A Marinha Russa enfrenta uma crise silenciosa, mas significativa, com os seus principais navios de guerra. O Almirante Kuznetsov, o único porta-aviões da Rússia, e o Almirante Nakhimov, um imponente cruzador nuclear, estão ambos em reparos há anos, com uma série de problemas que atrasam não apenas o retorno dessas embarcações ao serviço ativo, mas também a modernização da frota naval russa como um todo. Embora o governo russo tenha insistido na necessidade de manter essas embarcações como parte de sua força naval, a realidade é que a constante luta para trazer esses navios de volta ao mar está tornando-se cada vez mais difícil, com custos elevados e uma falta crescente de confiança no sucesso dessas iniciativas. Ambas as embarcações, que representam o orgulho da marinha russa, estão longe de ser a força operacional de que a Rússia necessita. O destino delas, até o momento, é incerto.
Almirante Kuznetsov: O Porta-Aviões Amaldiçoado
Desde que foi lançado ao mar, o Almirante Kuznetsov tem sido um navio marcado por uma sequência de problemas técnicos e acidentes que, ao longo das décadas, colocaram em questão sua eficácia como um porta-aviões operacional. Lançado em 1985 e comissionado no final da era Soviética em 1991, porém, o Kuznetsov apenas se apresentou plenamente operacional em 1995, sendo o primeiro de uma classe composta por dois navios, com o segundo, Varyag, tendo sua construção abandonada por um longo período, até que o casco foi comprado pela China, tendo sua construção finalizada e entrada em operação com os chineses.
O Almirante Kuznetsov ao longo de sua vida operacional, realizou apenas sete comissões de longa duração. A última dessas aconteceu na costa da Síria, em 2016, onde o navio sofreu uma série de incidentes, incluindo a perda de duas aeronaves de seu destacamento aéreo embarcado, em uma falha que foi vista como mais um golpe em sua já manchada reputação.
O cenário de desventura do Kuznetsov não parou por aí. Em 2017, um acidente grave com a doca seca PD-50, onde o porta-aviões estava em reparos, resultou em danos significativos à embarcação, piorando ainda mais sua situação. Mas talvez o evento mais significativo e devastador tenha ocorrido em 2019, quando um incêndio de grandes proporções tomou conta do navio enquanto ele estava em reparos no estaleiro de Murmansk, deixando o Kuznetsov severamente danificado.
Em resposta a esses desastres, as autoridades russas inicialmente consideraram descomissionar o porta-aviões, mas, surpreendentemente, optaram por realizar reparos e modernizações. Um plano original previa que o Kuznetsov voltaria ao mar em 2022, com a esperança de que os reparos e modernizações, incluindo novos sistemas de armas e aeronaves mais modernas, garantiriam a relevância do navio no contexto da guerra moderna. No entanto, novos contratempos, incluindo outro incêndio em 2022, atrasaram ainda mais o cronograma de reparos, colocando em dúvida a viabilidade de sua modernização.
Hoje, o Kuznetsov continua preso no estaleiro, sem uma data definida para voltar ao mar. Esse atraso continua a minar a capacidade da Rússia de projetar seu poder naval, especialmente no contexto das tensões internacionais. O fato de a Rússia estar de certa modo, à mercê dos acidentes envolvendo seu único porta-aviões tem sido uma preocupação crescente, visto que um porta-aviões é fundamental para a projeção de força, além de ser um ativo estratégico relevante.
Almirante Nakhimov: O Cruzador Nuclear em Reforma Há Décadas
Se o Almirante Kuznetsov possui uma história de infortúnios, o Almirante Nakhimov não fica muito atrás. Lançado em 1986, o cruzador nuclear foi inicialmente uma das estrelas da Marinha Soviética, com grande poder de fogo e representando um importante papel estratégico. No entanto, desde 1997, o Nakhimov está em reparos, e já se passaram quase três décadas desde que o navio foi retirado de operação para ser submetido ao programa de modernização.
Ao longo desses anos, os esforços para trazer o Almirante Nakhimov de volta ao serviço ativo custaram à Rússia impressionantes 5 bilhões de dólares. O plano de modernização inclui a atualização dos sistemas de armas, com o objetivo de permitir ao navio lançar mísseis avançados, como os Onix, Kalibr e os hipersônicos Zircon. Esses mísseis seriam essenciais para reforçar a capacidade de ataque da Rússia, permitindo que o Nakhimov desempenhasse um papel relevante na armada russa.
No entanto, apesar dos esforços de modernização, o tempo e os custos aumentados geraram uma série de dúvidas sobre a viabilidade de colocar o Nakhimov novamente em operação. A sua capacidade de competir com os avanços tecnológicos do moderno teatro de operações navais, levanta questões que vêm sendo constantemente debatidas por especialistas. Além disso, a falta de progresso nas atualizações e os atrasos contínuos têm gerado um clima de incerteza em torno do futuro do outrora poderoso cruzador russo. Embora tenha sido anunciado que as primeiras provas de mar poderiam ocorrer durante este mês de novembro, o qual esta chegando ao fim, e ainda não há indícios que isso realmente se concretizará.
O Que Está em Jogo?
A situação do Almirante Kuznetsov e do Almirante Nakhimov é sintomática de um problema mais amplo enfrentado pela Marinha Russa: a dificuldade em modernizar e manter suas forças navais com eficácia. Os altos custos de manutenção, os atrasos nos projetos e os sucessivos acidentes estão criando uma crise de confiança tanto internamente, quanto na comunidade internacional, sobre a capacidade da Rússia de manter uma armada operacional de alta qualidade.
Para um país que busca expandir sua presença militar no cenário global, especialmente em águas estratégicas como o Mar do Norte, o Ártico e o Mediterrâneo, a incapacidade de operar esses navios de forma eficiente e constante representa um golpe significativo na sua projeção de poder. A necessidade de um porta-aviões moderno e um cruzador nuclear atualizado nunca foi tão evidente, mas a falta de progresso efetivo levanta sérias dúvidas sobre o futuro da marinha russa.
Além disso, as dificuldades técnicas e os atrasos enfrentados por essas duas embarcações tornam ainda mais evidente o desafio da Rússia em modernizar sua força naval de maneira eficaz. Com os custos exorbitantes e o tempo perdido, o Kremlin poderá ter que reconsiderar suas prioridades estratégicas, uma vez que os custos de manutenção de navios envelhecidos como o Kuznetsov e o Nakhimov podem ser mais altos do que investir em novas tecnologias de defesa ou na construção de novos meios de superfície, que tenham projetos mais adequados a nova realidade da guerra naval.
O Futuro da Marinha Russa em Xeque
O Almirante Kuznetsov e o Almirante Nakhimov simbolizam a fragilidade da Marinha Russa no cenário moderno. As décadas de problemas técnicos, os altos custos de manutenção e as repetidas falhas em sua modernização refletem um setor de defesa que, embora ainda poderoso em termos de números, luta para manter sua relevância e eficácia frente aos avanços tecnológicos de outros países. A continuidade dos investimentos e os planos de renovação de ambas as embarcações, estão longe de garantir que esses navios sejam capazes de oferecer o desempenho esperado.
Como resultado, o futuro da Marinha Russa parece incerto, e sua capacidade de enfrentar desafios estratégicos no mar será limitada até que soluções mais eficazes sejam encontradas. O tempo está se esgotando, e a Rússia terá que decidir se continuará investindo pesadamente na reparação de seus vetustos navios ou se buscará alternativas mais modernas e sustentáveis para fortalecer sua força naval.
por Angelo Nicolaci
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