A Casa Branca respondeu nesta segunda-feira às queixas feitas pela França sobre as novas denúncias de espionagem por parte da Agência de Segurança Nacional americana alegando que "todas as nações realizam operações de espionagem".
"Já deixamos claro que os Estados Unidos recolhem informações de inteligência no exterior do mesmo modo que todos os países recolhem", afirmou a porta-voz da agência, Caitlin Hayden.
"Como disse o presidente (Barack Obama) em seu discurso na assembleia geral das Nações Unidas, começamos a revisar o modo com que obtemos informações para poder chegar a um equilíbrio entre as legítimas preocupações pela segurança de nossos concidadãos e aliados e as preocupações que todo o mundo compartilha a propósito da proteção de sua intimidade", acresentou.
Novas revelações sobre a espionagem em massa dos serviços norte-americanos provocaram reações iradas da França, que convocou o embaixador dos Estados Unidos em Paris.
Segundo o jornal Le Monde, em sua edição desta segunda-feira, a agência americana de Segurança (NSA) realizou 70,3 milhões de gravações de dados telefônicos de franceses em um período de 30 dias entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013. O Le Monde cita documentos do ex-consultor da NSA Edward Snowden, atualmente asilado na Rússia.
"Estou profundamente escandalizado", declarou nesta segunda-feira em Copenhague o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault.
França se diz chocada com alcance de espionagem dos EUA
As autoridades da França se disseram chocadas com o alcance da espionagem realizada pela Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos no país e exigiram explicações do governo americano, após as revelações feitas pelo jornal "Le Monde" desta segunda-feira de que a agência interceptou mais de 70 milhões de comunicações telefônicas na França em apenas um mês.
"Estou profundamente chocado. É inacreditável que um país aliado como os Estados Unidos possa espionar a esse ponto tantas comunicações privadas que não têm nenhuma justificativa estratégica nem de defesa nacional", declarou o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault.
Ele pediu aos Estados Unidos "respostas claras" sobre as razões que motivaram a utilização dessas práticas de espionagem e, sobretudo, para que sejam criadas "condições de transparência para pôr fim a isso".
Segundo o "Le Monde" desta segunda-feira, que cita documentos vazados pelo ex-consultor da NSA Edward Snowden, atualmente refugiado na Rússia, a agência americana espionou 70,3 milhões de ligações telefônicas de franceses entre 10 de dezembro de 2012 e 8 de janeiro deste ano.
O jornal informou ainda que os documentos indicam que a NSA espionou pessoas suspeitas de ligações com atividades terroristas e também empresários, políticos e membros do governo francês.
A agência teria também interceptado e-mails com endereços Wanadoo (antiga filial do grupo Orange, ex-France Télécom), que ainda totaliza 4,5 milhões de usuários, e Alcatel-Lucent, empresa franco-americana de telecomunicações.
Convocando o embaixador
Após as revelações do jornal, o chanceler francês, Laurent Fabius anunciou a convocação "imediata" do embaixador americano em Paris, Charles Rivkin.
O novo caso de espionagem da NSA coincide com a chegada a Paris do secretário de Estado americano, John Kerry.
"Nós cooperamos de maneira útil na luta contra o terrorismo, mas isso não tem nenhuma justificativa", disse Fabius, acrescentando que irá pedir "explicações" sobre o assunto em uma reunião com Kerry na terça-feira.
"Esse tipo de prática entre parceiros que ataca a vida privada é totalmente inaceitável. É preciso se assegurar, muito rapidamente, em todo o caso, que ela não ocorra mais", declarou o chanceler francês.
O ministro do Interior, Manuel Valls, também afirmou que as revelações feitas pelo "Le Monde" são "chocantes e inaceitáveis".
'Natureza das coisas'
Em junho passado, já haviam surgido outras revelações de espionagem realizada pela NSA na França, que resultaram, em julho, na abertura de investigações por parte do Ministério Público de Paris.
Alguns especialistas afirmam que apesar das fortes críticas feitas contra a NSA, as revelações feitas pelo Monde não representariam uma surpresa para o governo francês, que também já espionou dados nos Estados Unidos.
"Espionar, mesmo seus amigos, faz parte da natureza das coisas. O objetivo é ter informações sobre os países mais importantes do mundo", afirma Louis Caprioli, ex-subdiretor da divisão responsável pela luta antiterrorismo na França e consultor de análise de riscos.
"O ministro francês do Interior havia declarado em julho, em um fórum sobre crime e segurança em Davos (Suíça), que para proteger suas populações todos os Estados precisam ter acesso a certas comunicações eletrônicas. É um sinal de que há escutas", afirma.
"O serviço de espionagem americano é colossal. Eles interceptam qualquer pessoa, às cegas, depois elaboram critérios para selecionar o que possui interesse", acrescenta Caprioli, se referindo ao fato de que empresários e políticos franceses também foram espionados.
"É uma pseudo-revelação. Todos os países aliados se espionam. Todos os países se espionam. Caio da cadeira quando ouço pessoas gritarem que isso é horrível. Sejamos realistas", disse à uma rádio francesa Arnaud Dangean, deputado do Partido Popular Europeu, de direita, e especialista em questões de inteligência.
A presidente Dilma também criticou fortemente a espionagem realizada pela NSA de suas comunicações e da Petrobras, afirmando que isso representa uma violação aos direitos humanos e um desrepeito às soberanias nacionais.
Após o surgimento das revelações de que a NSA espionou Dilma e a empresa de petróleo brasileira, a presidente decidiu cancelar a visita de Estado que faria aos Estados Unidos neste mês.
Fonte: GBN com AFP e BBC Brasil