O cancelamento da compra do sistema de obuseiros autopropulsados VBC OAP 155 mm SR ATMOS 155 mm pelo governo brasileiro, é um duro golpe para o Exército Brasileiro, não se tratando apenas de um revés para a Artilharia de Campanha, mas também para indústria de defesa brasileira. Ele é um reflexo de uma postura recorrente do governo brasileiro de negligência, falta de planejamento estratégico e desprezo pelas necessidades da defesa nacional e a ausência de políticas de Estado. O ATMOS, montado sobre um chassi Tatra T-815 6×6 e fabricado pela Elbit Systems Land Ltd, foi avaliado como um dos melhores de sua categoria e atendia a todos os requisitos técnicos exigidos. Sua aquisição fortaleceria consideravelmente as capacidades das Forças Armadas, aumentando a letalidade e a precisão do apoio de fogo da Força Terrestre, além de garantir a transferência de tecnologia e geração de empregos na base industrial de defesa. Entretanto, a decisão de interromper o processo de aquisição evidencia o descaso governamental com a segurança e soberania do país.
A AEL Sistemas, em Porto Alegre, e a Ares Aeroespacial, no Rio de Janeiro, são exemplos de empresas nacionais que participam de projetos estratégicos de defesa, como o Programa Gripen, e que seriam beneficiadas com a transferência de tecnologia prevista pela aquisição do ATMOS. No entanto, a continuidade desse e de outros projetos estratégicos tem sido sistematicamente prejudicada pela falta de compromisso governamental. O cancelamento do ATMOS reforça essa tendência de desmonte da capacidade de defesa brasileira, comprometendo o futuro das nossas Forças Armadas e deixando o Brasil em situação vulnerável.
A modernização das capacidades de defesa não pode ser tratada como uma questão secundária ou sujeita a interesses políticos momentâneos. Programas militares são políticas de Estado e não de governo. O desenvolvimento da indústria de defesa exige previsibilidade orçamentária e investimentos contínuos. Ao cancelar programas essenciais, como a aquisição do ATMOS, causa um impacto negativo, tornando o Brasil cada vez mais distante de possuir capacidades de defender sua soberania e interesses, nos colocando cada vez mais sujeitos aos interesses estrangeiros, perdendo autonomia e reduzindo sua capacidade de responder a ameaças internas e externas. Isso é especialmente grave em um cenário global cada vez mais instável, no qual nações que negligenciam sua defesa acabam reféns de interesses externos e sem poder de dissuasão.
Além do impacto direto na segurança nacional, o cancelamento do ATMOS prejudica a economia e a inovação tecnológica. O investimento em defesa gera empregos altamente qualificados, estimula a pesquisa e desenvolvimento e fortalece a indústria nacional. Países como Türkiye, Índia e Coreia do Sul investiram fortemente em seus setores de defesa e hoje colhem os frutos, exportando tecnologia, reduzindo dependências e fortalecendo sua posição geopolítica. Enquanto isso, o Brasil insiste em adotar uma postura reativa e desorganizada, perdendo oportunidades estratégicas e enfraquecendo sua base industrial.
É inaceitável que um país com as dimensões e a relevância geopolítica do Brasil continue a tratar sua defesa de maneira tão displicente. O cancelamento do ATMOS não pode ser visto como um fato isolado, mas como parte de um problema crônico de falta de visão estratégica e de descontinuidade nos investimentos militares, além da preocupante intervenção de interesses ideológicos e partidários nas questões de defesa e soberania. Sem planejamento e comprometimento com a modernização da defesa, o Brasil seguirá vulnerável e irrelevante no cenário internacional. O governo precisa urgentemente rever essa postura irresponsável e garantir os recursos necessários para que as Forças Armadas possam cumprir seu papel de proteger a soberania e os interesses nacionais, além de respeitar os critérios técnicos e estratégicos que definem os programas de defesa e suas definições.
por Angelo Nicolaci
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