sábado, 1 de fevereiro de 2025

EXCLUSIVO: Missão de Paz no Congo - Relatos dos Militares Brasileiros na MONUSCO

Nós, do GBN Defense, conseguimos com exclusividade, através do Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro, obter relatos de militares brasileiros que estão em meio aos desafios impostos à Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Congo (MONUSCO), em um dos cenários mais complexos e caóticos da atualidade. Esses relatos oferecem uma visão única e detalhada sobre a realidade enfrentada por nossos militares atuando na República Democrática do Congo (RDC), permitindo que nossos leitores compreendam os desafios diários e a importância da atuação brasileira na região.

A MONUSCO, uma das maiores operações de paz da ONU, enfrenta uma situação de instabilidade crescente na RDC, agravada pelos avanços do grupo armado M23, que lançou ataques coordenados a cidade de Goma e seus arredores, obtendo o controle da região. Neste contexto, 16 militares do Exército Brasileiro desempenham um papel fundamental, em colaboração com tropas de diversas nacionalidades e apoiar a população local em meio a uma crise humanitária sem precedentes.

A Situação em Goma e Região Circunvizinha

Goma, localizada no leste da República Democrática do Congo, e suas áreas vizinhas, vivem um momento crítico devido à atuação do Grupo Armado M23, que assumiu o controle da cidade. A cidade, com cerca de 1 milhão de habitantes, enfrenta uma situação de extrema pobreza, agravada pela presença de mais de 500 mil refugiados em campos próximos, um reflexo direto da instabilidade na região.

“Em Goma e arredores, a situação é muito delicada. Estamos enfrentando a ocupação do M23 e a população local vive em condições de extrema vulnerabilidade. Os campos de refugiados são um exemplo claro da gravidade da crise, com mais de 500 mil pessoas vivendo em condições precárias. A cidade, com sua população já em dificuldades antes do conflito, se encontra ainda mais debilitada, Tudo isso resulta em uma necessidade permanente de apoio e a ONU e outras entidades estrangeiras tem feito esse papel. Nesse momento de conflito, tudo parou. Só que as pessoas não podem resistir muito sem esse suporte”, relatou um dos militares brasileiros, "os rebeldes do M23, assumiram o controle da cidade, e já estão permitindo o retorno dos trabalhos das entidades que fazem esse apoio. Com relação a segurança, apesar da situação em Goma ter se estabilizado após o M23 consolidar o controle da cidade, ainda há confrontos em áreas remotas".



A Operação Springbok e os Avanços do M23

Em outubro de 2023 a MONUSCO desencadeou, juntamente com as Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC), uma operação chamada Springbok, com várias posições defensivas estabelecidas no terreno, por tropas da Índia, Paquistão, Uruguai, Marrocos e Guatemala, destinada a impedir o avanço do M23 em direção as cidades de Sake e Goma. Isso funcionou bem, até fevereiro de 2024, quando o M23 atacou as elevações no entorno de Sake e conquistou algumas posições. Mesmo assim, foi possível conter o avanço do grupo armado e a situação se estabilizou. A situação se acalmou com cessar-fogo realizado em julho de 2024, tornando o segundo semestre daquele ano mais tranquilo. Contudo, em janeiro deste ano houve a quebra do cessar-fogo e o avanço do M23, a mudança foi repentina. Em poucos dias conquistaram Sake (cidade localizada a 25 km de Goma) e avançara para conquistar o controle de Goma.

Cabe salientar que a região de Sake e Goma estava muito bem defendida por tropas das FARDC, da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) na República Democrática do Congo (SAMIDRC), composta por tropas da África do Sul, Tanzânia e Malawi e de Grupos de populares chamados Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), conhecidos como Wazalendos. Também contavam com apoio da MONUSCO. Mas o M23 tem um poder de combate ainda maior do que as tropas defensoras e muita experiência de combate na região, pois o conflito na RDC ja dura três décadas e passou por duas guerras, sendo que a segunda Guerra do Congo, também chamada de "Guerra Mundial Africana", é considerado o conflito com maior número de baixa desde a II Guerra Mundial (estima-se que 5 milhões de pessoas perderam a vida em decorrência dessa guerra, vítimas dos combates e de doenças). Além disso, contam com um material bélico de qualidade, sistemas de defesa avançados (armamento, antiaérea, guerra eletrônica, etc). Possuem uma organização e doutrina consolidadas e pessoal extremamente motivado.

Diante deste cenário, questionamos como tem sido a experiência de atuar em um cenário de alta complexidade e tensão como este, com o agravamento dos conflitos envolvendo o avanço dos rebeldes do M23, ao que tivemos como resposta, que "a experiência profissional de atuar neste cenário tem sido relevante, apesar do risco."

A Preparação dos Militares Brasileiros e os Desafios Emocionais

Os militares brasileiros, bem preparados e experientes, enfrentam diariamente os desafios de atuar em um cenário tão complexo e perigoso. Neste contexto, perguntamos como tem sido para os militares brasileiros essa situação e como lidam emocionalmente e profissionalmente com esses desafios e perigos diários?

“Apesar dos desafios diários, a formação e o preparo da tropa brasileira têm nos permitido agir de forma eficiente. Os militares brasileiros são muito bem formados, nas escolas e cursos de formação, e muito bem-preparados para as operações de paz. Somos internacionalmente reconhecidos por nossa capacidade, desempenho e a nossa experiência em cenários de alto risco, As tropas brasileiras foram destaque na missão de paz no Haiti (MINUSTAH)”, afirmou um dos militares, "A convivência constante com a violência e a instabilidade exige também um esforço emocional significativo. A adaptação a um ambiente de tensão constante, onde a segurança nunca é garantida, é um desafio tanto para os militares quanto para a população local."

A Liderança Brasileira na MONUSCO

Recentemente, no dia 29 de janeiro, a ONU anunciou que o general brasileiro Ulisses Mesquita Gomes assumiu o comando da MONUSCO, como novo Force Commander. Sua nomeação, em meio a um cenário complexo e desafiador, reflete a confiança internacional nas capacidades das Forças Armadas brasileiras para lidar com uma missão de tal magnitude.

A nomeação do General Ulisses Mesquita Gomes para o cargo de Force Commander representa não apenas um reconhecimento da qualidade do trabalho brasileiro na missão, mas também a importância da liderança do Brasil em um momento crítico para a estabilidade da RDC. Que mensagem o Exército Brasileiro gostaria de enviar ao povo brasileiro sobre o papel e a importância da participação do Brasil nesta missão de paz?

"Consideramos fundamental e de extrema importância a participação do Brasil nessa missão. A MONUSCO, que é uma missão civil, que atua em várias áreas e que conta com um componente militar de 10.500 integrantes, do qual os militares brasileiros fazem parte, e que tem sido comandado por oficiais-generais do Exército Brasileiro, desde 2013. Estamos há 25 anos contribuído significativamente para o apoio, proteção da população e para reformas das Instituições do país".

"A presença do Brasil e das Forças Armadas brasileiras aqui enaltecem a nossa nação perante a comunidade internacional e perante população local e se revela como uma importante contribuição que podemos dar para a paz e o desenvolvimento no mundo", conclui a declaração que recebemos do Exército Brasileiro.

A presença do Brasil na MONUSCO, com sua contribuição consistente e relevante, reforça a posição do Brasil no cenário internacional como um ator comprometido com a paz e segurança globais. Com uma atuação discreta, mas efetiva, os militares brasileiros se destacam pela preparação e comprometimento, demonstrando que, mesmo em cenários de extrema complexidade, a missão de paz segue sendo um compromisso essencial, trabalhando em conjunto com a comunidade internacional.

A escolha do General Ulisses Mesquita Gomes para assumir o comando da MONUSCO em meio ao atual cenário, reflete a credibilidade que o Brasil conquistou no âmbito das operações de paz, especialmente em momentos de crise. O trabalho dos militares brasileiros na MONUSCO continua sendo um exemplo de dedicação e profissionalismo em nome da paz, num contexto de desafios imensos, mas também de esperança para um futuro mais estável para a população do Congo.

Agradecemos profundamente à equipe do Centro de Comunicação Social do Exército Brasileiro por tornar possível compartilhar com nosso público a visão de nossos militares, que estão em meio aos desafios impostos à Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Congo (MONUSCO), em um dos cenários mais complexos e caóticos da atualidade, e aos militares brasileiros que integram a MONUSCO, transmitindo nosso orgulho pelo trabalho desses homens e mulheres que estão desempenhando um papel heroico em prol da paz e segurança, representando nosso país e seus valores, além de seu firme compromisso com a paz no mundo.


por Angelo Nicolaci


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com Apoio do Exército Brasileiro
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