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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A Grécia no centro da tormenta

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No período entre julho e agosto de 2011, as bolsas de valores foram novamente abaladas em nível internacional. A crise aprofundou-se na União Europeia, em particular no tema das dívidas. O Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM) entrevistou Eric Toussaint a fim de decodificar os diferentes aspectos desta nova fase da crise. Para ele, os bancos privados têm grande responsabilidade no endividamento excessivo da Grécia. Agora, a Grécia precisa prometer ao mercado uma taxa de juro de 15% para poder pedir novos empréstimos.

A entrevista com Eric Toussaint feita pelo Comitê para a Anulação da Dívida do Terceiro Mundo

CADTM: É verdade que a Grécia tem de prometer ao mercado uma taxa de juro de cerca de 15% para poder pedir empréstimos a prazo de 10 anos?

Eric Toussaint: Sim, é verdade; os mercados apenas admitem comprar os certificados a prazo de 10 anos que a Grécia emitir na condição de que a Grécia se comprometa a pagar juros exorbitantes.

CADTM: A Grécia está disposta a contrair empréstimos nessas condições?

Eric Toussaint: Não, a Grécia não se pode dar ao luxo de pagar juros semelhantes. Custar-lhe-ia demasiado caro. Ora, todos os dias lemos, tanto na imprensa tradicional como nos meios de comunicação alternativos (aliás muito úteis para obter uma opinião crítica), que a Grécia tem de pedir emprestado a 15% ou mais.

Na realidade, desde que a crise rebentou na primavera de 2010, a Grécia limita-se a contrair no mercado empréstimos a 3 meses, 6 meses, no máximo um ano, com taxa de juro variável, consoante as emissões, entre 4% e 5%. Relembramos que, antes do início dos ataques especulativos contra a Grécia, esse país conseguia pedir empréstimos a taxas muito vantajosas, tão grande era a ânsia dos banqueiros e outros investidores institucionais (seguradoras, fundos de pensão) – vulgarmente designados em francês por zinzins –, para lhe emprestarem dinheiro.

Foi assim que, a 13 de uutubro de 2009, a Grécia emitiu os certificados do Tesouro (T-Bills) a 3 meses com um rendimento (yield) muito baixo: 0,35%. Nesse mesmo dia, a Grécia fez outra emissão de certificados a 6 meses com uma taxa de 0,59%. Sete dias mais tarde, a 20 de outubro de 2009, emitiu certificados a uma taxa de 0,94%. Isto aconteceu menos de seis meses antes de rebentar a crise grega. As agências de notação atribuíam uma nota muito boa à Grécia e aos bancos que lhe emprestavam a torto e a direito. Dez meses mais tarde, para emitir certificados a 6 meses, a Grécia teve de atribuir um rendimento de 4,65% (cerca de 8 vezes maior). Foi uma mudança de circunstâncias fundamental.

Outra questão importante para demonstrar a responsabilidade dos bancos: em 2008, a banca exigia à Grécia um rendimento mais elevado que em 2009. Por exemplo, em junho-julho-agosto de 2008, quando ainda não era conhecida a falência do Lehman Brothers, as taxas de juro já eram quatro vezes mais elevadas que em outubro de 2009. No quarto trimestre de 2009, ao descerem abaixo de 1%, as taxas atingiram o seu nível mais baixo. O que pode parecer irracional – dado que não é normal um banco baixar as taxas de juro num contexto de grande crise internacional, tanto mais no caso dum país como a Grécia que se endivida muito rapidamente – é lógico na perspectiva dum banqueiro que procura tirar o máximo proveito imediato, estando convencido de que, caso surjam problemas, as autoridades públicas virão em seu socorro.

Depois da falência do Lehman Brothers, os governos dos EUA e da Europa verteram enormes montantes para salvar os bancos e relançar o crédito e a actividade económica. Os banqueiros aproveitaram este maná de capitais para emprestarem dentro da UE a países como a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, convencidos de que, em caso de problema, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia ajudá-los-iam. Do seu ponto de vista, tinham razão.

CADTM: Queres dizer que os bancos privados, ao emprestarem com baixos juros, contribuíram ativamente para empurrar a Grécia para a armadilha do endividamento insustentável, ao exigir posteriormente taxas muito mais elevadas, que impediram a Grécia de pedir empréstimos a prazos superiores a um ano?

Eric Toussaint: Sim, é isso mesmo. Não quero dizer que tenha havido uma maquinação propriamente dita, mas é incontestável que os bancos emprestaram dinheiro exageradamente a países como a Grécia (até baixando as taxas de juro). Do ponto de vista dos bancos, os dinheiros que receberam em quantidade maciça dos poderes públicos tinham de ser aplicados em empréstimos aos Estados da zona euro. É preciso recordar que desde três anos para cá, os Estados se tornaram os actores mais fiáveis, ao passo que se levantaram dúvidas sobre a capacidade das empresas privadas em manterem os seus compromissos e reembolsar as suas dívidas.

Para retomar o exemplo concreto anteriormente mencionado, quando, a 20 de outubro de 2009, o governo grego vendeu T-Bills a 3 meses com um spread de 0,35%, tentava reunir um total de 1,5 bilhões de euros. Os banqueiros e outros especuladores propuseram perto de 5 vezes esse valor, ou seja, 7,04 bilhões. Por fim, o governo decidiu pedir 2,4 bilhões emprestados. Não será exagero afirmar que os bancos emprestaram exageradamente à Grécia.

Voltemos à questão da sequência de aumentos de empréstimos de bancos da Europa Ocidental à Grécia no período 2005-2009. Os bancos dos países da Europa Ocidental aumentaram os empréstimos à Grécia (tanto ao setor público como ao privado) numa primeira fase entre dezembro de 2005 e março de 2007 (nesse período, o volume de empréstimos aumentou 50%, passando de pouco menos de 80 bilhões para 120 bilhões de dólares).

Embora a crise do subprime tivesse rebentado nos EUA, os empréstimos voltaram a aumentar fortemente (+33%) entre junho de 2007 e o verão de 2008 (passando de 120 bilhões para 160 bilhões de dólares); depois, mantiveram-se num nível muito alto (cerca de 120 bilhões de dólares). Isto significa que os bancos privados da Europa Ocidental utilizaram o dinheiro que o Banco Central Europeu, o Banco de Inglaterra, a Reserva Federal dos EUA e os fundos do mercado monetário (money market funds) dos EUA (ver mais adiante) lhes emprestavam massivamente e a baixo custo, para aumentarem os empréstimos a países como a Grécia, sem tomar em conta os riscos.

Por conseguinte os bancos privados têm uma grande quota de responsabilidade no endividamento excessivo da Grécia. Os bancos privados gregos também emprestaram montes de dinheiro consideráveis aos poderes públicos e ao setor privado. Também eles têm uma grande quota de responsabilidade. As dívidas reclamadas pelos bancos estrangeiros e gregos à Grécia em consequência das suas políticas completamente arriscadas estão feridas, quanto a mim, de ilegitimidade.

Por:  Éric Toussaint, doutorado em Ciências Políticas pelas Universidades de Liège e de Paris VIII, Presidente do CADTM Belgique, membro da Comissão Presidencial de Auditoria Integral da Dívida (CAIC) do Equador e do Conselho Científico da ATTAC France. Redigiu com Damien Millet o livro colectivo La Dette ou la Vie, Aden-CADTM, 2011. Participou no livro da ATTAC Le piège de la dette publique. Comment s'en sortir, Ed. Les liens qui libèrent, Paris, 2011.

Fonte: Carta Maior
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domingo, 3 de julho de 2011

Soberania grega deve ser limitada, diz Juncker

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A Grécia pode sofrer grandes restrições na sua soberania e deve privatizar ativos do Estado em uma escala similar à feita pela Alemanha Oriental nos anos 90, depois da queda do comunismo, disse o presidente do Eurogroup, Jean-Claude Juncker.

Em uma entrevista publicada depois que os ministros das Finanças da zona do euro no Eurogroup aprovaram um empréstimo de 12 milhões de euros ao país, Juncker disse estar otimista de que medidas negociadas com Atenas vão ajudar a resolver os problemas do país.

"A soberania da Grécia será grandemente limitada," afirmou Juncker à revista Germany's Focus, em entrevista publicada neste domingo. Ele também disse que equipes de especialistas da zona do euro irão para a Grécia.

"Para a onda de privatizações que virá, eles vão precisar, por exemplo, de uma solução baseada em um modelo da 'agência Treuhand', da Alemanha," afirmou Juncker, referindo-se à agência de privatizações que vendeu 14 mil empresas da Alemanha Oriental entre 1990 e 1994.

O Parlamento grego votou na quinta-feira a montagem de uma agência de privatizações devido a projetos de austeridade acertados com a União Europeia e o FMI (Fundo Monetário Internacional), o que provocou violentos protestos das ruas de Atenas.

Os gregos estão sensíveis às violações de sua soberania ou indicações de que "comissários" estrangeiros se envolverão na governança do país.

"Não podemos deixar que alguém insulte os gregos. Mas alguém tem que ajudá-los. Eles disseram estar prontos para receber expertise da zona do euro," afirmou Juncker.

Atenas deve vender cinco bilhões de euros em ativos do Estado só neste ano ou então correr o risco de não atingir as metas do programa da UE e do FMI, o que poderia cortar o fluxo de financiamentos cruciais para manter o governo funcionando e evitar a moratória da dívida.

Uma repetição da experiência da Treuhand pode ser amarga para os gregos, que já sofrem com crescente desemprego e uma recessão que já está em seu terceiro ano.

Naquela época a maior holding do mundo, a Treuhand tinha que vender propriedades do Estado com lucro, mas fechou seus balanços com um déficit gigantesco e um legado de crueldade para o grande número de trabalhadores cujos empregos foram destruídos.

Quatro milhões de alemães estavam empregados em empresas controladas pela Treuhand em 1990, mas apenas 1,5 milhão de postos de trabalho sobraram em 1994, quando a agência fechou.

Em vez de colher os lucros e distribuir para toda a população da Alemanha Oriental, como foi projetada para fazer, a holding ficou com um déficit de 172 milhões de dólares com a venda de ativos.

"NÃO TOTALMENTE FUNCIONAL"

Juncker, que também é primeiro-ministro de Luxemburgo, levantou inicialmente a ideia de uma agência como a Treuhand para a Grécia em maio. Ele disse acreditar que o país pode levantar consideravelmente mais do que 50 bilhões de euros em vendas de ativos.

"O atual pacote de medidas, ao qual Atenas concordou, trará solução para a questão grega," afirmou Juncker na entrevista à revista. Contudo, ele acrescentou que o sistema de coleta de impostos da nação "não é totalmente funcional."

No sábado, ministros das Finanças da zona do euro concordaram que a quinta parcela do pacote de auxilio à Grécia de 110 bilhões de euros, acordado em maio de 2010, será paga até 15 de julho, caso o FMI assine o empréstimo. A entidade deve se reunir em 8 de julho para aprová-lo.

O pagamento permitirá que a Grécia evite uma ameaça imediata de moratória, mas o país ainda precisa de um segundo pacote de auxílio, que deve levantar mais 110 bilhões de euros e que provavelmente será finalizado apenas em setembro.

Juncker disse que a crise grega foi causada principalmente pelo próprio país. "Entre 1999 e 2010, os salários subiram 106,6 por cento, embora a economia não tenha crescido no mesmo ritmo. As políticas salariais estavam completamente fora de controle e não baseadas na produtividade," afirmou

Fonte: Reuters
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