O Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) é um dos projetos estratégicos mais importantes da defesa brasileira, garantindo à Marinha do Brasil uma capacidade dissuasória avançada e reforçando a soberania sobre a Amazônia Azul. Com a incorporação dos submarinos convencionais da Classe Riachuelo e o desenvolvimento do primeiro submarino de propulsão nuclear brasileiro, o "Álvaro Alberto", o Brasil dá um salto na sua capacidade naval. Mas o que esse avanço realmente significa? E qual o futuro da força submarina do país? Essas questões são objeto desta matéria especial do GBN Defense, onde trazemos a tona uma importante discussão sobre nosso programa estratégico.
Submarino Nuclear e a Nova Estratégia Marítima Brasileira
A introdução do Submarino Convencional de Propulsão Nuclear "Álvaro Alberto" representa uma mudança profunda na estratégia naval do Brasil. Submarinos convencionais (diesel-elétricos) são limitados em alcance e tempo de operação submersa, precisando emergir periodicamente para recarregar baterias, tornando-os vulneráveis neste momento. Já um submarino nuclear, por sua vez, pode operar submerso por meses, cobrindo vastas áreas sem necessidade de emergir, além de apresentar maior velocidade.
Isso tem um impacto direto na defesa do Atlântico Sul. Com reservas petrolíferas no pré-sal, uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de 3,5 milhões de km² e a crescente presença de potências extrarregionais no Atlântico, o Brasil precisa de uma força naval que garanta dissuasão contra ameaças potenciais. O "Álvaro Alberto" permitirá patrulhas prolongadas e operações de negação do mar em caso de conflito, impondo riscos significativos a qualquer força hostil que tente operar em nossa águas.
Além disso, um submarino nuclear tem a vantagem de servir como ferramenta de projeção de poder, aumentando a relevância geopolítica do Brasil. Muitos países de médio porte possuem frotas modernas, mas poucos têm submarinos nucleares, o que coloca o Brasil em um seleto grupo de nações capazes de construir e operar meios com essa tecnologia.
Força de Submarinos do Brasil: O Que Ainda Falta?
Atualmente, a Marinha opera alguns submarinos remanescentes da Classe Tupi (IKL-209), um da Classe Tikuna (evolução do IKL-209) e, progressivamente, tem incorporado os novos submarinos da Classe Riachuelo, construídos no Brasil a partir do submarino Scorpène de projeto francês. O "Álvaro Alberto" será um marco, mas uma única unidade nuclear não é suficiente para garantir presença contínua e dissuasão efetiva.
A frota de submarinos convencionais precisa de continuidade. O ideal seria uma nova leva de submarinos baseados no projeto do Riachuelo, com melhorias tecnológicas e, possivelmente, a adoção de propulsão contando com tecnologia AIP (Air Independent Propulsion) o que aumentaria sua autonomia submerso. Sem isso, o Brasil corre o risco de ficar com uma força de apenas quatro submarinos modernos quando os IKL-209 forem desativados.
Outra questão essencial é o número de unidades. Para cobrir adequadamente a Amazônia Azul e garantir presença estratégica, estima-se que o Brasil precisaria de pelo menos oito submarinos convencionais modernos e dois a três submarinos nucleares no longo prazo. Esse planejamento depende, claro, de orçamento e continuidade do PROSUB.
Desafios e Caminhos Futuros
O desenvolvimento do "Álvaro Alberto" não é apenas uma questão de capacidade naval, mas também industrial e tecnológica. O Brasil está desenvolvendo sua própria planta nuclear para submarinos, dominando um ciclo de propulsão que poucos países controlam. No entanto, o projeto enfrenta desafios financeiros e técnicos que podem atrasar sua conclusão.
O investimento e a continuidade do PROSUB é essencial. Além de garantir uma segunda unidade nuclear no futuro, o Brasil precisa consolidar sua base industrial de defesa, incentivando a nacionalização de componentes críticos e reduzindo a dependência externa. Além disso, parcerias estratégicas podem ser exploradas para acelerar a evolução da frota. O projeto do Scorpène, por exemplo, tem versões aprimoradas sendo desenvolvidas por França e Índia, e o Brasil pode estudar essas inovações para futuras aquisições.
Outro ponto relevante é a criação de uma doutrina e infraestrutura adequadas para operar submarinos nucleares. A propulsão nuclear exige uma abordagem totalmente diferente de manutenção, segurança e treinamento de tripulações. O Brasil já deu os primeiros passos com a construção da Base de Submarinos da Ilha da Madeira, mas será necessário um investimento contínuo para consolidar essa capacidade.
A Necessidade de Previsibilidade Orçamentária e o Impacto Econômico do PROSUB
O sucesso do PROSUB e a concretização do submarino nuclear "Álvaro Alberto" dependem de previsibilidade orçamentária e investimentos contínuos. Programas estratégicos de defesa exigem planejamento de longo prazo, pois envolvem pesquisa, inovação tecnológica, capacitação de mão de obra e uma complexa cadeia produtiva. No entanto, a falta de um fluxo contínuo de recursos já causou atrasos no projeto e pode comprometer tanto a operação do submarino nuclear quanto a renovação da frota convencional.
O Brasil precisa aprender com nações que tratam a defesa como um setor econômico estratégico, não apenas como um custo. Países como França, Índia, Türkiye, EAU e Coreia do Sul fazem do investimento militar um pilar do desenvolvimento industrial, gerando empregos qualificados, inovação e fortalecendo setores-chave da economia. O PROSUB é um exemplo desse potencial no Brasil, impulsionando diretamente a indústria nacional.
PROSUB: Um Motor Econômico para o Brasil
Desde seu início, o PROSUB tem sido responsável por uma grande movimentação econômica e pela criação de empregos em diferentes setores. Para se ter uma ideia do impacto direto do programa:
- Mais de 30 mil empregos diretos e indiretos foram gerados na construção e desenvolvimento dos submarinos.
- O Estaleiro e Base Naval em Itaguaí (RJ) consolidaram uma cadeia produtiva robusta, beneficiando indústrias de metalurgia, eletrônica, engenharia naval e mecânica de precisão.
- Empresas brasileiras foram capacitadas para fornecer componentes estratégicos, reduzindo a dependência de fornecedores estrangeiros.
- O programa também incentivou avanços em tecnologias de propulsão nuclear, o que pode beneficiar outros setores, como energia, medicina e transportes.
Além disso, o desenvolvimento da propulsão nuclear para o "Álvaro Alberto" não apenas fortalece a Marinha do Brasil, mas pode ter efeitos colaterais positivos para a indústria nuclear brasileira, contribuindo para setores como geração de energia e medicina nuclear.
Defesa Como Pilar do Desenvolvimento Nacional
A experiência global mostra que o investimento em defesa não apenas fortalece a segurança nacional, mas também gera efeitos multiplicadores para a economia. Tecnologias desenvolvidas para o setor militar frequentemente resultam em aplicações no setor civil, um fenômeno conhecido como "spin-off tecnológico".
O PROSUB já demonstrou seu potencial como indutor do desenvolvimento, e sua continuidade é essencial para consolidar uma base industrial de defesa forte no Brasil. Para isso, o governo precisa garantir previsibilidade orçamentária, evitando cortes e atrasos que possam comprometer os avanços já alcançados.
Se o Brasil deseja garantir sua soberania no Atlântico Sul e manter uma força naval moderna e eficiente, é essencial assegurar um fluxo contínuo de recursos para o programa. O submarino nuclear "Álvaro Alberto" é um marco tecnológico e estratégico, mas, sozinho, não basta. Para que ele cumpra seu papel de fortalecer a defesa do Brasil, é necessário que o PROSUB continue avançando, com investimentos planejados e sustentáveis.
A defesa não deve ser vista como um custo, mas como um investimento no futuro do Brasil, tanto em termos de segurança quanto de desenvolvimento econômico e tecnológico.
O PROSUB e o submarino nuclear Álvaro Alberto representam um avanço estratégico para a defesa do Brasil, colocando a Marinha em um novo patamar tecnológico. No entanto, para garantir sua efetividade, o país precisa continuar investindo na renovação da frota convencional e planejar uma segunda unidade nuclear no futuro.
Se o Brasil quiser manter uma posição de destaque no Atlântico Sul e garantir a soberania sobre a Amazônia Azul, a questão submarina deve permanecer como uma prioridade. O "Álvaro Alberto" é um primeiro passo decisivo, mas sozinho, ele não basta. O caminho a seguir depende de decisões estratégicas e de um compromisso real com a defesa nacional.
Por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
Excelente artigo. Para mim, só faltou constar que a dissuasão pretendida com os submarinos de propulsão nuclear não se destina apenas à defesa do patrimônio nacional no Atlântico Sul, mas também no território. Nesta época de mísseis de cruzeiro com 2500 km de alcance, objetivo bem adentrados no território podem ser engajados por navios ou submarinos mergulhados a partir de pontos muito além da Amazônia Azul, situação que tende a se prolongar ou piorar no futuro, e um submarino nuclear apoiado por um eficiente sistema de Consciência Situacional me parece a melhor forma de ameaçar esses vetores nessas posições, para um país que não possui capacidade de dissuasão punitiva forte, como a nuclear.
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