domingo, 26 de janeiro de 2025

Gaza em Xeque: Professor Caio Vioto Analisa o Impacto Global do Cessar-Fogo Entre Israel e o Hamas

O conflito entre Israel e o Hamas tem sido um dos mais prolongados e complexos da história contemporânea. Com raízes profundas em disputas territoriais, religiosas e políticas, a atual situação do Oriente Médio exige uma análise cuidadosa sobre os caminhos possíveis para a pacificação. A recente trégua, acompanhada de negociações e acordos temporários, gerou novas esperanças e desafios. Em meio a esse cenário, o GBN Defense convidou o historiador e professor Caio Vioto, especialista em história econômica e guerras, para responder algumas questões, oferecendo uma análise com um olhar profundo sobre as dinâmicas do conflito e os possíveis desdobramentos.

Caio Vioto é professor da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, historiador especializado em história econômica e guerras. Com ampla experiência em análises geopolíticas, Vioto tem se dedicado a compreender os conflitos internacionais sob uma ótica histórica, sendo uma referência nas discussões sobre a política externa e as relações de poder no cenário global.

É com grande satisfação que damos início a esta entrevista exclusiva de nosso editor, Angelo Nicolaci, com professor Caio Vioto, e agradecemos imensamente ao professor por compartilhar sua análise criteriosa e enriquecer a discussão sobre o complexo cenário do conflito entre Israel e o Hamas, contribuindo para oferecer aos leitores do GBN Defense uma visão ampla e detalhada sobre este tema tão relevante.

GBN Defense (Nicolaci) - Professor Vioto, o cessar-fogo atual é uma trégua estratégica ou um sinal real de avanço rumo à pacificação? Quais os desafios mais imediatos que ele enfrenta para se sustentar?

Prof. Caio Vioto: "Inicialmente, o acordo deve ser visto como uma trégua. Diante de mais de um ano de conflito, os dois lados estão saturados do ponto de vista militar, econômico e político. Do lado de Israel, o país se encontra paralisado e tendo que arcar com todo o custo econômico de uma guerra, além de sofrer pressões políticas internacionais. Quanto ao Hamas, o objetivo do grupo é a sobrevivência, ou seja, manter um contingente de soldados para eventuais futuras investidas e para continuar tendo influência política em Gaza."

GBN Defense (Nicolaci) - Com a possível retirada das tropas israelenses de Gaza, quem poderia assumir a governança da região? Existe algum ator político ou movimento capaz de oferecer estabilidade e representatividade?

Prof. Caio Vioto: "A saída mais comentada nos últimos dias tem sido uma espécie de administração provisória, envolvendo EUA, Israel, países árabes como Emirados Árabes e Catar e o auxílio da ONU. O objetivo seria promover tanto uma reconstrução da Faixa de Gaza, uma das fases seguintes do acordo de cessar-fogo, quanto reestabelecer a Autoridade Palestina, que perdeu força na região desde 2006, quando o Hamas passou a ocupar o poder político em Gaza."

GBN Defense (Nicolaci) - Considerando a rejeição à solução de dois Estados tanto por parte de setores do governo Netanyahu, quanto pelo Hamas, que não reconhece o Estado de Israel e vê como inaceitável a coexistência, esse modelo ainda é viável? Que alternativas poderiam ser consideradas para garantir algum nível de coexistência pacífica?

Prof. Caio Vioto: "Outra questão trazida novamente à tona nos últimos dias são os Acordos de Abraão, firmados em 2020, entre Israel e alguns países árabes como Emirados Árabes, Arábia Saudita e Catar. Os acordos bilaterais foram mediados pelos EUA e caminham na direção de reconhecer a soberania e a legitimidade do Estado de Israel, bem como de procurar mediações diplomáticas para a questão palestina. No entanto, países como Irã e grupos como o Hamas não reconhecem o acordo. Aliás, a própria construção dos Acordos de Abraão foi uma das causas apontadas para os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, como forma de retaliação."

GBN Defense (Nicolaci) - Como a postura do Hamas, marcada por imprevisibilidade e interesses variados, dificulta as negociações de paz? De que forma outros grupos islâmicos poderiam influenciar a dinâmica do conflito?

Prof. Caio Vioto: "A grande questão seria como neutralizar o Hamas e outros grupos. Por mais que os países árabes, o Ocidente e a comunidade internacional em geral tentem encontrar soluções e mediar conflitos, os grupos terroristas como o Hamas não reconhecem a legitimidade da existência do Estado de Israel. Portanto, mesmo com o cessar-fogo, se o grupo continuar existindo, nada impede que promova outros ataques futuramente."

GBN Defense (Nicolaci) - O conflito entre Israel e o Hamas afeta diretamente a estabilidade do Oriente Médio. Como as potências globais e os países da região podem moldar os rumos desse conflito?

Prof. Caio Vioto: "Além das pressões internacionais e das mediações dos EUA, outros atores políticos, como Irã, Rússia e China são essenciais para compreender a questão. O Irã sofreu ataques de Israel e saiu enfraquecido do processo. O país é apontado como um dos grandes financiadores do Hamas e de outros grupos. Por sua vez, o Irã é aliado da Rússia, que sofre com as consequências da guerra com a Ucrânia e tem cada vez menos condições de cooperar militar, politica e economicamente com os iranianos. A China, por sua vez, também possui relações estratégicas com o Irã, sendo o maior importador de petróleo do país. No entanto, devido às tensões comerciais e geopolíticas com os EUA, a China pressiona para que os conflitos no Oriente Médio também não se alastrem e prejudiquem o país de alguma forma."

GBN Defense (Nicolaci) - Historicamente, quais lições podemos extrair de outros conflitos prolongados semelhantes para entender as possíveis resoluções ou perpetuações desse impasse?

Prof. Caio Vioto: "Um dos acordos de cessar-fogo mais duradouros e bem sucedidos é entre Coreia do Sul e Coreia do Norte, vigente desde 1953. A Guerra da Coreia, iniciada em 1950, tecnicamente não terminou e não teve vencedor, mas o armistício perdura desde então e, embora existam conflitos geopolíticos, não ocorreram conflitos militares. No entanto, a situação israelense-palestina é bem mais complexa, pois envolve questões religiosas e a própria presença de grupos terroristas enquanto atores fundamentais do conflito."

GBN Defense (Nicolaci) - Para encerrar, gostaria de abrir espaço para o Prof. Vioto compartilhar suas considerações finais sobre o contexto do conflito entre Israel e o Hamas, oferecendo sua visão abrangente e reflexiva aos nossos leitores. Agradecemos imensamente por sua disponibilidade e por enriquecer a análise geopolítica apresentada aos leitores do GBN Defense.

Prof. Caio Vioto: "O conflito Israel e Palestina, iniciado em meados do século XX, é um dos mais longos e complexos da História Contemporânea. Em grande medida, o clima do conflito varia de acordo com o cenário internacional geral. Assim, os desdobramentos do conflito vão depender de como caminharão as tensões geopolíticas globais nos próximos anos."

Nós do GBN Defense agradecemos ao professor Caio Vioto por sua análise objetiva e esclarecedora sobre os desdobramentos do conflito entre Israel e o Hamas. Sua participação trouxe insights importantes para entendermos as dinâmicas geopolíticas envolvidas. Reiteramos o convite para futuras colaborações, enriquecendo nosso espaço com sua expertise.

Esta entrevista destacou os principais desafios do cessar-fogo, possíveis soluções para a governança de Gaza e o papel das potências globais na busca por estabilidade na região. Seguiremos acompanhando de perto os desdobramentos do conflito, trazendo análises e informações atualizadas para nossos leitores.


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