Na manhã de 21 de novembro, a Rússia realizou um ataque coordenado de mísseis contra a Ucrânia, marcando uma mudança significativa no conflito em andamento. Pela primeira vez, a Rússia utilizou um míssil balístico intercontinental (ICBM), aumentando a escalada das tensões. A ofensiva foi iniciada a partir da região de Astrakhan, na Rússia, e teve como alvo diversas áreas da Ucrânia. Essa operação, que também envolveu a participação de caças e bombardeiros estratégicos, demonstra o uso intensivo e diversificado das capacidades militares russas.
O uso de um ICBM no conflito marca uma decisão inédita e ousada por parte da Rússia. A escolha de empregar este tipo de armamento, projetado originalmente para alcançar longas distâncias com ogivas nucleares ou convencionais, demonstra a disposição de Moscou em testar as defesas ucranianas e enviar uma mensagem clara aos seus oponentes, tanto na Ucrânia quanto no Ocidente. O lançamento partiu de Astrakhan, região conhecida por ser um ponto estratégico para testes de mísseis e atividades militares.
O ataque também envolveu um MiG-31K, um caça projetado para desempenhar missões de interceptação e ataque de alta velocidade. Este avião lançou um míssil Kh-47M2 Kinzhal, uma arma aerobalística capaz de atingir velocidades hipersônicas e manobrar para escapar de sistemas de defesa. O Kinzhal é conhecido por sua capacidade de atingir alvos terrestres com alta precisão, tornando-o uma ferramenta eficaz para ataques cirúrgicos.
Além disso, bombardeiros estratégicos Tu-95MS participaram do ataque a partir da região de Volgogrado. Esses aviões lançaram sete mísseis de cruzeiro Kh-101, conhecidos por seu longo alcance e capacidade de evitar detecções graças ao seu perfil de voo de baixa altitude. A Ucrânia, no entanto, conseguiu interceptar seis dos sete mísseis Kh-101 lançados, destacando a eficácia dos sistemas de defesa aérea fornecidos pelo Ocidente.
Regiões Alvejadas e Impacto do Ataque
Os mísseis atingiram múltiplas regiões ucranianas, incluindo áreas densamente povoadas e pontos de infraestrutura:
- Chernihiv: Área alvo de bombardeios no norte da Ucrânia, perto da fronteira com Belarus.
- Dnipropetrovsk: Região que sofreu danos significativos em instalações industriais e centros logísticos.
- Kiev: Capital ucraniana, frequentemente alvo de ataques para pressionar a liderança política e militar.
- Poltava: Região central do país, importante devido à sua infraestrutura de transporte.
Em Dnipro, mísseis atingiram um complexo industrial e um centro de reabilitação para pessoas com deficiência, causando incêndios e destruição parcial nas áreas afetadas. As autoridades locais destacaram que, apesar dos danos materiais, as baixas humanas foram mínimas graças aos alertas rápidos e às ações de evacuação. A Força Aérea Ucraniana elogiou a população pela resposta disciplinada aos alertas de ataque aéreo, que ajudaram a salvar vidas.
A Resposta de Putin e o Teste do Míssil Hipersônico “Oreshnik”
Em um discurso transmitido pela televisão, o presidente russo Vladimir Putin confirmou que o ataque também serviu como um teste para o novo míssil hipersônico “Oreshnik”. Este sistema de médio alcance foi utilizado em um ataque de retaliação contra uma instalação militar-industrial ucraniana. Putin alegou que a operação visava responder ao uso, por parte da Ucrânia, de armas de longo alcance fornecidas por aliados ocidentais, como os Estados Unidos e o Reino Unido.
O "Oreshnik" representa a nova geração de armamento hipersônico da Rússia, projetado para enfrentar os sistemas de defesa antimísseis da OTAN. É um míssil balístico que viaja a velocidades superiores a Mach 5, dificultando sua interceptação por defesas convencionais. No ataque, o míssil foi utilizado com uma carga convencional, sem ogivas nucleares, evidenciando o interesse russo em testar suas capacidades em condições de combate real sem provocar uma escalada nuclear.
Consequências Internacionais e Ameaças Crescentes
Durante seu pronunciamento, Putin reiterou que qualquer país que fornecer armas à Ucrânia corre o risco de ter suas instalações militares visadas pela Rússia. A retórica russa se intensificou, especialmente após a crescente entrega de sistemas de longo alcance e defesa aérea para a Ucrânia por países ocidentais. A advertência de Putin foi vista como um aviso direto à OTAN, sugerindo que Moscou está pronta para expandir o teatro de operações caso sinta ameaças diretas à sua segurança.
A Ucrânia, apesar dos ataques, demonstrou uma capacidade defensiva crescente. A interceptação de seis dos sete mísseis Kh-101 mostra a eficácia dos sistemas de defesa aérea fornecidos por parceiros ocidentais, incluindo baterias Patriot e outros sistemas de interceptação de mísseis. A coordenação rápida entre os sistemas de alerta precoce e as forças antiaéreas ucranianas foi crucial para minimizar o impacto da ofensiva russa, destacando a importância da inteligência compartilhada e do treinamento intensivo das tripulações.
A capacidade de interceptar mísseis de cruzeiro e balísticos, mesmo que parcialmente, é vista como uma conquista significativa para as forças armadas ucranianas, especialmente em um contexto de pressão contínua. A modernização constante dos sistemas defensivos será fundamental para manter a resiliência frente à tecnologia avançada empregada pela Rússia.
O Que o Uso do ICBM e do “Oreshnik” Significa para o Conflito?
A recente decisão da Rússia de utilizar um míssil balístico intercontinental (ICBM) e testar o novo míssil hipersônico "Oreshnik" durante um ataque à Ucrânia revela uma mudança significativa no cenário do conflito. O uso de ICBMs, que tradicionalmente têm uma função dissuasória nuclear, mesmo com cargas convencionais, mostra que Moscou está disposta a redefinir os limites do campo de batalha. Ao lançar o ICBM da região de Astrakhan, a Rússia envia uma mensagem clara de que seu arsenal estratégico não está limitado apenas à dissuasão nuclear, mas pode ser utilizado em um contexto de guerra convencional para pressionar o adversário e sinalizar o poder de suas forças.
Além disso, o teste do míssil hipersônico “Oreshnik”, apresentado como parte da retaliação contra o uso de armamentos de longo alcance fornecidos pelo Ocidente, revela um esforço russo para validar novas tecnologias de combate sob condições reais. Este movimento é tanto uma demonstração de força quanto uma tentativa de adaptar suas capacidades militares para enfrentar as ameaças percebidas. O “Oreshnik”, capaz de operar em velocidades hipersônicas e manobrar a altas altitudes, representa um desafio direto às defesas antimísseis convencionais. Ao conduzir esse teste com uma ogiva convencional, Putin parece querer provar a precisão e a eficácia dessa nova arma sem recorrer a um ataque nuclear, evitando uma escalada direta e imediata com o Ocidente.
Ao mesmo tempo, o impacto psicológico dessas ações não pode ser subestimado. O uso de múltiplos tipos de mísseis, incluindo o ICBM, os Kh-47M2 Kinzhal aerobalísticos disparados por caças MiG-31K e os mísseis de cruzeiro Kh-101 lançados por bombardeiros Tu-95MS, foi projetado para testar a capacidade de defesa da Ucrânia e sinalizar ao mundo que a Rússia ainda possui um vasto arsenal de opções militares. A Ucrânia, por sua vez, demonstrou uma notável resiliência, com seus sistemas de defesa aérea interceptando seis dos sete mísseis de cruzeiro Kh-101. Essa resposta indica que os equipamentos de defesa ocidentais, como o sistema Patriot, estão cumprindo um papel vital na proteção contra ataques complexos e múltiplos.
Politicamente, o lançamento do ICBM e o teste do “Oreshnik” também são manobras estratégicas direcionadas tanto ao público interno quanto aos adversários internacionais. Internamente, Putin busca reforçar a percepção de que a Rússia mantém a iniciativa no conflito e possui capacidade tecnológica superior para enfrentar os desafios impostos pelo Ocidente. Essa narrativa é crucial para manter a coesão e o apoio da população russa, especialmente diante das sanções econômicas e da longa duração do conflito.
Externamente, a Rússia envia um aviso claro aos países ocidentais: está disposta a intensificar suas ações e utilizar armamentos avançados se continuar a ser pressionada militarmente. As ameaças diretas de Putin de atacar instalações militares em países que fornecem armas à Ucrânia refletem um aumento na retórica e indicam que Moscou considera esses fornecimentos como uma ameaça direta ao seu esforço de guerra. Isso eleva as tensões com os aliados da OTAN, que podem ser obrigados a reconsiderar a extensão e o tipo de apoio que fornecem à Ucrânia, temendo que se tornem alvos diretos de retaliações russas.
Do ponto de vista estratégico, o uso de ICBMs e de mísseis hipersônicos como o “Oreshnik” tem implicações significativas. A Rússia está claramente tentando redefinir a dinâmica do conflito, utilizando a Ucrânia como um campo de testes para suas novas tecnologias militares. Se essas armas se mostrarem eficazes, podem alterar o equilíbrio de poder, tanto regional quanto globalmente, desafiando a superioridade tecnológica e tática que o Ocidente tradicionalmente mantém.
Essa abordagem também pode intensificar uma nova corrida armamentista, especialmente no campo dos mísseis hipersônicos. O Ocidente, e particularmente os Estados Unidos, podem sentir a necessidade de acelerar o desenvolvimento de defesas eficazes contra essas ameaças, aumentando ainda mais o investimento em sistemas de defesa antimísseis e em tecnologias de resposta rápida.
A resposta da Ucrânia, interceptando a maioria dos mísseis de cruzeiro Kh-101, demonstra que, apesar das tentativas russas de intimidação, o país continua determinado a resistir e a proteger suas infraestruturas críticas. Isso envia uma mensagem encorajadora aos aliados ocidentais, que podem sentir-se mais inclinados a manter o fluxo de apoio militar e logístico, fortalecendo as capacidades defensivas da Ucrânia.
No entanto, o cenário permanece delicado. O teste do “Oreshnik” como resposta aos armamentos de longo alcance fornecidos pelo Ocidente é uma clara indicação de que a Rússia está disposta a intensificar o conflito se considerar necessário. A linha entre a intimidação e a ação real está cada vez mais tênue, e as decisões tomadas pelos líderes ocidentais nas próximas semanas serão cruciais para definir se o conflito entrará em uma fase de escalada maior ou se uma solução diplomática será buscada com mais vigor.
O uso de tecnologias avançadas no campo de batalha ucraniano, especialmente em um momento tão crítico do conflito, sugere que a guerra está se transformando em um verdadeiro teste para as capacidades militares modernas. Essa evolução reflete um futuro incerto, onde a guerra convencional e as tecnologias de ponta se entrelaçam, exigindo dos analistas militares e dos tomadores de decisão uma atenção redobrada aos detalhes e às consequências de cada ação no campo de batalha e nas arenas diplomáticas globais.
por Angelo Nicolaci
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com Reuters, AFP, TASS