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segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

Soldados turcos seguem para a Líbia

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O presidente turco,  Recep Tayyip Erdogan , disse que Ancara começou a enviar unidades militares para Líbia em apoio ao GNA, governo reconhecido internacionalmente em Trípoli, uma das duas administrações rivais no país do norte da África.
O anúncio de domingo (5) acontece dias após o parlamento da Turquia aprovar o envio de tropas a Líbia, depois de receber um pedido de apoio militar do GNA, liderado por  Fayez al-Sarraj.
O pedido da GNA foi dado em resposta a uma ofensiva de meses das forças do leste, comandadas pelo opositor  Khalifa Haftar , que receberam apoio do Egito e dos Emirados Árabes Unidos.
"Haverá um centro de operações na Líbia, com um tenente-general turco liderando e eles administrarão a situação por lá. Soldados turcos estão sendo enviados para lá agora", disse Erdogan à emissora privada CNN Turk durante um entrevista.
Ele disse que a Turquia não enviaria suas próprias forças de combate. "No momento, teremos unidades diferentes servindo como força de combate", disse ele, sem dar detalhes sobre quem e quantos seriam os combatentes, bem como de onde eles viriam.
O presidente disse que o objetivo da Turquia não era "lutar", mas "apoiar o governo legítimo e evitar uma tragédia humanitária".
Ele disse: "O dever de nossos soldados é a coordenação. Eles desenvolverão o centro de operações lá. Nossos soldados estão indo gradualmente agora".
A Líbia mergulhou no caos após a derrubada e morte de Muammar Gaddafi em 2011 por uma ação apoiada pela OTAN. Desde 2014, o país esta dividido em administrações orientais e ocidentais rivais.
Atualmente, o GNA controla Trípoli no noroeste da Líbia, e uma administração paralela está segurando o leste do país rico em petróleo, apoiado pelo auto-denominado Exército Nacional da Líbia (LNA) de Haftar.
Na semana passada, Haftar havia pedido aos líbios que pegassem em armas em resposta ao esperado movimento militar da Turquia.
"Aceitamos o desafio e declaramos jihad e um chamado às armas", afirmou ele em um discurso televisionado na sexta-feira (3).
Ele exortou "todos os líbios" a portar armas, "homens e mulheres, soldados e civis, a defender nossa terra e nossa honra".
O GNA e a Turquia assinaram acordos de segurança e marítimos no final de novembro do ano passado, abrindo o caminho para o envio de tropas turcas e enfurecendo países do Mediterrâneo, incluindo Grécia e Chipre, que também buscam explorar recursos energéticos na região.
No sábado (4), o parlamento da Líbia votou por unanimidade contra os acordos que o governo de Trípoli assinou com Ancara.
No mesmo dia, pelo menos 30 pessoas foram mortas e outras 33 ficaram feridas em um ataque a uma academia militar na capital Líbia, segundo as autoridades de Trípoli.
A Turquia condenou o ataque e pediu medidas internacionais para alcançar um cessar-fogo.

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domingo, 5 de janeiro de 2020

Assassinato de Soleimani, uma leitura do GBN Defense

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O assassinato do general Qassem Soleimani chefe da Força Quds, a ala paramilitar da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, segundo homem mais poderoso do Irã, na última sexta-feira (3) durante um ataque cirúrgico dos EUA em Bagdá, representa o inicio de um novo período de turbulência e incertezas no Oriente Médio. 
Os primeiros efeitos do ataque começam a surgir, quando neste domingo (5) o Parlamento do Iraque aprovou uma resolução pedindo a retirada das forças estrangeiras de seu território. Um primeiro sinal do revés que pode resultar a atitude tomada por Donald Trump ao lançar o ataque que matou Soleimani, podendo isolar os EUA na região e afastar aliados.
Apesar das tentativas de justificar o assassinato de Soleimani, tentando veicular sua morte à uma hipotética prevenção de ataques terroristas, como tentam rotular o líder iraniano, acabam piorando ainda mais a imagem do presidente Trump, que violou deliberadamente um série de leis internacionais. Soleimani apesar de controverso, tendo lançado mão de métodos radicais e mesmo sangrentos em determinadas ocasiões, atuando nas sombras liderando uma das mais importantes forças iranianas, atuou de maneira eficiente no combate ao Estado Islâmico e no apoio ao governo legítimo da Síria, sendo considerado herói nacional no Irã e considerado pelo líder supremo do Irã, Ali Hosseini Khamenei, um dos mais importantes comandantes para proteger e expandir os interesses do regime no Oriente Médio. O assassinato de Soleimani é um ataque direto ao estado iraniano, podendo ser classificado como ato terrorista, curiosamente o que os EUA dizem combater.
Por que os EUA assassinaram Soleimani? Qual a importância de sua morte para estratégia norte americana na região?
Estas perguntas não podem simplesmente ser respondidas, levarão anos e até décadas para que possamos juntar as peças e chegar a uma conclusão crível das razões que motivaram  a execução deste ataque. Mas um ponto que devemos manter em pauta, é o forte interesse de aliados regionais dos EUA de neutralizar a influência iraniana que vem crescendo na região, a qual resulta principalmente pela capacidade de liderança de Soleimani e sua importância naquele cenário geopolítico, onde obteve importantes conquistas nos últimos anos, em especial na Síria e Iraque.  Dentre esses aliados opositores ao Irã de Soleimani, podemos listar o Premier israelense Benjamin Netanyahu e o polêmico príncipe Saudita Mohammed Bin Salman, os quais já manifestaram publicamente o pedido de uma resposta militar dos EUA contra Teerã.
Outro ponto que temos de manter em mente, são os interesses internos, com aliados internos do presidente Trump orientando uma mudança nas relações com Teerã, onde mesmo após pesadas sanções, o governo da nação persa continua firme, mesmo diante de uma grave crise econômica gerada pelas sanções, demonstrando o fracasso da política de "pressão máxima" visando desestabilizar o país e alimentar movimentos internos de oposição. O que se vê, é que mesmo diante da pressão o Irã se mantém firme em sua posição, tendo ampliando sua influência na região e estreitando relações com potências como China e Rússia.
Segundo alguns analistas, o assassinato de Soleimani seria uma resposta do ataque à embaixada dos EUA em Bagdá no início desta semana, o qual se acredita ter obtido apoio iraniano. Tal ato trouxe a memória dos estrategistas norte americanos um dos capítulos negros de sua história, a tomada da embaixada dos EUA em Teerã em 1979. Sob essa prerrogativa, Trump teria determinado um ataque "preventivo" , como forma de proteger vidas americanas em ataques futuros, e não um ato de guerra com o Irã, não deixando de ser uma demonstração de força.
Teerã tem expandido sua influência e lançando mão de ataques por procuração a alvos norte americanos e de seus aliados na região. Dentre estes, estaria o ataque a refinaria na Arábia Saudita, lançado pelos Houthis com apoio iraniano, bem como o ataque desta semana às posições dos EUA no Iraque.
Se a história for um guia, o Irã absorverá o ataque a princípio e evitará uma guerra total contra os EUA. Mas isso não descarta o aumento das operações secretas de Teerã, que deve atacar os EUA se valendo de estratégias assimétricas, utilizando-se de grupos armados opositores aos EUA, os quais devem ser equipados e apoiados pelo regime persa. Este será especialmente o caso no Iraque, onde o Irã há muito explora o fracasso dos EUA em apoiar Bagdá na reestruturação e segurança do país, apoiando milicias e o governo iraquiano.
Muitos tem levantado a eminencia de uma terceira guerra mundial, porém, analisando o cenário, o mesmo não possui elementos que possam ser o estopim de uma crise em larga escala que arraste o mundo para um novo conflito mundial, mas devemos nos manter atentos ao desenrolar dos fatos, onde de certo veremos o aumento nas tensões regionais.
O GBN Defense tem acompanhado os fatos e pretende trazer sempre uma leitura bem pautada e com bom senso, longe do sensacionalismo e posicionamentos sem embasamentos.

Por Angelo Nicolaci - Jornalista, editor do GBN Defense, graduando em Relações Internacionais pela UCAM, especialista em geopolítica do oriente médio, leste europeu e América Latina, especialista em assuntos de defesa e segurança, membro da Associação de Veteranos do Corpo de Fuzileiros Navais (AVCFN), Sociedade de Amigos da Marinha (SOAMAR), Clube de Veículos Militares Antigos do Rio de Janeiro (CVMARJ) e Associação de Amigos do Museu Aeroespacial (AMAERO).

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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Assad ataca 'ocupação' francesa na Síria

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Não há grande diferença entre apoiar o terrorismo em solo sírio e enviar tropas para lá sem a aprovação formal de seu governo, disse Bashar Al-Assad enquanto criticava o papel da França na guerra civil da Síria.
A Síria "percorreu um longo caminho" para derrotar grande parte da insurgência terrorista em seu território, mas ainda há bolsões de resistência, já que os jihadistas estão recebendo apoio da Turquia e dos países ocidentais, disse Bashar Assad à revista Paris Match, destacando os EUA, o Reino Unido e "especialmente a França".
A França se juntou à coalizão  contra o EI (ISIS), fornecendo apoio aéreo e destacando forças especiais para atuar na Síria. Mas, para Assad, a intervenção francesa representou uma "ocupação", pois Paris, assim como seu principal aliado na OTAN, Washington, não tiveram a autorização de Damasco para essa missão.
Agora, quando forças estrangeiras chegam à Síria sem serem convidadas pelo governo legítimo, "isso é chamado ocupação", insistiu o presidente sírio, acrescentando: "não há grande diferença entre apoiar o terrorismo e empregar militares para ocupar um país.”
Apelidada de Operação Chammal, o destacamento francês deveria, oficialmente, realizar voos de reconhecimento e apoiar combatentes curdos e árabes na Síria. Os ativos da França no Oriente Médio incluíam um grupo de ataque do porta-aviões Charles de Gaulle, um esquadrão de aviões de caça e várias unidades de fuzileiros no solo.
A informação foi confirmada pelos avanços do exército sírio na província de Idlib, no norte. As tropas agora estão tentando abrir caminho para as últimas cidades controladas por militantes ao longo da estratégica estrada Damasco-Aleppo.
Enquanto os combates continuam, Assad disse que a Síria pode lidar com a guerra sem qualquer apoio do Ocidente. "Podemos gerenciar nosso próprio país... Mas queremos voltar a uma ordem mundial que não é mais respeitada, porque o caos reina" , concluiu.

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com Russian Today
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quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Armas Houthis - Mais que apenas AKs e RPGs

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Na madrugada de sábado (14), um ataque bastante ousado e eficiente abalou o mundo, duas das principais instalações da ARAMCO, uma petrolífera saudita que figura entre as maiores do mundo, foram destruídas pelo que foi inicialmente descrito como sendo um ataque de drones dos Houthis, insurgentes muçulmanos xiitas que controlam parte do Iêmen, e atualmente a principal facção da terrível guerra civil que assola o país desde 2015 e que já causou a morte de dezenas de milhares de pessoas, incluindo um grande número de civis, além de milhões de refugiados.

A Arábia Saudita (muçulmanos sunitas) é um dos países envolvidos neste sangrento conflito; os Houthis são apoiados pelo Irã (também muçulmanos xiitas). Vários outros países estão envolvidos neste conflito, à semelhança da Guerra Civil da Síria.

Não vamos aqui debater a origem dos ataques, que ainda não foi oficialmente confirmada. Além dos próprios Houthis (que alegam serem os autores da ação), suspeitas também recaem sobre milícias iraquianas e sobre o próprio Irã.

Neste texto, vamos discorrer sobre algumas das armas dos Houthis. Por incrível que possa parecer, eles têm armas tão ou mais sofisticadas do que as disponíveis a muitos exércitos. O que lhes falta, no momento, são Forças Aéreas e navais dignas de nota, o que não os impede de possuir sistemas A2AD (Anti-Acesso / Negação de Área) também nestes dois domínios.

Ao contrário dos sauditas e aliados como os Emirados Árabes Unidos, que vêm demonstrando uma incapacidade quase patológica em termos de obter o máximo potencial de suas armas extremamente avançadas, os Houthis tem, vez após vez, obtido sucessos impressionantes com suas armas consideravelmente menos modernas que as da coalizão árabe.




CLASSES DE ARMAS

Reforçando o que foi afirmado anteriormente, os Houthis não dispõe de uma Força Aérea ou de uma Marinha propriamente ditas, mas tem um Exército muito bem organizado.

Além das armas leves e improvisadas, as armas dos Houthis podem ser classificadas em:

  • Drones (VANT / UAV: Veículos Aéreos Não Tripulados ou ARP / RPA: Aeronaves Remotamente Pilotadas) de várias categorias, usados principalmente em missões de reconhecimento e ‘drones suicidas’, que carregam uma carga explosiva e que fazem uma missão suicida, detonando sobre um alvo de interesse, de maneira similar a mísseis de cruzeiro
  • Mísseis balísticos táticos (TBM)
  • Mísseis de cruzeiro de ataque a alvos em terra (LACM)
  • Mísseis de cruzeiro anti-navio (ASCM)
  • Mísseis superfície-ar (SAM)
  • Mísseis guiados anti-tanque (ATGM)

Neste artigo vamos comentar sobre algumas delas, já que nem todas são conhecidas. Outro ponto a se lembrar é que muitas das armas foram ‘herdadas’ das FFAA (Forças Armadas) iemenitas. De uma forma ou de outra, boa parte das informações disponíveis vem de fontes pouco confiáveis e até contraditórias, então por favor lembre-se disto ao analisar as informações.

É interessante notar também que boa parte destas armas são as mesmas, ou bastante parecidas, com aquelas usadas pelo Irã ou seus ‘proxies’ (‘procuradores’) como o Hizballah. Os Houthis são também um proxy importante para o Irã.

DRONES

Além dos diversos drones comerciais (‘tipo DJI’) que praticamente qualquer pessoa pode comprar nos dias de hoje, os Houthis utilizam drones militares iranianos e outros que foram ‘herdados’ das FFAA iemenitas.

Os ‘drones suicidas’ são muito similares a mísseis de cruzeiro em muitos aspectos, e a distinção entre as categorias é mais acadêmica que baseada em outros fatores.

A suspeita de que alguns destes drones foram utilizados para atacar a ARAMCO é difícil de sustentar, já que os drones dos Houthis são de alcance relativamente curto, e o principal reduto Houthi ao redor de Sanaa, capital do Iêmen, fica a mais de 1000 km das instalações atacadas recentemente.




HESA ABABIL

Um UAV Ababil do Hizballah em exposição em seu museu em Mleeta, Lebanon. (obs: descrito na placa como sendo o drone"Mirsad-1".) Frode Bjorshol/Wikimedia Commons

O Ababil (‘engolir’) é fabricado pela HESA do Irã. Disponível em diversos modelos, é usado primordialmente para reconhecimento, mas seu derivado Qasef 2K é um drone suicida, com uma ogiva que detona a uma altura de 20 m.

É um drone relativamente pequeno, com um alcance da ordem de 100 km, e que tem sido intensamente utilizado em locais mais próximos a áreas controladas pelos Houthis; um Qasef 2K foi utilizado em um ataque contra a Base Aérea de Al Anad, na fronteira entre Arábia Saudita e Iêmen.

Outras versões deste drone podem ter alcances maiores, mas é improvável que chequem aos mais de 1.000 km necessários para os ataques.




AEROVIRONMENT RQ-11 RAVEN

O Sgt. Dane Phelps, do 2º Batalhão, 27º Regimento de Infantaria, 25ª Divisão de Infantaria, se prepara prepares para lançar o UAV Raven durante uma operação conjunta de busca entre EUA e Iraqy na província iraquiana de Patika, em 22/11/2006. Sgt. 1st Class Michael Guillory, US Army

O AeroVironment RQ-11 Raven, um pequeno drone lançado manualmente, é conhecido como ‘Raqeep’ entre os rebeldes. Eles ‘herdaram’ os drones das FFAA iemenitas, que tinham comprado dos EUA.

É muito pequeno e portátil, é de uso fácil por tropas a pé. O bom uso deste drone garante vantagens consideráveis a tropas equipadas com eles.Seu alcance chega a 10 km.




MÍSSEIS BALÍSTICOS TÁTICOS (TBM)

Além de mísseis ‘herdados’ das FFAA, os Houthis adaptaram alguns mísseis para uso como TBM. Os Houthis tem sido muito eficientes nos usos de TBM, atacando inclusive Riad, capital da Arábia Saudita.

Os TBM tem a vantagem de uma enorme velocidade terminal, que dificulta sua interceptação, mas tem a desvantagem que sua trajetória e altitude de voo facilitam sua detecção.

KOLOMNA OTR-21 TOCHKA (Nome OTAN: SS-21 Scarab)

Sistemas de mísseis Tochka-U no ensaio do desfile em Ecaterimburgo. Foto de Vladislav Fal'shivomonetchik, CC BY-SA 3.0

O OTR-21 Tochka é um TBM móvel, lançado a partir de TEL (Transportador-Eretor-Lançador), desenvolvido pela URSS na década de 1970, e amplamente usado em guerras ao redor do mundo.

O alcance, conforme a versão, varia entre 70 a 185 km. Carrega uma ogiva de 500 kg, conforme a versão, e pesa em torno de 2 toneladas, o que o torna de fácil locomoção. Seu motor foguete de combustível sólido lhe garante um tempo de pré-lançamento quase nulo, tornando-o bastante eficiente para ataques surpresa.

Há suspeitas de que os Houthis já utilizaram todos os Tochka ‘herdados’ das FFAA iemenitas.




KOROLYEV R-11 ZEMLYA / R-17 ELBRUS (OTAN: SS-1 Scud)

Míssil SS-1 Scud no seu veículo TEL MAZ-543P, Museu nacional de História Militar, Bulgária. David Holt, CC BY-SA 2.0

Os SS-1 Scud, em suas diversas versões, derivados e cópias, são presença frequente em guerras ao redor do mundo desde sua introdução nos anos 1950.

Ao que parece, além dos próprios Scud, os Houthis também usam derivados e cópias como o Hwasong, Qiam e Borkan. Embora as versões mais antigas tenham um CEP (Erro Circular Provável, vulgarmente chamado de ‘precisão’) limitado a centenas de metros, o que não era problema com a ogiva nuclear.

As versões e derivados mais recentes (como o Qiam  iraniano) podem acrescentar outros modos de guiagem ao INS (Sistema de Navegação Inercial) utilizado nos mísseis originais e em derivados mais simples. O Scud-D, além de ser um míssil de dois estágios, também pode receber um sistema de guiagem próprio, melhorando consideravelmente o CEP, que pode chegar a 50 m, ou a 10 m no Qiam.

Apesar de antigo, o alcance superior a 700 km de algumas versões do Qiam lhe posibilitam atingir Riad, que fica a cerca de 720 km da fronteira com o Iêmen. Além disso, a enorme ogiva dos Scud, que pode chegar a 1 tonelada, que lhe possibilita causar enormes estragos.

Suspeita-se que a tentativa de atingir Riad em 04/11/2017 utilizou um Qiam, mas o míssil foi abatido por um Patriot, e não chegou a atingir nenhum alvo.

Uma desvantagem dos Scud é que são movidos por um motor foguete a combustível líquido que, por sua natureza tóxica / corrosiva só pode ser abastecido no míssil pouco antes do lançamento. Foi durante o abastecimento que a maioria dos Scud do Iraque foram destruídos na Guerra do Golfo. Entretanto, assim que dispara o míssil, o TEL pode evadir a área de lançamento muito rapidamente.

É um míssil muito maior e mais pesado que o Tochka, mas seus maiores alcance e carga explosiva o tornam uma arma bastante útil.

Além dos Houthis, o Hizballah também tem alguns destes mísseis, mas até o momento não o utilizaram contra Israel.

Não se suspeita destes mísseis no ataque à ARAMCO, pois o alcance é insuficiente.




Nome código OTAN
Scud-A
Scud-B
Scud-C
Scud-D
Qiam 1*
Entrada em serviço
1957
1964
1965
1989
2010
Comprimento
10,70 m
11,25 m
11,25 m
12,29 m
11,50 m
Diâmetro
88 cm
88 cm
88 cm
88 cm
88 cm
Peso inicial
4.400 kg
5.900 kg
6.400 kg
6.500 kg
6.155 kg
Alcance
180 km
300 km
600 km
700 km
750 km
Carga útil
950 kg
985 kg
600 kg
985 kg
750 kg
‘Precisão’ (CEP)
3.000 m
450 m
700 m
50 m
10 m
*O Qiam 1 ainda não tem nome código da OTAN


QAHER

Um míssil superfície-ar SA-2 egípcio durante o exercício conjunto multinacional joint Bright Star '85 (Staff Sgt. David Nolan), domínio público

Os sistemas mísseis superfície-ar (SAM) soviéticos S-75 Dvina (OTAN: SA-2 Guideline) são obsoletos já faz um bom tempo, além de não serem móveis (o que os torna bastante vulneráveis), mas os mísseis S-750 continuam sendo grandes e potentes.

Os houthis adaptaram estes mísseis para uso como TBM, com alcance de 250 km, e os denominaram Qaher. Tem 11 m de comprimento, e carregam uma ogiva de cerca de 200 kg.




MÍSSEIS DE CRUZEIRO DE ATAQUE A ALVOS EM TERRA (LACM)

Os LACM são, de certa forma, o oposto dos TBM - voam a baixa altitude e a velocidade subsônica, e aproveitam este perfil de voo para dificultar ao máximo sua detecção. Para dificultar mais ainda o trabalho das defesas, muitos LACM tem a capacidade de voar rotas pré-programadas e complexas, o que significa que podem ‘dar voltas’ até mesmo ao redor de montanhas, ao contrário dos TBM, cuja trajetória simples facilita muito o trabalho de descobrir o ponto de lançamento.

Conforme os acontecimentos recentes mostraram, a Arábia Saudita é mais eficiente combatendo TBM do que LACM, e isso não é nenhuma surpresa - um bom LACM, com um perfil de lançamento e voo bem planejados, realmente é bem difícil de conter.


QUDS-1

LACM Quds-1, principal suspeito do ataque à ARAMCO, durante exibição pelo Escritório de Imprensa Houthi, em data não especificada; esta foto foi repassada à Reuters, que a publicou

Suspeita-se que o Quds-1 seja apenas uma cópia do Soumar iraniano (por sua vez uma cópia dos Kh-55 ex-ucranianos), ou então uma versão derivada do mesmo.

Há poucas informações disponíveis sobre o míssil, mas destroços recolhidos na Arábia Saudita não deixam dúvidas que ele foi utilizado no ataque, só não se sabe ainda se em conjunto com outras armas, nem de onde foram lançados. Além do Soumar e do Quds, há também outros derivados do Kh-55, como o Hoveyzeh e o Meshkat, e é muito difícil diferenciar estes modelos apenas por fotos.

Em comum com o Kh-55, os iranianos alegam o alcance superior a 2000 km e a ogiva de 400 kg ou maior. Embora seja difícil comprovar ou desmentir tais afirmações, é inegável que tais capacidades estão dentro das possibilidades do Irã, cujo parque aeronáutico é relativamente bem desenvolvido.

Ademais, o perfil de voo a baixa altitude e através de rotas complexas dificulta bastante o trabalho de determinação do ponto de lançamento. Junte-se isto ao enorme alcance dos mísseis e o resultado é que eles podem ter sido lançados de boa parte do território da Síria, do Iraque, do Irã ou do Iêmen e ainda assim teriam a possibilidade de atingir as instalações da ARAMCO.




MÍSSEIS DE CRUZEIRO ANTI-NAVIO (ASCM)

O Iêmen fica num lugar bastante estratégico, na junção do Mar da Arábia e do Mar Vermelho, incluindo aí o Estreito de Bab el Mandeb, de passagem obrigatória para quem queira utilizar o Canal de Suez para acessar o Golfo Pérsico.

Tal localização faz com que o país seja um local excelente para o lançamento de ASCM. E, de fato, os Houthis atacaram navios com tais armas.




AL MANDAB 1

O al Mandab 1 é basicamente o míssil chinês C-801 (OTAN: CSS-N-4 Sardine), que por sua vez é uma cópia do Exocet MM-38. A partir do C-801, a China desenvolveu outros mísseis, mas até o momento não há provas de que os Houthis utilizaram algum deles que não o al Mandab.

Considerando-se que o estreito homônimo tem uma largura entre os 26 e 50 km, o alcance de 42 km é o bastante para colocar praticamente todo o Estreito sob ameaça, especialmente se o lançador sobre um caminhão estiver em locais como a Península de Ras Menheli ou a Ilha Perim. A ogiva do míssil é equivalente à do Exocet, ou seja, 165 kg, grande o bastante para causar grandes estragos.




MÍSSEIS SUPERFÍCIE-AR (SAM)

Poucos vetores são mais importantes na guerra moderna que as aeronaves. Os Houthis contam com diversos SAM, alguns deles adaptados a partir de mísseis ar-ar capturados da Força Aérea do Iêmen.

Todos eles são bastante móveis, o que dificulta bastante sua destruição. Várias aeronaves da Coalizão Árabe já foram atingidos por estes SAM, o que mostra que os Houthis são muito bem treinados no seu uso.

Ao que parece, os Houthis valorizam bastante a guiagem por infravermelhos; por serem passivos, tais sensores não emitem alertas para os alvos antes do lançamento.




KOLOMNA 9K32 STRELA-2 / 9K338 IGLA-S (OTAN: SA-7 GRAIL / SA-24 GRINCH)

Igla-S
O Strela-2 e o Igla-S são dois dos membros mais ilustres e numerosos da família de MANPADS (SAM portáteis) soviéticos Strela, que entrou em serviço na década de 1960 e foram amplamente exportados. Embora similares externamente, ambos são bastante diferentes internamente, com o Igla sendo consideravelmente mais avançado e resistente a ECM (Contra-Medidas Eletrônicas), como os flares.

A similaridade externa leva a uma grande confusão em termos de versões, portanto vamos supor aqui que falamos do Strela-2 e do Igla-S, e não de outras versões. O míssil mais moderno da família é o 9K333 Verba, mas até o momento ele não foi encontrado no Iêmen.

Ambos são mísseis leves, com o conjunto completo pesando entre 15-20 kg. Os mísseis tem um teto de serviço da ordem de 1500-3500 m e alcance máximo da ordem de 3700-6000 m, atingindo seus alvos com ogivas de 1,15-3,5 kg e a Mach 2.

Embora seus alcances e velocidades não sejam tão impressionantes quanto o de outros SAM, deve-se lembrar que, uma vez que o alvo esteja em seu envelope, o tempo de voo é extremamente curto, por vezes inferior a 10 segundos; a baixa altitude e/ou velocidade do alvo no momento do impacto dão poucas opções ao piloto. Com isto, o tempo de reação é muito reduzido, e os MANPADS tem feito muitas vítimas em conflitos recentes.




OKB-16 9K31 STRELA-1 (OTAN: SA-9 Gaskin)

Inicialmente, o Strela-1 deveria fazer parte da família Strela de MANPADS, mas suas dimensões e pesos o tornavam mais adequado a um uso em um veículo. Desta forma, o míssil foi montado em veículo baseado no BDRM-2, com um radar de curto alcance, e carregando 4 mísseis. Entrou em serviço também na década de 1960, e também foi muito exportado.

O míssil pesa 32 kg e carrega uma ogiva de 2,6 kg. As fontes são um tanto confusas em termos de desempenho, mas sugere-se um alcance de 8 km e um teto de 3500 m, com uma velocidade de Mach 1,8, ou seja, mais ou menos o mesmo desempenho de um Igla-S 40 anos mais recente.

As mesmas observações se aplicam - apesar do desempenho limitado, um alvo em seu envelope dificilmente conseguirá reagir a tempo.




VYMPEL R-60M (OTAN: AA-8 Aphid)

Os Houthis não tem uma Força Aérea, então os AAM (mísseis ar-ar) capturados foram convertidos para uso como SAM, não muito diferente do que os EUA fizeram ao converter o AIM-9 Sidewinder em MIM-72 Chaparral.

Embora os dados para o R-60M como SAM não estejam disponíveis, baseando-se na redução de desempenho de outros mísseis ao ser usado nesta função ao invés de AAM, é de se supor que terá um desempenho semelhante ao Strela-1, ou seja, um alcance máximo em torno de 8 km e um teto máximo em torno de 4 km. Sua ogiva é de 3 kg.

Foi aposentado pelo R-73, mas grandes estoques do míssil ainda se encontram espalhados em diversos países, principalmente para uso em treinamento.




VYMPEL R-73 (OTAN: AA-11 Archer)

O R-73 surgiu com um novo conceito de míssil de incrível agilidade, e com desempenho bastante superior ao do R-60, que ele substituiu na URSS. Há diversas versões do míssil, e as fontes não indicam qual delas está em serviço com os Houthis, então vamos supor que é a versão básica.

Considerando-se que mesmo o AAM R-73 básico tem desempenho bastante superior ao R-60, mas é difícil saber quanto deste desempenho vai aparecer na função SAM. Ele tem uma ogiva de 7,4 kg e velocidade máxima de Mach 2,5. Supor um alcance / teto máximos da ordem de 10-20 km (equivalente ao Sea Sparrow) é bastante razoável.




VYMPEL R-27T (OTAN: AA-10 Alamo-B)

O R-27 foi lançado como um complemento mais pesado e mais veloz do R-73, mas sem a mesma agilidade. Seu alcance é parecido com o do R-73, mas sua velocidade máxima é de Mach 4,5 e a ogiva é de 39 kg, o que significa que uma aeronave, por maior que seja, teria poucas chances de sobreviver a um impacto deste míssil.

Além disso, sua grande velocidade, mais o fato de ser guiado por infravermelhos (como todos os anteriores), significa que os sistemas de alerta dos alvos terão pouca chance de detectá-lo antes que seja tarde demais.




MÍSSEIS GUIADOS ANTI-TANQUE (ATGM)

Insurgentes, via de regra, não dispõe de MBT (Carros de Combate, CC, ‘tanques’), o que significa que precisam de um meio para neutralizá-los com eficiência, e os ATGM são essenciais para isto.




KOLOMNA 9M14 Malyutka (OTAN: AT-3 Sagger)

O Malyutka foi o primeiro ATGM soviético, e foi produzido em enormes quantidades, além de fabricado (com ou sem licenças) por diversos países. Foi usado em inúmeros conflitos ao redor do mundo e, embora seja obsoleto para uso contra os MBT mais modernos, continua sendo bastante eficiente contra veículos menos blindados, casamatas e outros alvos em campo de batalha. O Irã fabricou um derivado do Malyutka, o Raad.

A versão inicial era dependente de guiagem manual CLOS (Comando à Linha de Visão), mas versões mais recentes são mais automatizadas. A velocidade é relativamente baixa (abaixo de 500 km/h), com ogivas relativamente pequenas (2,6-3,5 kg) mas o alcance efetivo é relativamente bom (500-3.000 m), e é praticamente imune a ECM (embora atingir o lançador seja eficiente no sentido de quebrar a guiagem).

Além do baixo custo e ampla disponibilidade, o Malyutka é bastante compacto, com o conjunto completo pesando em torno de 30 kg e tendo cerca de 1 m de comprimento. Tal compacidade lhe garante uma grande mobilidade, mesmo se empregado por tropas a pé, e como tal segue em uso ao redor do mundo.




TULA 9K111 FAGOT (OTAN: AT-4 Spigot)

O 9K111 Fagot representa a próxima geração de mísseis soviéticos do tipo CLOS guiado por fios. É menor que o Malyutka, mas sendo 10 anos mais novo consegue igualar sua performance. A velocidade varia entre 290-670 km/h, com ogiva de 1,7 kg, e alcance de 70-2500 m, o que o torna ainda mais adequado que o Malyutka para guerra urbana.

É obsoleto contra MBT atuais, mas continua eficaz contra outros alvos no campo de batalha.




TULA 9M113 KONKURS (OTAN: AT-5 Spandrel)

O 9M113 Konkurs foi desenvolvido lado a lado com o Fagot, mas é maior, mais pesado e mais potente, sendo por isso geralmente utilizado a partir de veículos. Foi construído sob licença no Irã com o nome Tosan-1.

Alcance efetivo 70 m - 4 km, velocidade de 750 km/h, ogiva de 2,7 kg. Como seu calibre é maior que do Fagot, é também mais eficiente contra MBT, e com exceção de blindados relativamente recentes, ainda é bastante letal; mesmo blindados mais recentes podem ser destruídos pelo Konkurs caso atingidos por trás. Também tem guiagem por fios tipo CLOS.




9K115 METIS (OTAN: AT-7 Saxhorn) E 9K115-2 METIS-M (OTAN: AT-13 Saxhorn 2)

O 9K115 Metis e o 9K115-2 Metis-M são bastante parecidos externamente, embora o Metis-M tenha um diâmetro maior (130 mm contra 94 mm do Metis), o que lhe garante maior eficiência contra MBT.

Mais um míssil soviético CLOS guiado por fios, o Metis tem um alcance de 40-1000 m, peso de míssil de 6,5 kg e velocidade de 720 km/h. O Metis-M tem um alcance de 80-2000 m, peso de 13 kg e a mesma velocidade de 720 km/h. A grande vantagem do Metis-M, além do alcance, é a maior eficiência contra blindagens, podendo derrotar blindagens de até 1.000 mm de RHA, contra 500 mm de RHA do Metis.

Ou seja, mesmo blindados modernos podem ser derrotados pelo Metis-M em algumas situações, até mesmo frontalmente.




KBP 9M133 KORNET (OTAN: AT-14 Spriggan)

O Kornet é um dos mais modernos e letais ATGM disponíveis no mercado. Também tem guiagem CLOS, mas por laser (Laser Beam Rider). O Irã produziu-o sob licença como Delavieh.

Devido ao elevado custo, não chegou a substituir completamente o Konkurs e o Metis-M, mas seu desempenho é superior em todos os aspectos. A velocidade varia entre 900-1200 km/h, a ogiva de 4,5 kg lhe permite derrotar blindagens RHA de até 1.300 mm, mesmo em blindados com proteção ERA (Blindagem Reativa Explosiva). Estima-se que nenhum blindado é capaz de sobreviver ao Kornet, mesmo em impactos frontais, especialmente contra as versões mais modernas, a menos que utilize proteção reativa como o Trophy israelense.




RAYTHEON M47 DRAGON

O M47 Dragon é um míssil CLOS guiado por fios, assim como o Konkurs, e tem desempenho semelhante, exceto pelo alcance bastante menor, no máximo até 1.000 m.

O Irã comprou tais mísseis antes da Revolução Islâmica, e produz um derivado dele, o Saeghe-1.





TOOPHAN

O Irã foi um dos primeiros países a adquirir o BGM-71 TOW dos EUA (também CLOS guiado por fios), já em 1971, mas a Revolução Islâmica de 1979 e a subsequente Guerra Irã-Iraque (1980-1988) rapidamente exauriram os estoques do míssil.

Como o Iraque era um grande operador de MBT, o Irã acabou por criar o Toophan por engenharia reversa. O míssil hoje é um projeto genuinamente iraniano, e algumas versões, como o Toophan 5, inclusive dispõem de guiagem laser beam riding, coisa que nenhum TOW tem.

A versão encontrada com os Houthis, já desde 2015, é o Toophan 4, que emprega uma ogiva termobárica (anti-estrutura e não anti-tanque), mas outras versões (como o Toophan 2M) podem derrotar até 900 mm de blindagem RHA.




CONCLUSÃO




Como se pode ver, os Houthis dispõe de armas bastante avançadas, e muitas delas seriam mais que bem-vindas até mesmo em exércitos regulares.

Mais importante que os armamentos, entretanto, é o fato que os Houthis são bastante aguerridos, e também estão mostrando ser muito bem treinados. Com isso, eles têm obtido vitórias significativas contra inimigos muito melhor equipados, mostrando mais uma vez que os equipamentos, por si só, não são o bastante para vencer uma guerra.



Por: Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico, trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel), estreante no GBN Defense News.




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FONTES


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