domingo, 9 de março de 2025

A perseguição aos cristãos na Síria: um exame geopolítico da crise atual


A situação atual da Síria é um exemplo trágico e complexo de como a geopolítica pode influenciar diretamente a vida de populações minoritárias. Recentemente, o país tem sido palco de uma das maiores perseguições a cristãos dos tempos modernos, um fenômeno que merece uma análise detalhada para compreendermos seu contexto e suas implicações globais.

Em dezembro de 2024, a Síria passou por uma mudança dramática no seu governo. O presidente Bashar al-Assad foi derrubado com o apoio dos Estados Unidos, resultando na tomada do poder por grupos jihadistas. O que foi celebrado como uma "liberação" pelo Ocidente, rapidamente se transformou em um pesadelo para a população cristã do país. Este evento é descrito por George Christensen, um ativista político australiano, em sua thread no X (antigo Twitter), onde ele denuncia a perseguição massiva aos cristãos na Síria sob o novo regime liderado pela Hay'at Tahrir al-Sham (HTS), uma facção reestruturada da Al-Qaeda.

A HTS, liderada por Abu Mohammed al-Jolani, um ex-combatente do ISIS, assumiu o controle do país, e sob sua administração, os cristãos têm sido alvo de ataques brutais. Relatórios confirmam que igrejas estão sendo bombardeadas, cruzes destruídas, padres executados, mulheres forçadas a usar vestimentas islâmicas e comunidades inteiras enfrentando a extinção. Em apenas dois dias, mais de 1.000 pessoas, incluindo centenas de cristãos, foram massacradas nas cidades costeiras da Síria, o que Christensen descreve como uma limpeza étnica orquestrada.

A questão que se coloca é: por que o mundo parece indiferente a esta tragédia? Quando outras minorias são perseguidas, a comunidade internacional costuma reagir com veemência. No entanto, a perseguição aos cristãos na Síria tem sido recebida com um silêncio ensurdecedor. Christensen argumenta que isso se deve ao envolvimento de governos ocidentais na derrubada de Assad e no apoio aos "rebeldes", que sabidamente incluíam grupos radicais islâmicos. Este apoio, segundo ele, foi dado com pleno conhecimento de que os cristãos seriam alvo de perseguição.

A administração de Joe Biden é apontada como uma das responsáveis por entregar a Síria aos jihadistas, e a mídia mainstream tem sido acusada de não reportar o genocídio que está ocorrendo. Além disso, diplomatas ocidentais já estão trabalhando para normalizar as relações com o novo regime islamista, o que inclui a suspensão de sanções. Em março de 2025, o Reino Unido levantou sanções sobre a Síria, desbloqueando ativos do banco central, da companhia aérea estatal e de empresas de petróleo, além de suspender todas as sanções sobre 24 entidades ligadas à HTS, um grupo terrorista proscrito.

Este movimento é particularmente alarmante quando considerado ao lado de relatórios que mostram que oficiais sírios visitaram áreas próximas à base aérea russa de Hmeimim para tranquilizar os residentes e facilitar seu retorno às vilas. Enquanto isso, a comunidade cristã, que vive na região há 2.000 anos, está sendo apagada do mapa.

A Fundação Cristã Iraquiana publicou imagens de famílias cristãs e alauítas inteiras sendo massacradas por forças terroristas pertencentes ao governo sírio, que é uma fusão da Al-Qaeda e do ISIS. Estas imagens são um testemunho vívido da brutalidade que os cristãos estão enfrentando na Síria.

Diante desta crise, o que pode ser feito? Christensen sugere várias ações: apoiar instituições de caridade que ajudam cristãos perseguidos, como Barnabas Aid, Open Doors, Voice of the Martyrs e Aid to the Church in Need; exigir que os governos ocidentais cessem o apoio ao regime jihadista sírio; expor a verdade através do compartilhamento de informações e orar e se preparar, já que a perseguição aos cristãos está se espalhando pelo mundo.

A perseguição aos cristãos na Síria não é apenas um problema local, mas um reflexo de dinâmicas geopolíticas mais amplas. A intervenção externa e o apoio a grupos radicais têm consequências devastadoras para populações minoritárias, como vimos na Síria. Se o mundo permanecer silencioso, as comunidades cristãs da Síria correrão o risco de desaparecer, assim como aconteceu no Iraque após a invasão dos EUA.

Este cenário levanta questões profundas sobre a responsabilidade internacional e a moralidade das intervenções geopolíticas. A perseguição aos cristãos na Síria é um lembrete sombrio de que a busca por poder e influência pode ter custos humanos inaceitáveis. É imperativo que a comunidade internacional reconheça e aja contra a perseguição religiosa, garantindo que os direitos humanos sejam respeitados e protegidos, independentemente da afiliação religiosa.

Além do relato de Christensen, outras fontes corroboram a gravidade da situação. Um artigo da Newsweek, intitulado "Hundreds of minorities, including Christians, killed in Syria—Reports", detalha o massacre de centenas de sírios, incluindo cristãos, em confrontos recentes entre o governo e ex-lealistas de Assad. Este relatório ressalta a natureza sectária do conflito e a vulnerabilidade das minorias religiosas.

A organização internacional Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) também tem destacado a situação crítica dos cristãos na Síria, proporcionando assistência emergencial, construção e apoio pastoral. Seu site oferece um panorama da ajuda que está sendo prestada e apela por doações e orações para os cristãos perseguidos na Síria.

A análise geopolítica da perseguição aos cristãos na Síria não pode ser dissociada do contexto mais amplo de intervenções internacionais e do jogo de poder no Oriente Médio. A derrubada de Assad foi parte de uma estratégia maior para desestabilizar regimes considerados hostis ao Ocidente, mas as consequências dessa estratégia têm sido catastróficas para as populações locais, especialmente as minorias.

O apoio ocidental aos "rebeldes" sírios, muitos dos quais eram afiliados a grupos extremistas, foi uma aposta perigosa que resultou em uma situação de caos e violência sectária. A normalização das relações com o novo regime sírio, liderado pela HTS, é um sinal preocupante de que a comunidade internacional está disposta a fazer concessões em nome da estabilidade, mesmo que isso signifique ignorar ou minimizar a perseguição religiosa.

A perseguição aos cristãos na Síria é um sintoma de um problema maior: a falta de compromisso com os direitos humanos e a justiça em meio a jogos de poder geopolíticos. A comunidade internacional precisa reconhecer sua responsabilidade na criação e na perpetuação deste conflito e agir para proteger as vítimas da perseguição religiosa.

Em conclusão, a situação dos cristãos na Síria é um exemplo trágico de como a geopolítica pode ter consequências devastadoras para populações minoritárias. A perseguição que estão enfrentando é um chamado à ação para todos aqueles que acreditam na dignidade humana e na necessidade de proteger os direitos de todas as pessoas, independentemente de sua fé. Se quisermos evitar que a Síria se torne mais um exemplo de limpeza étnica e genocídio, é imperativo que a comunidade internacional se una para exigir justiça e proteção para os cristãos e outras minorias perseguidas no país.

Por Renato Henrique Marçal de Oliveira - Químico e trabalha na Embrapa com pesquisas sobre gases de efeito estufa. Entusiasta e estudioso de assuntos militares desde os 10 anos de idade, escreve principalmente sobre armas leves, aviação militar e as IDF (Forças de Defesa de Israel)

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