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sábado, 5 de outubro de 2013

A ameça subversiva no cenário geopolítico

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O inicio deste novo século continua nos apresentando um cenário complexo e de muitas incertezas, quer no campo internacional, quer nas políticas internas dos estados soberanos. Seja pelo fim das ameaças identificadas e definidas, como foi o caso das guerras mundiais e guerra fria, quer seja pelas ameaças internas nos estados promovidas por grupos separatistas identificados.  Passamos a acompanhar o surgimento de novas fontes de atrito e ameaças a estabilidade mundial, antes comprimida pela mão de ferro do estado soberano, que hoje diante do fim dos conflitos interestatais que levavam a humanidade ao temor de uma guerra nuclear, o fim da relativa estabilidade econômica mundial, a crise de governança dentro de diversos estados soberanos e o surgimento do fenômeno mundial dos movimentos radicais revolucionários, de cunho religioso ou político, somando-se a estes a ameaça do terrorismo transnacional.

 

A “globalização” levou á uma crise relativa ao papel do Estado Soberano diante das questões sócio-econômicas, com as políticas mais flexíveis em relação a abertura de fronteiras e o aumento do transito de pessoas e bens de um estado a outro, tem levado a uma crise em relação a identidade nacional e a crise econômica em diversos países, gerando movimentos internos xenófobos e protecionistas, bem como servindo aos interesses de movimentos subversivos de diversas vertentes.

 

O novo cenário com o qual nos deparamos no mundo hoje é preocupante, quer pelo seu alcance, quer pela sua complexidade e violência. Assistimos a uma crise de poder, onde os Estados tem se deparado com agentes subversivos apoiados por interesses escusos ou políticos internacionais. Gerando conflitos violentos que não seguem as regras típicas da concepção clausewitziana da guerra. Originando um cenário assimétrico de extrema violência, sem origem clara e que se torna um ponto de incertezas.

 

Hoje no mundo há diversos conflitos neste molde em andamento, o mais nítido destes esta ocorrendo hoje na Síria e já vem há dois anos, sem perspectiva de uma solução final sobre a questão, e que tem envolvido e muito a comunidade internacional diante do flagelo causado pelo conflito, tendo sido utilizado ate mesmo armas químicas, onde a autoria ainda não esta identificada, havendo acusações de ambos os lados sobre a autoria do uso destas armas.

 

A agora generalizadamente chamada subversão e guerra subversiva, são fenômenos cuja origem se perde na História, tendo sido teorizados desde a Antiguidade por pensadores como T´ai Kung e Sun Tzu, surgindo as primeiras análises sistemáticas apenas na segunda metade do século XVIII, com Jean de Folard e Augustin Grandmaison, no século XIX, com Le Mière de Corvey, Carl Von Clausewitz, Marechal Lyautey e, no século XX, com Lettow-Vorbeck, Thomas Edward Lawrence, Mao Tse Tung, Nguyen Giap e Amílcar Cabral, entre tantos outros.

 

São inúmeros os conceitos que podemos encontrar para a definição de subversão, todos eles referindo uma intenção de alteração da ordem e do Poder vigentes, ou mesmo a sua conquista. Nós podemos definir como uma técnica de “assalto” ou de corrosão dos poderes formais, para cercear a capacidade de reação, diminuir e/ou desgastar e pôr em causa o Poder em exercício, mas nem sempre visando a tomada do mesmo”.

 

Existe uma confusão frequente entre o conceito de subversão e o de guerra subversiva. A subversão, como aqui a defini, nem sempre conduz à guerra subversiva, mas temos por certo que a antecede ou que a acompanha. Esta é a mais hábil e sofisticada forma de conflito e consiste numa luta conduzida no interior de um dado território, por uma parte dos seus habitantes, ajudados e reforçados ou não por um poder externo, contra as autoridades de direito ou de fato estabelecidas, com a finalidade de lhes retirar o controle desse território ou paralisar a sua ação.

 

A guerra subversiva, que se inicia antes de se evidenciarem as suas manifestações violentas, subordina-se, em regra, a uma ideologia política de um grupo organizado, que atua conscientemente, com planejamento, preparação e conduta na atuação contra o Poder estabelecido (legítimo ou de ocupação), não sendo uma ação espontânea e descoordenada da população. Os meios (violentos ou não, legais ou não) para a levarem a cabo são avaliados pela eficácia, levando em consideração a população e o seu centro de gravidade.

 

Na diferente literatura especializada é freqüente o uso de expressões que podem ser confundidos com os conceitos de subversão e guerra subversiva ao qual abordo aqui neste artigo. Podemos relacionar as seguintes expressões: guerra revolucionária, guerra insurrecional e guerrilha.

 

Segundo Franco Pinheiro, a guerra revolucionária, incorpora alguns conceitos da guerra subversiva, caracteriza-se por ser conduzida nos pressupostos do marxismo-leninismo e pretender, em última análise, a implantação do comunismo, utilizando uma amplitude de meios e processos que vão da guerra convencional à guerra subversiva. Podendo ainda se valer do uso de estratégias de agitação/propaganda. A guerra revolucionária significa igualmente a transformação da luta em revolução, já que uma vez destruída a sociedade velha, através de um sistema de educação revolucionária, emergirá uma “nova nação”.

 

A guerra insurrecional confunde-se com o conceito de guerra interna, sendo “uma luta armada com caráter político, levada a efeito num dado país, contra o poder político constituído”. De acordo com esta definição, diferencia-se da guerra subversiva por não ser conduzida obrigatoriamente pela população civil, mas em geral por forças para-militares e milícias.

 

O conceito de guerrilha corresponde a uma tática de levar a cabo a subversão armada que emprega determinado tipo de meios e processos restritos, na realização de operações militares. A guerra subversiva trava-se, em regra, no plano militar, sob a forma de guerrilhas.

 

É bem oportuno esclarecer que inserir a subversão num conceito mais amplo e abrangente, integrando diversos conceitos, razão pela qual vou me referir indistintamente aos conceitos de guerra subversiva, guerra revolucionária e guerra insurrecional, devido ao fato de ambos conceitos se desenvolverem em um ambiente subversivo, empregando técnicas comuns para obter o controle político do Estado ou simplesmente levando ao desgaste o Poder instituído.

 

As guerras subversivas combinam diversas formas de emprego da violência (seja ela militar, seja valendo-se de movimentos populares, passando pela pressão econômica e pela pressão imposta pela sociedade manobrada por propagandismo), trata-se do conceito apresentado de guerra política expressa por Paul Smith, ou, mesmo seguindo a linha clausewitziana dando continuidade política por outros meios, uma vez que através de uma estratégia complexa, pretende em última análise a implantação de um novo sistema político ou o desgaste do Poder constituído, levando a uma guerra prolongada e de esgotamento da ordem constituída. Isto significa que recorrem a outros meios, para além dos políticos, para alcançarem os objetivos políticos pretendidos.

 

Os fenômenos da subversão e contra-subversão obedecem a estratégias de atuação globais ou regionais, que visam sempre o Poder, carecendo assim, para a sua análise, de uma abordagem holística. Diante de tudo que apresentado até aqui, podemos afirmar que a subversão é um fenômeno político intemporal que atenta contra a soberania dos Estados, mesmo que esta modifique seu caráter operacional e se adapta a cada caso, assumindo hoje formas qualitativamente novas em conseqüência de diversos fatores que caracterizam o sistema internacional e as sociedades políticas, bem como as suas inter-relações e os meios de propagação desta, hoje valendo-se muito da facilidade do trafego de informações através das redes sociais.

 

Nesta ordem de idéias, a subversão na atualidade, pode ser classificada em três grandes tipologias, oportunista, popular e/ou global, manifesta-se devido a fenômenos como: a aglomeração, o recrudescimento dos nacionalismos, as mudanças civilizacionais em diversas sociedades ou no confronto entre elas, o crime organizado, o terrorismo transnacional, a forma clássica da luta de libertação e ideológica, ou através da tradicional resistência à ocupação territorial. Estas motivações podem ser alternativas ou cumulativas, encontrando a sua expressão mais violenta nas designadas guerras de quarta geração. Estas guerras são todas irregulares, sem regras, sem princípios, sem frente ou retaguarda, onde os objetivos são fluidos, no entendimento de que a única legitimidade é o exercício, tendo como maiores vítimas as populações.

 

Partindo do princípio de que qualquer resposta contra-subversiva deve ser contextualizada no espaço e tempo próprios e ser equacionada para fazer face à tipologia subversiva identificada, idealizamos um modelo de análise que tem por base os principais atores do fenômeno subversivo (a população, as forças de subversão, as forças de contra-subversão e a comunidade internacional), todos eles relacionam-se e se condicionam de uma forma dinâmica. Sobre os mesmos aplicamos diversos processos e técnicas, cuja combinação, integração e coordenação formam a manobra contra-subversiva, que assenta numa estratégia total, ao nível interno e externo, direta e indireta, carecendo de uma coordenação muito estreita de cinco manobras: político-diplomática; sócio-econômica; psicológica; informações e militar; todas, visando a conquista da adesão das populações.

 

Da atuação política esperam-se reformulações de caráter dinâmico, tomada de decisões a nível administrativo, a adoção de medidas no âmbito legislativo, regulamentar, organizativo e no reforço da autoridade do Estado; a nível externo, a ação diplomática deve angariar apoios para a contra-subversão e a redução dos movimentos de subversão, levando este a seu descrédito. Ao nível sócio-econômico, a manobra assentará na promoção das condições de vida e no controle da população e dos recursos econômicos. Da manobra militar espera-se a neutralização e destruição da estrutura subversiva, bem como a preservação e obtenção da adesão popular, criando interna e externamente condições que desfavoreçam a eclosão da subversão. Estas manobras pressupõem ainda uma intensa e integrada atuação psicológica sobre as populações, criando um eixo de manobra da opinião pública. Para poderem conduzir ações concretas e eficientes, todas estas ações pressupõem Informações oportunas, precisas e relevantes e que os diversos órgãos funcionem em sintonia com um sistema de informação contra-informação, para saber como, onde e quando se deve atuar.

 

A manobra contra-subversiva, com o seu ritmo próprio, deve ter em conta o fator tempo, mas nem sempre ser dotada de uma atuação ética, procurando alcançar uma paz sustentada, de preferência com a remoção das causas que estavam dando origem ao conflito.

 

A estratégia da resposta contra-subversiva depende muito da eficácia da organização global do poder instituído, e as iniciativas desencadeadas exigem uma ação de cooperação e de coordenação muito estreita entre as autoridades civis, autoridades militares e as lideranças populares, ou seja, as formas de articulação da contra-subversão que visam a conquista da adesão das populações, apesar das alterações qualitativas face a novos processos e técnicas, são as de sempre, desempenhando a presença militar um papel distintivo, pois, mesmo que este tipo de guerra não se ganhe pela sua ação, perde-se pela falta de uma ação militar.

 

As análises históricas são fundamentais para ajudar a compreender a natureza e as linhas de continuidade e mudança do fenômeno subversivo ao longo do tempo, porém, as novas realidades estratégicas não devem ser esquecidas, sendo certo que o futuro reserva novas incertezas, novos desafios e novas lições, devemos operacionalizar lições aprendidas na História que evitem a repetição dos mesmos erros.

 

Manobra político-diplomática:

 

A política de cooperação, nomeadamente através da cooperação técnico-militar e policial, desempenha um papel primordial na reestruturação do Setor de Segurança em situações pós-conflito.

 

O fortalecimento da Autoridade do Estado e das Organizações Internacionais, com a adoção de medidas legislativas adequadas, com um caráter dissuasório e preventivo, de forma a reduzir suas vulnerabilidades;

 

Colaboração na democratização das sociedades.

 

Manobra sócio-econômica;

 

Colaboração no desenvolvimento e na promoção da condição de vida das populações;

 

Manobra psicológica:

 

Promoção de ações de informação pública, isentas e esclarecidas;

 

Manobra de informações:

 

Manutenção de um eficiente sistema de Informações;

 

Partilha de Informações com os restantes países e organizações;

 

Manobra militar:

 

Disponibilização de forças (diferenciadas pelas características e capacidades) meios para a adoção de medidas preventivas e de combate, com ações tácticas de destruição das capacidades subversivas e dos seus colaboradores, em qualquer localização geográfica;

 

Disponibilização de serviços e inteligência valendo-se das técnicas de informação e contra-informação

 

De uma forma transversal:

 

Sustentação e divulgação dos conhecimentos, nas escolas e meios de formação de opinião;

 

Investigação e produção de doutrina que permita lidar com as diferentes tipologias subversivas;

 

Promoção de ações assistencialismo do estado;

 

Colaboração na definição e implementação de medidas de gestão das consequências, ou controle de danos, de forma a minimizar os efeitos de uma atuação subversiva.

 

O interessante neste tipo de conflito é sua diferença, cada caso é um caso, apesar de haver pontos comuns, reforçando o fato que na globalização dos atos subversivos, podemos concluir que: o fator surpresa é permanente, como também são o seu desenrolar e a diversidade dos cenários que pode ser inserida e seus efeitos sobre a população.

 

Vale lembrarmos que há a possibilidade de tais ações subversivas serem lançadas por agentes do próprio Estado com fins de manutenir seu poder coercitivo e eliminar possíveis ameaças oposicionistas no plano político, ou mesmo usar tal movimento como eixo de manobra para desviar o foco da população de determinado assunto político ou mesmo impelir a população contra seu direito de se manifestar contra atuação do estado em determinada causa, ou ainda impelir a população a não aderir a manifestações em busca de seus próprios direitos cívicos. Usando tais manobras para conferir legitimidade na aprovação de novas leis e decretos que beneficiem o poder estatal contrariando direitos cívicos constituídos.

 

Neste primeiro artigo de uma série que pretendo aprofundar em específico o uso da subversão no cenário geopolítico brasileiro, quero lançar aqui as bases para que possamos ter uma linha de raciocínio onde pautar o desenvolvimento deste estudo tão oportuno no atual cenário interno brasileiro, onde nos deparamos recentemente com muitos movimentos populares de insatisfação com o Poder vigente e suas políticas.

Por Angelo Nicolaci - GBN GeoPolítica Brasil
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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A democratização da Síria como método para impor uma ditadura sangrenta

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Em caso de derrubada de Bashar Assad, a Síria irá viver décadas de anarquia e de caos. Os peritos falam de uma fatídica ilusão que vivem os EUA, convencidos que a sua experiência na construção de estados tem uma aplicação universal.
 
Os norte-americanos se preparam para realizar ataques maciços com mísseis contra alvos na Síria pertencentes ao regime de Bahar Assad. Entretanto, eles concordam que a operação não irá influenciar a atual situação militar na Síria e que a guerra travada pelos sírios poderá durar por mais uns dois anos.
 
É pouco provável, porém, que a Síria consiga regressar à situação que vivia antes da guerra. Mesmo que Assad conserve as suas posições, o país irá mergulhar no caos e na anarquia. Os Tomahawks norte-americanos irão queimar o panorama sociopolítico da Síria e esse incêndio irá acabar com toda a região. Este é o comentário do perito do Instituto do Oriente Médio Serguei Sereguichev.
 
"Quanto ao panorama, ele parece o de uma povoação semidestruída. Nós temos neste momento um Egito à beira da guerra civil. A Síria está praticamente destruída. Ambas as partes lutam por ruínas. Os americanos são reféns da sua ideologia baseada no princípio da universalidade do valor da democracia. Os norte-americanos pensam que a sua experiência democrática não é particular e que ela pode ser difundida com sucesso por todas as regiões do mundo, incluindo o Oriente Médio. Se os americanos continuarem a agir como têm feito até agora, nós teremos em vez de um Oriente Médio uma zona de guerra contínua. Também teremos um buraco negro no orçamento da ONU: os refugiados e o terrorismo são apenas a ponta do iceberg."
 
Em resumo, na opinião dos peritos, a tentativa de impor a democracia, nas atuais condições reais no mundo islâmico, tal elas como se apresentam, irá abrir os caminho do poder a "Hitleres muçulmanos". Isto é o que diz o diretor do Centro de Estudos do Oriente Médio Moderno Gumer Isaev.
 
"Estamos perante uma reconfiguração do Oriente Médio e as mudanças são inevitáveis. Mas uma intervenção externa origina muitos problemas adicionais. O panorama está realmente se alterando. Eu não falaria de "novos Hitleres". Provavelmente, o maior perigo virá do caos e da instabilidade criados pela alteração de paradigma, porque os regimes que estão no poder há décadas já não conseguem responder aos desafios modernos. Esses regimes têm de ser reformulados e não derrubados porque em condições de caos não se conseguirá obter nada de positivo. Nós não vemos novos líderes, nós não vemos as forças que poderiam tomar o poder com confiança e se tornarem na garantia de uma nova estabilidade."
 
O conhecido político alemão Joschka Fischer, que foi ministro das Relações Exteriores e vice-chanceler da Alemanha de 1998 a 2005, chegou a referir que o regime de Assad não seria substituído por uma democracia com primazia do direito. Pelo contrário, a nova era será ainda mais desordenada e cruel. Diz Serguei Sereguichev:
 
"Não interessa se o regime é novo ou velho, o Oriente Médio entrou por muito tempo na zona de transformação. O mais provável será, se não houver uma mudança radical da cultura e da mentalidade da maioria da sua população, daqui a 20 ou 30 anos vermos por lá novas famílias no poder, que irão transmitir o poder por herança de pais para filhos e de tios para sobrinhos, com democracias de fachada, com ruas limpas, mas com horrores nas masmorras dos serviços de segurança locais. E toda a gente ficará satisfeita porque isso é melhor do que uma situação em que todos os dias não sabes se chegarás ou não a casa. A democracia por lá só será possível no caso de as pessoas o quererem."

A comunidade internacional acabou por não receber uma resposta legível à questão sobre o resultado que Obama quer obter com a sua intervenção na Síria. Fica a sensação que ele apenas quer conservar a face, apesar de o bom senso sugerir que a forma mais fiável de reforçar a reputação de um "presidente que acaba com as guerras" seria uma recusa firme em começar uma nova.

Fonte: Voz da Rússia
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Análise: A estratégia da busca da transformação

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Os Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro se justificam, mas ainda há coisas por resolver. Haverá a necessidade de impulsionar a sofisticação cognitiva dos oficiais para enfrentarem problemas mais complexos, de natureza distinta dos atualmente existentes, emergentes em dinâmicas multiagências, com informações imperfeitas, em tempo comprimido.



 
A ambição de transformação do Exército exige a transformação do soldado, mas também exige suprir os meios básicos de sustentação, manutenção, gestão e operação da Força. Para isso, há necessidade de se conectar as iniciativas estratégicas do Exército com as da Marinha e da Força Aérea em um único Projeto de Força, principalmente em termos do alinhamento das métricas de desempenho, da construção da matriz do Plano Reitor (relacionamentos cruzados entre a estrutura funcional e a topologia de recursos que constroem dinamicamente as capacidades), e da estruturação da Plataforma da Sistemática de Gestão de Alto Nível (SIGAN). Essa última é particularmente importante para que se possa integrar a gestão de espaços de combate, a gestão da Força, e a gestão dos ciclos de capacidades sob novs patamares de efetividade.
O Exército terá ainda que desenvolver novas práticas contratuais, com arquiteturas financeiras e de gestão de contratos de muito maior sofisticação, criando compensações do fator de imaturidade tecnológica sempre presente no início do desenvolvimento de projetos complexos, sob novos protocolos e padrões de auditoria estratégica das políticas setoriais.
O Exército precisa finalmente manter prioridades estáveis. A geração atual teve a coragem de ousar transformar a Força, as futuras terão a responsabilidade de fazer da transformação algo efetivo, útil e duradouro.
*Salvador Raza é diretor do Centro de Tecnologia, Relações Internacionais e Segurança e professor da Defense University, em Washington.
Fonte: Estadão
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Reconstrução a -75ºC

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Antártida — As caixas do sistema de som dos navios Ary Rongel e Almirante Maximiano acordam todos lembrando o tempo estimado de vida para quem cair na água da Baía do Almirantado: 90 segundos. Avisam ainda sobre as condições climáticas. Geralmente, com temperatura na casa dos negativos e ventos nunca abaixo dos 30km/h, chegando a 200km/h. Começa dessa forma a rotina da maioria dos militares e pesquisadores brasileiros na Antártida. Mas pode ser muito pior.
 
Na situação mais pavorosa, estão aqueles em terra e os que passam o inverno no inóspito continente, quando as embarcações precisam deixar os mares da região para que nâo sejam esmagadas pelo gelo e seus ocupantes não morram de fome e de frio. A partir de março, 15 bravos e muito bem treinados homens da Marinha do Brasil vão se refugiar em contêineres com as condições mínimas de sobrevivência no inverno polar. Dez cientistas estarão com eles ou em refúgios ainda mais isolados.
 
Os militares têm a missão de guardar e preservar o restante da antiga Estação Comandante Ferraz e os módulos que a substituirão até ser definitivamente reconstruída. A base provisória deve ser concluída no fim de março. Já a estação definitiva, em 2015. Tudo para não interromper as pesquisas. Algumas exigem a presença de estudiosos mesmo durante o rigoroso inverno antártico, que começa em abril e termina em outubro, com até -75ºC.
 
O Correio acompanhou a vida dessa gente por cinco dias, sendo um no Maximiano e quatro no Ary Rongel, além de ter visitado duas vezes a Comandante Ferraz. Com os navios, o Brasil consegue garantir presença no Polo Sul desde o incêndio que destruiu 70% da estação, há um ano. Eles servem de hospedaria, armazém, estação e laboratório aos brasileiros que se aventuram na Antártida. Como não há portos no continente, as embarcações ficam estacionadas no meio do mar, a cerca de 500m da Baía do Almirantado. O trajeto entre elas e as praias geladas é feito em pequenos botes e chatas.
 
Os navios são duas minicidades flutuantes, capazes de ficarem na região por até 30 dias. Mais é impossível, por conta do combustível. O óleo mantém os navios em movimento e com todos os sistemas ligados, como a imprescindível calefação. Por isso, eles se revezam nas viagens entre a Comandante Ferraz e Punta Arenas. Distante 1,4 mil quilômetros da estação, a cidade portuária de 150 mil habitantes ao sul do Chile serve como base de apoio às missões do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), que neste verão completou 31 anos ininterruptos.
 
Uma das prioridades da expedição acompanhada pela reportagem era desembarcar 10 estudiosos na Península Antártica, além de materiais para estudos na antiga estação. Apesar de o governo brasileiro ter liberado R$ 40 milhões emergencialmente logo após o fatídico incêndio, 40% das pesquisas nacionais no continente mais ao sul do planeta se perderam em meio ao fogo.
 
Para retomar o antigo ritmo, será necessário ao menos mais um ano, segundo o coordenador de Projetos Científicos do Proantar, Jefferson Simões. “Mas os estudos não dependem totalmente da estação. Eles são feitos em acampamentos no interior do continente ou em geleiras e nos navios brasileiros. Por isso, o programa não foi interrompido”, ressaltou o glaciologista. Há 21 projetos de pesquisa em andamento no Proantar, que recebeu R$ 144 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, nos últimos 12 anos.
Sem teto
 
Diferentemente dos militares da Marinha, que seguem nos navios, a maioria dos pesquisadores chega ao continente gelado em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). Os aviões C-130 (Hércules) pousam na base chilena Eduardo Frei, levando também suprimentos, entre outubro e fevereiro. Mas esse trajeto de 1,2 mil quilômetros, em um voo de três horas, só é realizado quando o clima permite. Quase não há teto para a aeronave pousar no aeródromo chileno. Quando aparece o que os pilotos chamam de janela, ela tem que ser aproveitada.
 
Em 7 de fevereiro, as condições precárias fizeram com que o grupo de 40 cientistas e militares só desembarcasse na Antártida após duas tentativas de pouso frustradas. Na Ilha Rei George, homens da equipe que guarda as instalações já esperavam os convidados. Eles estão lá desde novembro, para desmontar a antiga estação e limpar o terreno, com a ajuda de 40 operários chilenos. “Quando chegamos, era cinza pura, ferro retorcido. Só havia neve e não tínhamos máquinas. Com pás, tiramos uns 60 mil metros cúbicos de neve que encobriam a estação”, contou o capitão Paulo Cesar Galdino de Souza, chefe da operação logística na Ferraz.
 
Só para tirar a neve acumulada, os 80 homens levaram 10 dias. Por causa do mau tempo, não voltaram ao navio, dormiram em barracas. Ainda há sucata sendo cortada e carregada por tratores e tesouras mecânicas na ilha. Eles já retiraram e embarcaram no navio alemão Germânia mais de 600t. Os homens do grupo de Paulo Souza dormem na embarcação fretada pela Marinha do Brasil e parada na Baía do Almirantado. Mas, a partir do próximo mês, quando ela partirá rumo ao Rio de Janeiro levando os escombros, 15 militares serão deixados em Rei George.
 
Até o fim de março, 39 caixas de metal flexível — os Módulos Antárticos Emergenciais (MAE) — serão agrupadas e formarão um abrigo provisório. Atualmente, parte das pesquisas é desenvolvida no Rongel e no Almirante, e outra, em contêineres do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), na ilha. Antes do incêndio, eles abrigavam equipamentos receptores de dados meteorológicos e informações sobre o clima. Agora, servem de abrigo para militares e cientistas usarem a internet e o telefone, quando há sinal.
Clima de luto
 
Ainda há velhos contêineres na margem da ilha que servem de depósitos de equipamentos e botes. À esquerda, um laboratório de química, o único poupado pelo fogo em 25 de fevereiro de 2012. Uma fileira de barracas coloridas é o abrigo de emergência dos militares que trabalham na retirada dos entulhos. Eles torcem para que a empresa canadense contratada pelo governo brasileiro cumpra o prazo do fim da construção dos MAEs.
 
Toda essa operação custou ao Brasil R$ 100 milhões. Com os módulos, militares e pesquisadores poderão manter as pesquisas pelos próximos cinco anos. Mas a previsão é que a nova estação definitiva esteja concluída até o fim de 2015. Enquanto isso, o clima de luto permanece entre os integrantes da 31ª edição da Operação Antártica (Operantar). No alto do morro da ilha, as cruzes com os nomes dos dois tenentes da Marinha mortos no incêndio não deixam ninguém se esquecer da tragédia. Elas estão ao lado de outras cinco cruzes, quatro de ingleses mortos quando o local ainda abrigava uma base baleeira britânica e uma de um sargento brasileiro vítima de um enfarte fulminante há alguns anos.
 
Comandante do Ary Rongel, o capitão-de-mar-e-guerra Marcelo Seabra estava em Punta Arenas com seu navio quando recebeu o telefonema de Brasília avisando do incêndio na estação, onde estavam 60 pessoas. Coube a ele coordenar a logística para receber pesquisadores e militares sobreviventes, socorridos por argentinos, poloneses e estrangeiros em outros navios na Antártida. “Foi muito sofrido ter 28 anos de estação e perder tudo. Antes não tivéssemos perdido as duas vidas”, lembrou Seabra. Ele nunca subiu onde estão as cruzes.
 
Nem a construção de uma nova estação, mais segura e moderna, trouxe de volta o “clima de Ferraz”, como comentou Heber Reis Passos. Técnico do Inpe, ele tem mais de 150 meses de experiência na Antártida, com 21 viagens ao continente. “Apesar do frio, a estação tinha vida. A cada bote que chegava, tinha gente para receber o visitante. Também havia muitos animais na praia, como pinguins. Depois do incêndio, sumiram todos. Mas restaram a solidariedade e a vontade de reconstruir.”
 
Homenagem a pioneiro

A Estação Antártica Comandante Ferraz começou a operar em 6 de fevereiro de 1984. Os contêineres que formavam uma pequena vila — com depósitos, oficinas, biblioteca, salas de lazer e estar, enfermaria, sala de comunicações, ginásio de esportes, cozinha e refeitório — foram levados pelo navio oceanográfico Ary Rongel e diversos outros navios da Marinha do Brasil.
 
O nome da estação homenageia Luís Antônio de Carvalho Ferraz, comandante da Marinha do Brasil, hidrógrafo e oceanógrafo que visitou o continente Antártico por duas vezes a bordo de navios britânicos. Ferraz desempenhou importante papel ao persuadir o Brasil a desenvolver um programa antártico, o Proantar. Em 2004, a estação chegou ao ápice, com 60 módulos e capacidade de abrigar 48 pessoas.
 
Os programas de pesquisa permitiram estudar o impacto das mudanças ambientais globais na Antártida e suas consequências para as Américas, inclusive para a Amazônia. Ali, cientistas detectaram o aumento da temperatura global, do buraco da camada de ozônio e do nível dos oceanos, além de terem recolhido elementos provenientes da poluição causada em sua maioria pelos países do Hemisfério Norte. Todas as alterações detectadas pela Comandante Ferraz mostram claramente a interação entre os hemisférios e sua interferência nas mudanças globais.
 
Fonte: Correio Braziliense
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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guerras no mundo triplicaram em 2011

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O "Barômetro de conflitos" divulgado por Instituto de Heidelberg de Pesquisa Internacional de Conflitos (HIIK) apresentou resultados assustadores. Oriente Médio e África são principais celeiros de conflito.

Especialistas alemães em pesquisa de conflitos fizeram um balanço dos choques mais violentos no mundo, com um resultado alarmante: no espaço de um ano, o número de guerras em curso mais do que triplicou. Conforme Natalie Hoffmann, do Instituto de Pesquisa Internacional de Conflitos de Heidelberg (HIIK, na sigla em alemão), é impossível detectar uma tendência em direção a um mundo mais pacífico.

Ao invés disso, os números de 2011 foram os mais altos desde 1945. Os pesquisadores contaram 20 guerras e 166 "conflitos desenvolvidos de forma violenta". O instituto alemão projeta um acréscimo nos próximos meses. No ano anterior, haviam sido registradas seis guerras e 161 conflitos violentos.

Oriente Médio, África, Cáucaso

Desde 1991, o HIIK divulga o "barômetro mundial de conflitos", com o fim de fornecer uma noção total das crises, conflitos e guerras em curso. Entre as hostilidades que resultaram em guerra, no ano passado, os pesquisadores incluem a situação no Iêmen, Líbia e Síria.

Seguem classificados como "guerra", as ofensivas das Forças Armadas paquistanesas contra os talibãs, os embates entre o governo afegão e os talibãs e a violência no Iraque. Em todos esses casos, houve milhares de vítimas fatais. O instituto também considerou como guerra a luta entre o governo do México e os cartéis das drogas.

Tratam-se, em sua maioria, de conflitos internos, cujos principais palcos são o Oriente Médio e a África, observou o presidente do HIIK, Christoph Trinn. Ele acrescentou que sua equipe verifica "um grande potencial para uma escalada". Três novas guerras relacionadas com a "Primavera Árabe" se estabeleceram rapidamente em 2011: no Iêmen, na Síria e na Líbia. Houve ainda um acirramento dos conflitos já existentes na Nigéria e no Sudão.

Segundo a estimativa do instituto alemão, o maior celeiro de violência na Europa é a região do Cáucaso. Lá, foram detectados 19 conflitos e uma "guerra delimitada". Como único conflito binacional do continente, registrou-se o que se desenrola entre a Armênia e o Azerbaijão.

Fonte: Deutsche Welle
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domingo, 20 de novembro de 2011

As Operações Psicológicas e a guerra de superfície

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“O máximo de habilidade é subjugar o inimigo sem lutar”Sun Tzu

1. A guerra e o psicológico

Na história das civilizações, a guerra sempre foi um grande ônus a se pagar para se atingir um objetivo essencialmente desejado. O caminho da violência – intrínseca vertente da natureza humana – condiciona a vitória a diversos fatores, dos quais se destaca o motivacional. Influenciar esse fator, incrementando-o em seu favor e minando-o no lado oponente, é uma estratégia conhecida há muito. Sun Tzu, há mais de 2.500 anos, já asseverava que “capturar um exército é melhor que destruí-lo” (1:33). Estrategistas e táticos levam esse ensinamento em consideração ao formular e empreender vias de combate capazes de conquistar a vitória com o menor nível de perda.

Nos tempos atuais, vivemos a efusão da tecnologia e da comunicação, com o mundo na palma da mão, inseridos em uma incessante troca de informações de alcance mundial, que aproxima civilizações, expõe diferenças e “virtualizam” fronteiras. Na chamada “aldeia global” de McLuhan, em particular nas crises e conflitos, os processos decisórios se agilizam e a imprensa, com seus veículos e as suas mídias, tem papel ativo, tornando a opinião pública importante protagonista no jogo de forças reinante.

Como toda ação bélica tem uma dimensão psicológica e sociológica, o conhecimento profundo das características da própria tropa e do inimigo é um trunfo que pode ser essencial nas tomadas de decisão e determinar as ações no nível tático. Afinal, se a vitória pode ser conseguida nas ruas do agredido, a derrota pode também nascer nas do agressor.

2. Conceituação de Operações Psicológicas

Modernamente, uma vertente operativa vem crescendo de importância, onde a redução de danos, o combate não convencional e a opinião pública são elementos a serem considerados, incrementados por uma acessibilidade maior a sistemas de comunicação cada vez mais velozes e portáteis.

As Operações Psicológicas (doravante Op Psico) são o “conjunto de ações de qualquer natureza, destinadas a influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo social, com a finalidade de obter comportamentos pré-determinados” (2,1-4). É o uso da comunicação como arma para interferir e destruir o moral do inimigo, para fortalecer a moral da nossa tropa e para influenciar a opinião pública dos contendores e de outros países ao nosso favor. Enfim, é considerar que, a despeito de qualquer sistema tecnológico de combate, por mais moderno que seja, a guerra é um evento feito por pessoas, onde se busca vencer a disputa subjugando a mente sem destruir o corpo do adversário, quebrando-lhe a vontade de lutar, como ensinava SUN TZU, em sua milenar sabedoria.

As Op Psico têm como a base a comunicação. A troca de informações entre pessoas, a globalização do acesso a informação, a velocidade da mensagem e o alcance dos meios de comunicação assumem, nesse tipo de operação, papel fundamental.

3. O navio, o ambiente e as pessoas

Nos componentes militares terrestres, a questão das Op Psico é bem difundida, amadurecida em doutrinas estabelecidas e exaustivamente treinadas e aplicadas, suportada por farta literatura. Mas na guerra de superfície, tendo o mar como ambiente, cada vez mais longe da íris do público e do inimigo, esse tipo de operação teria lugar?

As Op Psico exigem o elemento humano e a interação entre ele e seus pares, quer do mesmo lado ou em lados que se opõem. Em suma, o estabelecimento de algum tipo de comunicação. O navio em combate possui esses elementos, inseridos num ambiente social interno – o próprio navio, influenciável em si mesmo e também pelo ambiente externo, que pode se aproximar do primeiro, por exemplo, em radiações eletromagnéticas.

Imaginemos as seguintes situações em combate: uma publicação, passada de tripulante para tripulante, pode abater o moral da tripulação como um todo? Qual seria o impacto na tripulação do suicídio de um de seus membros? Encontrar algo no mar é sempre fonte de boatos a bordo. O que dizer de uma mensagem desanimadora do inimigo? Hoje, temos receptores de rádio e TV diminutos e de difícil detecção, além do fácil acesso a internet. Temos real controle das informações que são recebidas a bordo pelos tripulantes?

Essas e outras questões revelam que o organismo “navio” não é uma ilha. Ele recebe e envia informações, se comunica com o mundo externo e sua tripulação está sujeita a influências que, à revelia das autoridades, podem causar danos com carga ideológica prejudicial, semeando instabilidade emocional, questionando valores, abrindo o caminho à derrota sem combate.

Qualquer conflito tem a sua legitimidade permanentemente questionada, principalmente em um mundo mais informado. No ambiente confinado, informações contraditórias podem gerar reações agressivas e adversas sobre a tripulação. Elas podem fazer parte da estratégia do inimigo.

4. As Op Psico e a guerra de superfície

No contexto estratégico e tático, podemos enumerar diversas ações de Op Psico para utilização na guerra de superfície ou em apoio a ela, trabalhando a lógica de atingir o medo e o anseio coletivo do inimigo, bem como evitando a influência de ações adversas nas três vertentes de ação desse tipo de operação:

4.1. Enfraquecer a vontade de lutar do inimigo

- Veículos áudio: existem, hoje, radiotransmissores via satélite e via WEB de alcance global, onde, com o uso de músicas agradáveis a cultura do inimigo, podem ser inseridas mensagens desencorajadoras nas freqüências domésticas usuais. Em um futuro próximo, veículos não tripulados poderão executar essa função, inclusive voltados para alvos no mar.

- Veículos visuais: os mais populares são os panfletos lançados em terreno hostil, divulgando propaganda ideológica. Na Guerra do Iraque, os EUA fazem uso extensivo desse material (4). Tais panfletos podem ser lançados por aeronaves baseadas em terra ou em meios navais. Em regiões costeiras, a instalação de bóias com mensagens visuais, verdadeiros “panfletos no mar”, podem ser utilizados nas rotas usuais de meios inimigos. E em inspeções e visitas a navios mercantes, numa operação de controle de área marítima, por exemplo, a propaganda impressa pode ser distribuída aos navios inspecionados, reforçando idéias de interesse.

4.2. Fortalecimento do moral da tropa

- Símbolos: o uso de bandeiras de faina[3], símbolos no uniforme, gritos de guerra, ícones nos equipamentos são importantes ferramentas de agregação e motivação da tripulação.

- Contrapropaganda: publicações impressas, rádios, televisores portáteis e a Internet devem ser monitorados como tentativa de impedimento de ações de Op Psico do inimigo e de ideologias desmotivantes para a tripulação em combate. No campo da contrapropaganda, um fato a ser considerado é o caráter emotivo e a permeabilidade cultural do povo brasileiro, que pode constituir-se como fator de fraqueza. A distância de casa faz com que aumente a busca de informações de terra, que podem ter diversas origens, gerando-se aí uma oportunidade para ações de Op Psico do inimigo.

4.3. Influenciação da opinião pública

- Imprensa: apesar da campanha no mar ocorrer longe das pessoas em terra, as história das guerras hoje é escrita por jornalistas embutidos em operações de adestramento e até mesmo nos campos de batalha, acompanhando as tropas e a bordo de meios operativos. O profissional de imprensa deve ser bem assessorado e informado do que está ocorrendo e transmitir, com credibilidade, a notícia com potencial de conformação da opinião pública.

5. Conclusão

Embora pouco explorado, o assunto é vasto e merece ser estudado e validado na prática da guerra de superfície. Pelas características do combate no mar, travados no alcance dos satélites de observação e longe dos olhos inimigos, parece haver uma tendência em julgar que estas operações não se aplicam a este tipo de guerra. Mas se existe elemento humano, gerando e produzindo informações, as Op Psico podem ser aí aplicadas.

As Op Psico realizadas no contexto das operações navais devem guardar harmonia com as operações terrestres a qual estejam associadas. Daí a importância da integração entre as forças. Para serem efetivas na fase de execução, as Op Psico prescindem de entendimento e coordenação prévios, começando pelo estabelecimento de doutrinas e procedimentos comuns.

As Op Psico não são o elemento essencial do combate, mas um relevante instrumento de apoio, cujo conhecimento pode significar a possibilidade de se vencer – ou de não ser derrotado – sem luta.

Por:  Alexandre Rabello de Faria e Marcus de Azevedo Braga.

Fonte: JDRI
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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Navio de R$ 75 milhões vai ajudar Brasil a explorar o pré-sal

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O Brasil terá no ano que vem seu primeiro grande navio oceanográfico. A compra está sendo finalizada em um estaleiro chinês por um consórcio formado por governo, Vale e Petrobras, e deve ser anunciada em breve pela presidente Dilma Rousseff.

O barco, de cerca de 80 m de comprimento, terá capacidade para 90 pessoas e autonomia para ficar até três meses seguidos no mar.

O brinquedo é caro, mas responde a uma necessidade antiga do país: a de ter uma plataforma de pesquisa oceânica capaz de explorar o Atlântico Sul, a porção de mar menos conhecida do planeta. Hoje quase não há navios totalmente dedicados à pesquisa no país.

"Com 4,5 milhões de quilômetros quadrados de mar, um navio é pouco. Precisamos de dúzias", disse o almirante Ilques Barbosa Junior, secretário de Ciência e Tecnologia da Marinha.

A conta trai um dos objetivos por trás da compra: 4,5 milhões de km2 é a área de mar sobre a qual o Brasil se autoconcedeu soberania econômica, na chamada plataforma continental. Trata-se de uma área maior que a Zona Econômica Exclusiva, que soma 3,5 milhões de km2.

FRONTEIRA

Essa fronteira marítima, declarada pelo Brasil no âmbito da Unclos (Convenção das Nações Unidas para o Direito do Mar), é uma extensão geológica do pré-sal e provavelmente contém reservas ainda desconhecidas de petróleo, gás e minérios.

Para exercer plenos direitos sobre a plataforma continental, porém, o país precisa fazer pesquisa. E até agora não está equipado para isso.

Daí o interesse da Petrobras e da Vale, que aceitaram o pedido do ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Aloizio Mercadante, para que bancassem a parte do leão da compra do navio.

"Há muita pesquisa básica que é de interesse estratégico das empresas", disse o secretário de Políticas e Programas de Pesquisa do ministério, Carlos Nobre.

A Marinha também tem interesse em ocupar a zona do pré-sal, e manter navios oceanográficos na região é uma forma de fazer isso.

O ministério realizou uma consulta a oceanógrafos sobre os equipamentos que eles gostariam de ter no barco. A resposta foi uma "lista de compras" com 48 itens, que inclui até uma broca para coletar amostras de rocha.

"A gente participa como coadjuvante de vários grandes programas, porque temos instrumentação, mas não temos plataforma [navio] para entrar no clube", afirma Carlos Eiras Garcia, diretor do Instituto de Oceanografia da Furg (Universidade Federal de Rio Grande).

Segundo Nobre, o governo estuda a aquisição de um segundo navio oceanográfico, em 2014, a ser produzido por um estaleiro nacional.

Garcia afirma que a comunidade científica está animada com o navio, mas ainda não foi chamada para conversar. "A longo prazo, o que precisamos é de um instituto oceanográfico nacional, nos moldes do que têm os EUA."

Fonte: Folha
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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que substituirá a social-democracia?

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A social-democracia prometeu um futuro melhor para as gerações seguintes, algo como a elevação permanente da renda nacional e das famílias. Chamou-se isso de “estado do bem-estar social”. Era uma ideologia que refletia o ponto de vista segundo o qual o capitalismo poderia ser “reformado” e assumir uma face mais humana. A solução social-democrata tornou-se uma ilusão. A questão é: o que irá tomar o seu lugar?

A social-democracia teve seu apogeu no período entre 1945 e o final dos anos 1960. Naquele momento, representou uma ideologia e um movimento que lutaram pelo uso dos recursos do Estado para assegurar alguma distribuição em favor das maiorias, de distintas formas concretas. Expansão dos sistemas de Saúde e Educação. Garantia de níveis de renda ao longo da vida, por meio de programas que atenderam às necessidades dos sem-emprego, particularmente as crianças e idosos. Programas para reduzir o desemprego. A social-democracia prometeu um futuro sempre melhor para as gerações seguintes, algo como a elevação permanente da renda nacional e das famílias. Chamou-se isso de “estado do bem-estar social”. Era uma ideologia que refletia o ponto de vista segundo o qual o capitalismo poderia ser “reformado” e assumir uma face mais humana.

Os social-democratas foram particularmente poderosos na Europa Ocidental, Grã-Bretanha, Austrália e Nova Zelândia, Canadá e Estados Unidos (onde eram chamados Democratas do New Deal). Em outras palavras, nos países ricos do sistema-mundo, aqueles que poderiam ser chamados de integrantes do mundo pan-europeu. Seu sucesso foi tão vasto que seus oponentes à direita também adotaram o conceito de estado do bem-estar social, limitando-se a reduzir sua abrangência e seus custos. No resto do mundo, os estados tentaram pular no bonde por meio de projetos de “desenvolvimento nacional”.

A social-democracia foi um projeto muito bem-sucedido durante este período. Tornou-se viável graças a duas realidades daquele tempo: a incrível expansão da economia-mundo criou os recursos que fizeram a redistribuição possível; e a hegemonia dos Estados Unidos no sistema-mundo assegurou relativa estabilidade e, em especial, a ausência de violência grave no interior desta zona rica.

O quadro cor-de-rosa não durou. Ambas as realidades se esgotaram. A economia-mundo deixou de se expandir e entrou em longa estagnação, na qual ainda vivemos; e os Estados Unidos iniciaram seu longo, ainda que lento, declínio enquanto potência hegemônica. Ambas realidades aceleraram-se consideravelmente no século 21.

A nova era iniciada nos anos 1970 viu o fim do consenso centrista em torno das virtudes do estado de bem-estar social e do “desenvolvimento” estimulado pelo Estado. Tal consenso foi substituído por um nova ideologia mais à direita — chamada de neoliberalismo, ou Consenso de Washington — que sustentava os méritos da gestão da sociedade pelos mercados, mais que pelos governos. Afirmou-se que este programa baseava-se na realidade, supostamente nova, da “globalização”, diante da qual “não havia alternativa”.

A implementação dos programas neoliberais parecia favorecer altos níveis de “crescimento” nos mercados de ações, mas ao mesmo tempo levou, em todo o mundo, a níveis crescentes de endividamento e desemprego – e a níveis mais baixos de renda para a vasta maioria das populações do planeta. Ainda assim, os partidos que haviam sido os pilares os programas social-democratas, à esquerda, moveram-se para a direita, retirando ou reduzindo o apoio ao estado do bem-estar social e aceitando que o papel dos governos reformistas deveria ser reduzido consideravelmente.

Embora os efeitos negativos sobre a maioria das populações fossem sentidos mesmo no interior do mundo pan-europeu rico, eles afetaram de modo mais agudo o resto do mundo. Que seus governos fizeram? Começaram a tirar partido do declínio relativo econômico e geopolítico dos Estados Unidos (e, mais amplamente, do mundo pan-europeu). Focaram em seu próprio “desenvolvimento nacional”. Usaram o poder de seus aparatos de estado e seus custos de produção mais baixos para se converter em nações “emergentes”. Quanto mais à esquerda estivessem sua retórica, e mesmo seu compromisso político, mais eles mostraram-se determinados a “desenvolver”.

Esta atitude poderá ajudá-los, como fez em realação aos países do mundo pan-europeu no período pós-1945? Não é nem um pouco certo que sim, apesar das impressionantes taxas de “crescimento” de algumas destas nações – particularmente os tão-falados BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China) – nos últimos cinco ou dez anos. Porque há sérias diferenças entre o atual estado do sistema-mundo e o vivido no imediato pós-1945.

Primeiro, os custos de produção são hoje, apesar dos esforços dos neoliberais, consideravelmente maiores que os do período pós-1945, o que ameça as possibilidades reais de acumulação de capital. Isso torna o capitalismo um sistema menos atraente para os capitalistas. Os mais sagazes, dentre estes, estão procurando meios alternativos de assegurar seus privilégios.

Segundo, a capacidade das nações emergentes para ampliar, a curto prazo, sua riqueza exerce grande pressão sobre os recursos necessários para atender suas necessidades. Surgiu, em consequência, uma corrida sempre crescente por terras, água, alimentos e recursos energéticos. Ela está levando a lutas ferozes e, ao mesmo tempo, reduzindo a capacidade global dos capitalistas em acumular capital.

Terceiro, a enorme expansão da produção capitalista criou sérias pressões sobre a natureza em todo o mundo, a ponto de provocar uma crise climática, cujas consequências ameaçam a qualidade de vida em todo o mundo. Este processo desencadeou um movimento que busca questionar as virtudes do “crescimento” e do “desenvolvimento”, enquanto objetivos econômicos. A exigência crescente de uma perspectiva “civilizacional” diferente é o que está sendo chamado, em países da América Latina, de movimento pelo “bien vivir”.

Quarto, as demandas de grupos subalternos por participação real nos processos de tomada de decisões dirigem-se não apenas aos “capitalistas”, mas também aos governos de “esquerda” que estão promovendo o “desenvolvimento” nacional.

Quinto, a combinação de todos estes fatores, mais o declínio visível do antigo poder hegemônico gerou um clima de flutuações constantes e radicais, tanto na economia-mundo quando na situação geopolítica. O resultado foi a paralisia tanto dos empreendedores quanto dos governos do mundo. O grau de incerteza – no longo e no curto prazo – elevou-se acentuadamente, e com ele o nivel real de violência.

A solução social-democrata tornou-se uma ilusão. A questão é: que irá tomar o seu lugar, para a vasta maioria das populações do planeta?
Fonte: Carta Maior
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quinta-feira, 7 de julho de 2011

O que é a Geopolítica?

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Muitos falam em geopolítica, porém poucos conseguem dar a definição exata desta ciência. Entre as muitas explicações a respeito da geopolítica, alguns tentam usar a seguinte explicação: Geo = Geografia (ciência que estuda o espaço físico e suas relações com as sociedades) e Política (ciência da organização, direção e administração de nações ou Estados), porém a ciência geopolítica é definida como a ciência que estuda as relações entre a política de poder dos Estados e suas relações com o mundo.

A geopolítica esta amparada em pilares que definem as relações de poder do Estado interna e externamente. Classifico em minha concepção os seguintes pilares, os quais mais a frente iremos analisar em artigos futuros: coesão política interna, poderio militar, política econômica, tecnologia, IDH, recursos naturais e energéticos. Estes são apenas alguns dos pilares, sendo base de diversas ramificações pelas quais se obtém a capacidade de impor sua política de poder, alvo principal do estudo geopolítico, no cenário internacional através de sua política externa.

Voltando na história da humanidade, podemos observar em diversas épocas desde a mais remota antiguidade demonstrações do pensamento geopolítico, porém de forma muito limitada, sendo este raciocínio limitado pelas distantes fronteiras e o conhecimento limitado. Contudo, no século XIX houve o princípio da normatização metodológica desta ciência, quando o geógrafo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) formulou conceitos fundamentais para abordagem real da geopolítica internacional em seu livro intitulado “ANTROPOGEOGRAFIA – Fundamentos da aplicação da geografia à história”. Defendendo que a função do Estado é expandir e defender o território nacional.

Neste primórdio conceitual da geopolítica, Ratzel expôs o conceito de mobilidade das fronteiras nacionais, sendo estas diretamente relacionadas à capacidade do Estado de propiciar sua expansão ou manutenção através de seu expoente político-militar. Tendo como fonte de seus estudos o cenário que se desenvolvia na Europa à época.

Além de Ratzel, podemos citar como um dos precursores da geopolítica atual o almirante americano Maham, que elaborou em sua tese a respeito dos EUA uma visão estratégica com base na posição geográfica dos EUA e traçando uma visão geopolítica da importância de se estabelecer acordos com o México e Canadá, assim obtendo certa coesão política regional interestatal. Segundo sua análise os EUA eram uma “enorme ilha” cercada pelos oceanos Atlântico e Pacífico, o que seria um importante fator que limitaria a possibilidade de invasão de seu território apenas através dos seus vizinhos ao sul e ao norte. Mahan ainda defende a idéia de que as potências marítimas tendem a ser dominantes, pois são capazes de manter o controle de áreas ao redor do continente euroasiático, então o “núcleo sócio-econômico-político” do mundo.

De fato, a Eurásia pode ser definida como uma enorme massa territorial contínua cuja segurança depende, principalmente da ação de forças militares basicamente terrestre, ou seja, as nações euroasiáticas teriam uma mentalidade estratégica voltada para exércitos, enquanto os países em seu entorno optam pelo poder naval. Nos dias atuais podemos definir a escolha pelo poder aeronaval por parte das nações periféricas à eurásia, representado principalmente pelo poder amparado pelos porta-aviões. Assim podemos definir dois tipos de nações: as nações “baleias” versus os países “ursos”.

Nesta viagem em busca dos primórdios da ciência geopolítica citamos ainda outros nomes importantes, os quais serão posteriormente tema de postagens aqui no GeoPolítica Brasil em continuidade deste estudo que vos apresento, como Mackinder, Kjellen entre outros.

Em suma, a geopolítica tem como foco principal o estudo das relações de poder e a cena que se desenvolve em decorrência destas no cenário internacional e militar, onde posso afirmar que esta ciência esta intimamente relacionada com os conflitos e guerras, sendo estes uma expressão decorrente da política de poder entre Estados e suas ambições. Havendo ainda uma forte relação com as visões de Ratzel e Mackinder no que cerne a relação entre o poder político e a equação conflitualidade x guerra.

A geopolítica em resumo, é a ciência que surge da necessidade de se explicar o surgimento, ascensão e queda das potências políticas e suas influências no plano político-econômico-estratégico mundial. Determinando métodos de estudos e formas de traçar futuros plausíveis, através da análise histórica e do estudo de tendências futuras de forma a formular sugestões de processos que conduzam ao futuro desejado, além de analisar o cerne das decisões políticas e estratégicas adotadas pelos Estados.

Neste artigo espero ter atingido meu objetivo quando nesta madrugada me debrucei sobre os livros e procurei trazer até o amigo leitor uma síntese do que é e do que trata-se quando falamos em geopolítica. Em breve trarei uma continuidade desta breve abordagem, de forma a lhe proporcionar um conteúdo mais profundo nesta ciência tão importante e pouco difundida em nosso país.




Angelo D. Nicolaci - Editor do GeoPolítica Brasil, cursa relações internacionais pela UCAM, pesquisador sobre geopolítica e assuntos geoestratégicos.
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terça-feira, 28 de junho de 2011

Disputas no mar do Sul da China podem causar guerra, diz estudo

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Há um crescente risco de que os incidentes marítimos envolvendo a China desencadeiem uma guerra na Ásia, o que poderia envolver também os Estados Unidos e outras potências, alertou uma instituição australiana nesta terça-feira.

O Instituto Lowy afirmou em relatório que o comportamento de risco dos militares chineses nos mares do Sul e do Leste da China, junto com a demanda do país por recursos e sua maior assertividade no cenário global, elevam as chances de um conflito armado.

"As linhas marítimas do Indo-Pacífico na Ásia estão ficando mais lotadas, disputadas e vulneráveis a tensões armadas. Forças navais e aéreas estão sendo fortalecidas em meio a uma mudança nos equilíbrios do peso econômico estratégico", escreveram Rory Medcalf e Raoul Heinrichs, autores do estudo.

"As fricções da China com Estados Unidos, Japão e Índia devem persistir e se intensificar. Conforme crescem o número e o ritmo dos incidentes, cresce também a probabilidade de que um episódio chegue a um confronto armado, a uma crise diplomática ou possivelmente até a um conflito", diz o texto.

A divulgação do estudo coincide com o lançamento pela China, talvez já nesta semana, do seu primeiro porta-aviões, num símbolo da atual expansão militar de Pequim. Neste mês, a China enviou seu maior navio civil de patrulha ao mar do Sul da China, o que preocupou as Filipinas, que disputa com os chineses uma zona marítima supostamente rica em gás e petróleo.

Na segunda-feira, o Senado dos EUA aprovou uma moção que deplora o uso da força contra navios vietnamitas e filipinos no mar do Sul da China. Um porta-voz da chancelaria chinesa reagiu dizendo que a resolução "não para em pé", e que países que não estejam diretamente envolvidos na disputa não deveriam interferir.

O relatório australiano detalha também tensões entre China e Japão, decorrentes de um exercício militar chinês em abril de 2010 perto das ilhas japonesas de Okinawa, e exacerbados pela detenção de um pescador chinês cuja traineira abalroou uma embarcação da Guarda Costeira japonesa.

Esses incidentes causaram uma crise diplomática durante a qual a China interrompeu suas exportações de terras-raras, um mineral raro, para o Japão, maior aliado dos EUA na região.

Fonte: Reuters
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O capitalismo precisa de férias

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O crescimento mede ao menos uma coisa: a saúde do capitalismo. Desse ponto de vista, o futuro parece sombrio. Nos Estados Unidos, o esgotamento dos efeitos da política monetária da administração Obama e a evolução da dívida pública marcam os limites de uma política de alavancagem que não toca nas alucinantes desigualdades na distribuição de renda. O sobressalto japonês reduziu-se a nada, pelas consequências da catástrofe nuclear. Quanto à Europa, ela bate no muro com alegria.

Os velhos países capitalistas não vão bem. É o que mostram as últimas previsões da ONU: “Uma desaceleração do crescimento mundial é esperada em 2011 e em 2012”. Para os países desenvolvidos, o informe prevê um crescimento de 1,9% em 2011 e depois de 2,3% em 2012. A União Europeia (1,5 e 1,9%) e o Japão (1,1% e 1,4%) fariam ainda bem menos e os Estados Unidos (2,2 e 2,8%) um pouco melhor. O crescimento mundial será puxado pelos países em desenvolvimento, com 6% em 2011 e 6,1 em 2012. “A retomada do crescimento mundial foi freada pelas economias desenvolvidas”, diz o informe. Pode-se mesmo se perguntar se haveria uma retomada nos países desenvolvidos sem o dinamismo dos países emergentes.

O crescimento mede ao menos uma coisa: a saúde do capitalismo. Desse ponto de vista, o futuro parece sombrio. Nos Estados Unidos, o esgotamento dos efeitos da política monetária de Quantitative Easing e a evolução da dívida pública marcam os limites de uma política de alavancagem que não toca nas alucinantes desigualdades na distribuição de renda. O sobressalto japonês reduziu-se a nada, pelas consequências da catástrofe nuclear. Quanto à Europa, ela bate no muro com alegria.

O informe da ONU assinala com razão que “a austeridade orçamentária corre o risco de desacelerar mais do que a retomada do crescimento, que o aumento da instabilidade nas taxas de câmbio permanece um risco tanto como um reequilíbrio coordenado da econômica mundial”. Vistas de perto, as proposições avançadas são de uma vacuidade quase cômica: seria preciso “coordenar os programas de relançamentos; a política orçamentária deve ser revista, a fim de se reforçar seu impacto sobre o emprego”. A ONU chama de suas metas “uma política monetária mais eficaz, um acesso mais previsível para financiar o desenvolvimento, objetivos mais concretos e executivos para a coordenação das políticas internacionais”.

Num contexto como esse, o projeto de “desglobalização” carece ao menos de simetria. Sua proposição central é a de um protecionismo (europeu no melhor dos casos, ou limitado "ao hexágono" [A forma geográfica da França lembra um hexágono, razão pela qual o país é chamado de "L'hexagone"] em relação às importações provenientes dos países emergentes que não respeitam as normas sociais e ambientais. Mas nem [Arnaud] Montebourg, nem [Emmanuel] Todd, nem [Jacques] Sapir falam de exportações. Ora, são os países emergentes hoje puxam e financiam a retomada do crescimento econômico: “as transferências financeiras líquidas dos países pobres para os países ricos ainda estão em crescimento”, sublinha a ONU. Querer reduzir unilateralmente as importações não pode conduzir a uma configuração estável.

A desmundialização assim concebida deve ser distinguida do altermundialismo em vários aspectos recentemente sintetizados por Jean-Marie Harribey. Em primeiro lugar, a mundialização não é a única fonte de degradação social. A ONU prevê assim “a presistência do desemprego nos países desenvolvidos”. Com a crise, as taxas de desemprego passaram de 6 para 9% e deve permanecer superior a 8% em 2012. Essa retomada [da economia] sem emprego [jobless recovery] que está no horizonte dos velhos países capitalistas não resulta da mundialização que os mercados visam a explorar, mas de uma vontade convicta de restabelecer as taxas de lucro e a sacrossanta competitividade.

O tema da desmundialização remete a um encadeamento que não funciona mais: competividade, logo crescimento, logo emprego. Mas se tudo o crescimento serve a uma pequena parte dos ricos, para quê procurar um crescimento mais elevado? O que está em jogo de verdade é uma outra maneira de distribuir a riqueza, mas também aí é a mundialização que força os acionistas a se esbaldarem, quando todos os outros devem apertar os cintos? Esse projeto visa no fundo a retomar o capitalismo aos “Gloriosos Anos Trinta”, por meio de um protecionismo que permita uma reindustrialização fundada sobre um crescimento produtivista. Significa dar as costas à alternativa real: a grande bifurcação em direção a um outro modelo, que combine a satisfação das necessidades sociais com a luta contra o aquecimento global.

Por Michel Husson - economista, membro do Conselho Científico da ATTAC/França.

Fonte: Carta Maior
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