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sexta-feira, 27 de março de 2020

Vitória ou derrota? A Doutrina Powell em ação

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O que é a vitória numa guerra? O simples fato de haver dúvidas, em vários casos, sobre quem venceu determinada guerra, já é um indicativo de que não é fácil responder a essa pergunta. Entre os exemplos que vêm à mente estão os EUA na Guerra do Vietnã e Israel na Segunda Guerra do Líbano de 2006.

Aliás, foi justamente o desempenho, digamos, questionável dos EUA no Vietnã que inspirou o Gen Powell - Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA durante a Guerra do Golfo (1990-1991) - a pensar num conjunto de doutrinas que foi apelidado por jornalistas como “Doutrina Powell”.




O TRAUMA PÓS VIETNÃ

Até hoje a pergunta “Os EUA venceram a Guerra do Vietnã?” suscita grandes debates. E as razões são várias.

A primeira delas é que a segurança imediata dos EUA não estava ameaçada pelo avanço do comunismo no Vietnã. Muitos vão invocar a famosa observação que “é fácil ser engenheiro de obra pronta”, e de fato o pensamento de hoje é diferente do que era na época, mas o fato é que a segurança direta dos EUA nunca esteve sob perigo por ação vietnamita.

Talvez por esse motivo, o apoio da população americana à guerra nunca foi grande, especialmente em relação às convocações. O clima anti-guerra teve no Vietnã o seu auge, justamente porque muitos não entendiam, ou não aceitavam, as justificativas dadas pelos governantes para enviar os jovens para lutar “do outro lado do mundo” sem que a segurança nacional estivesse ameaçada.

Outro ponto importante naquela guerra foi a enorme ingerência política sobre as decisões militares, sendo frequentes os casos em que até mesmo situações táticas, por exemplo fornecer apoio de fogo a tropas em contato, exigiam aprovações por instâncias superiores e até mesmo de políticos, com várias missões dependendo de aprovação pessoal do Presidente. Com o processo decisório demorando tanto, e com a decisão muitas vezes tomada por pessoas com pouco ou nenhum conhecimento militar, a eficiência das FA (Forças Armadas) americanas era consideravelmente reduzida, a despeito dos meios disponíveis. O receio de que a China ou a URSS entrassem diretamente no conflito foi um dos principais motivos por trás desse nível de ingerência.

Uma “irmã gêmea” da ingerência política foi a relutância em comprometer os recursos humanos e materiais necessários. Não foram raras as ocasiões em que foram utilizadas forças insuficientes para atingir determinados objetivos, ou que planos que envolvessem grandes forças fossem adiados, rejeitados ou tivessem seu poder diminuído em face de considerações políticas.

Vários países viam a guerra como ilegítima ou desnecessária. Essa falta de consenso internacional era outro motivo que levou à ingerência política, e o receio de evitar cenas como a devastação das cidades causadas pela Segunda Guerra Mundial, eram grandes motivadores da ingerência política e da relutância em comprometer os recursos necessários.

A junção de todos estes fatores levou os EUA a adotarem, por longo tempo, ações de guerra limitada: alguns políticos acreditavam que ações pontuais, sem recorrer a uma grande invasão (como o Dia D) ou ações de destruição das principais cidades norte-vietnaminas (como aconteceu nas “tempestades de fogo” sobre Dresden e Tóquio), ou pelo menos a destruição de alvos estratégicos em Hanói e Haiphong, seriam suficientes para conter o Viet Cong.

Todos sabem a história - a “guerra limitada” levou a um imenso número de baixas entre civis e militares vietnamitas, e também entre militares americanos, além da devastação do país. Ou seja, os efeitos limitados pretendidos não foram alcançados. Ademais, e apesar do tratado de paz assinado por Ho Chi Minh em 1973 (o que é visto como vitória americana, dependendo do ponto de vista), o Vietnã do Sul acabou por ser conquistado pelo Vietnã do Norte em 1975 (o que é visto como derrota americana, dependendo do ponto de vista).

O grande número de baixas americanas, a oposição da população americana à guerra, os grandes custos financeiros do conflito não conseguiram impedir o avanço do comunismo na região - que era, ostensivamente, o que os EUA quiseram evitar com a guerra.




A “DOUTRINA WEINBERGER”

Nos anos 1980, algumas ações militares dos EUA foram duramente criticadas pela população e por especialistas, como a presença dos Marines no Líbano (que terminou com o trágico atentado contra os quartéis americanos em Beirute, em 1983, com a morte de mais de 200 fuzileiros) e a invasão de Granada (um pequeno país no Caribe).

O então Secretário de Defesa, Casper Weinberger, proferiu, durante uma palestra na renomada Academia Militar de West Point em 1984 (ou seja, cerca de 10 anos depois do Vietnã), alguns princípios que deveriam nortear as ações militares americanas. Estes princípios foram depois chamados de “Doutrina Weinberger”, e nortearam as ações militares americanas na segunda metade dos anos 1980.

Resumidamente, a “Doutrina Weinberger” postula:

1. Os EUA não devem enviar tropas, a menos que interesses vitais dos EUA ou de um aliado estejam diretamente ameaçados.

2. Caso se decida por enviar tropas, o apoio deve ser total, ou seja, devem ser garantidos os recursos materiais e humanos para cumprir a missão.

3. Caso se decida por enviar tropas, os objetivos políticos e militares devem ser claramente definidos, e os recursos alocados devem ser grandes o bastante para se atingir estes objetivos.

4. O comprometimento e a capacidade das tropas americanas devem ser avaliadas continuamente, e eventuais ajustes devem ser implementados sempre que necessário.

5. Antes de comprometer as tropas americanas, o povo americano e seus representantes eleitos devem ser assegurados da necessidade e da solidez de tal comprometimento.

6. Este comprometimento deve ser o último recurso, a ser utilizado apenas quando alternativas diplomáticas forem esgotadas.

Com estes princípios em mente, a invasão americana ao Panamá, entre dezembro/1989 e janeiro/1990, foi bastante rápida e com poucas baixas entre os militares americanos. Da mesma forma, os EUA não enviaram tropas ao Afeganistão na sua guerra contra a URSS, mas enviaram dinheiro e armas, emulando o que os soviéticos fizeram contra os EUA nas décadas anteriores.

Mas o maior teste à Doutrina Weinberger viria na década de 1990.




DOUTRINA POWELL

O Gen Powell, Chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA durante o governo “Bush Pai”, aprofundou ainda mais os princípios estabelecidos por Weinberger, e os princípios da “Doutrina Powell” ou “Doutrina Weinberger-Powell” nortearam a esmagadora vitória sobre o Iraque na Guerra do Golfo (1990-1991).

Nas palavras do próprio Powell, constantes no documento “Estratégia Militar Nacional dos EUA”, publicado cerca de 1 ano depois da Guerra do Golfo:

Uma vez tomada a decisão pela ação militar, meias medidas e objetivos confusos cobram um preço elevado na forma de um conflito prolongado que pode causar desperdício desnecessário de vidas humanas e recursos materiais, uma nação dividida em casa e derrota. Portanto, um dos elementos essenciais de nossa estratégia militar nacional é a capacidade de reunir rapidamente as forças necessárias para vencer - o conceito de aplicar força decisiva para subjugar nossos adversários e, assim, encerrar conflitos rapidamente com perda mínima de vidas.

Powell dizia que o alto comando civil e militar deveria responder a 8 perguntas antes de se comprometer com o envio de tropas:

1 Algum interesse vital está ameaçado?

2 Há um objetivo claro e alcançável?

3 Os riscos e custos foram analisados com franqueza?

4 Os meios não violentos já foram totalmente esgotados?

5 Há uma estratégia de saída plausível para evitar que a guerra se arraste indefinidamente?

6 As consequências de nossas ações foram cuidadosamente avaliadas?

7 A guerra é apoiada pelo povo americano?

8 Há um apoio internacional amplo e genuíno?

Comparando-se a Doutrina Powell com a Doutrina Weinberger, além das grandes semelhanças, observa-se também um cuidado essencial - não entrar em conflitos que se arrastem indefinidamente. A Guerra do Vietnã tinha sido, até aquele momento, o conflito mais prolongado em que os EUA estiveram envolvidos com o envio de tropas, e esses estrategistas queriam, a todo custo, evitar um “novo Vietnã”.

Outro exemplo claro da aplicação destes princípios foi a Guerra dos Bálcãs , mais especificamente a Guerra de Kosovo de 1999, em que a OTAN se limitou a praticamente usar o poder aéreo, com pouco envolvimento de tropas em terra.




ABANDONO DA DOUTRINA POWELL

O Século 21 trouxe consigo o 911 (ataques terroristas do 9 de setembro de 2001) e a GWOT (guerra mundial contra o terrorismo), que levariam a um abandono dos princípios delineados por Powell. O resultado foram guerras bastante prolongadas no Afeganistão (2001) e no Iraque (2003), que se arrastam até hoje; cada uma delas ultrapassou o Vietnã, e a Guerra do Afeganistão já é a mais prolongada da história americana.

Um dos principais fatores que levaram à derrota dos EUA na GWOT - o terrorismo não foi erradicado, afinal - é justamente o fato de o objetivo ser vago e inatingível. Como o terrorismo é causado por diversos fatores, não é uma guerra, ou várias, que vai eliminar o problema. Junte-se a isso o fato que  nem o Presidente “Bush Filho” nem o Presidente Obama deram aos militares todos os recursos que foram pedidos, complicando ainda mais a situação.

Aliás, cabe aqui um parêntese interessante - da mesma forma que a URSS na década de 1980, os EUA se prepararam mal contra o Afeganistão, fazendo valer, outra vez, o apelido “Cemitério de Impérios”.

Obama complicou ainda mais a situação ao anunciar unilateralmente a saída do Iraque, sem alcançar com isso nenhum resultado tangível dos insurgentes, e ao enviar tropas, ainda que em quantidades reduzidas, para a Síria - e isso depois de não cumprir a promessa de atacar a Síria caso o país usasse armas químicas.




RETORNO À DOUTRINA POWELL

O Presidente Trump, por sua vez, parece determinado a voltar à Doutrina Powell. Além de retirar as tropas da Síria e anunciar o fim da Guerra do Afeganistão (depois de costurar um acordo com os Taleban), já prepara a saída do Iraque, condicionando-a a obter vantagens financeiras do país.

É digno de nota que o Presidente Trump também não começou nenhuma guerra, mas não deixou de atacar o Irã depois de um ataque à embaixada americana em Bagdá, um total contraste com o Presidente Obama, que nada fez em relação a 4 americanos mortos na embaixada da Líbia.

O Presidente Trump também realizou alguns ataques contra a Síria e o Irã, mas tem sido cauteloso o bastante para não começar uma guerra aberta com estes países.

Duas ferramentas tem sido essenciais para esses 3 últimos Presidentes dos EUA - ataques com mísseis de cruzeiro (como o BGM-109 Tomahawk) e com drones (como o MQ-9 Reaper). Apesar das críticas pelo uso destes meios, ficou evidente que nenhum país está disposto a começar uma guerra aberta contra os EUA devido a tais ataques de escopo limitado, o que está de acordo com a Doutrina Powell - usar os meios necessários para atingir os objetivos em mente. É provável que, se tais meios não estivessem disponíveis, os EUA teriam que recorrer a ataques mais expressivos, como os da Operação El Dorado Canyon de 1986 contra a Líbia.

Outra ferramenta bastante utilizada, desde a Segunda Guerra Mundial, são as operações de forças especiais, seja em ataques diretos, seja através de insurgentes.




ISRAEL E A DOUTRINA POWELL

Não é segredo pra ninguém que Israel se inspira militarmente nos EUA. Tanto é assim que as IDF (Forças Israelenses de Defesa) tentaram imitar a postura americana na Guerra de Kosovo de 1999, com o objetivo de derrotar o Hizballah sem enviar tropas ao Líbano em 2006. O assunto é tratado com mais detalhes no artigo Segunda Guerra do Líbano (2006).

Embora o Hizballah fosse, e continue sendo, uma grande ameaça aos interesses vitais de Israel e não seja muito aberto a negociações diplomáticas, dando poucas alternativas à intervenção militar, o Primeiro Ministro Ehud Olmert não foi capaz de articular objetivos claros e alcançáveis (o objetivo de erradicar o Hizballah era, e é, inatingível por meios puramente militares) e nem se propôs a dar às IDF os meios necessários para atingir os objetivos - o envio de tropas terrestres foi postergado várias vezes, um sinal claro de que o governo israelense não estava comprometido com a guerra que começou.

Entretanto, o Hizballah seguiu atacando o norte de Israel a um ritmo de mais de 100 foguetes por dia, levando a um colapso econômico na região, e vários protestos populares contra o governo e às IDF. O fato que as próprias IDF relutavam em enviar tropas, apesar de a situação claramente exigir tal atitude, complicou ainda mais a situação, e a guerra se arrastou por 33 dias, terminando após ambos os lados aceitarem a intermediação da ONU.

A vitória israelense no Líbano, assim como a vitória americana no Vietnã, não foi inquestionável. A destruição no Líbano foi muito grande e o Hizballah praticamente parou os ataques contra Israel, situação que se mantém até hoje, 14 anos depois, e isso claramente conta a favor de Israel. Entretanto, o alto comando do Hizballah permaneceu praticamente intocado, e seu poder, tanto militar quanto na política interna do Líbano, são maiores do que em 2006, o que conta como derrota para Israel.

Após a guerra, e como é de costume em Israel, foi estabelecido um Comitê para fazer uma investigação, que em vários aspectos se assemelha a uma CPI, liderada pelo Ministro da Suprema Corte Israelense (aposentado) Eliyahu Winograd. O relatório deste Comitê, geralmente chamado Relatório Winograd, foi bastante duro com o alto comando militar e político do país, e suas conclusões e recomendações lembram vários pontos da Doutrina Powell.

As IDF aprenderam as lições do Relatório Winograd. Já no final de 2008, pouco mais de 2 anos após a performance questionável no Líbano, Israel atacou o Hamas em Gaza, a chamada Operação Chumbo Fundido, uma das várias campanhas contra o regime no poder na Faixa de Gaza. Desta vez, os objetivos israelenses foram muito bem definidos (principalmente reduzir a escala dos lançamentos de foguetes e morteiros contra a região sul de Israel) e as tropas em terra foram enviadas tão logo os ataques aéreos “amaciaram” as defesas do Hamas.

O resultado foi uma guerra muito mais rápida, durando apenas 21 dias, e durante esse tempo o Hamas causou poucos danos a Israel. A guerra terminou através de uma decisão unilateral do Alto Comando israelense, e os graves danos ao alto comando do Hamas, e à infraestrutura da Faixa de Gaza, impediram que o Hamas pudesse clamar alguma vitória.

Depois da Chumbo Fundido, porém, Israel teve que enfrentar o Hamas outras vezes, em 2012 (Operação Pilar de Defesa) e 2014 (Operação Margem Protetora), mas da mesma forma que em 2008-2009, a vitória israelense foi incontestável.

Depois de 2014, apesar das tensões com o Hamas e principalmente o Irã, Israel não se envolveu em conflitos maiores. Até mesmo ataques vindos da Síria, provavelmente “balas perdidas” da sangrenta guerra civil que assola o país desde 2011, não levaram a uma guerra aberta contra o país, com Israel se limitando a fazer ataques pontuais.

Aliás, novamente “imitando” os EUA, as IDF também usam bastante dos mísseis de cruzeiro (como o Delilah) e drones (como o Eitan) para realizar boa parte dos ataques limitados. Israel também é grande usuário das forças especiais, e através delas realizam ataques diretos ou com apoio de insurgentes.




CONCLUSÃO

A Doutrina Powell, de certa forma, não é mais que usar o bom senso antes de uma operação militar, seja ela grande ou pequena.

Objetivos claramente definidos, estratégia de saída claramente definida, comprometimento dos recursos humanos e materiais necessários, apoio interno e externo assegurado - pode parecer óbvio que tudo isso é essencial, mas qualquer um que estude a história dos conflitos da humanidade ficará chocado ao ver quantas vezes algum, ou até mesmo todos estes pontos foram tratados com desdém.

Parece que os EUA estão lembrando a lição que aplicaram tão bem em 1991, e Israel claramente aplica a Doutrina ao pé da letra, não sem antes sofrer por ignorar seus preceitos.

Felizmente, o Brasil raramente se envolve em conflitos, mas as lições da Doutrina Powell ainda devem ser incorporadas, especialmente para ações como as GLO (Garantia da Lei e da Ordem), que em vários aspectos é uma guerra: definir objetivos, alocar recursos, comprometer-se com o comando da operação quando houver atrito com a opinião pública - são tão importantes aos envolvidos na execução de uma operação GLO como nos campos de batalha ao redor do mundo.


Por Renato Marçal



GBN Defense - A informação começa aqui




O articulista cedeu gratuitamente o artigo como colaboração na divulgação do conhecimento e arte militar...


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segunda-feira, 23 de setembro de 2019

VIRANDO A MESA NO VIETNÃ: A OPERAÇÃO BOLO

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A Operação Bolo foi uma missão executada pela Força Aérea dos Estados Unidos (USAF) durante os primeiros anos do envolvimento norte-americano na Guerra do Vietnã (1964-1975). A operação é considerada até os dias de hoje um exemplo de combate ar-ar bem-sucedido, usando táticas inovadoras de combate aéreo.


A missão foi uma resposta às pesadas perdas sofridas durante a campanha de bombardeios aéreos da Operação Rolling Thunder (“Trovão Rolante”) de 1966, durante a qual os caças da Força Aérea do Vietnã do Norte (VPAF) escaparam dos caças de escolta dos EUA e atacaram os bombardeiros americanos que percorriam rotas previsíveis.
   
No dia 2 de janeiro de 1967, os caças multifunção McDonnell Douglas F-4 Phantom II da USAF realizaram uma missão de engodo ao longo das rotas de voo normalmente usadas pelos bombardeiros durante a Rolling Thunder. Isso levou a um ataque dos interceptadores norte-vietnamitas de origem soviética Mikoyan-Gurevich MiG-21, cujos pilotos esperavam encontrar bombardeiros de combate pesadamente carregados com bombas. Em vez disso, eles foram recebidos pelos F-4, muito mais ágeis e armados apenas com mísseis, que abateram entre cinco e sete dos MiGs.
   
A batalha levou os pilotos e estrategistas da VPAF, bem como os estrategistas soviéticos, a reavaliar as táticas de combate e contribuiu para o desenvolvimento operacional do MiG-21 em outros campos de batalha.


O F-4 E O MiG-21: AERONAVES OPOSTAS


McDonnell Douglas F-4C Plantom da USAF em exposição no
Pacific Coast Air Museum.
O F-4 Phantom II estava em serviço operacional com a Força Aérea dos Estados Unidos desde 1964. O mais recente e moderno caça do inventário norte-americano, o F-4 possuía motores potentes, excelente manuseio e uma configuração ar-ar de até oito mísseis. No entanto, o Phantom, em suas primeiras versões para a USAF (F-4C e D) sofria de uma fraqueza crítica no armamento – a falta de um canhão interno, pois sua concepção original como interceptador de defesa da frota ditava que o combate aéreo ocorreria além do alcance visual com mísseis guiados por radar. Era também um caça grande e pesado, com altas cargas de asa que degradavam seu desempenho em giros altos e com motores que tendiam a produzir grandes quantidades de fumaça, tornando-o altamente visível em combate aproximado (dogfight).


O armamento de mísseis do F-4 consistia no AIM-7 Sparrow e no AIM-9 Sidewinder. Embora o AIM-9 de curto alcance fosse considerado uma arma eficaz, o uso do AIM-7 além do alcance visual foi restringido pelas Regras de Engajamento (ROE), que na maioria dos casos exigiam confirmação visual de um alvo antes do disparo – derrotando essencialmente qualquer vantagem que o míssil teria conferido aos pilotos americanos. Ambos os mísseis apresentaram problemas de confiabilidade no combate em 1966, exacerbados por problemas de manutenção causados pelas extremas condições tropicais do sudeste da Ásia, com a maioria falhando em acender, fundir ou orientar o alvo.
Mikoyan-Gurevich MiG-21F da VPAF.
   
O principal adversário do F-4 durante esse combate foi o Mikoyan-Gurevich MiG-21, construído pela União Soviética, codinome da OTAN “Fishbed”, um pequeno caça projetado como interceptador de curto alcance e defesa aérea de ponto, um papel que se adequava perfeitamente ao seu uso pelo VPAF. Armado com dois mísseis Vympel K-13 (mais conhecidos pela designação da OTAN “AA-2 Atol”), o MiG-21 tem aceleração rápida, sendo bastante ágil em velocidades supersônicas e em grandes altitudes e superando significativamente seu objetivo principal – o Republic F-105 Thunderchief – em todos os regimes de voo (até porque o “Thud” não foi projetado para muitas das tarefas que executou no Sudeste Asiático, como interdição e supressão de defesas inimigas, pois originalmente era um bombardeiro nuclear de médio alcance).
   
Um caça pequeno e leve, suas baixas asas em delta eram excelentes para manobras de combate aéreo e seu pequeno tamanho dificultava a localização, mesmo quando seu adversário era avisado de sua presença. Normalmente, os MiG-21 eram usados em táticas de “acertar e correr” (hit-and-run); sendo vetorizados pelo Controle de Interceptação no Solo (GCI) para uma posição de interceptação na parte traseira mais vulnerável de uma formação de ataque americana, disparando seus mísseis e mergulhando em fuga para longe antes que a cobertura de caças pudesse intervir. Com essa tática, efetuaram seu primeiro abate no dia 5 de outubro de 1966. As táticas demonstraram ser bastante agressivas, pois em dezembro de 1966, os MiG-21 da VPAF abateram dois F-105 e forçaram 20% de todos os ataques a ejetar suas bombas prematuramente e retornarem as suas bases.


“A AMEAÇA DOS MiGS”


A agilidade do MiG-21 e as táticas da VPAF de ataques de alta velocidade a partir da retaguarda sob o controle do GCI representavam um desafio para os pilotos norte-americanos, que ao realizar grandes ataques de formação da Tailândia, se tornaram previsíveis, voando aproximadamente nas mesmas rotas e horários do dia, permitindo a VPAF desafiá-los com uma força relativamente pequena de 15 ou 16 caças MiG-21 usados como interceptadores de defesa de ponto.
   
Os pilotos da USAF ficaram constrangidos pelas suas rígidas regras de engajamento e frustrados por um adversário fugaz que só se envolvia quando a situação era absolutamente favorável. Se o MiG-21 era uma ameaça significativa para os Phantoms, era uma ameaça ainda maior para seu alvo principal, os caças-bombardeiros F-105 Thunderchief, relativamente lentos e carregados de bombas, que executaram a maior parte das missões de ataque e bombardeio no interior do Vietnã do Norte durante a Operação Rolling Thunder.
   
A “Operação Bolo” então foi criada para lidar e tentar neutralizar a ameaça dos MiG-21. Desde outubro de 1966, os F-105 estavam equipados com pods de interferência de radar QRC-160 que praticamente acabaram com suas próprias perdas em mísseis terra-ar (SAM), mas transferiram os ataques de SAM para os Phantoms, desprotegidos por falta de pods. As regras de engajamento que anteriormente permitiam ao F-4 MiGCAP (Patrulhas Aérea de Combate Anti-MiG) escoltar os F-105 para dentro e fora da área-alvo foram revisadas em dezembro para limitar a penetração no MiGCAP até a borda da cobertura SAM.
   
As interceptações dos MiGs aumentaram consequentemente, principalmente devido aos MiG-21 usarem táticas de alta velocidade (voando baixo a Mach 1) de ataque e fuga contra formações de F-105 carregadas de bombas e, embora poucos bombardeiros tenham sido perdidos, a ameaça à força era percebida como séria. O bombardeio dos aeroportos norte-vietnamitas ainda era proibido no início de 1967, e o comandante da 8th TFW (8ª Ala de Caças Táticos), coronel Robin Olds, propôs uma emboscada aérea como o melhor meio de combater a ameaça.


ROBIN OLDS


Coronel Robin Olds no Vietnã, c.1967.
O coronel (posteriormente Brigadeiro General) Robin Olds era o comandante da 8th TFW e um experiente piloto de caça que havia se tornado um duplo ás em duas turnês pela Europa durante a Segunda Guerra Mundial. Ele foi enviado ao sudeste da Ásia para melhorar o desempenho da 8ª TFW e o fez a partir do cockpit, sendo ele mesmo executando várias missões pilotando seu Phantom. Cinco dias depois de chegar a RTAFB Ubon, o 8th TFW perdeu um F-4C abatido por um míssil ar-ar de um MiG-21, a primeira dessas perdas na guerra. Isso se seguiu a outras duas derrotas de F-4s nas duas semanas antes de Olds assumir o comando - igual ao número de F-4s perdidos nos 12 anos anteriores. Olds estava chateado, mas também estava convencido de que seus pilotos poderiam enfrentar o MiG-21 e superá-los se os MiGs pudessem ser levados ao ar em termos uniformes. Sua ideia para a Operação Bolo era relativamente simples: fazer o ágil Phantom II parecer o pesado F-105 carregado de bombas e atrair os MiGs para um dogfight prolongado que esgotaria os MiG-21s de sua pequena carga de combustível, sendo abatidos pelos F-4s quando tentassem fugir da emboscada.


Planejamento da Operação Bolo


Mapa do Teatro de Operações do Sudeste Asiático
   
Olds atribuiu o planejamento da Operação Bolo a um quarteto de oficiais veteranos e experientes no Sudeste Asiático em sua ala: o major James D. Covington, o capitão John B. Stone, o 1º tenente Joseph Hicks e o 1º tenente Ralph F. Wetterhahn. Trabalhando com a maior segurança e confidencialidade, os pilotos designados para executar a missão não seriam informados sobre ela até 30 de dezembro de 1966.
   
O grupo planejou uma missão coordenada por uma “força oeste” de sete voos de F-4Cs da 8th TFW em Ubon e uma “força leste” de sete voos de F-4Cs da 366th TFW com sede em Da Nang, Vietnã do Sul. A força oeste simularia a força de ataque do F-105, enquanto a força leste cobriria campos de aviação alternativos e forneceria uma barreira contra MiGs que tentassem fugir para a China. A força-tarefa também incluiu seis voos de F-105s para proteção contra SAMs, cumprindo missões SEAD, suporte de radar aéreo por aeronaves “College Eye” Lockheed EC-121 e suporte de interferência de radar pelos Douglas EB-66s, escoltados por quatro voos de Lockheed F-104 do 435th TFS (435º Esquadrão de Caças Táticos) em Ubon.
  
Os planejadores determinaram que, se os MiGs reagissem, sua resistência de combustível da decolagem à aterrissagem se estenderia a um máximo de 55 minutos. Os horários de chegada dos voos dos Phantoms sobre os campos de pouso foram definidos com cinco minutos de intervalo para garantir cobertura contínua e oportunidades máximas de envolvimento na área de destino, e para tentar esgotar os MiGs sobreviventes sem impedi-los de aterrissar. A missão também foi planejada para que nenhuma outra aeronave dos EUA estivesse presente, permitindo os três primeiros voos de combate “sem mísseis” dos F-4s sem ter que primeiro identificar o alvo conforme exigido pelas regras de combate da Sétima Força Aérea.
   
Tudo dependia de levar os MiGs para o ar; se não mordessem a isca, o plano não seria concretizado. Para enganar os norte-vietnamitas, a força oeste teve que fazer as mesmas rotas de entrada, altitudes e velocidades que o F-105, usar as mesmas trilhas e altitudes de reabastecimento aéreo e usar o jargão do F-105 nas comunicações por voz. (No entanto, para consternação de Olds, os grupos de caças ainda receberam indicativos de MiGCAPs durante a guerra, que eram os nomes de automóveis fabricados nos Estados Unidos: Olds (de Oldsmobile), Ford, Rambler, Lincoln, Tempest, Plymouth e Vespa.
  
Os F-4s foram equipados com os pods de interferência QRC-160 normalmente transportados apenas pelos F-105s, de modo que sua assinatura eletrônica seria a mesma, e os F-4s também voariam em formações como os F-105s, para maximizar a eficácia dos pods. Os pods tiveram que ser montadas em um dos pilares da asa do tanque de combustível, forçando os F-4 a transportar um tanque central e um apenas na asa, criando um desequilíbrio assimétrico que dificultava as decolagens (a aeronave tentaria rolar na decolagem para o lado o tanque da asa).
   
O plano de operação foi apresentado ao general William Momyer, comandante da Sétima Força Aérea, em 22 de dezembro de 1966. Momyer aprovou o plano, que recebeu o codinome “Bolo” que é o nome de um facão de corte de cana que também era uma arma de artes marciais filipina. Afiado e mortal, o bolo filipino não parece ser uma arma até que o oponente seja puxado por ele e fique perto demais para fugir. Essa era a intenção do plano – atrair os MiGs para a zona de matança dos Phantoms e atacar enquanto os norte-vietnamitas ainda esperavam encontrar os F-105 menos perigosos.
   
O coronel Olds também encarregou suas equipes de manutenção de inspecionar, revisar, limpar e reparar todos os equipamentos das aeronaves designadas para a missão, uma tarefa que levou vários dias. Assim que os F-4 foram equipados com os pods eletrônicos de contramedidas QRC-160, a data do ataque foi marcada para o dia 1º de janeiro de 1967.


Executando a missão


A missão foi adiada por causa do mau tempo na região e remarcada para o dia 2 de janeiro. A missão foi lançada a partir de Ubon naquela tarde após mais uma hora de atraso, e Olds, liderando pessoalmente o primeiro voo (e também o nome do código-rádio da missão), chegou à Base Aérea de Phúc Yên às 15 horas locais. Voando para sudeste na rota de entrada usada pelos F-105, a missão não teve reação defensiva, e Olds descobriu que nuvens espessas cobriam a área abaixo, ocultando qualquer visão dos MiGs decolando.
   
Sem o conhecimento de Olds, os controladores norte-vietnamitas da GCI atrasaram a decolagem em aproximadamente 15 minutos por causa do tempo nublado. Ele inverteu o curso e voou para o noroeste, para continuar forçando a aproximação dos MiGs. Quando três minutos se passaram sem contato e com o voo da Ford quase na área, ele cancelou a opção sem mísseis. Assim que o voo da Ford chegou na área alvo, os primeiros MiG-21s da VPAF surgiram das nuvens abaixo.


O GRUPO OLDS


O primeiro ataque ocorreu quando o segundo voo dos F-4 também estava entrando na área. O grupo Olds imediatamente ejetou tanques de combustível e acendeu os pós-combustores para engajar rapidamente três MiGs que, embora aparentemente emergissem aleatoriamente, na verdade haviam sido direcionados para que o primeiro aparecesse às “seis horas” (quadrante traseiro) do voo e nos próximos dois momentos depois em suas “dez horas” (quadrante frente esquerda), apresentando um MiG com uma solução de tiro na cauda e surpresa tática. Todos os três voos que envolveram MiGs mais tarde relataram ter encontrado essa tática.
   
O Olds 02, pilotado por um dos planejadores da missão, o tenente Ralph Wetterhahn, efetuou o primeiro abate ao acertar em cheio um MiG com um AIM-7 Sparrow, enquanto o Olds 01, pilotado pelo Coronel Olds, disparou inicialmente três mísseis que não engajaram seus alvos. Olds posteriormente afirmou:

“A batalha começou quando os MiGs começaram a sair da nebulosidade. Infelizmente para mim, o primeiro apareceu nas minhas seis horas. Eu acho que foi mais um acidente do que uma tática planejada. De fato, nos próximos minutos muitos outros MiGs começaram a sair das nuvens de diferentes posições. [...] Eu tive sorte. A aeronave atrás de mim viu os MiGs e tentou desviar sua atenção. Eu quebrei para a esquerda, com força suficiente para fugir de sua linha de fogo, esperando que meu ala cuidasse dele. Enquanto isso, outro MiG surgiu das nuvens, girando amplamente sobre as minhas 11 horas, a uma distância de 2.000 jardas. Ele foi para as nuvens novamente e eu tentei segui-lo. [...] Um terceiro avião inimigo apareceu nas minhas dez horas, da direita para a esquerda: em palavras simples, quase na direção oposta. O primeiro MiG se afastou e eu usei o pós-combustor para entrar em uma posição de ataque contra esse novo inimigo. Eu levantei minha aeronave em um ângulo de 45 graus, dentro de sua vez. Ele estava virando para a esquerda, então eu puxei o manche e rolei para a direita. Graças a essa manobra, eu me encontrei acima dele, de cabeça para baixo. Eu o segurei até o MiG terminar o seu turno, calculando o tempo para que, se eu pudesse continuar girando atrás dele, eu pegaria sua cauda, com um ângulo de deflexão de 20 graus, a uma distância de 1.500 jardas. Foi exatamente o que aconteceu. Ele nunca me viu. Atrás e mais baixo que ele, eu podia ver claramente sua silhueta contra o sol quando lancei dois Sidewinders. Um deles impactou e rasgou sua asa direita.”

   
A manobra vertical, conhecida como “rolagem de vetor”, posicionou seu Phantom acima do MiG-21, que girava mais apertado; depois, quando completou sua curva, Olds se aproximou e disparou dois mísseis AIM-9 Sidewinder. Um atingiu a asa direita do MiG e a arrancou. O MiG entrou em uma espiral e desapareceu nas nuvens abaixo, a segunda morte da batalha. Quase ao mesmo tempo, o Olds 04, pilotado pelo capitão Walter S. Radeker III, viu um MiG rastreando sua liderança de elementos e manobrou para engajá-la. Radeker não conseguiu obter um tom consistentemente bom (o que indicaria o bloqueio de mísseis), mas foi lançado. Seu Sidewinder guiou perfeitamente, no entanto, e atingiu o MiG bem na frente de sua cauda, fazendo-o girar. O Grupo Olds destruiu três MiG-21 sem sofrer perdas e, nos limites do combustível, deixou a área.


O GRUPO FORD


O Grupo Ford, liderado pelo subcomandante da 8th TFW, coronel Daniel “Chappie” James Jr., entrou na área alvo em por volta das 15:05 horas, assim que os MiGs começaram a se envolver, e James transmitiu um aviso a Olds. Embora ele próprio não tenha conseguido uma vitória, James testemunhou a vitória de seu ala, capitão Everett T. Raspberry, que relata:

“Às 15:04, meu voo foi atacado por três MiGs, dois nas 10 horas e um das 6 horas. Inicialmente, não vi este último porque estava me concentrando naqueles que se aproximavam de frente. Meu WSO me alertou com entusiasmo sobre esse MiG que se aproximava rapidamente, que estava dentro do alcance dos #3 e #4. Hesitei um pouco antes de interromper meu ataque contra os dois MiGs na frente, porque eu tinha visto o voo dos 'Olds' passando abaixo de nós alguns segundos antes. Eu pensei que o avião visto pelo meu WSO poderia ser um deles. Apesar disso, de repente virei à esquerda e depois à direita e avistei o terceiro MiG. Ordenei aos meus números 3 e 4 que se acertassem. Ao fazê-lo, o MiG partiu à esquerda por algum motivo misterioso e, por uma fração de segundo, ficamos lado a lado. Estávamos tão perto que, além das estrelas vermelhas em suas asas, eu podia ver claramente o rosto do piloto. Comecei um rolo de barril horizontal para me afastar dele e entrar em uma posição de ataque, uma vez em posição, lancei um Sidewinder. O míssil errou porque o MiG fugitivo partiu à esquerda a toda velocidade. Mas quando ele fez isso, ele se colocou na linha de fogo do meu número 2, capitão Everett T. Raspberry. Ordenei que ele seguisse a presa, porque as duas aeronaves que vi inicialmente haviam sido colocadas no meu setor avançado. Eu estava em uma posição vantajosa, então atirei dois AIM-9s contra eles em uma sequência rápida e me virei para me colocar como ala do meu # 2, capitão Raspberry. [...] continuei descendo além do capitão Raspberry e lembro que achava que ele ainda estava fora do envelope ideal de lançamento. Mas ele executou um tambor que o colocou em uma posição perfeita novamente e lançou um AIM-9, que bateu contra a seção de cauda do MiG-21. Foi sacudido violentamente e mais tarde caiu em um giro lento, quase plano.”

   
James, preocupado com dois MiGs que se aproximavam do Grupo Ford, foi atacado pela retaguarda por um MiG-21. Ele executou um tonneau barril horizontal, ficou atrás do atacante e disparou um AIM-9 que errou o MiG. No entanto, a manobra colocou o MiG na frente de Raspberry, que o derrubou com um míssil que o atingiu atrás do cockpit. Depois que o Ford 02 marcou seu abate, o Grupo Ford deixou a área sem perdas, seu sucesso devido parcialmente à manobrabilidade em alta velocidade do F-4 a 17.000 pés (5.182 metros).


O Grupo Rambler

O Grupo Rambler, o terceiro na área, foi liderado pelo capitão John B. Stone, o oficial de táticas da Wing e um dos arquitetos da Operação Bolo. Quando Rambler entrou no combate, Stone viu um par de MiGs surgindo através de uma brecha nas nuvens, mergulhou e lançou um AIM-7 Sparrow, que não conseguiu engajar o alvo e se perdeu. Stone disparou novamente um segundo Sparrow que engajou e acertou em cheio um dos MiGs. Observando um terceiro MiG atrás dele, ele coordenou suas manobras com seu ala e conduziu o MiG para a linha de fogo do major Philip P. Combies (Rambler 04). Ele viu a batalha assim:

“Voamos a 4.800 metros acima do nível do mar e nossa velocidade era de 540 nós. Um pouco depois de completar uma curva para o noroeste, identificamos uma patrulha de quatro MiG-21 em formação dispersa a uma distância de 5 milhas – cerca de 8 km – às 2 horas e abaixo de nós. Mais dois MiGs apareceram 2 milhas – cerca de 3 km – atrás... Quando os MiGs cruzaram na frente de Stone, ele começou a segui-lo, quebrando à esquerda e perdendo altura. Devido a isso, o grupo se espalhou para a direita, e eu me vi mais alto e um pouco à direita dos outros. Eu mantive o acelerador no mínimo durante a primeira fase do combate. Então, quando os MiGs quebraram à esquerda, e o engajamento começou. Eu escolhi um dos MiGs e o segui com meu radar. Acho que nunca superamos os 4G durante todo o engajamento. Decidi seguir as táticas dos pilotos da Marinha – a curta distância, precedendo o rastreamento do radar, mas olhando pelo retículo. Quando percebi que estava na posição correta, apertei o botão de disparo, soltei, apertei novamente e esperei. Eu nem vi o primeiro Sparrow. No entanto, acompanhei toda a trajetória do segundo, do lançamento ao impacto. Disparei os mísseis a menos de 2.000 jardas da cauda do MiG, a uma altura de 9.800 pés (3.500 metros) enquanto virava para a esquerda. O segundo atingiu a seção de cauda da aeronave inimiga. Um segundo depois, vi uma enorme bola de fogo laranja.”

   
Segundos depois, outro MiG-21 cruzou a frente do Rambler 02 e foi aparentemente destruído por um Sparrow lançado por seu piloto, Lawrence Glynn. O MiG, atingido na região da cauda, explodiu em uma bola de fogo. Este foi o terceiro MiG-21 derrubado pelo Grupo Rambler, que elevou a pontuação final do dia para 7 a 0 em favor dos F-4s da USAF. Os lançamentos de mísseis SA-2 (cinco no total) começaram a ameaçar o Grupo Rambler, que abortou a missão e retornou à base. O combate inteiro durou doze minutos.
   
Os quatro últimos grupos designados pela da 8th TFW chegaram para participar do combate, mas tiveram que se evadir da área por causa da ameaça dos SAMs, enquanto a “Força Leste” de Da Nang, devido às condições meteorológicas desfavoráveis, não penetrou no espaço aéreo do Vietnã do Norte. Dois dos grupos de Ubon haviam abortado a missão por problemas de manutenção e, no final, apenas 26 dos 56 caças designados entraram na área-alvo e apenas 12 dos envolvidos entraram realmente em combate.


RESUMO DA OPERAÇÃO BOLO


            
A tabela a seguir resume as sete vitórias do 8th TFW contra o MiG-21:

Esquadrão
Código
Comandante da Aeronave¹
Piloto¹
Míssil
555 TFS
Olds 02
1º Ten Ralph F. Wetterhahn
1º Ten Jerry K. Sharp
AIM-7
555 TFS
Olds 04
Cap Walter S. Radeker III
1º Ten James E. Murray III
AIM-9
555 TFS
Olds 01
Col Robin Olds
1º Ten Charles C. Clifton
AIM-9
555 TFS
Ford 02
Cap Everett T. Rapsberry, Jr.
1º Ten Robert W. Western
AIM-9
433 TFS
Rambler 04
Maj Philip P. Combies
1º Ten Lee R. Dutton
AIM-7
433 TFS
Rambler 01
Cap John B. Stone
1º Ten Clifton P. Dunnegan, Jr.
AIM-7
433 TFS
Rambler 02
1º Ten Lawrence J. Glynn, Jr.
1º Ten Lawrence E. Cary
AIM-7


¹Em 1967, todos os F-4 da USAF eram pilotados por dois pilotos treinados na aeronave, com os mais experientes ocupando o assento da frente e sendo chamados de “Comandantes da Aeronave”. O uso de navegadores especificamente treinados como “Oficiais de Sistemas de Armas” (WSO) assim como na Marinha dos EUA, começou em 1969.

   
Os norte-vietnamitas confirmaram posteriormente a perda de apenas cinco MiG-21 durante a Operação Bolo e afirmou que todos os cinco pilotos ejetaram em segurança:

Unidade
Nome do piloto
Destino do piloto
Aeronave
Número VPAF
921 FR
Vu Ngoc Dinh
Abatido, ejetou em segurança.
MiG-21PFL
4228
921 FR
Nguyen Duc Thuan
Abatido, ejetou em segurança.
MiG-21PFL
4125
921 FR
Nguyen Dang Kinh
Abatido, ejetou em segurança.
MiG-21PFL
4126
921 FR
Bui Duc Nhu
Abatido, ejetou em segurança.
MiG-21PFL
4224
921 FR
Nguyen Ngoc
Abatido, ejetou em segurança.
MiG-21PFL
4029


IMPACTO, CONSEQUÊNCIAS DA MISSÃO E O SEU LEGADO

   
Quando os F-4 pousaram em Ubon, suas equipes de terra alinharam-se na direção da pista de táxi. À medida que cada Phantom passava, as cabines dos pilotos se abriam, os pilotos indicavam com dedos confirmados o número de abates que haviam marcado. Dos 16 MiG-21 conhecidos no inventário da VPAF, 11 a 14 estavam envolvidos naquele dia (dependendo da fonte), com sete destruídos e outros dois provavelmente abatidos (por Combies e Maj. Herman L. Knapp, Rambler 03). Anos depois, fontes do governo vietnamita admitiram que a Operação Bolo em 2 de janeiro foi um dos piores dias para o VPAF durante a guerra. O VPAF alegou ter perdido cinco MiG-21, sem que nenhum inimigo tivesse sido abatido.
  
O sucesso da Operação Bolo levou a Sétima Força Aérea a planejar uma missão semelhante, simulando uma missão de reconhecimento fotográfico RF-4C. A reação imediata a Bolo pela VPAF foi desafiar a missão diária de “recce” nos dois dias imediatamente seguintes a Bolo, em cada caso, causando o cancelamento da missão. No dia 5 de janeiro, um par de F-4C Phantoms do 555th TFS, voando em formação fechada para aparecer como um alvo único no radar do Vietnã do Norte (simulando um solitário RF-4C), voou em alta velocidade sem ser incomodado. No dia seguinte (6 de janeiro), outro elemento de F-4C Phantom do 555th TFS foi interceptado por quatro MiGs; os norte-americanos novamente surpreenderam e abateram dois durante o rápido engajamento, com o Caranguejo 01 (Capitão Richard M. Pascoe e 1º Tenente Norman E. Wells) e o Caranguejo 02 (Major Thomas M. Hirsch e o primeiro tenente Roger J. Strasswimmer), cada um marcando um abate.
   
Para os norte-vietnamitas (e seus aliados soviéticos que forneceram a aeronave MiG-21 e ajudaram a montar a rede de defesa aérea integrada), os dois reveses em 2 e 5 a 6 de janeiro os forçaram a dissolver seus ativos, aterrando os MiGs meses para atualização e elaboração de novas táticas de combate aéreo.
   
Anos depois, a Força Aérea de Israel (IDF/AF), inspirados pelo sucesso norte-americano da Operação Bolo, lançou uma operação semelhante contra a Força Aérea do Egito durante a Guerra de Atrito na qual viviam. Essa operação, chamada de “Operação Rimon 20”, foi levada a cabo pelos recém-incorporados F-4Cs israelenses, apoiados por caças Dassault Mirage III, fez uma operação de emboscada semelhante aos F-4 da Operação Bolo e abateu vários MiG-21s, incluindo alguns pilotados por conselheiros soviéticos, fato descoberto posteriormente, também fazendo com que os egípcios e soviéticos revessem suas táticas de combate na região.

Por Luiz Reis, Professor de História no Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador, brasiliense com alma paulista, reside em Fortaleza/CE. Luiz é Articulista renomado e parte da equipe do GBN Defense News.

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