Na última quarta-feira (3) durante nossa
cobertura da LAAD 2019 visitamos a SIATT, objetivando trazer ao nosso público
maior conhecimento a respeito do desenvolvimento do nosso míssil anti-navio
nacional, o MANSUP, e trazer um panorama
sobre os desafios e conquistas deste importante programa de desenvolvimento
nacional, uma das grandes apostas da Marinha do Brasil e da indústria nacional
de defesa, reunindo no mesmo programa a SIATT, Avibrás, Omnisys.
Fomos recebidos por Rogério Salvador, um dos
sócios fundadores da SIATT, que nos concedeu uma esclarecedora entrevista ao
GBN Defense, a qual vocês conferem.
GBN Defense: Boa tarde Salvador, obrigado por
nos receber aqui em seu stand, e como mídia especializada, gostaríamos de conhecer
e compartilhar com nosso público um pouco sobre os desafios iniciais que a
SIATT enfrentou no desenvolvimento do MANSUP?
Rogério Salvador – SIATT: Bem, a SIATT
começou como pessoa jurídica em 2015, já recebendo em 2017 a incumbência da
Marinha do Brasil de dar continuidade ao trabalho que estava sendo desenvolvido
no que diz respeito a seção de controle e guiamento do MANSUP.
O primeiro desafio foi reunir a equipe que
possuía a experiência e sua capacidade de trabalhar em grupo, era fundamental
para o sucesso do projeto. Nós tínhamos apenas um ano para fazer um trabalho
que era uma demanda enorme. Sabíamos que
não eram só as estruturas verticais, a empresa tinha que fornecer uma
metodologia de trabalho supervisionada pelas estruturas verticais, porém, o que
iria funcionar seria exatamente a estrutura horizontal, quer dizer, a
experiência das pessoas associada a capacidade de trabalhar em conjunto. Então
esse foi o primeiro desafio.
O segundo desafio foi nos instalar de uma
maneira rápida e criar o ambiente de trabalho, as facilidades, os equipamentos,
as bancadas, enfim, os meios produtivos, os meios de testes necessários para em
um ano desenvolver e produzir nossa parte no MANSUP. Isso foi possível por que
nós conseguimos organizar um arranjo produtivo no parque tecnológico de São
José dos Campos, o que facilitou muito. Onde já encontramos uma área
disponível, já conseguindo acelerar o projeto.
O terceiro desafio esse sim foi tecnológico,
onde já existiam os gargalos do projeto que precisariam ser atacados e que nós
tivemos a felicidade de reunir as competências e resolver esses gargalos dentro
dos prazos acordados com a Marinha do Brasil.
Então basicamente é isso, o primeiro foi
encontrar pessoas capacitadas, segundo os meios e processos e em terceiro o
trabalho técnico propriamente dito, para resolver os gargalos que existiam no
projeto.
GBN Defense: Tendo estes três desafios, como foi
o trabalho propriamente dito na parte técnica do programa? Uma vez que o
programa é desenvolvido com outras indústrias de defesa, como a Avibrás, a Omnisys e a Fundação EZUTE.
Rogério Salvador – SIATT: Sim, a Avibrás,
Omnisys e a Fundação Ezute também participam do desenvolvimento, com a Fundação
Ezute que apoia a Marinha do Brasil no gerenciamento do projeto. O trabalho em
equipe também ocorreu entre as empresas que atuam no programa, sendo algo
necessário. Sob a gestão da Marinha nós conseguimos ir nos ajustando aos cronogramas
e meios disponíveis, inclusive os meios de testes, de tal modo que a coisa
ficasse bem sincronizada. Então foi um
exercício importante que requereu habilidade para conciliar naturalmente as
disponibilidades e as necessidades de cada uma das empresas envolvidas. Mas
valeu a pena e o resultado vemos aí.
GBN Defense: Sabemos que todo projeto em determinado
momento atinge a fase de amadurecimento e entra na fase de testes, onde se avalia na prática todo desenvolvimento realizado, abrindo uma nova fase no
desenvolvimento. Com relação a isso, foi
realizado até agora o primeiro e segundo teste de lançamento do míssil, devendo
ser realizado um terceiro teste que antecederá o início da produção do MANSUP. Qual foi o maior desafio no aperfeiçoamento do projeto e
como é a transição em cada fase do projeto? Qual a diferença em cada uma dessas
fases?
Rogério Salvador – SIATT: em primeiro lugar
eu devo ressaltar o planejamento ao longo dessas missões, porque são missões
que envolvem muitos meios, vários navios, vários helicópteros. É uma missão que
de fato mobiliza meios importantes. Então é preciso ser muito bem planejado. As operações foram planejadas e conduzidas pela Marinha, permitindo uma questão essencial que é obter os dados do lançamento.
O míssil de certa forma é como um palito de
fósforo, você risca e não volta mais, então ele precisa funcionar, sendo
fundamental que os dados sejam coletados em tempo real, porque depois que o
fósforo apagou já era...
Nossa equipe tem uma experiência de mais de
250 lançamento de mísseis acumulados ao longo de cerca de 25 anos, então
acontece que a Marinha do Brasil está usufruindo de uma maturidade de projeto e
de ensaios e testes que vem sendo formado nos últimos 25 anos. Conseguimos
resgatar com a SIATT o trabalho antes executado pela MECTRON, de modo que o
primeiro critério de sucesso no lançamento é que se conseguiu adquirir todos os
dados necessários, a partir desses dados se possui os elementos para realizar
os ajustes e evoluções. Então eu digo a você o seguinte, é um trabalho que foi
executado de maneira muito satisfatória e nosso cliente, a Marinha do Brasil, é
testemunha disso, e o que eu posso me aprofundar com vocês é isso, foi feito
profissionalmente com o planejamento adequado, com os meios liberados pela
Marinha e com resultados excepcionais.
GBN Defense: Como basicamente funciona o MANSUP?
Rogério Salvador – SIATT: Bom, basicamente os
sensores do navio detectam e identificam a ameaça, o sistema então alimenta o
míssil com as informações de posição angular e a distância angular do alvo. A
partir daí o míssil com as informações do alvo é disparado, nessa primeira fase
de voo ele é guiado através de um sistema inercial, o qual usa o radar
altímetro para determinar seu padrão de voo, na fase final do voo, quando o
míssil entra na zona estimada do alvo, é ativado o sistema de busca radar que
leva o míssil até o alvo, com isso minimizando a capacidade do inimigo de
detectar a aproximação do míssil, o que reduz a ameaça de contramedidas pelo
alvo.
GBN Defense: Como é realizado o desenvolvimento
e testes antes do lançamento e produção do míssil?
Rogério Salvador – SIATT: Bem, nós realizamos
uma série de testes em laboratório, testamos várias variáveis do projeto e
desenvolvemos uma série de testes que nos fornecem dados, são milhares de
simulações antes do lançamento.
Colocamos o Hardware em testes de bancada com
o software para avaliar o comportamento deles, para isso temos diversos
processos que nos possibilitam obter dados importantes antes do lançamento,
pois há necessidade de se maximizar ao máximo os resultados durante essa fase
para que obtenhamos sucesso no lançamento, principalmente tendo em vista os
custos envolvidos com um lançamento real.
Para isso desenvolvemos expertise em, onde buscamos
testar o maior número possível de hardwares em laboratório, e o comportamento
destes simulando um lançamento, onde estes funcionam da mesma forma que em um
lançamento real, com isso obtemos importantes dados de como interagem os hardwares
e o software, algo que economiza muitos recursos, com o Hardware in the Loop
(HIL), tendo sido desenvolvido pela SIATT para realizar os testes que são de
grande importância no desenvolvimento do MANSUP.
GBN Defense: Quais as perspectivas que a SIATT
vislumbra com o MANSUP no mercado externo, tendo em vista que há um amplo mercado,
não só para o fornecimento à Marinha do Brasil, uma vez que existem diversas
marinhas que operam com plataformas do Exocet Block I e Block II, o que permite
também o emprego do MANSUP com estes sistemas?
Rogério Salvador – SIATT: Bom, essencialmente
a Marinha do Brasil tem um plano de evolução para o MANSUP, o qual inclui a
utilização em plataformas aéreas e submarinas, e o detalhamento desse plano a
Marinha pode lhe dar mais informações. Mas
de uma maneira geral com respeito ao mercado, nós temos sim, tanto a Marinha do
Brasil, quanto as empresas envolvidas no programa de desenvolvimento, tem
recebido várias consultas de países usuários do Exocet, que hoje se deparam com
uma lacuna com a saída do Exocet Block I e Block II do mercado, e existem sim
as instalações nos navios e um “apetite” por suprir essas forças com o MANSUP,
principalmente por ser compatível em desempenho com o Exocet Block II. Isso é
um fato, as consultas têm acontecido, e a nossa expectativa é que após essa
fase inicial onde a Marinha ainda está fazendo a qualificação do produto em
suas embarcações, haverá então o primeiro lote que a Marinha reservará para si,
e então deverá permitir a possibilidade de produção com vistas a exportação.
GBN Defense: Com relação ao inicial da produção,
já existe uma previsão para que ocorra o início da produção em série?
Rogério Salvador – SIATT: O primeiro lote
será destinado a Marinha do Brasil, e ela ainda está definindo o número de
mísseis que serão produzidos neste primeiro momento, e o período que isso irá
ocorrer. Após satisfazer a necessidade inicial da Marinha, e esse tempo ainda
será definido pela Marinha do Brasil para que possamos exportar.
GBN Defense: Com relação aos projetos, fora o
MANSUP, quais outros projetos que a SIATT desenvolve?
Rogério Salvador – SIATT: Temos o programa do míssil anti-carro, o MSS
1.2, desenvolvido com o Exército Brasileiro, com o míssil também sendo adotado
pelos fuzileiros navais, esse é míssil de curto alcance, atingindo até 3Km,
sendo guiado à laser, onde um único operador com marcador laser é capaz de
utilizar o sistema, é um projeto muito interessante que trouxe muita maturidade
à equipe, hoje o MANSUP se beneficia diretamente de outros projetos de mísseis
que já foram feitos, e a empresa possui um planejamento estratégico que não só
trata da parte de armamento, mas também de toda parte de integração desses
armamentos as várias plataformas, então temos sistemas de missão para navios,
aeronaves e carros de combate. Além disso, nós temos um plano de desenvolvimento
dessas atividades e este plano está sendo detalhado e esmiuçado internamente
pelo nosso conselho diretor, e esse plano trienal, sendo que 2019 é o primeiro
passo dele, e surpresas virão com novos produtos e iniciativas em breve.
GBN Defense: E com relação as capacidades da
finada MECTRON, há algum projeto que seja de interesse da SIATT?
Rogério Salvador – SIATT: Na verdade sim, nós
temos o mais importante que são as competências da equipe, e tipicamente a
propriedade intelectual dos projetos que estavam em andamento com a MECTRON são
propriedade do governo brasileiro. Assim, se juntarmos as equipes e a
propriedade intelectual que pertence ao governo, a qualquer momento havendo
interesse de reativar qualquer projeto, a SIATT está sem dúvida preparada para
essa demanda.
Agradecemos à entrevista concedida por
Rogério Salvador ao nosso editor Angelo Nicolaci e o apoio de toda equipe da
SIATT, com agradecimento especial a Engenheira Julia, que nos demonstrou como
são realizados os testes HIL, inclusive produzimos um vídeo bastante
esclarecedor com a parceira do “Canal Arte da Guerra” sobre os testes Hardware
in the Loop (HIL) e você confere clicando aqui.
GBN Defense - A informação começa aqui