Türkiye avança na corrida espacial com base de lançamentos na Somália

A Türkiye está consolidando sua posição como uma potência emergente no setor aeroespacial com a construção de um porto espacial (Base de Lançamentos) na Somália. O projeto, que ocorre após os primeiros voos espaciais tripulados do país e o lançamento de diversos satélites estratégicos, representa um salto significativo para a autonomia tecnológica turca e reforça sua presença geopolítica na África e no Oceano Índico.

O interesse turco pela exploração espacial vem se intensificando nos últimos anos. Em janeiro de 2024, Alper Gezeravcı se tornou o primeiro astronauta turco a participar de uma missão espacial, um marco para o programa espacial do país. Além disso, a Türkiye tem investido na criação de uma infraestrutura espacial robusta, incluindo o desenvolvimento de satélites militares e civis, bem como sistemas de navegação autônoma. O porto espacial na Somália se insere nesse contexto, oferecendo uma plataforma de lançamentos independente, essencial para reduzir a dependência de parceiros internacionais e reforçar sua soberania tecnológica.

Somália, um local estratégico para lançamentos espaciais

A escolha da Somália como local para o porto espacial não foi aleatória. O país, localizado no Chifre da África, apresenta vantagens geográficas e técnicas consideráveis para operações espaciais.

Uma das principais razões para a escolha da Somália é sua posição próxima ao equador. Quanto mais próximo do equador for um local de lançamento, maior será a velocidade de rotação da Terra nesse ponto. Essa velocidade adicional pode ser aproveitada para impulsionar foguetes em órbita com menor consumo de combustível, reduzindo custos e permitindo cargas mais pesadas. Essa mesma lógica levou a França a instalar seu Centro Espacial em Kourou, na Guiana Francesa, uma das bases de lançamento mais eficientes do mundo. O Brasil também conta com essa vantagem geográfica com a Base de Alcântara, considerada uma das melhores localizações para lançamentos espaciais devido à sua proximidade com o equador e a possibilidade de diversas inclinações orbitais. Além disso, o Brasil conta com o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, utilizado principalmente para lançamentos suborbitais e testes de veículos espaciais.

Além disso, a costa somali se estende até o Oceano Índico, permitindo lançamentos na direção leste sem riscos para áreas habitadas. Como a maioria dos lançamentos espaciais segue essa direção para aproveitar a rotação terrestre, é crucial ter um corredor de segurança onde estágios descartáveis dos foguetes possam cair sem ameaçar populações civis. Essa é uma vantagem estratégica semelhante à que os EUA possuem com Cabo Canaveral e que a China explora com sua base em Wenchang, na Ilha de Hainan.

Outro fator técnico importante é o clima árido da Somália. Ambientes úmidos podem ser problemáticos para estruturas de veículos espaciais, pois aumentam o risco de corrosão e degradação de componentes críticos. A baixa umidade somali, aliada à presença de vastas áreas pouco povoadas, cria um ambiente favorável para operações de longo prazo.

Geopolítica e influência turca na África

A construção da base de lançamentos espaciais também reflete o aprofundamento das relações entre Türkiye e Somália. Nos últimos anos, Ancara tem ampliado sua presença econômica, militar e diplomática no país africano, tornando-se um dos principais parceiros da Somália.

Desde 2011, quando a Türkiye iniciou uma série de programas de ajuda humanitária e desenvolvimento no país, sua influência tem crescido significativamente. Em 2017, estabeleceu em Mogadíscio a maior base militar turca no exterior, usada para treinar forças de segurança somalis e fortalecer a estabilidade local. Além disso, empresas turcas operam o principal aeroporto e porto da capital somali, consolidando sua presença econômica.

A criação do "porto espacial" reforça essa aliança estratégica, ao mesmo tempo em que amplia o alcance da Türkiye no Oceano Índico, uma região de crescente importância geopolítica. O controle de um centro de lançamentos pode abrir caminho para a futura exploração de tecnologias aeroespaciais e até mesmo para o desenvolvimento de mísseis de longo alcance, permitindo que Ancara teste sistemas de defesa avançados sem restrições.

Autossuficiência e o futuro do programa espacial turco

O "porto espacial" na Somália é apenas uma peça de um projeto mais amplo da Türkiye para fortalecer sua presença no setor aeroespacial. O país tem investido pesadamente em tecnologias espaciais por meio da Agência Espacial Turca (TUA), estabelecida em 2018.

Empresas privadas, como a Plan-S e a Fergani, da Baykar, vêm lançando satélites próprios com apoio da SpaceX. A Fergani também planeja desenvolver uma constelação de satélites GNSS, garantindo autonomia turca em navegação global, sem depender de sistemas estrangeiros como GPS (EUA), GLONASS (Rússia) ou Galileo (UE).

Além disso, o programa espacial turco tem como meta a realização de um pouso lunar nos próximos anos, demonstrando a ambição do país em se tornar um ator relevante na nova corrida espacial. Com um porto espacial próprio e uma base de lançamentos estrategicamente posicionada, a Türkiye poderá avançar significativamente em suas capacidades aeroespaciais e consolidar sua posição como uma potência emergente no setor.

A construção de um porto espacial na Somália representa um marco para a Türkiye, combinando avanços tecnológicos com um movimento geopolítico estratégico. Ao estabelecer uma base de lançamentos próxima ao equador, Ancara não apenas ganha eficiência em suas missões espaciais, mas também fortalece sua influência na África e no Oceano Índico.

O projeto sinaliza a crescente ambição da Türkiye em se tornar uma potência espacial independente, reduzindo sua dependência de parceiros externos e reforçando sua posição no cenário global. Com uma combinação de tecnologia, estratégia e diplomacia, a Türkiye está pavimentando seu caminho para o futuro – tanto na Terra quanto além dela.

A Türkiye se destaca como um grande exemplo ao Brasil, porém, ainda carecemos de um governo competente

O avanço da Türkiye no setor espacial é um exemplo contundente de como uma nação pode, com visão estratégica e investimento contínuo, consolidar sua presença em áreas tecnológicas de alta complexidade. Enquanto a Türkiye expande sua capacidade espacial por meio de parcerias e infraestrutura avançada, o Brasil, apesar de possuir uma localização privilegiada e uma base consolidada em Alcântara, ainda sofre com a falta de investimentos robustos e uma política de longo prazo para o setor. A dependência excessiva de acordos internacionais e a falta de continuidade em projetos espaciais refletem uma miopia estratégica que compromete o potencial do Brasil em desenvolver tecnologias próprias e garantir autonomia em um campo essencial para defesa, comunicações e desenvolvimento econômico. O exemplo turco deveria servir de alerta para o Brasil, que segue desperdiçando oportunidades de se tornar um protagonista na nova corrida espacial.

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com agências de notícias