A defesa nacional é um dos pilares da soberania de qualquer nação. No entanto, o Brasil tem oscilado entre investimentos estratégicos e cortes orçamentários drásticos que comprometem sua capacidade de dissuasão. Em meio a um cenário geopolítico cada vez mais instável, a pergunta que se impõe é: queremos ser uma potência militar respeitada e soberana, ou permanecer reféns de ideologias que enfraquecem nossas Forças Armadas e a Base Industrial de Defesa (BID)?
Neste novo editorial assinado por nosso editor, Angelo Nicolaci, pretendemos iniciar um importante debate no seio de nossa sociedade civil e militar, propondo uma perspectiva lógica e amparada em dados e análises com dados oficiais e incontestáveis.
O Custo da Negligência: Dados e Comparações
O orçamento de defesa do Brasil para 2024 está na casa dos R$ 120 bilhões, mas grande parte é destinada a despesas com pessoal e previdência. Quando se trata de investimentos e modernização, os recursos são reduzidos drasticamente. Para efeito de comparação:
- A Rússia, em plena guerra, investiu cerca de US$ 104 bilhões (R$ 606 bilhões) em defesa em 2024.
- A Índia, que busca consolidar sua independência militar, destinou US$ 83 bilhões (R$ 481 bilhões) ao setor, com forte impulso à indústria nacional.
- A Türkiye, que emergiu como uma potência militar regional, investiu cerca de US$ 45 bilhões (R$ 223 bilhões) em 2024, com foco no desenvolvimento de tecnologia própria, incluindo drones de combate, sistemas de defesa aérea e blindados.
- O Brasil, com um território continental e vastas riquezas estratégicas, alocou cerca de US$ 25 bilhões (R$ 123 bilhões), dos quais apenas 12% vão para reaparelhamento e obtenção de tecnologias.
Isso significa que, enquanto países emergentes fortalecem suas capacidades militares e desenvolvem sua indústria de defesa, o Brasil mantém um modelo que privilegia a manutenção de uma estrutura defasada e inadequada aos seus desafios, sem planejamento de longo prazo.
A Ideologia e a Miopia política Como Obstáculos
Ao longo dos últimos anos, setores do governo vêm tratando a defesa nacional como um gasto supérfluo ou um instrumento de repressão, ignorando seu papel essencial na proteção da soberania. A narrativa ideológica tem prejudicado investimentos em projetos estratégicos, como o Programa Nuclear da Marinha, a modernização da Força Aérea Brasileira e os programas estratégicos do Exército Brasileiro.
Casos emblemáticos incluem:
- A suspensão da aquisição do obuseiro autopropulsado ATMOS, contrariando a análise técnica do Exército e do Tribunal de Contas da União (TCU), que haviam validado o processo. Essa decisão compromete a modernização da artilharia brasileira.
- A falta de apoio e recursos para a expansão do Programa Gripen, limitando a frota da FAB e sua capacidade de defesa aérea.
- A morosidade na liberação de verbas para a construção das fragatas da classe Tamandaré e o Programa de Submarinos (PROSUB), impactando diretamente a capacidade naval do país.
Enquanto isso, países como a Türkiye e a Índia investem pesado na independência no campo tecnológico e de defesa, sem amarras ideológicas que limitem suas decisões estratégicas.
A BID como Motor do Desenvolvimento Nacional
A Base Industrial de Defesa (BID) brasileira tem potencial para gerar riqueza, empregos e autonomia tecnológica. Empresas como Embraer, AEL, SIATT, AKAER, MacJee e Ares por exemplo, possuem expertise reconhecido mundialmente, mas sofrem com a falta de contratos internos e a burocracia estatal, a mesma burocracia e ausência de investimentos que conduziu a Avibras ao atual estágio caótico, onde corre sérios riscos de fechar se não conseguir investidores dispostos a comprar a empresa e estabilizar a mesma.
Exemplo claro da incompetência e omissão do Governo brasileiro, é o apoio as exportações de produtos nacionais de defesa, isso sem mencionar a falta de atuação do Itamaraty no apoio as indústrias brasileiras de defesa. Se houvesse um compromisso real com a BID, poderíamos não apenas fortalecer a defesa nacional, mas também transformar o setor em um motor da economia, conquistando clientes externos, ampliando nossas exportações.
O Que Está em Jogo?
A escolha é clara: ou o Brasil assume sua posição como um player global relevante, investindo em suas Forças Armadas e na BID, ou continuará à mercê de decisões políticas e interesses alheios aos nossos interesses nacionais, por conta de decisões ideológicas que minam nossa soberania. Segurança nacional não é questão de governo, mas de Estado. Enquanto não houver essa compreensão, continuaremos vulneráveis e dependentes de forças externas.
A pergunta permanece: "seremos protagonistas ou reféns?"
Por Angelo Nicolaci
GBN Defense - A informação começa aqui
Uma política de Defesa crível depende essencialmente de um fator fundamental: qual a ameaça. Sem ver, e entender, isso concretamente, vamos passar à eternidade sem elementos para dispor de ações de Estado reais e efetivas no campo da Defesa. Se a sociedade, e por tabela, os governos, e o mundo político, não tiverem clareza das necessidades do país neste assunto, é vão tentar justificar investimentos na área, porque sempre haverá em contrapartida argumentos do tipo defesa " do que não se sabe do quê ou de quem". E como nossa sociedade é culturalmente imediatista, se nada for para hoje ou amanhã, nada feito. Essa miopia não apenas social, como política, é o traço mais reconhecido da falta de perspectivas para o futuro do país.
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