sexta-feira, 4 de outubro de 2024

Plano de salvamento da Avibras busca evitar falência e manter controle nacional

A Avibras Aeroespacial, uma das mais importantes integrantes da Base Industrial de Defesa (BID) brasileira, enfrenta um cenário delicado. Desde que entrou em processo de recuperação judicial em 2022, a empresa acumula uma dívida de cerca de R$ 600 milhões e tem enfrentado uma grave crise trabalhista. Os funcionários estão em greve há mais de dois anos devido à falta de pagamento de salários e benefícios, como convênio médico, INSS e FGTS, em atraso. Esse impasse tem gerado um clima de instabilidade, resultando na perda de profissionais altamente qualificados, como engenheiros e técnicos, que migraram para outras empresas na Região Metropolitana do Vale do Paraíba.

A Avibras, com mais de 60 anos de atuação, sempre teve uma posição de destaque no setor de defesa, sendo a responsável por desenvolver o inovador Sistema de Artilharia de Foguetes de Longo Alcance ASTROS, utilizado pelo Exército Brasileiro e exportado para diversos países. Além disso, a empresa também é responsável pelo Míssil Tático de Cruzeiro (AV-MTC), ambos considerados projetos estratégicos para a defesa nacional.

Diante do agravamento da crise, um plano de resgate da empresa começou a ser articulado com o objetivo de evitar sua falência ou venda para investidores estrangeiros, o que poderia comprometer a soberania tecnológica do Brasil no setor de defesa. O governo brasileiro, ciente da relevância da Avibras para a segurança nacional, rapidamente se mobilizou para buscar alternativas. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi envolvido nas negociações e está trabalhando junto a bancos privados para formar um consórcio de investidores nacionais, que deverá assumir o controle da empresa.

Entre as propostas em análise está a fusão da Avibras com a Akaer Engenharia Espacial, uma empresa brasileira que possui um histórico robusto em projetos de defesa, como sua participação no desenvolvimento do caça Gripen NG, a modernização dos blindados Cascavel do Exército Brasileiro e atuação em inúmeros programas no exterior, como o TAI Hurjet. A Akaer, que também atua na nacionalização de tecnologias para o setor de defesa, é vista como uma parceira estratégica que pode complementar as capacidades da Avibras, gerando sinergias em áreas como a modernização dos sistemas de mísseis e foguetes ASTROS.

Desde que a Avibras entrou em recuperação judicial, empresas estrangeiras demonstraram interesse em adquiri-la, entre elas a gigante chinesa Norinco e a australiana DefendTex. No entanto, a venda para empresas estrangeiras levantou preocupações sobre a perda de controle sobre tecnologias sensíveis, fundamentais para a defesa nacional. A entrada de capital externo poderia comprometer o domínio estratégico sobre os projetos da BID, enfraquecendo o Brasil no cenário geopolítico e de defesa. Em resposta, o governo decidiu limitar a participação de investidores estrangeiros a um máximo de 20%, garantindo que o controle da empresa continue nas mãos brasileiras.

A fusão entre Avibras e Akaer pode trazer benefícios significativos para ambas as partes. A Akaer possui vasta experiência na integração de sistemas de alta tecnologia e poderia contribuir para a modernização dos lançadores de mísseis e foguetes do projeto ASTROS, além de facilitar o acesso a novos mercados internacionais, especialmente com a crescente demanda de países árabes por armamentos avançados. Recentemente, a EDGE Group, estatal de defesa dos Emirados Árabes Unidos, adquiriu participação em empresas brasileiras, como a Condor e a SIATT, reforçando o interesse internacional pela Base Industrial de Defesa brasileira.

No entanto, o sucesso desse plano depende de fatores cruciais. A conversão das dívidas em participação acionária, por parte de instituições financeiras, incluindo o BNDES, precisa ser bem articulada para garantir a viabilidade do projeto. Além disso, o plano requer a captação de novos investidores e a estruturação de um financiamento robusto para a retomada das operações da Avibras. O envolvimento de bancos privados e do governo será fundamental para concretizar essa reestruturação.

Análise e Conclusão

A situação da Avibras representa um desafio emblemático para a Base Industrial de Defesa do Brasil. Se, por um lado, o país possui expertise e infraestrutura avançada, por outro, a falta de planejamento financeiro e de gestão eficaz pode colocar em risco o patrimônio tecnológico desenvolvido ao longo de décadas. A fusão com a Akaer aparece como uma saída estratégica que não apenas preserva a soberania nacional, mas também fortalece a capacidade de inovação da indústria de defesa. A participação ativa do BNDES e a limitação de capital estrangeiro visam garantir que o controle da Avibras permaneça em mãos brasileiras, mantendo o foco no fortalecimento da BID e na proteção dos interesses estratégicos do Brasil. Contudo, o sucesso desse plano dependerá da agilidade com que o governo e os investidores nacionais conseguirem estabilizar a situação, evitando que a crise financeira da Avibras se transforme em uma perda irreversível para o setor de defesa do país.


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