O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Robert Gates, comentou nesta terça-feira durante sua visita surpresa ao Afeganistão sobre a detenção em Londres do fundador de WikiLeaks, Julian Assange, e avaliou o episódio como "uma boa notícia".
A breve declaração de Gates, que se informou da notícia pela imprensa que cobre sua viagem ao país afegão, é a primeira de um alto funcionário dos Estados Unidos desde a detenção de Assange nesta manhã de terça-feira.
Em paralelo, a WikiLeaks apressou-se a afirmar que a prisão não mudará a rotina das filtragens dos 250 mil cargos diplomatas no site.
"As ações de hoje contra nosso editor-chefe Julian Assange não afetarão nossas operações: publicaremos mais documentos nesta noite, como de costume", declarou a organização no seu perfil do Twitter.
Assange, de 39 anos, é acusado pela procuradoria da Suécia de estupro e assédio sexual.
O advogado Mark Stephens afirmou que "vai chegar o momento que a verdade será divulgada e que Assange limpará seu nome".
Stephens acrescentou que seu cliente lutará contra sua possível extradição a Suécia, já que teme que, daí, possa ser entregue aos EUA, onde alguns políticos chegaram a pedir sua execução.
O WikiLeaks anunciou nesta terça-feira que dará prosseguimento à divulgação de telegramas diplomáticos confidenciais americanos, apesar da detenção em Londres de seu fundador, Julian Assange, de acordo com a ordem europeia de captura emitida pela Suécia por uma acusação de estupro.
"As ações de hoje (terça-feira) contra nosso editor chefe Julian Assange não afetarão nossas operações: divulgaremos mais telegramas esta noite, como de costume", destacou a conta do WikiLeaks na página de 'microblogs' Twitter.
Um jornalistas que trabalha para o WikiLeaks declarou que os funcionários do site prosseguem com as tarefas habituais.
"Em termos do que está acontecendo, tudo continua segundo o previsto, tudo seguirá saindo como sempre", declarou à AFP James Ball, que analisa documentos diplomáticos para o WikiLeaks.
Assange foi detido nesta terça-feira pela manhã pela polícia de Londres em função de uma ordem de prisão das autoridades suecas por suspeita de estupro, anunciou a Scotland Yard em um comunicado.
O australiano, de 39 anos, cujo site está publicando milhares de telegramas diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos, foi detido ao se apresentar à polícia às 9h30 locais (7h30 de Brasília). Ele deve comparecer nas próximas horas a uma audiência com um juiz de primeira instância no tribunal de Westminster, no centro da capital britânica
Fundador do WikiLeaks chega ao tribunal de Londres
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, chegou nesta terça-feira ao tribunal de Londres onde deve comparecer ante o juiz horas depois de se apresentar e ser detido pela polícia britânica em cumprimento de uma ordem de prisão sueca por suposto estupro.
A polícia isolou a rua da capital onde fica situado o tribunal de primeira instância de Westminster quando um carro preto em que viajavam vários policiais e um homem, que supostamente era o australiano de 39 anos, entrou na garagem do prédio.
Uma fonte do tribunal disse que a audiência deve começar por volta das 14H00 GMT e confirmou a chegada de Assange.
Do lado de fora, o advogado britânico de do fundador do WikiLeaks disse que seu cliente está bem e que todo o processo de entrega e detenção ocorreu de forma cordial.
Os advogados de Assange anunciaram sua intenção de lutar até o final contra sua extradição para a Suécia, por temor que ele acabe sendo entregue aos Estados Unidos. A batalhalegal poderá durar meses.
O criador do WikiLeaks, entre a sombra e a busca pela verdade
Julian Assange, cuja prisão por suspeita de estupro nesta terça-feira acontece dez dias depois do início da divulgação de documentos diplomáticos confidenciais dos Estados Unidos no site WikiLeaks, do qual é fundador, se apresenta como um profeta da transparência, mas mantém zonas obscuras sobre sua própria vida.
Fundador, porta-voz e figura emblemática do site, especializado em divulgar documentos secretos, o australiano de 39 anos que no início do ano era praticamente desconhecido, se tornou em poucos meses uma das pessoas mais famosas do mundo, o único rosto visível da máquina de vazamentos WikiLeaks.
"Queremos três coisas: libertar a imprensa, revelar os abusos e salvaguardar documentos históricos", explicou em agosto à AFP, durante uma de suas poucas aparições públicas.
Assange tranformou-se no homem que fez tremer o Pentágono, que revelou os segredos mais bem guardados do mundo. No entanto, durante todo este tempo manteve também um grande mistério sobre sua própria história. Até pouco tempo, negava-se a dizer a data de seu nascimento, mas a Interpol se encarregou de vazar esta informação: Assange nasceu em 3 de julho de 1971.
"Estamos diante de organizações que não obedecem a regras. Estamos diante de agências de inteligência", afirma Assange, que vê o WikiLeaks como "a agência de inteligência do povo", com bases escondidas em um labirinto de servidores da internet.
Nascido em Magnetic Island, nordeste da Austrália, Assange teve uma infância movimentada, tendo passado por 37 escolas, segundo contou à imprensa australiana.
Na adolescência, Assange destacou-se como hacker até ser descoberto pela polícia de Melbourne. Para escapar da justiça, pagou uma multa e jurou que manteria uma boa conduta.
O hacker arrependido foi depois "conselheiro de segurança, fundador de uma das primeiras companhias de serviços de informática da Austrália, assessor tecnológico, repórter, co-autor de um livro", sempre de acordo com o próprio Assange, que segundo a mídia australiana é pai de um rapaz de 20 anos chamado Daniel.
Em 2006 fundou o Wikileaks, com "umas dez pessoas vindas do ramo dos direitos humanos, da imprensa e da alta tecnologia".
Embora o site tenha se tornado conhecido em pouco tempo, publicando suas primeiras informações confidenciais, Assange não tinha alcançado a fama até este ano, quando a página provocou a ira do governo americano com três grandes vazamentos.
Os mais de 250.000 documentos diplomáticos americanos, cuja publicação começou no último domingo, somam-se aos centenas de milhares de arquivos secretos do exército americano sobre as guerras no Afeganistão e no Iraque, que vieram a público em julho e outubro, respectivamente.
À frente do WikiLeaks, Assange leva uma vida digna de um romance de espionagem, saltando de país em país, abrigando-se na casa de amigos ou apoiadores, negando-se a dizer de onde vem e para onde vai, mudando com frequência seus números de telefone - que praticamente não divulga.
Alto, magro e sempre com um sorriso irônico no rosto, Assange pesa cada palavra de suas raras entrevistas com uma lenta e monocórdia, às vezes difícil de compreender.
No meio do ano, porém, começaram a surgir dificuldades. Durante uma passagem pela Suécia, em agosto, duas mulheres o acusaram de estupro e assédio sexual.
A investigação demorou, mas em meados de novembro a Suécia - que negou a ele um visto de residência - emitiu um mandado internacional de prisão contra ele para interrogá-lo acerca do caso.
Os problemas também passaram a vir do interior do WikiLeaks. No fim de setembro, um porta-voz da organização, Daniel Domscheit-Berg, denunciou ruidosamente "o autoritarismo" de Assange. Pouco depois, o fundador do site brigou com outro apoio, a deputada islandesa Birgitta Jonsdottir.
Além disso, é acusado por vários lados de "irresponsabilidade", porque alguns dos documentos divulgados podem colocar em risco vidas humanas.
"Não temos como objetivo prejudicar gente inocente", defendeu-se o australiano no fim de setembro em Londres, onde reiterou que busca apenas "a verdade".
Fonte: EFE / AFP