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quinta-feira, 18 de junho de 2020

Quais são as opções de Patrulha Marítima (MPA) para o Brasil?

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O Brasil é um dos países com a maior ZEE (Zona Econômica Exclusiva) do mundo, com cerca de 3,6 milhões de km², associados um litoral igualmente imenso que se extende por cerca de 7.400 km. Além disso, o Brasil também pleiteia, junto a organismos internacionais, estender a soberania à plataforma continental, aumentando a área de mar sob jurisdição brasileira para cerca de 4,5 milhões de km².


Manter a soberania de uma área tão extensa não é nada fácil, e uma das maneiras mais eficientes de cobrir os mares é a partir do ar, usando plataformas MPA (Aeronaves de Patrulha Marítima). Além da MPA, as aeronaves também podem incorporar as funções ASW (Guerra Anti Submarino) e ASuW (Guerra Anti Superfície).


Os vetustos P-95 Bandeirulha (e o P-3AM Orion  são excelentes plataformas,
mas estão chegando ao fim de suas vidas úteis (FAB)














De modo geral, pode-se dizer que MPA envolve não apenas a vigilância do mar em si, mas também missões de apoio a embarcações com problemas, e também SAR (missões de busca e salvamento). Para ASuW deve-se acrescentar uma capacidade ofensiva (usando mísseis como o Exocet) e para ASW, além da capacidade ofensiva (com torpedos e cargas de profundidade), é desejável que a aeronave disponha de sensores adicionais, como MAD (detector de anomalias magnéticas) e sonoboias. Via de regra, aeronaves ASW são as mais completas (incorporando boas capacidades ASuW), e todas as plataformas deste artigo são excelentes para a missão MPA.


No momento, o Brasil dispõe apenas de uns poucos, e bastante usados, Embraer P-95 Bandeirulha e Lockheed P-3AM Orion, que embora excelentes nas suas funções já estão se aproximando do fim dos limites estruturais das células.

Como nenhum dos dois está mais em produção, o Brasil deverá buscar novas plataformas para estas importantes missões. Há diversas opções no mercado, excluindo aquelas de fornecedores dos quais não temos familiaridade no Brasil (como Japão, Rússia e China) e aeronaves usadas (MPA geralmente sofrem bastante desgaste devido à maresia e grande número de horas voadas):

  • GRUPO 1. PLATAFORMAS JÁ EM SERVIÇO EM OUTROS PAÍSES E AINDA EM PRODUÇÃO (CÉLULAS NOVAS): Boeing P-8 Poseidon, Leonardo ATR-42 / ATR-72, Airbus C295 Persuader
  • GRUPO 2. OUTRAS PLATAFORMAS JÁ VALIDADAS PARA MPA (CONVERTER CÉLULAS CIVIS USADAS): ATR-42 / ATR-72, C295, ERJ-145XR, etc
  • GRUPO 3. PLATAFORMAS JÁ PROPOSTAS MAS AINDA NÃO VALIDADAS PARA MPA (CÉLULAS NOVAS OU USADAS): Plataformas Embraer como KC-390, Legacy, Praetor, E-Jets (como o ERJ-175E2)...

 Vamos analisar, brevemente, cada grupo e algumas plataformas de cada grupo.



GRUPO 1 - PLATAFORMAS EM SERVIÇO E AINDA EM PRODUÇÃO (CÉLULAS NOVAS)



Atualmente, existem quatro plataformas nesta categoria: Boeing P-8 Poseidon, Leonardo ATR-42 e ATR-72 MPA, além do Airbus C295 Persuader MPA.




Boeing P-8 Poseidon



Boeing P-8 Poseidon com baia de armas aberta

O Boeing P-8 Poseidon é a nova plataforma MPA, ASW e ASuW da US Navy, e já começou a substituir o P-3 Orion naquela Marinha. Também já foi vendido para outros países, e deve continuar em produção ainda por alguns anos.

É baseado no Boeing 737-800, com diversas modificações. Assim como outras aeronaves grandes das Forças Armadas americanas, usa o sistema REVO (Reabastecimento em Voo) de lança (boom), ao invés do funil (drogue) usado no Brasil.

É capaz de uma ampla carga de armas e sonoboias, permitindo que realize não apenas a missão MPA, mas também ASW e ASuW. Já há propostas de modificações para que também possam atacar alvos em terra.

Não há dúvidas de que, das plataformas avaliadas neste artigo, o Poseidon é a maior e mais capaz, mas também a mais cara de adquirir e operar. Ademais, não teríamos como fazer REVO nessas aeronaves, o que limitaria sua persistência de voo. Portanto, apesar de ser um 'sonho de consumo', dificilmente será adquirida.




Leonardo ATR-42 / ATR-72

Leonardo ATR-72 MPA

Para uma plataforma MPA, a velocidade é menos importante que a persistência em voo, e por isso muitas plataformas são movidas por turboprops ao invés de jatos.

Os ATR-42 e ATR-72 são aeronaves turboprop muito populares no mercado civil, inclusive no Brasil, e a Leonardo produz MPA baseados em ambas as plataformas através da integração da suíte de aviônicos ATOS (sistema aerotransportado de vigilância tática e observação). Ambas podem ser usadas para MPA, e o ATR-72 também tem uma versão ASW/ASuW, adotada pela Turquia.

Nenhuma das variantes, até o momento, apresenta capacidade REVO, mas como são capazes de voos de 10 h de duração, tal limitação provavelmente não é tão importante.

Considerando-se o amplo mercado civil de ambas as aeronaves, pode-se dizer que ambas seriam alternativas viáveis para o Brasil. O ATR-72 é maior e mais capaz, mas os custos operacionais também são maiores.



Airbus C295 Persuader MPA

 Airbus C295 Persuader com suíte ASW realizando testes com torpedos. Observe-se o MAD no 'ferrão' da cauda

A Airbus tem uma variante MPA do C295, que o Brasil já opera como C-105 Amazonas; esta variante é designada C295 Persuader MPA, e pode contar com o sistema de REVO através de drogue.

Além da missão de transporte e patrulha, a variante MPA pode lançar armas como bombas, torpedos e mísseis a partir de 6 hardpoints nas asas, assegurando assim uma grande capacidade ASW / ASuW, conforme pacote de sensores instalados.

O fato de contar com capacidade de transporte, mais a possibilidade de fazer ASW e ASuW, além de a FAB já operar o C295 e REVO com drogue, faz com que o Persuader seja uma excelente opção para o Brasil.




GRUPO 2 - PLATAFORMAS JÁ VALIDADAS PARA MPA (CONVERSÃO CÉLULAS CIVIS USADAS)

 
Leonardo ATR-42 MPA da Guarda Costeira italiana. Além de células novas, é possível converter células civis para a tarefa


Além do ATR-42 e ATR-72, a Leonardo também já integrou a suíte ATOS em helicópteros e aviões tão pequenos como o Beechcraft King Air, além de outras plataformas como o de Havilland Canada DHC-8 (principal rival do ATR-72 no mercado civil).

Com a atual crise no mercado da aviação, é provável que várias destas células, além de células de outras aeronaves, como os próprios ATR-42 e ATR-72, estejam disponíveis a preços interessantes para a FAB.

O Embraer ERJ-145XR foi usado como base para uma versão MPA (P-99), vendida para o México, mas como a produção do modelo já foi encerrada, a FAB poderia adquirir células do mercado civil para conversão.

Esta opção pode ter custos de aquisição interessantes, mas deve-se tomar bastante cuidado com o estado de manutenção das células.

ATUALIZAÇÃO: Tivemos acesso a dados adicionais, oriundos de uma audiência pública (http://imagem.camara.gov.br/internet/audio/Resultado.asp?txtCodigo=19804).
Aeronaves ERJ-145XR não podem carregar armas, entre outras limitações da célula, portanto não seriam a opção ideal para missões ASW / ASuW, ficando restritas à missão MPA, fator que deve ser levado em consideração ao escolher a plataforma.


GRUPO 3 - PLATAFORMAS PROPOSTAS PARA MPA (NOVAS OU USADAS)

Concepção artística do IAI ELI-3360 MPA, baseado no jato executivo Bombardier Global 5000
Alguns sistemas MPA foram propostos mas ainda não desenvolvidos. Duas delas são baseadas em aeronaves executivas Bombardier Global 5000, o Saab Swordfish e o IAI ELI-3360 MPA. Como é de conhecimento geral, a Bombardier é uma grande concorrente da Embraer, portanto o Brasil provavelmente usaria uma plataforma Embraer.

As plataformas atuais da Embraer que poderiam ser adaptadas para usar a suíte Saab, IAI ou mesmo a do P-99 são: KC-390 Millennium, os jatos regionais E-Jets E2 (E175-E2 e E190-E2) e os executivos Legacy (450, 500 e 600) e Praetor (500 e 600).

Mas isso envolveria custos e prazos complicados. Estudos muito cuidadosos teriam que determinar o custo benefício de tal empreitada.



CONCLUSÃO


Este breve artigo indica algumas das opções existentes no mercado, e como se pode observar cada solução apresenta capacidades e custos diferentes, cabendo às nossas valorosas FFAA (Forças Armadas) determinar qual opção oferece o melhor custo benefício para o Brasil.

Num primeiro momento, se destacam o C295 Persuader (já operamos a versão de transporte) e conversões de plataformas Embraer, especialmente o KC-390, além de adquirir aeronaves civis e convertê-las pra tarefa.

Uma coisa é certa - dada a imensidão do nosso litoral, trabalho não vai faltar à plataforma escolhida!

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quinta-feira, 21 de maio de 2020

EXCLUSIVO! - IMPRESSIONANTE RELATO DE MISSÕES REAIS DURANTE A GUERRA DAS MALVINAS

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Durante a Guerra das Malvinas, muitas das aeronaves argentinas que partiam do continente em direção às ilhas precisavam ser guiadas por outras aeronaves equipadas com sistemas de navegação mais precisos e confiáveis. Em muitas dessas missões, quando servia no Grupo I Fotográfico e no Esquadrão Fênix, o Sr. Victor Hugo Martinón, então Suboficial Auxiliar e fotógrafo-navegador em aeronaves Learjet 35A da Força Aérea Argentina (FAA) participou, e hoje, 38 anos após aqueles dias difíceis de 1982, ele partilha conosco um pouco do que viveu, com texto e imagens de duas dessas perigosas missões de guiagem, uma exclusividade para o GBN Defense.


dia 21 de maio de 1982: MIssão "CUECA"

“Ordem Fragmentária Nº. 2143: Aeronave Learjet LR-35A T-23, aeronave de dotação da II Missão da Brigada Aérea do Paraná, Entre Ríos: Diversão e orientação da seção de aeronaves MV (IAI) Dagger, indicativo CUECA (Capitão Horacio MIR GONZALEZ, Primeiro-Tenente Héctor LUNA e Tenente Juan Domingo BERNHARDT). Como resultado de falha técnica do líder da seção LIBRA (Capitão Amílcar CIMATTI) a aeronave Dagger C-414 do Capitão Higino ROBLES se junta ao esquadrão CUECA. Tripulação: Comandante da Aeronave Capitão Nicolás BENZA, Copiloto: Capitão Carlos RONCONI e Mecânico de Aeronaves Cabo Primero Juan MOTHE. Decolou do aeródromo de Río Grande às 13h50; sob o controle do radar de Río Grande, ele guiou o esquadrão CUECA de aeronaves MV Dagger na aproximação para as Ilhas Falklands, depois retornando ao aeródromo de partida às 15h40.”


Dagger C-418 Capitão Horácio Mir GONZALES E Dagger C-436 Tenente Juan Domingo BERNHARDT


AERONAVE MV DAGGER C-409 Primeiro-Tenente Héctor LUNA


NOTA: A missão de indicativo "CUECA" tinha como objetivo atacar os navios da Marinha Real situadas na Baía de San Carlos, que havia sido invadida pelos ingleses na noite anterior. Recebeu a companhia do Capitão Higino ROBLES, pilotando o MV (IAI) Dagger C-414, que iria decolar para outra missão, mas o líder teve problemas de motor e abortou. Foram interceptados por Sea Harriers, com o Tenente Luna sendo atingido por um AIM-9L Sidewinder, mas ejetando com segurança. Os outros três pilotos atacaram o "HMS Ardent" e atingiram o navio com tiros de 30 mm e duas bombas de 450 kg na popa antes de retornar em segurança à base. 

O helicóptero Sea Lynx da fragata foi destruído e o navio, atacado por outras aeronaves argentinas, foi abandonado pela tripulação e acabou afundando na manhã do dia seguinte. O Tenente Bernhardt foi abatido por um SAM Rapier e morto no dia 29 de maio, pilotando o mesmo C-436. Os outros pilotos sobreviveram à guerra.


dia 25 de maio de 1982: MIssão "puma"

“Ordem Fragmentária Desconhecida: Aeronave Learjet LR-35A T-22, aeronave de dotação da II Brigada Aérea Paraná, Entre Ríos. Missão: Diversão e orientação da seção de aeronaves MV (IAI) Dagger indicativo PUMA. Tripulação: Comandante da Aeronave Capitão Juan MARTINEZ VILLADA, Copiloto Tenente Eduardo CASADO e Mecânico de Aeronaves Cabo Primero Alejandro LOPEZ. Ele decolou do aeroporto de Río Grande às 13h30, sobrevoou áreas adjacentes às Ilhas Falklands, pousou no mesmo ponto de partida às 14h40.”


AERONAVE MV DAGGER C-414 Capitão Higinio ROBLES


AERONAVE MV DAGGER C-431 Primeiro-Tenente Jorge RATTI



NOTA: O dia 25 de maio é a Data Magna da Argentina, Nesse dia os argentinos lançaram furiosos ataques aéreos contra os navios ingleses ainda situados na Baía de San Carlos. Sobre a missão de indicativo “Puma” não foram encontradas informações sobre a mesma, provavelmente possa ter sido uma missão abortada ou sem ter encontrado alvos significativos, já que os pilotos argentinos tinham poucos minutos sobre as Malvinas, pois o IAI Dagger não possuía capacidade de reabastecer em voo (REVO) e logo retornavam ao continente. Quanto aos pilotos, ambos sobreviveram à guerra.



FOTOS: Gentilmente cedidas pelo Sr. Victor Hugo Martinón.

FOTO DE CAPA: A fragata HMS Ardent afundando após os ataques argentinos do dia 21 de maio de 1982.




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Por Luiz Reis, Professor de História da Rede Oficial de Ensino do Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense com alma paulista, reside em Fortaleza-CE. Luiz colaborou com o Canal Arte da Guerra e o Blog Velho General e atua esporadicamente nos blogs da Trilogia Forças de Defesa, também fazendo parte da equipe de articulistas do GBN Defense. Presta consultoria sobre História da Aviação, Aviação Militar e Comercial. Contato: [email protected]



GBN Defense – A informação começa aqui

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quarta-feira, 20 de maio de 2020

“LUTAR NO FRIO E NA LAMA”: A CAMPANHA TERRESTRE NA GUERRA DAS MALVINAS (PARTE III)

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Após a retomada das ilhas Geórgia do Sul pela Inglaterra, no final de abril de 1982, começaram então os preparativos para se retomar as ilhas Malvinas. Inicialmente os ingleses iniciaram uma campanha de ataques aéreos contra as posições argentinas em Port Stanley (Puerto Argentino) a partir do dia 1º de maio, na chamada “Operação Black Buck”, quando os bombardeiros Avro Vulcan da Royal Air Force (RAF) partiam desde a base da Ilha de Ascensão, apoiado por vários reabastecedores Handley Page Victor. num voo de mais de 13 mil km, ida e volta, na época a missão de bombardeio mais longa da História.

Somado a isso, ataques dos Harrier GR.3 e Sea Harrier FRS1 a partir dos porta-aviões HMS Hermes e HMS Invicible que também atacavam posições argentinas e efetuavam Patrulhas Aéreas de Combate (PAC) visando combater. Os argentinos, que formaram a Força Aérea Sul (FAS), na qual elementos da Força Aérea Argentina (FAA) e a Aviação Naval Argentina (COAN) foram submetidos a um comando único centralizado, usando o Aeroporto de Port Stanley, que foi chamado de Base Aérea Militar (BAM) Malvinas, e bases aéreas e aeroportos civis do sul da Argentina (situados entre 700 e 1000 km das ilhas), de onde lançavam ataques contra as aeronaves inglesas num primeiro momento, e após os eventos do dia 20 de maio de 1982, contra os navios da frota inglesa.

As principais ações dessa primeira fase da guerra foram o afundamento do veterano cruzador leve argentino ARA General Belgrano (o ex-USS Phoenix, sobrevivente do ataque japonês contra a base norte-americana em Pearl Harbor, no dia 7 de dezembro de 1941) pelo submarino nuclear HMS Conqueror (que ironicamente lançou torpedos da época da II Guerra Mundial para atingi-lo), no dia 2 de maio, e o afundamento do destróier Tipo 42 inglês HMS Sheffield, por um míssil antinavio Exocet AM39, lançado de uma aeronave argentina Dassault Super Étendard do COAN, no dia 4 de maio.

MILITARES INGLESES X MILITARES ARGENTINOS

Os cerca de 10 mil soldados ingleses que foram servir na retomada das Malvinas, todos profissionais e muitos veteranos de outros conflitos, normais e assimétricos, foram muito bem equipados para a missão, muitos carregando cerca de 50 kg de armas, munição, equipamentos diversos e suprimentos. O fuzil padrão era o L1A1, uma versão inglesa do FN FAL, equipada com o calibre .280, mas muitas tropas como os Gurkhas e operadores de tropas especiais foram equipados com o fuzil norte-americano M16A1 e submetralhadoras Stirling, com ou sem silenciador. Os ingleses fizeram um grande uso das GPMG (Metralhadora de Uso Geral), tanto a moderna L7A1 (versão inglesa da conhecida FN MAG), quanto a veterana metralhadora Bren.

Soldados ingleses nas Malvinas

Entretanto, muitos dos cerca de 12 mil soldados que lutaram nas Malvinas pelo lado argentino eram conscritos (oriundos do alistamento militar). A arma padrão da infantaria argentina era o fuzil FN FAL, de calibre 7,62 mm, produzido localmente. Os soldados estavam equipados com capacetes M1 norte-americanos da época da II Guerra Mundial, óculos de proteção contra o frio, jaquetas de origem israelense e outros equipamentos. Muitos soldados passaram frio e fome nas trincheiras por falta de uma logística adequada e roupas preparadas para o intenso frio da região na época, com temperaturas que chegavam a até -15°C, e muito chuvoso.
 
Soldados argentinos nas Malvinas

Os operadores das tropas especiais e comandos usavam equipamentos melhores, como submetralhadoras com silenciador Stirling, sistemas de comunicação, e outros equipamentos mais modernos. Segundo algumas fontes, muitos soldados de infantaria não receberam plaquetas de identificação, e por esse motivo muitos dos mortos argentinos na guerra não puderam ser identificados por anos, até o surgimento dos exames de DNA, nos anos 90.

OPERAÇÕES ESPECIAIS INGLESAS ANTES DA RETOMADA DAS ILHAS

Após o afundamento do HMS Sheffield os ingleses, que começaram a se preocupar da perigosa combinação Étendard-Exocet dos argentinos, planejou uma operação para infiltrar, usando aeronaves Lockheed C-130 Hercules da RAF, operadores do Serviço Aéreo Especial (SAS) inglês para atacar a base onde estavam situados os cinco Super Étendards do COAN, em Río Grande, na Terra do Fogo, para destruí-los e também matar os pilotos. A operação recebeu o codinome “Mikado”. A operação foi posteriormente cancelada, depois de reconhecer que suas chances de sucesso eram limitadas e substituída por um plano para usar o submarino HMS Onyx para infiltrar os operadores da SAS próximo da consta argentina à noite, para que eles chegassem à costa a bordo de botes de borracha e infiltrassem em Río Grande para destruir o estoque restante de Exocet da Argentina.

Uma equipe de reconhecimento da SAS foi enviada para realizar os preparativos para a infiltração. Um helicóptero Westland Sea King que transportava a equipe designada decolou do HMS Invincible na noite de 17 de maio, mas o mau tempo o forçou a pousar a cerca de 80 km de seu alvo e a missão foi abortada. O piloto voou para o Chile, pousou ao sul de Punta Arenas e deixou a equipe da SAS. Os três tripulantes do helicóptero destruíram a aeronave, renderam-se à polícia chilena no dia 25 de maio e foram repatriados ao Reino Unido após interrogatório. A descoberta do helicóptero destruído atraiu considerável atenção internacional. Enquanto isso, a equipe do SAS que pousou no continente chegou a se aproximar de Río Grande, mas cancelou sua missão depois que os argentinos suspeitaram de uma operação inimiga e mobilizaram cerca de dois mil soldados para procurá-los. Os homens da SAS conseguiram retornar ao Chile, se entregaram às autoridades chilenas e retornaram ao Reino Unido num voo civil.

No dia 14 de maio, o SAS realizou uma incursão na Ilha Pebble, nas Malvinas, onde os argentinos operavam, a partir de uma pista de grama, as aeronaves leves de ataque ao solo FMA IA 58 Pucará e os Beechcraft T-34 Mentor, que poderiam dificultar um eventual desembarque inglês na região. Essa ação resultou na destruição de onze aeronaves argentinas.

A “OPERAÇÃO SUTTON”: O DESEMBARQUE NA BAÍA DE SAN CARLOS

Durante a noite de 20-21 de maio de 1982, o Grupo de Tarefas Anfíbios Britânico, sob o comando do comodoro Michael Clapp executou a “Operação Sutton”, o desembarque anfíbio nas praias ao redor da Baía de San Carlos a costa noroeste de East Falkland (Isla Soledad) de frente para o estreito que separa as ilhas. A operação pegou os argentinos completamente de surpresa, pois os oficiais da Marinha Argentina consideraram que o local não era uma boa escolha para esse tipo de operação e deixaram a zona sem grandes defesas.
 
A Campanha Terrestre nas Malvinas

Os 4 mil homens da 3ª Brigada de Comando foram desembarcados da seguinte forma: o 2º Batalhão do 2º Regimento de Paraquedas (2 Para) do navio Roll On/Roll Off (RORO) Norland e 40 operadores do Royal Marines do navio anfíbio HMS Fearless foram desembarcados em San Carlos (Praia Azul); o 3º Batalhão do 3º Regimento de Paraquedistas (3 Para) do navio anfíbio HMS Intrepid foi desembarcado em Port San Carlos (Praia Verde); o 45 Comando, do navio de apoio RFA Stromness, foram desembarcados em Ajax Bay (Praia Vermelha).

A 42 Comando, que estavam baseados no transatlântico SS Canberra serviam como uma reserva tática. Unidades da Artilharia Real, Engenheiros Reais e veículos blindados de reconhecimento também foram desembarcados com a embarcação de desembarque tipo LSL e as barcaças. Os lançadores de mísseis SAM Rapier eram transportados como cargas suspensas de Sea Kings para o rápido desembarque.

Ao amanhecer do dia seguinte, os ingleses haviam estabelecido uma cabeça de praia segura para conduzir operações ofensivas. A partir daí, o plano do brigadeiro Julian Thompson era capturar as vilas de Darwin e Goose Green antes de virar para Port Stanley. Agora, com as tropas britânicas em terra, a Força Aérea Sul argentina iniciou a campanha de bombardeios noturnos contra eles usando aviões bombardeiros English Electric Canberra da FAA que durou até o último dia da guerra (14 de junho).

A BATALHA DE SAN CARLOS

Entre os dias 21 e 25 de maio os argentinos tentaram de todas as formas barrar o avanço dos ingleses em direção a Port Stanley, usando sua aviação militar (tanto as aeronaves baseadas nas ilhas quanto no continente) e tropas em terra para isso, no que ficou conhecido como a “Batalha de San Carlos”. A baía foi chamada de “Bomb Alley” (“Beco das Bombas”) pelas forças britânicas, pois foi palco de repetidos ataques aéreos de jatos argentinos em alta velocidade e extrema baixa altitude.

Foi a primeira vez na História que uma frota de superfície moderna, armada com mísseis SAM e com cobertura aérea apoiada por aeronaves V/STOVL, se defendeu contra ataques aéreos inimigos em grande escala. Os britânicos sofreram perdas e danos consideráveis (11 navios afundados, 4 helicópteros perdidos e 49 mortos) mas foram capazes de criar e consolidar uma cabeça de ponte e tropas terrestres. Os argentinos perderam na batalha 22 aeronaves e tiveram 11 pilotos mortos.

A BATALHA DE GOOSE GREEN

Desde o início de 27 de maio até 28 de maio, o 2 Para (aproximadamente 500 homens), com apoio de tiros navais da HMS Arrow e apoio de artilharia do 8 Comando, se aproximou e atacou Darwin e Goose Green (a cerca de 100 km de Stanley), que eram defendidos pelo 12º Regimento de Infantaria da Argentina. Após uma dura luta que durou a noite toda e até o dia seguinte, os britânicos venceram a batalha; ao todo, 17 soldados britânicos e 47 argentinos foram mortos. Um total de 961 soldados argentinas (incluindo 202 militares da Força Aérea Argentina no aeródromo de Condor) foram presos.
 
"O caminho até Stanley"

A rede de rádio e televisão estatal inglesa BBC anunciou a tomada de Goose Green antes que ela realmente acontecesse, uma ação bastante criticada posteriormente. Foi durante esse ataque que o tenente-coronel H. Jones, o comandante do 2 Para, foi morto na frente de seu batalhão enquanto atacava as posições argentinas sob pesado fogo inimigo. Ele foi premiado postumamente com a Victoria Cross (VC).

Com a considerável força argentina em Goose Green fora de combate, as forças britânicas foram finalmente capazes de sair da cabeça-de-praia de San Carlos. No dia 27 de maio, homens de 45 Comando e 3 Para iniciaram uma marcha forçada através das Malvinas Orientais em direção ao assentamento costeiro de Teal Inlet.

O AFUNDAMENTO DO SS ATLANTIC CONVEYOR GERA DIFICULDADES

No dia 25 de maio de 1982, Data Nacional da Argentina, os argentinos lançaram furiosos ataques contra as forças inglesas. Num desses ataques, o “HMS Coventry” foi afundado por bombas lançadas de aeronaves Douglas A-4B/C Skyhawk da FAA. Nesse mesmo dia o navio pesado de apoio logístico “SS Atlantic Conveyor” foi atingido por dois mísseis AM39 Exocet, disparados por dois Dassault Super Étendard do COAN. Foi o primeiro navio britânico perdido por ação inimiga desde a II Guerra Mundial.

O afundamento do Atlantic Conveyor gerou bastante dificuldade para os ingleses, pois nele estavam vários helicópteros que seriam usados nas operações nas ilhas, incluindo cinco Chinook, helicópteros pesados que seriam usados para transportar tropas e suprimentos nas ilhas. O único Chinook que operou nas Malvinas (o ZA718, chamado de “Bravo November”, ainda em serviço ativo até os dias de hoje!) também estava no Atlantic Conveyor, mas havia deixado o navio antes do ataque. Pela falta de helicópteros e veículos de transporte, a maior parte das tropas que desembarcaram nas Malvinas tiveram que fazer seus deslocamentos a pé, atrasando ainda mais a Campanha.

O "Bravo November" ZA718, único Chinook operacional na Guerra das Malvinas e ainda em serviço ativo, 38 anos depois!

O ATAQUE AO MONTE KENT

Entre os dias 29 de maio e 11 de junho de 1982 ocorreu provavelmente a maior batalha da Guerra das Malvinas, o “Ataque ao Monte Kent”, ou “Batalha de Monte Kent” (a 25 km de Stanley), onde os argentinos lutaram desesperadamente para tentar repelir os ingleses que estavam se aproximando de Port Stanley.

O primeiro engajamento durante a Batalha de Monte Kent ocorreu durante a noite de 29 a 30 de maio de 1982, quando a 3ª Seção de Assalto da 602ª Companhia de Comando, liderada pelo capitão Andrés Ferrero, encontrou operadores do Esquadrão D do 22º SAS nas encostas do Monte Kent, com uma baixado lado argentino, e os outros soldados tendo fugido e abandonado grande parte de seus equipamentos. O SAS sofreu dois feridos durante o contato.

Durante o dia 30 de maio, os Harriers da RAF estiveram ativos em Monte Kent. Um deles, o Harrier GR.3 XZ963, pilotado pelo líder do esquadrão Jerry Pook, em resposta a um pedido de ajuda do esquadrão D, atacou as encostas mais baixas do leste do Monte Kent e foi abatido por disparo de armas de pequeno porte. Pook ejetou, mas foi feito prisioneiro e posteriormente foi condecorado com o Distinguished Flying Cross.

No dia 31 de maio, um elemento dos SAS derrotou as Forças Especiais da Argentina no conflito no “Top Malo House”. Um destacamento de 13 militares do Comando Argentino (1ª Seção de Assalto, comandados pelo capitão José Vercesi, 602ª Companhia de Comando) ficou preso em uma pequena casa de pastoreio em Top Malo. Os comandos argentinos dispararam pelas janelas e portas e depois se refugiaram em um leito de córrego a 200 metros da casa em chamas. Completamente cercados, eles lutaram contra 19 comandos SAS e dos Royal Marines sob o comando do capitão Rod Boswell por 45 minutos até que, com suas munições quase esgotadas, decidiram se render. Dois argentinos morreram e seis ficaram feridos, já os ingleses tiveram quatro feridos.

O 601º Comando tentou avançar para resgatar a 602ª Companhia de Comando na Montanha Estancia, próximo ao Monte Kent. Avistados por 42 Comando, foram atacados por morteiros ingleses de 81 mm e forçados a se retirar para a Montanha Two Sisters (“Duas Irmãs”, a 20 km de Stanley). O líder da 602ª Companhia de Comando na Montanha Estancia percebeu que sua posição se tornara insustentável e, depois de conversar com outros oficiais, ordenou a retirada para Port Stanley.

A operação argentina também viu o uso extensivo de apoio de helicóptero para posicionar e extrair patrulhas; o 601º Batalhão de Aviação de Combate também sofreu baixas. No final da manhã do dia 30 de maio, um helicóptero Aérospatiale SA330 Puma foi derrubado por um míssil FIM-92 Stinger lançado ao ombro (MANPADS), disparado pelo SAS nas proximidades do Monte Kent. Seis tripulantes da aeronave foram mortos e mais oito ficaram feridos no acidente. A aviação argentina tentou sem sucesso destruir as posições argentinas no Monte Kent usando principalmente os bombardeiros English Electric Canberra, além das aeronaves baseadas em Stanley, como o Pucará, por exemplo.

OS ATAQUES A BLUFF COVE

No dia 1º de junho, com a chegada de mais 5.000 tropas britânicas da 5ª Brigada de Infantaria, o novo comandante da divisão britânica, Major-General Jeremy Moore, dos Royal Marines, tinha força suficiente para começar a planejar uma ofensiva contra Stanley. Durante esse período, os ataques aéreos argentinos às forças navais britânicas estacionadas em Bluff Cove (a 27 km de Stanley) seguiram de forma violenta, matando 56 homens. Dos mortos, 32 eram do Welsh Guards na RFA Sir Galahad e RFA Sir Tristram, destruídos pelas bombas argentinas no dia 8 de junho. De acordo com o cirurgião-comandante Rick Jolly, do Hospital de Falklands Field, mais de 150 homens foram feridos nos ataques.

A QUEDA DE PUERTO ARGENTINO (PORT STANLEY) E O FIM DA GUERRA

Na noite de 11 de junho, após vários dias de meticuloso reconhecimento e acúmulo de logística, as forças britânicas lançaram um ataque noturno do tamanho de uma brigada contra os vários montes que rondavam Stanley, e eram usados pelos argentinos com postos de defesa. Unidades da 3ª Brigada de Comando, apoiadas por tiros de vários navios da Marinha Real, atacaram simultaneamente o Monte Two Sisters, o Monte Harriet (a 12 km de Stanley) e o Monte Longdon (a 9 km de Stanley), nas cercanias de Stanley. Em Two Sisters, os britânicos enfrentaram resistência do inimigo e fogo amigo, mas conseguiram capturar seus objetivos. O Monte Harriet foi facilmente conquistado ao custo de dois soldados britânicos e 18 argentinos mortos. A batalha mais difícil foi no Monte Longdon. As forças britânicas enfrentaram fogo pesado de metralhadora, fogo de artilharia, ação de franco-atiradores e emboscadas por parte dos argentinos. Apesar disso, os britânicos continuaram seu avanço.

Foram nessas batalhas que o 1ºEsquadrão do 7º Batalhão de Gurkhas “Duke of Edinburgh”, cobrindo o flanco da força principal, intimidava os argentinos com seus gritos e sua impressionante faca “Kukri”. Muitos argentinos ao observarem os Gurkhas se aproximando abandonaram seus postos e recuavam, pois existiam rumores entre os soldados argentinos que os Gurkhas lutavam drogados e não faziam prisioneiros, informações que simplesmente não passavam de boatos.

A segunda e última fase dos ataques começou na noite de 13 de junho, com o 2 Para, com o apoio de blindados leves, capturou Wireless Ridge (a 10 km de Stanley), com a perda de três vidas britânicas e 25 argentinas, e homens do 2º batalhão capturaram o Monte Tumbledown (a apenas 6 km de Stanley) na Batalha do Monte Tumbledown, que custou 10 britânicos e 30 vidas argentinas.
 
Prisoneiros de Guerra argentinos em Port Stanley após a rendição

Com a última linha de defesa natural no Monte Tumbledown violada, as defesas argentinas de Stanley começaram a desmoronar e a situação ficou insustentável. Um cessar-fogo foi declarado no dia 14 de junho e o comandante da guarnição argentina em Stanley, Brigadeiro-General Mario Menéndez, se rendeu ao Major General Jeremy Moore no mesmo dia. Com essa rendição teve fim a terrível Guerra das Malvinas.

Uma pilha de armas, munições e equipamentos abandonados pelos argentinos após a rendição.

A Recuperação das Ilhas Sandwich do Sul

No dia 20 de junho, os britânicos retomaram as Ilhas Sandwich do Sul, uma pequena ilha quase na Antártida, através da “Operação Keyhole”, o ataque inglês a pequena guarnição situada na Ilha Thule do Sul, na base “Corbeta Uruguai”, que se rendeu sem luta. A Argentina havia estabelecido a base em 1976, e até 1982 o Reino Unido havia contestado a existência da base argentina apenas por canais diplomáticos. Após o ataque a base foi fechada e a guarnição evacuada. De certa forma foi uma vingança às ações argentinas na “Operação Rosário” e na “Operação Geórgias”.

CONSEQUÊNCIAS E LIÇÕES DA GUERRA DAS MALVINAS

No total a Argentina teve 649 mortos e cerca de 1.200 feridos, enquanto que a Inglaterra teve 255 mortos e cerca de 800 feridos. Apenas três mulheres civis, habitantes das ilhas, morreram durante a guerra. A Inglaterra venceu o conflito, mas sofreu significativas perdas de navios e material (um total de oito navios afundados ou destruídos). Os argentinos sofreram pesadas perdas em sua força aérea, com mais de 50 aeronaves perdidas de vários tipos.

No caso da guerra terrestre, os argentinos não venceram nenhuma batalha, principalmente devido ao melhor preparo e equipamentos dos ingleses, que eram soldados profissionais e bem treinados, e também do despreparo dos mal equipados e famintos soldados argentinos, que lutaram bravamente (a bravura dos soldados e pilotos argentinos surpreendeu o mundo na época) mas não tiveram condições de enfrentar a então terceira maior potência militar do planeta.

Vários memoriais e monumentos foram erguidos nas ilhas em homenagens aos caídos dos dois lados. Durante a guerra, os mortos britânicos foram colocados em sacos plásticos e enterrados em valas comuns. Após a guerra, os corpos foram recuperados; 14 foram enterrados no cemitério militar da Praia Azul e 64 foram devolvidos ao Reino Unido. Muitos dos mortos argentinos estão enterrados no cemitério militar argentino, a oeste da vila de Darwin. O governo da Argentina recusou uma oferta do Reino Unido de repatriar os corpos para o continente, pois segundo os argentinos “eles já estavam enterrados em solo argentino”.

A principal lição da Guerra das Malvinas é nunca enfrentar um inimigo de forma tão despreparada como os argentinos enfrentaram os ingleses. A Argentina perdeu muito com a guerra, hoje suas Forças Armadas são uma sombra do que foram na época da guerra. A guerra é o último dos recursos políticos e se a Argentina tivesse negociado mais, poderia ter tido mais avanços do que teve ao entrar numa guerra quase impossível de ser vencida.


LEIA A PARTE II DESSE ARTIGO Clicando aqui

FOTO DE CAPA: Soldados ingleses marchando a pé rumo a Port Stanley.
FOTOS: Internet e Wikipedia.


Dedico esse artigo ao amigo Leonardo Silva Alves, mais uma vítima dessa Pandemia do Coronavírus que assola o mundo. #FiqueEmCasa


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Por Luiz Reis, Professor de História da Rede Oficial de Ensino do Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense com alma paulista, reside em Fortaleza-CE. Luiz colaborou com o Canal Arte da Guerra e o Blog Velho General e atua esporadicamente nos blogs da Trilogia Forças de Defesa, também fazendo parte da equipe de articulistas do GBN Defense. Presta consultoria sobre História da Aviação, Aviação Militar e Comercial. Contato: [email protected]



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sábado, 16 de maio de 2020

“LUTAR NO FRIO E NA LAMA”: A CAMPANHA TERRESTRE NA GUERRA DAS MALVINAS (PARTE II)

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Tropas argentinas em Port Stanley, 2 de abril de 1982
Leiam a primeira parte desse artigo.

CONSEQUÊNCIAS DA INVASÃO

Após a invasão argentina às ilhas Malvinas e Geórgia do Sul, que chocou o mundo, os ingleses, logo após a conclusão das operações argentinas, receberam via rádio e telex (uma espécie de comunicação de forma impressa da época) a confirmação da presença de grandes forças argentinas nas ilhas. Isso provocou a mobilização das forças inglesas para o envio de uma grande força aeronaval para a retomada das ilhas. As operações militares britânicas na Guerra das Malvinas receberam o codinome “Operação Corporate”, e o comandante da força-tarefa era o almirante Sir John Fieldhouse.

Entrementes, foram tentadas soluções diplomáticas envolvendo a Organização das Nações Unidas (ONU) – que votou a Resolução 502, exigindo a imediata retirada argentina das ilhas, sendo ignorada pelos mesmos – e tentativas de intermediação do Papa João Paulo II, dos governos dos Estados Unidos, Cuba (que enviou um embaixador para a Argentina e ao sobrevoar o território brasileiro sem autorização, sua aeronave – um Illyushin Il-62 da empresa aérea Cubana de Aviación – foi interceptado por caças Mirage IIIEBR da Força Aérea Brasileira), França e até do Brasil para uma solução pacífica para o conflito. Como argentinos e ingleses não chegaram a um acordo, a possibilidade de um conflito armado entre os dois países visando a retomada das ilhas pelos ingleses era iminente.

No dia 6 de abril, o governo britânico criou um Gabinete de Guerra, com a liderança da então Primeira-Ministra Margaret Thatcher, para supervisionar diariamente o desenrolar da campanha. Este foi o instrumento crítico de gerenciamento da crise para os britânicos. O Gabinete de Guerra reuniu-se pelo menos diariamente até ser dissolvido em 12 de agosto. Nesse gabinete todas as mais importantes decisões sobre a condução da crise e da guerra foram tomadas.

A OCUPAÇÃO DAS ILHAS MALVINAS

Enquanto as indecisões pairavam no ar sobre o futuro das ilhas, no caso das Malvinas, essa passou a viver uma ocupação militar por parte dos argentinos, que durou 74 dias, até o final da guerra. Durante essa ocupação, os argentinos mudaram alguns elementos do dia-a-dia dos habitantes da ilha: passou a usar o espanhol como idioma oficial da ilha em vez do inglês, mudou todos os nomes ingleses das ruas, vilas e cidades para nomes argentinos (Port Stanley, por exemplo, tornou-se “Puerto Argentino”), inverteu a mão das ruas, da esquerda tradicional inglesa para a direita usada na Argentina, mudou placas do sistema imperial inglês para o sistema métrico adotados pelos argentinos, mudou selos e códigos postais, dentre outras modificações.

Durante a ocupação cerca de 114 habitantes das ilhas foram presos por “desobediência civil” e ao menos 14 foram mantidos em prisão domiciliar durante a ocupação. Um dos atos de desobediência civil mais famosos foi o de Reg Silvey (faroleiro e rádio amador) que transmitia mensagens de rádio clandestinas por toda a ocupação, inclusive ajudando os ingleses estarem a par das condições dos habitantes da ilha. Muitos habitantes foram “fichados” e outros já estavam sendo monitorados mesmo antes da invasão por potencialmente serem considerados “perigosos”. Mesmo assim não foram verificados abusos das tropas de ocupação nem dos policiais argentinos designados para as ilhas.

Com exceção de alunos de uma escola, que foi evacuada para o continente e seu prédio transformado em quartel pelos argentinos, não houve confisco de propriedade privada durante a ocupação, mas, se os habitantes da ilha se recusassem a colaborar com os argentinos, os bens em questão poderiam ser requisitados, como é normal em situações militares. No entanto, os oficiais argentinos desapropriaram temporariamente propriedades civis para morar em Port Stanley e Goose Green, embora punissem severamente quaisquer praças que fizessem o mesmo.

A FORÇA-TAREFA BRITÂNICA E A PREPARAÇÃO PARA A RETOMADA DAS ILHAS

O trajeto da Força-Tarefa britânica durante a Campanha das Malvinas

O governo britânico não tinha um plano de contingência para uma invasão das ilhas, e a força-tarefa foi rapidamente reunida a partir de qualquer embarcação disponível da frota inglesa. O submarino nuclear HMS Conqueror partiu da França no dia 4 de abril, enquanto os dois porta-aviões HMS Invincible (que estava pra ser vendido para a Austrália) e HMS Hermes (que tinha sido vendido para a Índia e estava para ser entregue), na companhia de embarcações de escolta, deixaram Portsmouth apenas um dia depois. O transatlântico SS Canberra foi requisitado e partiu no dia 9 de abril com a 3ª Brigada de Comandos a bordo. O transatlântico SS Queen Elizabeth 2 também foi requisitado e deixou Southampton em 12 de maio com a 5ª Brigada de Infantaria a bordo. Toda a força-tarefa acabou por compreender 127 navios: 43 navios da Marinha Real, 22 navios auxiliares da Frota Real e 62 navios mercantes requisitados para a missão.
 
Fotografia da capa da revista norte-americana "Newsweek", do dia 19 de abril de 1982, representando o HMS Hermes, líder da Força-Tarefa Britânica. A manchete lembra o título da sequência de 1980 de Guerra nas Estrelas, "O Império Contra-Ataca", de grande sucesso na época.

A retomada das Ilhas Malvinas era considerada extremamente difícil, sendo considerada impossível por muitos analistas da época. Em primeiro lugar, os britânicos estavam teoricamente inferiorizados pela disparidade no tamanho de suas frotas aéreas implantadas na região. Os britânicos tinham apenas 42 aeronaves (28 Sea Harriers e 14 Harrier GR.3, aeronaves V/STOL que nunca havia sido testadas em combate) disponíveis para operações de combate aéreo, contra aproximadamente 122 caças a jato (que mesmo enfraquecidos com o embargo imposto à Argentina desde 1977, ainda consistia uma poderosa força), dos quais cerca de 50 eram caças supersônicos de superioridade aérea (Mirage III e Dagger) e o restante como aviões de ataque (A-4 Skyhawk e Super Étendard – esse capaz de levar o poderoso míssil antinavio Exocet), das Forças Aéreas da Argentina (FAA e COAN) durante a guerra. Fundamentalmente, os britânicos careciam de aeronaves de alerta e controle aéreo (AEW). O planejamento também considerou a frota de superfície argentina e a ameaça representada por navios da Marinha Argentina equipados com Exocet ou pelos então dois modernos submarinos Tipo 209.

Em meados de abril, a Royal Air Force (RAF) montou a base aérea “RAF Ascension Island”, situada no mesmo local do Aeroporto de Wideawake no território ultramarino britânico da Ilha da Ascensão, no meio do Oceano Atlântico, a cerca de 2.200 km do litoral de Pernambuco, Brasil e a mais de 6.000 km das Malvinas, incluindo uma força considerável dos bombardeiros Avro Vulcan B Mk 2, os aviões de reabastecimento Handley Page Victor K Mk 2 e os caças McDonnell Douglas Phantom FGR Mk 2 para protegê-los. Enquanto isso, a principal força-tarefa naval britânica chegou à Ascensão para se preparar para o serviço ativo. Uma pequena força já havia sido enviada para o sul para recuperar a Geórgia do Sul.

Os encontros começaram em abril; a Força-Tarefa Britânica foi acompanhada por aeronaves Boeing 707 de reconhecimento da Força Aérea Argentina durante sua viagem ao sul. Vários desses voos foram interceptados pelos Sea Harriers fora da zona de exclusão imposta pelos britânicos (de 320 km em torno das ilhas); os 707 estavam desarmados não foram atacados porque ainda estavam em andamento movimentos diplomáticos e o Reino Unido ainda não havia decidido se comprometer com a força armada. No dia 23 de abril, uma aeronave comercial Douglas DC-10 da então companhia área brasileira VARIG a caminho da África do Sul foi interceptado pelos britânicos Harriers que identificaram visualmente o avião civil.

A OPERAÇÃO PARAQUET: A RETOMADA DAS ILHAS GEÓRGIA DO SUL
 
Mapa da "Operação Paraquet", 25 e 26 de abril de 1982.

A retomada das Ilhas Geórgia do Sul, a “Operação Paraquet”, foi realizada sob o comando do major Guy Sheridan, dos Royal Marines (RN), foi composta de soldados do RN de 42 Commando, operadores do Serviço Aéreo Especial (SAS) e do Serviço Especial de Botes (SBS) que foram enviadas como forças de reconhecimento apoiando o ataque principal dos Royal Marines. Todos foram embarcados na RFA Tidespring. O primeiro a chegar foi o submarino “HMS Conqueror”, no 19 de abril, e a ilha foi sobrevoada por um Handley Page Victor, que efetuou missão ELINT, no dia 20 de abril.

Os primeiros desembarques das tropas da SAS ocorreram no dia 21 de abril, mas o tempo estava tão ruim (principal característica das operações terrestres da Guerra da Malvinas – o mau tempo) que a operação foi abortada depois que dois helicópteros caíram no nevoeiro numa geleira no sul das ilhas. No dia 23 de abril o RFA Tidespring recebeu um alerta de um possível submarino argentino na região, tendo que se afastar das ilhas. No dia seguinte, 24 de abril, as forças britânicas se reagruparam e foram novamente tentar atacar as ilhas.
 
Um dos helicópteros Westland Wessex caídos durante a operação. Ao fundo, operadores SAS saíndo de outro Wessex,

No dia 25 de abril, após cumprir missão de reabastecimento da guarnição argentina no nas ilhas, o submarino ARA Santa Fe foi avistado na superfície por um helicóptero Westland Wessex HAS Mk 3 do HMS Antrim, que atacou o submarino argentino com cargas de profundidade. O HMS Plymouth lançou um helicóptero Westland Wasp HAS.Mk.1 e o HMS Brilliant lançou um Westland Lynx HAS Mk 2. O Lynx lançou um torpedo e atingiu o submarino com sua metralhadora; o Wessex também disparou contra Santa Fe com sua GPMG. O Wasp do HMS Plymouth e outros dois Wasps lançados pelo HMS Endurance dispararam mísseis antinavio AS-12 ASM no submarino, acertando-o em cheio, mesmo não ativando totalmente suas espoletas. O Santa Fe também foi danificado por torpedos e tornou-se inoperante. A tripulação abandonou o submarino no cais em King Edward Point.
 
Dois Royal Mariners no cais inspecionando o abandonado submarino "ARA Santa Fe" e seus danos.

Com o RFA Tidespring agora no mar, e as forças argentinas aumentadas pela tripulação do submarino, o major Sheridan decidiu reunir os 76 homens que ele tinha e fazer um ataque direto naquele dia. Após uma curta marcha forçada pelas tropas britânicas e uma salva de bombardeio naval por dois navios da Marinha Real (HMS Antrim e HMS Plymouth), as forças argentinas se renderam sem resistência.

Na manhã do dia 26, o comandante da guarnição argentina nas ilhas, tenente-comandante Luis Lagos (que decidira não lutar contra forças tão poderosas) firmava a rendição na base do British Antarctic Survey em King Edwards Point. O infame tenente-comandante Alfredo Astiz, responsável pelos quinze comandos mergulhadores táticos não aceitou, a princípio, este fato. Porém, diante do que se tinha acima, pela tarde firmaria também a rendição a bordo do HMS Plymouth, copiando desnecessariamente o ato de Lagos. Incapaz de resistir ao ataque britânico, Alfredo Astiz se rendeu a uma pequena força de comando britânica e assinou o documento de rendição incondicional sem disparar um único tiro, o que violaria o código militar argentino, que poderia lhe dar até três anos de prisão. A imagem de Astiz assinando o documento de rendição deu a volta ao mundo.
 
Astiz e seus homens nas Ilhas Georgia do Sul, em 1982

Astiz era acusado de ter participado do assassinato de vários militantes de esquerda durante a “Guerra Suja” na Argentina na década de 1970, inclusive, quando foi capturado pelos ingleses, foi requisitado para extradição pelo governo francês para ser julgado na França pelo desaparecimento de duas freiras francesas na Argentina. Como ele foi capturado como Prisioneiro de Guerra, ele não poderia ser extraditado para a França, então com o fim da Guerra das Malvinas, ele pôde retornar para a Argentina, juntamente com os outros capturados.

A mensagem enviada pela força naval da Geórgia do Sul para Londres foi: “Tenha o prazer de informar Sua Majestade que a Bandeira Branca tremulava ao lado do Union Jack (a bandeira britânica) na Geórgia do Sul. Deus salve a rainha”. A primeira-ministra, Margaret Thatcher, deu a notícia à mídia, dizendo-lhes: “Apenas se alegrem com essa notícia e parabenizam nossas forças e os Royal Marines!”


Na terceira parte desse artigo, as operações terrestres inglesas para a retomada das Ilhas Malvinas.

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Por Luiz Reis, Professor de História da Rede Oficial de Ensino do Estado do Ceará e da Prefeitura de Fortaleza, Historiador Militar, entusiasta da Aviação Civil e Militar, fotógrafo amador. Brasiliense com alma paulista, reside em Fortaleza-CE. Luiz colaborou com o Canal Arte da Guerra e o Blog Velho General e atua esporadicamente nos blogs da Trilogia Forças de Defesa, também fazendo parte da equipe de articulistas do GBN Defense. Presta consultoria sobre História da Aviação, Aviação Militar e Comercial. Contato: [email protected]






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