos, poucas semanas atrás, aprovação para a utilização de biocombustíveis em voos comerciais. Esses voos já começaram, e é fantástico ver a indústria aproveitando esta oportunidade com entusiasmo.”

“Os biocombustíveis nos permitirão crescer e, ao mesmo tempo, reduzir nossas emissões globais. Estimamos que, com o uso de biocombustíveis sustentáveis, seremos capazes de reduzir nossas emissões em até 80%. Em termos técnicos, sabemos que os biocombustíveis são viáveis na aviação, e há um grande número de voos de teste que o comprovam – inclusive o importante voo de teste da empresa TAM realizado aqui no Rio de Janeiro, no ano passado. Tecnicamente o biocombustível de aviação já provou ser eficiente, agora é fundamental o aumento da comercialização dessa nova fonte de energia” completou Steele.

A ATAG publicou um relatório, Powering the Future of Flight (Abastecendo o Futuro da Aviação), no qual foram identificados “seis passos fáceis” que os governos deveriam tomar para ajudar a aviação e o setor de combustíveis a adotar biocombustíveis sustentáveis na aviação. São eles:

1) Desenvolver pesquisas sobre novas fontes de matéria-prima e processos de refinamento;

2) Eliminar quaisquer riscos nos investimentos públicos e privados em biocombustíveis para a aviação;

3) Incentivar as empresas aéreas a usarem biocombustíveis desde cedo;

4) Incentivar stakeholders a adotarem sólidos critérios de sustentabilidade internacional;

5) Identificar oportunidades locais de crescimento ecológico;

6) Estabelecer coalizões que incluam todos os elementos da cadeia de suprimento.

Fonte: GeoPolítica Brasil com informações direto da ATAG
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terça-feira, 5 de julho de 2011

Venda de Leopard 2A7 para Arábia Saudita encontra resistência dentro do governo

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Anúncios sobre a exportação de 200 MBTs Leopard 2A7 para a Arábia Saudita gerou uma crise dentro do governo, depois que a Alemanha tinha restringido a venda de sistemas de armas deste tipo por décadas á monarquia saudita. De acordo com o semanal "Der Spiegel", o Conselho de Segurança alemão aprovou a venda na última semana. O relatório explicou ainda que a Arábia Saudita estava negociando a compra de uma versão do MBT desenvolvida pela filial espanhola da General Dynamics, porém a decisão foi favorável á alemã KMW e sua parceira Rheinmetall Defence.

A divulgação do relatório causou reações em quase todos os campos políticos, principalmente pelos partidos socialistas de oposição. A maioria dos críticos do negócio multibilionário apontou para a instabilidade política no norte da África e Oriente Médio, enfatizando que a Arábia Saudita enviou tropas e equipamentos pesados para apoiar a repressão das manifestações do movimento democrático no seu vizinho Bahrein. De acordo com a mídia alemã, Jürgen Trittin do Partido Verde disse que o governo alemão tinha acordado não vender armas aos países em regiões em crise. Ele explicou: "A Arábia Saudita recentemente se envolveu na repressão do movimento democrático no Bahrein. Entregar armas a este regime neste nível não tem precedentes nos últimos anos". Outro argumento contra este contrato menciona o questionável respeito aos direitos humanos na Arábia Saudita e a ameaça que um número tão grande de tanques pode representar a Israel e ao equilíbrio do poder na região.

Curiosamente entre os opositores da venda de tanques existem membros dos partidos governantes, incluindo Norbert Lammert, o presidente do Bundestag, bem como Elke Hoff membro do partido Liberal na Comissão de Defesa do Bundestag. Mas quais são as verdadeiras motivações dos políticos alemães lamentarem tal contrato? Seria dor na consciência?

Esta não é a primeira vez que a Arábia Saudita compra sistemas de fabricação alemã. Na verdade, ele está entre os clientes mais importantes de produtos da indústria de defesa alemã. De acordo com informações publicadas no tagesschau.de, o governo aprovou em 2009 contratos de defesa no valor de 168 milhões de Euros. Em 2009 também viu a exportação de 147 MBTs Leopard de diversas variantes para países como o Chile, Finlândia, Grécia, Singapura, Turquia e Brasil, tendo recentemente chegado ao Brasil mais um lote dos Leopard 1A5. Além disso, a Arábia Saudita foi o primeiro cliente do Eurofighter fora da Europa, tendo realizado a compra de 72 aeronaves, um contrato estimado em 6.5 bilhões de Euros.

Texto editado por Angelo D. Nicolaci

Fonte: GeoPolítica Brasil com informação de agências de notícias.
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domingo, 3 de julho de 2011

Iraque lança campanha de combate a milícias e tráfico de armas

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O Iraque lançou uma campanha militar para combater grupos de contrabando, militantes de Al Qaeda e milícias xiitas tidos como responsáveis por recentes ataques a forças dos Estados Unidos, disseram autoridades do país neste domingo.

Disparada em parte por ataques contra forças dos EUA no mês passado, a campanha quer interromper o fluxo de armas ilegais no sul de maioria xiita do Iraque, a partir do Irã.

Em uma das maiores ofensivas, cerca de 3.000 tropas e policiais iraquianos foram mobilizados contra milícias e contrabandistas na província de Maysan, sul do país.

Junho foi o mês mais sangrento para as forças norte-americanas no Iraque em três anos. A polícia e o exército do Iraque têm estado sob ataque há meses conforme se aproxima o prazo para a retirada das forças dos EUA do país no fim do ano.

Autoridades norte-americanas responsabilizam milícias xiitas apoiadas pelo Irã por muitos dos ataques. Maysan compartilha uma longa fronteira com o Irã.

O major-general Qassim al-Moussawi, porta-voz do exército iraquiano, afirmou que forças de segurança estão prendendo militantes, revistando carregamentos de armas e aumentando patrulhas para combater ataques com foguetes e morteiros contra bases norte-americanas.

Mais de oito anos depois que a invasão liderada pelos EUA derrubou o governo sunita de Saddam Hussein, os Estados Unidos ainda mantêm cerca de 47 mil soldados no Iraque. Uma retirada completa é esperada até o final do ano, segundo um pacto de segurança.

Apesar da violência ter regredido desde o auge do conflito sectário de 2006-2007, ataques ainda ocorrem diariamente, frequentemente tendo como alvos a polícia e o exército do Iraque.

Fonte: Reuters
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sábado, 2 de julho de 2011

Rússia diz que enviará tropas à cada vez mais disputada região do Ártico

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O Ministério da Defesa da Rússia afirmou nesta sexta-feira que o país planeja criar duas brigadas militares especializadas para a região do Ártico, local que tende a se tornar um polo de disputa regional.

O anúncio ocorre um dia depois de o premiê russo, Vladimir Putin, ter dito que a Rússia pretende "expandir sua presença no Ártico" e defender "forte e persistentemente" seus interesses na região.

Com o derretimento de geleiras no Polo Norte, diversos países - como Estados Unidos, Dinamarca, Canadá e Noruega - têm reclamado soberania sobre partes do Ártico, onde acredita-se que haja significativas reservas inexploradas de petróleo e gás.

Putin destacou que está "aberto ao diálogo com os parceiros estrangeiros, com nossos vizinhos do Ártico", mas que vai defender seus próprios "interesses geopolíticos".

Segundo o ministro russo da Defesa, Anatoly Serdyukov, disse à imprensa estatal, a Rússia está agora avaliando detalhes sobre as brigadas, como número de soldados, tipos de armas que serão usadas e onde serão suas bases.

O correspondente da BBC em Moscou, Daniel Sandford, disse que os planos russos de enviar tropas ao Ártico ainda parecem estar em estágio inicial, ainda que relatos anteriores citassem apenas o envio de uma brigada, em vez de duas.

Dinamarca

Em maio passado, o governo da Dinamarca revelou planos de reivindicar uma grande área localizada no oceano Ártico.

"Esperamos que a Dinamarca consiga ser bem-sucedida na reivindicação de uma área que, entre outras coisas, inclui o Polo Norte", disse a ministra das Relações Exteriores dinamarquesa, Lene Espersen, em comunicado.

Além de recursos minerais, o derretimento do gelo no Ártico vai viabilizar novas rotas comerciais para navios e locais de pesca.

Fonte: BBC Brasil
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Obama nomeia novo diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo

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O presidente americano, Barack Obama, nomeou Matthew Olsen, 49, como diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo.

Se Olsen for confirmado pelo Senado, irá substituir a vaga ocupada por Michael Leiter, que se demitiu.

Olsen é advogado e ex-promotor, além de ter sido conselheiro da Agência de Segurança Nacional, uma das principais agências americanas de espionagem.

O Centro Nacional Contraterrorismo foi criado após os ataques de 11 de setembro para melhorar o compartilhamento das informações das diversas agências americanas de espionagem. Seu papel é analisar e organizar informações obtidas pela Inteligência americana e depois passá-las ao presidente e aos formuladores de políticas públicas.

Fonte: Folha
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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Estudos sobre o futuro do fenômeno da Guerra

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Introdução

São inúmeras as problemáticas de que enfermam as Relações Internacionais. No entanto, ao contrário do que se verifica com outras áreas críticas como as alterações climáticas, as migrações ou a globalização, o fenómeno da Guerra não parece reunir a mesma atenção da comunidade de investigadores de Relações Internacionais. Interessa pois abordar uma temática tão antiga como a própria humanidade, estabelecendo paralelos com uma realidade cada vez mais consensual nos círculos de análise das Relações Internacionais: a tendência para uma transição definitiva de um momento unipolar para uma distribuição de poder multipolar. Será também verosímil aceitar que esta ascensão poderá induzir fricções na competição internacional passíveis de evoluírem para formas de conflitualidade hostil. Tendo por base este pressuposto conceitual, propomo-nos aquilatar sobre a influência e implicações de fatores chave (drivers) e tendências futuras no fenômeno da Guerra. Argumentamos que estas evoluções no contexto internacional implicarão uma transformação tríptica no fenômeno da Guerra, alterando o seu conceito, a identidade do combatente e a magnitude dos seus efeitos.

Numa perspectiva analítica, qualquer atividade de investigação científica procura racionalizar a realidade através de procedimentos testáveis. Ao reduzir a complexidade da realidade, tornando-a inteligível através de esquemas interpretativos, é possível verificar a validade das teorias. Ao equacionarmos as metodologias de investigação em Relações Internacionais deparamo-nos com uma panóplia abrangente de processos e instrumentos que poderão ser aplicados isoladamente ou combinados sob a forma de um método científico de produção de conhecimento.

Amparados pelo método básico de investigação em Ciências Sociais procuramos expandir o nosso percurso de descoberta. Cientes da diversidade metodológica, optamos por uma perspectiva pragmática que encara as problemáticas de Relações Internacionais como uma ferramenta de apoio à decisão política. Logo, como um instrumento prospectivo que através do conhecimento do passado informa as decisões do presente para formular ações estratégicas futuras. Assim, este ensaio foi guiado por um método indutivo com carácter prospectivo. Ao tentarmos mapear futuros plausíveis, através da análise histórica e do estudo de tendências futuras, procuramos avaliar a situação presente de forma a formular sugestões de processos que conduzam ao futuro desejado. Ao refletirmos sobre o que pode acontecer, conseguimos aperceber-nos sobre o que poderemos fazer, e acima de tudo, como vamos fazê-lo.


Importância dos Estudos sobre o Futuro

Ao perscrutar a literatura deparamo-nos com um conjunto de metodologias sob a denominação de Pesquisa de Futuros, Estudos de Futuros ou Estudos Prospectivos. A metodologia de futuros procura criar, explorar e testar de forma sistemática possíveis cenários vindouros bem como os efeitos de eventuais decisões estratégicas.

Contudo, estamos cientes das advertências acerca da inutilidade da identificação de tendências para guiar a ação futura. As tendências não são fatos dado que mudam de caráter e provocam alterações não-lineares, em particular quando dizem respeito a interações humanas. Por isso, a previsão do futuro é inerentemente imprecisa. De igual modo, a aceleração do ritmo das mudanças globais reduz o tempo disponível para tomar as decisões adequadas. Por exemplo, poucas pessoas conseguiram antecipar a crise financeira global, e menos ainda determinaram a sua profundidade e abrangência. Acrescenta-se que a observação das grandes obras do passado oferece o único guia para o futuro. No entanto, o valor da pesquisa sobre o futuro não reside na precisão da previsão mas sim na determinação das tendências que permitam melhor informar o processo de decisão político, assim como possibilitar uma transformação de mentalidades acerca de cenários plausíveis. Assim, os estudos sobre as inovações tecnológicas e sociais futuras aumentam a capacidade de antecipar e responder a possíveis desafios e ao mesmo tempo explorar as oportunidades existentes. Conscientes destes avisos, sustentamos que o processo de decisão estratégico deverá encarar os estudos sobre as tendências globais, não como certezas, mas numa perspectiva de informação e consciencialização acerca de possíveis implicações para as Relações Internacionais. É neste sentido que se enquadram os estudos sobre o futuro como ferramentas de apoio à decisão, sustentados por metodologias prospectivas diversas.

Grande parte dos estudos sobre o futuro apoia-se metodologicamente em ferramentas prospectivas como o método de Delphi e a cenarização. Enquanto o objetivo do método de Delphi é permitir a exploração criativa de ideias para apoiar a decisão através da recolha e destilação de conhecimento de um grupo de peritos, o método de cenários combina fatores chave com tendências no sentido de criar futuros plausíveis sobre os quais se podem antecipar possíveis ameaças e oportunidades. Importa esclarecer que cenários não são previsões. São perspectivas provocativas e plausíveis sobre diversas formas como o futuro se poderá desenrolar, em áreas diversas como o ambiente político, geoestratégico, desenvolvimento social, econômico ou tecnológico. São por isso hipóteses que visam ampliar o nosso pensamento acerca das oportunidades e ameaças que possam surgir permitindo uma adequação das decisões estratégicas. Nesse sentido, os historiadores analisam o que aconteceu, os jornalistas dão-nos uma imagem do que está a acontecer e os futuristas avançam com o que poderá acontecer e ajudam-nos a pensar sobre aquilo que queremos obter. É por isso uma abordagem multi-disciplinar dos factores de mudança em áreas fundamentais da vida humana para descortinar as dinâmicas de novas eras. Desta forma, futuristas como Arthur C. Clark, os Toffler, George Orwell ou Ray Kurzweil, sondam o ambiente estratégico de forma a entender as tendências e os padrões de evolução e, de certa forma estabelecer extensões da realidade para identificar futuros plausíveis.

É assim natural que a documentação estratégica plasme os resultados dos estudos sobre o futuro com o intuito de fornecer pistas de ação. Assim, o desafio primordial para o decisor político é tentar fazer uma escolha informada tendo em consideração as implicações dessas tendências. Este dilema do decisor revela em retrospectiva que certas escolhas estratégicas foram inapropriadas. Dessa forma, ao tentarmos projetar um futuro para as próximas duas décadas estamos conscientes desses perigos, na medida em que indagando 20 anos no passado registramos a incapacidade de prever o fim pacífico da Guerra-Fria, ou a queda do muro de Berlim seguida do colapso da União Soviética e do resultante momento unipolar. Durante este período de pausa estratégica, aparentemente livre de ameaças eminentes, os EUA aproveitaram para prosseguir uma revolução nos assuntos militares. Assim, a maioria das previsões futuristas não foram capazes de antecipar a ascensão de atores não-estatais apoiados em fundamentalismos religiosos e culturais. Nesta era de mudanças tectônicas, onde o futuro não é uma extensão linear do passado, a experiência não é suficiente para apoiar o processo de decisão. Contudo, o que está em causa não é o fim, mas sim o método, ou seja, não é o plano, mas sim o processo de planeamento.


Reflexos do Futuro

A partir de uma análise fundamental dos drivers da mudança é possível aquilatar a sua relevância e impacto nos possíveis cenários futuros. Nesse âmbito, a síntese do futuro, apresentada por Thomas Freedman, como “hot, flat and crowded” expõe as tendências de aquecimento global, a ascensão das classes médias e o rápido crescimento demográfico. Esta análise revela a possibilidade de que o futuro possa trazer uma combinação explosiva de rivalidade geopolítica e crise ambiental. Da mesma forma, o acesso a recursos naturais irá renovar a ênfase na geografia e geopolítica. Por exemplo, a reclamação da soberania sobre os recursos naturais do Ártico poderá tornar-se a disputa territorial mais importante deste século, com implicações severas sobre o ambiente global. O envelhecimento populacional é outro dos dados adquiridos, sendo a Europa o continente mais afetado. Por outro lado espera-se uma explosão demográfica no mundo em desenvolvimento. Entretanto, cerca de 1 bilhão de pessoas sofrem atualmente de subnutrição e estão limitadas no acesso a água potável. Sem alterações políticas e tecnológicas, espera-se que em 2025, fruto do aumento de população e de alterações climáticas, este número atinja 3 bilhões. Estas previsões permitem antecipar fortes possibilidades de migração e conflito, promovendo alterações dramáticas nos fluxos migratórios em direção às cidades, em particular na África e Ásia. Apesar da tendência global da redução da pobreza continuar será expectável que o ritmo abrande como consequência da crise financeira e dos preços crescentes dos bens alimentares, matérias-primas e recursos energéticos.

A caracterização de Hernâni Lopes sobre a desmaterialização do espaço e contração do tempo revela-se adequada para definir o ambiente globalizado atual, em consequência da conectividade, interação e interdependências no sistema internacional. Neste sentido, a globalização continuará a contribuir para reorganizar as potências segundo o estatuto geográfico, étnico, religioso e sócio-econômico. Concomitantemente, a globalização assegurará a difusão e acessibilidade de tecnologia, facilitando a disrupção das sociedades modernas. Assiste-se pois a uma dupla tendência de multiplicação e descentralização tecnológica.

Durante grande parte do século passado, o desenvolvimento tecnológico militar ultrapassou o civil. No entanto, com a chegada da era da informação esta tendência reverteu-se. Atualmente, a indústria é a maior fonte de Investigação e Desenvolvimento, proporcionando tecnologias comerciais “off-the-shelf”. Esta mudança do setor governamental para o privado poderá aumentar a dependência do setor militar em serviços e tecnologias comerciais. Para além disso, as tendências para outsorcing e offshoring de algumas das funções vitais dos EUA agudizam esta problemática. Peter Singer ilustra estes desafios questionando as implicações dos EUA travarem uma Guerra com hardwares feito na China e softwares feito na Índia. Acrescenta-se que as inovações mais disruptivas raramente permanecem propriedade de um país por um longo período. Aquilo a que Max Boot apelida de disseminação e niilificação tecnológica tem ocorrido ao longo da história. Veja-se o caso das armas nucleares, dos satélites, do armamento de precisão ou dos sistemas aéreos não-tripulados. No caso das plataformas não-tripuladas, elas fizeram já parte em 2006 da panóplia de meios utilizados pelo Hezbollah contra o estado de Israel.

Esta tendência de difusão tecnológica, tanto na proliferação como na redução de custo de sistemas de armas, poderá permitir uma época continua de “saldos da Guerra”, assegurando que uma determinada nação ou organização privada possa atingir um estatuto militar preocupante. Contudo, enquanto a difusão tecnológica não ocorre, ou nos casos em que não é transferível, os adversários encontram métodos que infligem efeitos equivalentes à potência dominante. Por exemplo, a Al Qaeda não possui armamento de precisão característico das guerras modernas, no entanto, será leviano pensar que se resignará a promover atentados de destruição massiva. Pelo contrário, desenvolve e aplica com sucesso a variante assimétrica dos ataques guiados com precisão: o homem-bomba suicida. Tal como as forças equipadas com os sistemas mais modernos e dispendiosos conseguem aniquilar as cúpulas dirigentes, também o adversário, com equipamento rudimentar e econômico, atinge os mesmos objetivos. Atente-se ao último ataque no Afeganistão, onde um terrorista suicida penetrou numa base avançada da agência de informações americana e dinamitou-se matando oito operativos civis americanos. Os efeitos estratégicos desta ação tática de bombardeio de precisão causaram um golpe profundo na moral americana.

Uma das implicações mais gravosas da mudança diz respeito à possibilidade de conflitualidade hostil. Neste campo, verifica-se que a fragmentação da violência armada, a diversificação dos atores armados e o esbatimento das fronteiras entre as modalidades de violência e seus atores são algumas das constantes dos últimos anos. Nesta década, o número total de conflitos decresceu de 21 em 1999 para 16 em 2008. Verifica-se também que neste período existe um reduzido número de conflitos travados diretamente entre dois estados soberanos. Poderá ser este um dos indicadores que sustenta a opinião de alguns analistas quando descredibilizam a possibilidade de guerras decisivas entre grandes potências, considerando apenas um ambiente de segurança pululado por uma miríade de pequenos conflitos. Outros académicos realçam a ineficácia técnica da guerra – estrategicamente desadequada para os fins políticos – advogando mesmo a possibilidade do relacionamento entre Estados arredar definitivamente os meios violentos para a consecução dos seus interesses nacionais. Esta hipótese de “rarefacção do fenômeno da guerra” é sustentada por diversas pistas como a periculosidade dos arsenais disponíveis e o consequente efeito de dissuasão; a desproporcionalidade dos meios usados; a relativa desvalorização dos territórios torna obsoletas as guerras de conquista; as guerras econômicas suplantam as guerras militares; razões ecológicas etc. Outros ainda destacam que os laços econômicos podem dissuadir a Guerra, tornando-a um instrumento excessivamente dispendioso. Finalmente, também a busca do poder na Era da Informação tem-se tornado menos coerciva entre países desenvolvidos.

Podemos então avançar que uma das principais razões para um possível interlúdio na guerra entre grandes potências tem a ver com a assimetria de poder militar relativamente aos EUA que impede a confrontação direta dos outros competidores. No entanto, esta suposição não significa que esses competidores renunciarão de competir de forma hostil com os EUA. Significa apenas que eles serão mais inovadores quando desafiarem a hegemonia americana.

Nunca como hoje se encontrou um poder militar com tão grandes capacidades como o dos EUA. Desde a tecnologia até à formação técnica e intelectual dos combatentes. No entanto, nunca como hoje se tornou tão difícil empregar esse instrumento. O espectro de conflito hostil transfigurou-se neste novo século. No passado a distinção entre conflito de baixa e alta intensidade era bem definida, assim como a separação entre os três níveis da Guerra, onde as forças militares eram optimizadas para combater a ameaça mais perigosa. Por outro lado, são cada vez maiores os constrangimentos impostos sobre este instrumento de poder nacional. Desde a legitimidade do uso da força até ao custo das operações militares, passando pela operação em coligação até à redução da tolerância de baixas colaterais e fratricídio, todos estes fatores são multiplicados exponencialmente pelo “efeito CNN” e pela ligação em rede de uma sociedade cada vez mais temerosa dos riscos. Junta-se a esta tendência a constatação de uma compressão dos níveis da Guerra e uma assimilação dos vários tipos de conflitos onde pululam atores nacionais, milícias privadas e atores não-estatais, recorrendo a tecnologia civil e militar para executar ações estratégicas multidimensionais, transversais ao cotidiano humano.

Mesmo detendo uma avassaladora superioridade militar sobre os adversários, pelo menos na dimensão convencional, os EUA continuarão a ser confrontados por estratégias assimétricas tendentes a explorar vulnerabilidades políticas e militares, constrangendo a sua liberdade de ação em tempo de crise. A perspectiva de um futuro multipolar onde a China, a Índia ou a União Europeia tenham um estatuto equivalente aos EUA poderá ser questionável. No entanto com o crescimento econômico diminuem as desigualdades e aumentam as necessidades de intervir ativamente na política internacional para defender os seus interesses. A par com o desenvolvimento econômico e político aumentarão também as necessidades de segurança militar, com reflexos diretos na manifestação da conflitualidade hostil.

Refletindo sobre o atual e o futuro contexto de segurança, o conceito estratégico de defesa americano apresenta uma cenarização dos desafios e ameaças em quatro quadrantes. Tendo por base o tipo de métodos empregados e os atores envolvidos, divide as ameaças em catastróficas, irregulares, disruptivas e tradicionais. Assim, os desafios tradicionais enquadram o conflito estatal com base em capacidades militares organizadas. O recurso a métodos não-convencionais, como a guerrilha ou o terrorismo, tipifica as ameaças irregulares. A categoria de desafios catastróficos engloba o desenvolvimento, aquisição e uso de armas de efeitos massivos. Neste campo, os atentados em 11 de Setembro preconizam as capacidades letais individuais. A contestação da superioridade americana em domínios chave como o informacional ou espacial através do emprego de tecnologias inovadoras enquadra-se na classe de desafios disruptivos. Contrariamente ao registo histórico, em que apenas um ou dois cenários seriam credíveis, o desafio atual consiste numa combinação simultânea de vários cenários. Neste âmbito, os EUA vêem-se obrigados a contrariar uma panóplia de modalidades de combate empregues de forma individual ou combinada por uma miríade de atores do sistema internacional.

No entanto, a ambição de aprontar umas forças armadas capazes de lidar eficazmente, de forma transversal, com estas ameaças tem custos elevados. Num aspecto puramente financeiro, regista-se um aumento dos custos com as forças militares. Por exemplo, o custo de cada membro das forças armadas americanas era em 2003 de 264.000 USD por ano. Relativamente aos aspectos funcionais também eles revelam alguma complexidade. Diferentes tarefas militares requerem competências específicas. O fato de se possuírem forças militares eficazes em operações de combate de larga escala contra atores estatais não significa que o sejam em operações de contra-insurgência. Os exemplos históricos dos conflitos americanos sustentam esta teoria. Alargando a perspectiva para a área de segurança, verificamos a impossibilidade prática de proteger todas as infra-estruturas críticas contra um possível ataque. Por exemplo, em Janeiro de 2006, os EUA tinham catalogadas 77,069 infra-estruturas, das quais 600 como críticas.

Em suma, a conjugação da miríade de fatores chave e tendências enquadradas num futuro multipolar implicam mudanças dramáticas ao sistema internacional. O aparecimento de novos atores globais, aumento de importância de blocos regionais e o acréscimo da influência individual poderá implicar uma maior difusão de autoridade e de poder, conduzindo a um deficit de governância global. Esta previsível redução da eficácia das instituições internacionais, na sua maioria arquitetadas pelos EUA, poderá condicionar as opções políticas americanas. Para além disso, e em consequência da assimetria registada no plano militar, somos tentados a avançar com uma proposta de alteração do fenómeno da Guerra segundo um esbatimento do conceito, uma alteração da identidade do combatente e da magnitude dos seus efeitos perante uma sociedade cada vez mais avessa ao risco.


Interpretação da Guerra numa perspectiva holística

Os fatores chave e as tendências identificadas anteriormente, nomeadamente a globalização e a difusão tecnológica, aumentam a complexidade do ambiente operacional. Nesse sentido, diversos autores apressam-se a caracterizar a realidade futura avançando novas taxonomias e introduzindo uma complexidade crescente à Polemologia. As referências a termos como Guerra Irregular, Não-Convencional, Assimétrica, Conflitos Fluidos, Híbridos e Guerra de 4ª Geração estão espalhadas pela literatura. Apresentam-nos a Guerra como uma dicotomia de opinião e de ação. A luta pela opinião procurando ganhar os “corações e mentes” das populações não é uma construção das guerras irregulares do séc. XX, nem tão pouco uma panaceia descoberta pelos modernos pensadores castrenses americanos. Já em 1645 o Padre António Vieira considerava que “a mais perigosa consequência da guerra e a que mais se deve recear nas batalhas, é a opinião”, pois que “ na perda de uma batalha arrisca-se um exército; na perda da opinião arrisca-se o reino”. Por outro lado, recorrendo à formulação de Maupertuis em 1744, a ação pode ser definida como o produto de energia pelo tempo. Sintetizando este princípio da física, Carvalho Rodrigues exprime a função das forças militares como aplicadoras de doses maciças de ação num determinado espaço. A localização desse espaço e em que tempo deriva da recolha de informações precisas sobre o contexto. No entanto, na era da informação, o tempo está condensado pois a informação é instantaneamente disseminada. Assim, na procura de uma clareza conceitual, sintetizamos este conceito de Guerra Holística como uma estratégia que emprega um conjunto abrangente de meios, civis e militares, para infligir ações multidimensionais de forma coerente e integrada, sincronizadas no tempo e no espaço, tendentes a afectar a vontade e capacidades do adversário.

A Guerra enquanto um ato de violência entre dois beligerantes, transcende os métodos ou técnicas de aplicação da força (warfare) para coagir o adversário a anuir à nossa vontade. O termo “Guerra” adquiriu ao longo dos tempos uma característica multifacetada tornando quase impraticável uma definição consensual. Como imagem conceitual deverá sobreviver a extremos. No entanto, imaginar a “Guerra” numa forma absoluta é impossível. Como um ato racional, terá de se submeter a certas regras de forma a poder ser legitimada enquanto atividade humana. O enquadramento legal da Guerra, na sua grande parte uma conceitualização ocidental, tem vindo a impor restrições ao uso da força através do estabelecimento de convenções de forma a limitar o caos e a manter um certo grau de racionalidade na condução de uma Guerra que se almeja cada vez mais justa. No entanto, em casos extremos de luta por interesses vitais, como a própria sobrevivência, o sacrifício de algumas dessas regras é justificável, como nos casos históricos dos bombardeios de cidades alemãs durante a 2ª Guerra Mundial e o uso da bomba atômica contra o Japão.

Ao admitirmos que o uso da força está ao nível dos instintos mais rudimentares da humanidade estaremos a confirmar o desenrolar da história. A visão de Clausewitz da Guerra como ato político exprime o compromisso de um sistema westfaliano onde o respeito pela soberania absoluta, diplomacia e a legalidade dos tratados internacionais eram pedras angulares. Neste registo, Clausewitz garante-nos que a Guerra é um ato de força para coagir o adversário a anuir à nossa vontade. No entanto, esta perspectiva torna-se escassa. A falta de uma conceitualização de uma “ação de guerra não militar” reduz a essência do conflito hostil a uma ação militar, a violência e a força armada primordialmente letal. A mudança conceitual consiste exatamente em ver a Guerra na sua antítese. Em vez da tradicional ameaça de forças militares à segurança nacional, existe uma miríade de outros actores e instrumentos que podem revitalizar a Guerra em outras arenas. Nem sempre a violência estará na essência da conflitualidade hostil. Por isso, a remoção desta inevitabilidade da equação da Guerra, dará lugar a outras formas de conflito em dimensões políticas, económicas, informacionais e tecnológicas, podendo transformar a natureza fundamental da Guerra.

No futuro, tal como no passado, a Guerra não se confinará única e exclusivamente no domínio militar. A Guerra, como objecto político, engloba todos os instrumentos de poder nacional. Ao visionarmos a Guerra segundo uma perspectiva binária, de forma subjetiva e objetiva, podemos detectar uma tendência histórica. A natureza objetiva que inclui aspectos como fricção, sorte, incerteza, caos, perigo, esforço físico e stress associado ao combate, é imutável. Até que a Guerra possa ser travada de forma completamente remota, removendo o fator humano do campo de batalha, muitos destes aspectos serão eternos e estarão omnipresentes na conflitualidade hostil. Por outro lado, o carácter subjetivo, a sua gramática, como a doutrina, tecnologia e pessoas, transforma-se de acordo com a conjuntura de cada cenário futuro. Dessa forma, se compreende que a cada era corresponda um tipo de conflito, com fatores limitativos e pressupostos específicos. No entanto, assistimos à emergência de um novo paradoxo. Enquanto o Ocidente continua a restringir os parâmetros aceitáveis para a execução da Guerra, os adversários amplificam o conceito de Guerra total. Em vez de assistir à tradicional mobilização de toda a sociedade para apoiar o esforço militar, assiste-se à expansão da conflitualidade hostil a todos os domínios da interação humana.

Assim, considerando a asserção de Clausewitz de que a Guerra é uma extensão da política, esta possível estratégia de Guerra Holística poderá corresponder na realidade à política em execução. Todavia, inúmeras questões ressaltam sobre o fenómeno da Guerra, tornando a sua definição cada vez mais complexa. Fora do domínio militar o que poderá ser considerado um ato de guerra? Um ataque informático? Um bloqueio comercial? O apoio a terroristas? Seja como for, o enquadramento existente irá evoluir e adaptar-se à nova realidade conflitual, tal como o fez no passado. O século XX pode ter impedido os soldados de saquearem e violarem, mas permitiu a destruição de cidades inteiras por bombardeamentos aéreos.


Identidade e letalidade do combatente: a ascensão do “super indivíduo”

O 11 de Setembro veio confirmar que os atores estatais deixaram de ter o monopólio sobre o uso catastrófico da violência. Diríamos mais, esta visão abrangente do conceito de Guerra, expandindo-se para além da dimensão militar habitual, fez emergir uma renovada dimensão estratégica das ações de cada indivíduo. Assim, a abundância e proliferação de armas de efeitos massivos (letais ou não-letais) permite que indivíduos ao nível micro (tático) obtenham efeitos no nível macro (estratégico). O que constitui novidade não é a perda do monopólio estatal do uso da força, mas sim a diluição da fronteira entre o combatente profissional e o não-combatente. Estaremos a caminho de substituir o soldado equipado com uma espingarda por um génio da informática armado com um “joystick”?

Esta metáfora de “super-indivíduo” traduz uma mudança qualitativa na condução dos conflitos. Procura espelhar a rapidez, o alcance, a escala e o impacto estratégico da ação individual. É caracterizada por um aumento de eficácia dos métodos utilizados, em que pequenos grupos, e mesmo indivíduos (um engenheiro informático, um cientista, um especulador financeiro ou mesmo um terrorista suicida) fazem uso de instrumentos e novas capacidades tecnológicas, disponibilizadas e aprimoradas por uma conectividade em rede, infligindo efeitos disruptivos a uma escala global. É esta capacidade de “perturbar o sistema” que caracteriza os “super-indivíduos”. Para além disso, quanto maior for a evolução tecnológica, maiores serão as capacidades disruptivas disponíveis a estes atores. O acrónimo BANG (Bits, Atoms, Neurons, Genes) simplifica e agrupa a radical evolução tecnológica que irá promover uma maior diversidade de métodos de ataque, impondo medo e incerteza nas sociedades modernas. Estas modalidades, ao contrário da guerra nuclear ou convencional, são bastante mais subtis e difíceis de evitar. Como sugerido pela magnitude dos eventos, é impossível antecipar as consequências destas perturbações.

O estabelecimento de alianças de interesse entre indivíduos, organizações e mesmo estados altera a face dos adversários. Esta capacidade acrescida de sobrevivência e liberdade de acção num espaço de batalha virtual, anónimo, torna os “super-indivíduos” combatentes de alto valor em conflitos futuros. O verdadeiro desafio, ou digamos, a suprema ameaça, reside na possibilidade de orquestração de uma horda de “super-indivíduos” para a consecução dos objetivos de um competidor estratégico.

Nesse sentido, a batalha da informação, numa sociedade em rede, confere ao conflito uma nova perspectiva de “Levée en Masse”, onde o número relativo do contingente militar é amplificado por uma comunidade cibernética. Considerando que os EUA são uma das sociedades mais dependentes da ligação em rede e das comunicações eletrônicas, facilmente se compreende os efeitos disruptivos de um conflito cibernético. No entanto, tal como o duplo significado do termo “levée”, também não podemos descurar que com o aumento de educação e da ligação em rede, também um novo levantamento popular poderá fazer emergir novas formas de poder político, escapando ao controle das estruturas tradicionais de poder.

A civilianização da Guerra é por isso uma consequência natural e irreversível da evolução histórica. A democratização da violência permite virtualmente a qualquer organização e mesmo individuo juntar-se ao combate dispondo de capacidades cada vez maiores e com efeitos mais catastróficos. A expansão do confronto a outras dimensões da atividade, que não militar, tornará mais poderoso um novo tipo de combatente. O próprio indivíduo. Isto trará aos estados limitações adicionais para comandar e controlar tais combatentes. Por exemplo hackers, especuladores financeiros ou organizações multinacionais. Adicionalmente, o número crescente de Empresas Militares Privadas proporciona capacidades acrescidas a estados para evitarem restrições legais ao uso da força. O recurso a organizações privadas e multinacionais como instrumentos de conflito parece indicar um aumento do outsourcing da Guerra. Esta tendência crescerá certamente em resultado da expansão dos campos de batalha às outras atividades humanas. Apesar dos estados continuarem a ser as bases da ordem internacional, estas tendências têm como consequências mais profundas, o obscurecimento da fronteira entre Guerra e crime bem como a diferença entre forças armadas e civis. Como Van Creveld oportunamente observou, “por vezes o crime estará disfarçado como Guerra, enquanto noutros casos o recurso à própria Guerra será considerado como um crime.


Sociedade de Risco

A percepção de que a tecnologia e a globalização transformaram a magnitude dos riscos que afetam as sociedades contemporâneas é um tema central dos estudos sociais. Os riscos não são ameaças, pois não são mensuráveis, nem finitos, nem expressos em probabilidades. São cenários de uma possível catástrofe acompanhados de uma estratégia em como evitá-los. Das alterações climáticas à forma de usar a força, as sociedades avançadas esforçam-se por antecipar cataclismos futuros que por sua vez influenciam o seu processo de tomada de decisão.

Seja qual for a sua definição, a perspectiva de Guerra futura irá com certeza infligir danos e violar os valores ocidentais, causando choque e medo. Ao expandir fronteiras, instrumentos e atores, torna a projeção de poder mais acessível, coerciva e letal. Isto assume particular importância em sociedades contemporâneas, profundamente integradas e dependentes da tecnologia, tornando-as fortemente susceptíveis a ataques idiossincráticos. Ao atacarem as infra-estruturas críticas de uma sociedade, como aeroportos, centrais de abastecimento de água ou mercados financeiros, os adversários interrompem o cotidiano diário e instalam o medo na população, causando severas consequências económicas, tanto na proteção dessas infra-estruturas como na sua reconstrução. Estes sentimentos de insegurança, desconfiança e incerteza têm consequências bastante mais gravosas do que o simples custo das baixas humanas dos ataques.

As sociedades do futuro terão por isso de perceber os riscos como eventos excepcionais que não requerem alterações significativas no seu cotidiano. A passagem de uma fase de dissuasão para gestão de risco parece fornecer uma alternativa a uma tentativa dantesca de providenciar segurança total. Contudo, com a necessidade crescente de aumentar a segurança física e psicológica das sociedades assiste-se a uma diminuição das liberdades civis. Assim, a tendência será cada vez maior de partilhar informação entre redes civis e militares, públicas e privadas, desenvolvendo um entendimento perfeito da realidade. Só nos resta aspirar que este esforço de segurança total não se transforme num cenário de tendências totalitárias como preconizado por George Orwell na sua obra visionária, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro.


Conclusão

O estudo sobre futuros fornece as ferramentas essenciais para perscrutar o potencial de possíveis surpresas estratégicas. Cada possível cenário apresenta condições de risco que devem ser medidas em relação aos interesses, valores e segurança pública, no sentido de simplificar e optimizar o processo de tomada de decisão.

A conjugação do aumento exponencial do poder e influência individual, a interdependência económica global e a proliferação tecnológica concorrem para alterar a distribuição de poder no sistema internacional, com impacto na diversidade, acessibilidade e eficácia da Guerra. Uma análise mais aprofundada revela o potencial para conflitos entre estados como resultado de rivalidades geopolíticas, enclausurados num mundo sobre-populado, com escassez de recursos e enfrentando uma crise ambiental. Não será portanto descabido considerar que a erosão comparativa da hegemonia americana é acompanhada pela perspectiva de confrontação estatal relembrando os persistentes motivos históricos do medo, o ódio e os recursos para o ressurgimento da Guerra. No entanto, o alargamento das fronteiras da Guerra, com a chegada de novos atores e métodos, proporciona um aliciante espaço de batalha. Em alternativa à projeção de forças militares para locais remotos do globo, uma acessível e completa panóplia de instrumentos, que extravasa o domínio militar e por vezes mesmo o estatal, pode ser empregue para obter efeitos que são transmitidos quase instantaneamente à escala planetária.

Estão assim reunidos os ingredientes essenciais para uma “tempestade perfeita”, onde futuros contendores possam explorar as vulnerabilidades da potência dominante. Num futuro não muito longínquo será verosímil considerar que a Guerra apesar da sua natureza constante, poderá ver o seu caráter irremediavelmente alterado induzindo um maior esbatimento nas formas de conflitualidade hostil e uma consequente propagação na sua frequência, magnitude e letalidade. Como não existe nenhuma teoria unificadora da Guerra que possa ser aplicável a todos os futuros plausíveis, torna-se essencial encarar o conflito hostil segundo uma perspectiva holística, antevendo que a tecnologia é apenas um multiplicador de capacidades, que o seu elemento decisivo continua a ser o fator humano, e que o poder militar é apenas mais um instrumento num domínio multidimensional. No futuro, qualquer que ele seja, continuará a ser a capacidade de impor a vontade, e não o nível de violência, que conduzirá eventualmente a uma paz mais duradoura. Tendo em perspectiva os desafios vindouros será por isso altura de começar a aprender a futura gramática da Guerra.


Fonte: Jornal Defesa e Relações Internacionais
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