No segundo encontro desde que reataram relações diplomáticas, os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, evitaram debater sobre o pivô da crise entre os vizinhos, o acordo militar firmado entre Bogotá e Washington que permitirá a tropas norte-americanas o uso de sete bases militares em território colombiano.
O acordo, que levou à ruptura de relações entre os vizinhos, "não foi mencionado" afirmou à BBC Brasil o ministro de Defesa venezuelano, Carlos Mata Figueroa.
O ministro de Defesa da Colômbia, Rodrigo Rivera, por sua vez, indicou que seu governo não trataria deste tema na Venezuela ao dizer que se trata de um assunto "delicado" para ser tratado no momento em que Chávez e Santos tentam uma reaproximação.
Rivera, desmentiu que o governo colombiano tivesse a intenção de abandonar o acordo e de não submetê-lo à aprovação do Congresso, como afirmou a vice-presidente do Senado colombiano, Alexandra Moreno, na semana passada. A notícia de que Santos supostamente teria desistido do convênio com Washington chegou a ser comemorada pelo presidente venezuelano.
"Isso foi desmentido", disse Rivera. "Vamos esperar o parecer final da Corte Constitucional para tomar uma decisão", acrescentou.
O acordo militar, firmado no final do ano passado entre o governo do então presidente Álvaro Uribe e os Estados Unidos, foi suspenso depois que algumas de suas cláusulas foram consideradas inconstitucionais pela Corte Constitucional da Colômbia.
Com esta medida, Santos --que foi o principal negociador do acordo quando estava à frente do ministro de Defesa-- terá de submeter o acordo à aprovação do Parlamento para que ele possa entre em vigor.
LUA-DE-MEL
Enquanto aguarda um relatório da Corte Constitucional, Santos ganha tempo e estende sua "lua-de-mel" com Chávez.
O encontro de terça-feira em Caracas foi marcado pelo bom humor de ambos mandatários e pela assinatura de quatro acordos de cooperação nas áreas de segurança, infraestrutura, comércio e desenvolvimento social.
Sobre o controle fronteiriço e a eventual penetração das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) em território venezuelano, um dos pivôs da crise, o ministro de Defesa da Venezuela disse que ambos governos agora "riem" sobre o assunto.
Mata Figueroa, no entanto, admitiu haver "rastros" da guerrilha na Venezuela. "Haviam coordenadas (sobre a presença das Farc) que eram verdade, outras que eram mentira", disse à BBC Brasil. "Encontramos rastros da guerrilha, casas abandonadas", acrescentou.
"Demos um passo muito importante, das declarações políticas, passamos a fatos concretos", afirmou Santos, no palácio de Miraflores, sede do governo.
Para a Colômbia, a retomada das relações comerciais com a Venezuela, que foi seu segundo principal parceiro econômico, é fundamental para superar a crise.
De acordo com o Banco Central da Colômbia, o país deve fechar o ano de 2010 com uma queda de 80% nas exportações para a Venezuela em relação a 2008, quando o país teve um superávit US$ 6 bilhões no comércio com o país.
Em 2009, a queda já foi significativa e o comércio binacional ficou em US$ 3,5 milhões.
Para este ano, a previsão do Banco Central colombiano é de que o comércio com Caracas não ultrapasse US$ 1,2 bilhão. Até o mês de agosto, o intercâmbio comercial entre os dois países não superou os US$ 800 milhões, de acordo com o Departamento Administrativo Nacional de Estatística (DANE).
Chávez disse que apesar das diferenças políticas entre ambos, Caracas e Bogotá trabalharão para manter a cooperação e integração política e econômica. "Isso é farinha de outro saco", afirmo o presidente venezuelano sobre o antagonismo entre os projetos de governo.
Chávez, que costumava discutir com o ex-presidente Uribe por meio da imprensa, pediu que os governos derrubem "de uma vez a diplomacia de microfones".
Antes de chegar ao Palácio de Miraflores, Santos e Chávez visitaram o mausoléu do líder independentista Símon Bolívar. No caminho para a sede do governo, Chávez dirigiu o carro, acompanhado do colega colombiano.
Essa quebra do protocolo foi a deixa para Santos arriscar uma brincadeira com o colega venezuelano: "Chávez vinha dirigindo, eu tinha certo temor, porque diziam que ele sabe acelerar, mas não sabe frear".
Fonte: BBC Brasil