Nos últimos 50 anos, o encontro na capital da Baviera se tornou um dos mais importantes fóruns sobre segurança no mundo. Ministro das Relações Exteriores brasileiro irá discursar pela primeira vez em Munique.
Concebida no meio da Guerra Fria, em 1963, como uma reunião dos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com foco claro no conflito Leste-Oeste, a Conferência sobre Segurança de Munique sobreviveu a várias mudanças.
Após a queda do Muro de Berlim, o fórum foi aberto primeiramente para os Estados da Europa Central e Oriental, como também para a antiga União Soviética. Em seguida, o foco dos debates em Munique dirigiu-se cada vez mais para a Ásia. Atualmente, a conferência reflete a política de segurança e a globalização mundial.
Pela primeira vez, o Brasil terá voz no encontro. O ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, vai discursar no próximo sábado (02/02) na 49ª Conferência sobre Segurança de Munique. Segundo a Agência Brasil, o ministro deverá defender que a segurança mundial depende da associação de uma série de fatores, como a garantia de alimentos, o controle e a redução de armas de fogo e incentivos à energia sustentável.
De defesa militar a segurança internacional
Além de potências emergentes como o Brasil, a China e a Índia, entre 1° e 3 de fevereiro, também países africanos vão estar representados entre os quase 400 delegados de mais de 70 nações. Além disso, não somente políticos, mas também líderes do setor econômico e representantes de ONGs estarão presentes na Baviera.
"A Conferência sobre Segurança de Munique tornou-se um barômetro para indicar a mudança da política de segurança no século 21. Além dos campos 'clássicos' da política de segurança, o encontro incorpora na agenda cada vez mais também temas 'leves', como as mudanças climáticas ou a cibersegurança", assim descreveu o presidente da Conferência, Wolfgang Ischinger, as pretensões do encontro.
Nada ilustra melhor essa mudança que o nome dado ao encontro desde a sua criação. Denominada durante a Guerra Fria como Wehrkundentagung (algo como jornada de defesa militar, em tradução livre), hoje, a sigla oficial MSC corresponde a Munich Security Conference, ou Conferência sobre Segurança de Munique.
O retorno de Biden
E apesar de inúmeras outras conferências internacionais com amplo espectro de temas, mais do que nunca, existe a necessidade de troca de pontos de vista sobre a política de segurança. "A procura neste ano é bastante grande", sublinhou Ischinger. Segundo Ischinger, o participante mais proeminente é o vice-presidente norte-americano, Joe Biden, que já em 2009 esteve presente em Munique, discursando sobre a relação com a Rússia.
Além do ministro das Relações Exteriores brasileiro, outra novata em Munique será a promotora-chefe do Tribunal Penal Internacional, a gambiana Fatou Bensouda. De acordo com Ischinger, os principais temas da conferência deste ano serão a questão do Mali e da Síria, como também a relação com o Irã.
Ischinger rebate os críticos que veem o encontro como um fórum não legítimo de tomada de decisões pela política e pela indústria de armamentos, dizendo que eles não querem reconhecer a atual realidade do evento. "Não há nada melhor que manter viva uma velha imagem ameaçadora e empregar estereótipos antiquados. O fato é: a conferência aborda o desarmamento, a prevenção de crises e guerras e debate atualmente questões importantes da política internacional juntamente com representantes de ONGs como Human Rights Watch ou Greenpeace e ganhadores do Prêmio Nobel da Paz."
Intercâmbio sem medo
James Davis, professor de política internacional na Universidade St. Gallen, concorda com a avaliação de Ischinger. "A conferência proporciona a possibilidade única de discutir num só lugar as ameaças à segurança internacional com representantes de todos os Estados interessados, organizações internacionais, como também ONGs. Como cientista, ela me oferece um acesso inusitado aos tomadores de decisão do mundo todo."
Além disso, disse Davis, nenhuma decisão é tomada na conferência. Pelo contrário, o encontro oferece aos participantes a possibilidade de discutir novas abordagens ou temas em contexto não oficial. "Representantes governamentais podem ali testar ideias – soltar balões experimentais – sem passar vergonha, caso eles não levantem voo", afirmou o professor.
O que faz a Conferência sobre Segurança de Munique algo especial, enfatizou Davis, é que ela proporciona o encontro de pessoas, que de outra forma se evitariam. Em que outro lugar um senador norte-americano poderia tomar um café e conversar com um membro do governo iraniano?
Fonte: Deutsche Welle