Líderes da indústria aérea latino-americana estão em um encontro no Brasil hoje para o ATAG Latin America Sustainable Aviation Workshop 2011, um workshop sobre aviação sustentável. No evento, que reunirá especialistas de aeroportos, companhias aéreas, controladores de tráfego aéreo, fabricantes de aeronaves e motores e autoridades governamentais, serão examinados os desafios decorrentes do crescimento da aviação por toda a América Latina e a forma como a indústria da aviação e os governos poderão trabalhar juntos para vencê-los.
Paul Steele, diretor executivo do ATAG (Air Transport Action Group), grupo que reúne uma coalizão de organizações e empresas da indústria aérea, disse: “Todas as previsões indicam que o número de passageiros na América Latina está aumentando com maior rapidez do que a média mundial. É possível que até 2030 tenhamos 600 milhões de passageiros na região. A questão é: como nos beneficiarmos desse crescimento e, ao mesmo tempo, assegurarmos que venceremos os desafios da sustentabilidade no que diz respeito à infraestrutura, meio ambiente, impactos sociais e benefícios econômicos?”
As companhias aéreas sediadas na América Latina transportam mais de 154 milhões de passageiros a cada ano. A aviação é responsável por 2,4 milhões de empregos que geram quase três vezes mais valor do que outros empregos na economia. Só no Brasil há bem mais do que um milhão de indivíduos empregados no setor aéreo, além de 254.00 pessoas empregadas nas áreas de turismo possibilitadas pela aviação.
“Não há dúvida de que o transporte aéreo tem um papel fundamental no desenvolvimento econômico de todos os países, mas especialmente em economias emergentes de rápido crescimento como o Brasil. A aviação provê conexões dentro do país e entre o Brasil e seus parceiros comerciais na região e internacionalmente. É muito importante que o setor de transporte aéreo seja incentivado pelos governos a crescer de modo responsável, para que seus benefícios se estendam a um número maior de pessoas”, continua Steele.
Estima-se que as atividades da aviação e aeroportos contribuam com quase R$30 bilhões ao ano para a economia brasileira. Esse número não inclui operações industriais, como as da Embraer que contribuem significantemente com a economia brasileira, ou turismo. Essas pessoas têm empregos que requerem um elevado nível de especialização e que pagam bons salários, o que representa uma contribuição ainda maior para as comunidades em que elas vivem e trabalham.”
“O setor aéreo na América Latina está crescendo com maior rapidez do que a média mundial, e esse potencial de crescimento ainda não se esgotou. O Brasil, por exemplo, possui um significativo potencial ainda não explorado. O cidadão americano médio viaja de avião 1,8 vezes ao ano, enquanto o brasileiro médio pega 0,3 voos. À medida que a economia brasileira for se fortalecendo, e a população atingindo a marca de 190 milhões de pessoas, haverá amplas possibilidades para a indústria da aviação crescer e para que áreas como o comércio e o turismo se beneficiem dos efeitos econômicos positivos disso” acrescentou Steele.
O workshop, organizado pelo ATAG, ocorrerá um ano antes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (também conhecida como Rio+20) no Rio de Janeiro, cujo anfitrião será o governo brasileiro e que terá como foco o desenvolvimento de uma economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável.
Aviação latino-americana e o crescimento sustentável
Segundo o ATAG – Air Transport Action Group (Grupo de Ação para o Transporte Aéreo), a aviação está adotando uma abordagem responsável das questões ambientais. O diretor executivo do ATAG, Paul Steele, afirma que nenhuma outra indústria mostra maior empenho em reduzir suas emissões de dióxido de carbono: “É muito gratificante ver companhias aéreas, aeroportos, controladores de tráfego aéreo e fabricantes de aviões no mundo inteiro se esforçando tanto para reduzir o impacto da aviação no meio ambiente.”
No ano passado, o setor de transporte aéreo mundial emitiu 649 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Isso representa 2% do total global de dióxido de carbono produzido pelo homem, que soma cerca de 34 bilhões de toneladas. “Dois por cento pode parecer pouco, mas ainda consideramos essa porcentagem demasiadamente alta”, diz Steele. “Em 2008, nossa indústria se tornou o único setor em nível mundial a elaborar um conjunto de metas para reduzir as emissões. A partir de 2020, limitaremos o crescimento de emissões líquidas de CO2, embora nosso número de passageiros continuará aumentando. Até 2050 teremos reduzido em 50% a quantidade de CO2 emitida pela aviação, em comparação a 2005. Trata-se de metas ambiciosas, mas somos uma indústria ambiciosa, e as discussões no workshop de hoje mostrarão nosso empenho em alcançá-las.”
Os delegados presentes no workshop do ATAG tomaram conhecimento, através de fabricantes de aviões, de algumas das novas tecnologias sendo desenvolvidas com vistas a tornar os aviões mais ecológicos. Novos designs, materiais de construção mais leves, melhorias na aerodinâmica e o uso de aletas contribuem para a redução de emissões. “Na realidade, através apenas da tecnologia, a indústria da aviação já melhorou em 70% a eficiência das aeronaves, em comparação às primeiras gerações de jatos, em 1960. O consumo de combustível de cada nova geração de aeronaves é 15% - 20% menor do que o modelo que ela substitui.”
Steele diz que a indústria tem um verdadeiro incentivo para reduzir o consumo de combustível: “O combustível é o nosso custo principal – representa cerca de 30% do custo operacional das empresas aéreas no mundo inteiro. No ano passado, custou-nos um total de 140 bilhões de dólares e, este ano, poderá chegar a 180 bilhões de dólares. Portanto, nosso incentivo para reduzir o consumo de combustível não é apenas ambiental, mas também financeiro.”
As empresas aéreas no mundo inteiro estão introduzindo novas medidas operacionais com vistas a reduzir as emissões de dióxido de carbono e o consumo de combustível. Há vários projetos em curso, desenvolvidos por todas as empresas aéreas, inclusive as da América Latina, e que incluem desde a introdução de assentos e de carrinhos de buffet mais leves à adoção de novos modos de aterrissar e decolar. A empresa aérea GOL, no Brasil, adotou uma nova técnica para lavar as aeronaves, que utiliza 90% menos água do que os métodos anteriores. A Avianca está adotando novas técnicas para voar aviões com maior eficiência, o que os levou a economizar 13 milhões de dólares em combustível em 2009. A Copa Airlines introduziu asaletas em toda a sua frota, reduzindo, assim, o consumo de combustível em 3,5%. A mexicana Volaris instituiu um programa para analisar as questões ambientais em toda a empresa. O novo aeroporto de Quito sendo construído tem o meio ambiente e a comunidade local como elementos-chave do projeto. A Embraer, no Brasil, está fabricando aeronaves que requerem baixo consumo de combustível.
“Um dos grandes desafios continua a ser a questão da infraestrutura, e, em especial, do controle do tráfego aéreo. Na Europa e nos Estados Unidos, os aviões têm de sobrevoar aeroportos congestionados e voar por espaços aéreos lotados. O controle do tráfego aéreo tem sido feito de modo muito seguro, mas devemos usar novas tecnologias para garantir ainda maior segurança nas viagens aéreas e, ao mesmo tempo, maior eficiência. A América Latina deve também cuidar para que, à medida que sua indústria aérea cresce, seja feito um planejamento adequado no presente, para os passageiros do futuro.” Afirma Steele.
O uso de biocombustíveis na aviação é objeto de muitos debates. “Trata-se de uma novidade muito empolgante”, disse Steele. “Depois de três anos de testes bastante rigorosos, recebemos, poucas semanas atrás, aprovação para a utilização de biocombustíveis em voos comerciais. Esses voos já começaram, e é fantástico ver a indústria aproveitando esta oportunidade com entusiasmo.”
“Os biocombustíveis nos permitirão crescer e, ao mesmo tempo, reduzir nossas emissões globais. Estimamos que, com o uso de biocombustíveis sustentáveis, seremos capazes de reduzir nossas emissões em até 80%. Em termos técnicos, sabemos que os biocombustíveis são viáveis na aviação, e há um grande número de voos de teste que o comprovam – inclusive o importante voo de teste da empresa TAM realizado aqui no Rio de Janeiro, no ano passado. Tecnicamente o biocombustível de aviação já provou ser eficiente, agora é fundamental o aumento da comercialização dessa nova fonte de energia” completou Steele.
A ATAG publicou um relatório, Powering the Future of Flight (Abastecendo o Futuro da Aviação), no qual foram identificados “seis passos fáceis” que os governos deveriam tomar para ajudar a aviação e o setor de combustíveis a adotar biocombustíveis sustentáveis na aviação. São eles:
1) Desenvolver pesquisas sobre novas fontes de matéria-prima e processos de refinamento;
2) Eliminar quaisquer riscos nos investimentos públicos e privados em biocombustíveis para a aviação;
3) Incentivar as empresas aéreas a usarem biocombustíveis desde cedo;
4) Incentivar stakeholders a adotarem sólidos critérios de sustentabilidade internacional;
5) Identificar oportunidades locais de crescimento ecológico;
6) Estabelecer coalizões que incluam todos os elementos da cadeia de suprimento.
Fonte: GeoPolítica Brasil com informações direto da ATAG