O MRE e o Ministério da Defesa da Coreia
do Sul criticaram a China pelo desenvolvimento de uma zona de defesa aérea,
alegando que ela está cobrindo o espaço aéreo de territórios sul-coreanos.
Alguns peritos, contudo, duvidam da razão destas reclamações sul-coreanas em
relação à China. Em particular, o colaborador científico sênior do Centro de
Pesquisa do Japão da Academia de Ciência da Rússia, Viktor Pavlyatenko, não viu
quaisquer territórios sul-coreanos na nova zona de defesa aérea chinesa:
“Pelo visto, a nova presidente da Coreia
do Sul decidiu deste modo anunciar sua presença no palco da política externa.
Afirmou que a zona de defesa aérea chinesa estaria a cobrir o território de uma
ilha coreana e, portanto, o espaço aéreo da Coreia. Contudo, não se trata de uma
ilha, mas sim de uma rocha que se encontra praticamente debaixo de água. Segundo
o direito internacional, tais formações não se consideram ilhéus e, por
conseguinte, não são territórios que demarquem águas territoriais, zonas
econômicas ou espaço aéreo”.
Sejam quais foram as reclamações de Seul,
Pequim propôs discuti-las através de conversações. Ao Japão não foram propostas
quaisquer conversações sobre a zona de defesa aérea da China. Mas a Coreia do
Sul é diferente. Pequim não deixou de notar que, ultimamente, Seul como que se
distanciou do Japão e dos EUA, que ocupam uma posição dura em relação a águas
territoriais da China e consolidam a cooperação militar face ao reforço
econômico e militar da China. Influiu também o descontentamento da Coreia do Sul
com reclamações territoriais do Japão em relação ao grupo de ilhas Dokdo e com
as declarações de políticos japoneses que justificam os crimes da camarilha
militar japonesa nos anos da ocupação da Coreia. O principal, contudo, é que a
Coreia do Sul, que se encontra perto da China, não tem vontade de se confrontar
com a China. Por isso, em particular, Seul não aderiu ao projeto
americano-japonês de defesa antimíssil. Como parece, Pequim valorizou tal
comportamento da Coreia do Sul.
Hoje, porém, a posição de Seul em relação
à China, assim como ao Japão e aos Estados Unidos poderá sofrer alterações. Há
dias, em Seul, em uma reunião de representantes da administração presidencial,
do governo e do partido governante Saenuri ("O Mundo Novo"), foi reconhecida a
necessidade de alargar a zona de identificação de defesa aérea da República da
Coreia ao sul das fronteiras atuais. Na mesma altura, o ministro das Relações
Exteriores sul-coreano, Yun Byung-se, declarou, pela primeira vez desde o
momento do agravamento das relações com o Japão, sobre a intenção de “empreender
esforços” para estabilizá-las.
Este passo da Coreia do Sul pode
testemunhar alterações em sua orientação política e na disposição geral das
forças na região, considera o professor do Instituto de Relações Internacionais
de Moscou, Dmitri Streltsov:
“Há muito que esta situação se tornou
madura. O gênio foi solto da garrafa, quando a China começou a consolidar
ativamente sua soberania nacional em relação a vários territórios, considerados
contestáveis. A démarche da Coreia do Sul não é a última na cadeia de
acontecimentos nesta área.
O Japão e a Coreia do Sul, embora
continuem a ser rivais, terão de elaborar agora uma posição comum. Tanto que a
China aplica sua política bastante agressivamente, objetivamente, a Coreia do
Sul e o Japão encontram-se no mesmo barco. Provavelmente, alguns projetos na
cooperação militar, engavetados após o agravamento das relações entre Seul e
Tóquio (sobre a troca de informações de inteligência, sobre a cooperação
logística), ganham novos estímulos, podendo esperar alguns acordos nesta
área”.
Se esses acordos forem alcançados,
estaremos perante a formação de um triângulo Seul-Tóquio-Washington. Um
considerável “mérito” disso será da China que, com suas ações em relação aos
territórios contestados, estimula os vizinhos a formar blocos
anti-chineses.
Fonte: Voz da Rússia